A Verdade escrita por mybdns


Capítulo 22
Capítulo 22




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Umas duas semanas se passaram. Tyler e eu tínhamos acabado de fechar um caso muito complicado numa boate. Seus donos escravizavam mulheres de todas as partes do mundo. Conseguimos prender os donos do lugar e libertar as moças. Estava tomando café na lanchonete do departamento quando meu celular tocou.

– Evans.

– Oi Anne, é o Tyler. Me encontre no estacionamento, temos um caso.

– Já estou indo. – paguei a conta rapidamente e fui para o estacionamento. Tyler estava parado ao lado da caminhonete, terminado de fumar.

– Chegou rápido.

– Eu estava perto.

– Então vamos. – entramos no carro e fomos para o hospital. Quando chegamos, nos encontramos com a enfermeira que prestou os primeiros atendimentos à vítima.

– Ela disse que foi agredida quando voltava do trabalho. – disse a enfermeira abrindo a cortina. Era uma moça morena de uns vinte e poucos anos, mais ou menos. Possuía muitos hematomas nos braços, nas pernas e alguns ferimentos no rosto.

– Olá. – eu disse. – sou a detetive Evans, posso te fazer algumas perguntas?

– Tanto faz. – ela deu de ombros.

– Como é o seu nome?

– Samantha.

– Quem fez isso com você?

– Eu não sei. Só sei que o cara me atacou quando eu desci do meu carro, na porta da minha casa.

– Ela estava um pouco alcoolizada, detetive. – disse a enfermeira.

– Eu não bebi muito. Eu trabalho numa boate, com bebidas.

– Samantha, você tem algum parente?

– Tenho um irmão.

– Quer ligar pra ele?

– Ele vai falar muita merda pra mim. Ele sempre foi o certinho da família. Meu pai sempre quis que eu seguisse seu caminho. Só que eu quis ser errada. Não quero que ele saiba disso.

– Ele pode te ajudar. Toma. – Tyler disse lhe entregando seu celular. – ligue para ele.

– Tudo bem, mas se ele falar alguma coisa pra mim, a culpa é de vocês.

Ela discou para o irmão, a contragosto.

– Oi, sou eu, Samantha.

– Eu estou trabalhando, Sam.

– Eu preciso de você aqui. Eu estou no hospital.

– O que você aprontou desta vez?

– Nada... Eu fui agredida.

– Estou indo ai.

– Obrigada. – ela desligou o celular e devolveu à Tyler.

– Eu posso tirar algumas fotos suas? – eu perguntei. – dos seus hematomas.

– Pode. – eu tirei algumas fotos enquanto Tyler conversava com a enfermeira.

– Você foi estuprada?

– Não. Isso não.

– Tudo bem. Você não tem nem noção de quem fez isso com você?

– Não. – não senti firmeza em sua negação.

– Se você sabe de alguma coisa, fale pra mim, Sam. Eu só quero te ajudar.

– Olha detetive, eu já disse tudo, que saco!

Algum tempo depois, seu irmão chegou. Eu estava sentada com ela, retirando alguns epitélios debaixo de suas unhas. Podia escutar a conversa bem longe.

– Onde está a minha irmã, enfermeira? Ela está bem?

– Está lá dentro com a detetive. Naquele quarto ali. – ela disse apontando com o dedo.

– Acho que meu irmão chegou. – ela disse olhando para a porta. Eu estava de cabeça abaixada.

– Vou deixá-los sozinhos. – quando levantei a cabeça, vi que o seu irmão era Flack.

– Oi detetive Evans.

– Oi Flack. Eu já estou terminando. – disse recolhendo minhas coisas e saindo do quarto.

– Obrigado por cuidar dela.

– Não foi nada. – fui encontrar Tyler.

– Terminou?

– Sim. Vem cá, você sabia que ela era irmã do Flack?

– Não. Eu conheço o Flack há alguns anos, ele não fala muito da família dele.

– Entendi. – andamos até onde ele tinha estacionado o carro e voltamos para o laboratório. Entreguei as fotos para um dos peritos analisar e eu mesma analisei os epitélios que colhi das unhas de Samantha.

– Encontrou algo, Evans? – perguntou Alanis.

– Não. O DNA é masculino, mas não encontrei combinação no sistema.

– Droga.

– Eu acho que a Samantha não está falando a verdade, Alanis.

– Então arranque a verdade dela.

– Ela é difícil.

– Você acha que não é capaz, Evans? – ela perguntou com um tom arrogante.

– Não entendi. Está duvidando da maneira como faço o meu trabalho?

– Não foi isso que eu quis dizer,mas se você entendeu assim...

– Eu vou descobrir alguma coisa.

– Acho bom. Se você quiser, eu converso com o irmão dela.

– Não precisa. – eu disse saindo da sala.

Fui para o elevador e procurei Flack.

– Sheldon, você viu o Flack por ai?

– O Danny estava com ele agora pouco na sala do Mac.

– Valeu. – fui para a sala do meu pai e de fato os dois estavam lá.

– Desculpa interromper. – eu disse batendo na porta. – tem um minuto, Flack?

– Claro. Depois a gente conversa, Danny.

– Beleza.

– O que foi? Algum problema?

– Eu preciso que você me ajude a convencer sua irmã de me dizer a verdade. Ela só está complicando as investigações.

– Ela é uma pessoa difícil, Anne.

– Eu percebi, mas eu preciso saber da verdade, senão eu não vou conseguir prender o culpado.

– Eu vou falar com ela.

– Obrigada. – disse indo para o elevador.

– Conseguiu arrancar alguma coisa do detetive, Evans? A não ser as roupas, claro – Alanis me perguntou.

– O que você está insinuando, Alanis?

– Que você e o detetive Flack têm um caso? Está na cara e todos deste departamento comentam isso.

– Posso te pedir um favor?

– Até dois.

– Cuide da sua vida, que da minha cuido eu.

– Como quiser.

Eu estava perplexa com a cara de pau daquela mulher. Eu já não tinha gostado dela, agora gostava menos ainda. Deixei-a pra lá e fui para a casa de Flack, pois já havia acabado o expediente.

– Oi Don.

– Oi querida.

– Você está ocupado?

– Na verdade não, a Sam está aqui.

– Eu vou pra casa.

– Não precisa. – disse me puxando. – pode ficar. Eu quero que fique.

– Tudo bem.

– Don? Quem é? – disse Samantha descendo as escadas. – ah, você de novo. O que você quer? Eu já te disse tudo.

– Sam, ela não veio aqui te perguntar nada.

– Então o que ela está fazendo aqui?

– Ela é minha... namorada.

– Ah! Você tá namorando? Eu nunca pensei que um dia você iria se apaixonar de novo, depois que a Angell morreu você...

– Sam, por favor.

– Tudo bem, Don. - eu disse. 

– Eu sinto muito. – ela se desculpou.

– Tem mais uma: eu vou ser pai, Sam.

– Você tá brincando? Parabéns. – ela disse abraçando o irmão. – eu sempre quis ter um sobrinho. Eu sinto muito pela maneira que eu te tratei, Anne.

– Tudo bem. – conversamos um pouco e Flack e eu fomos levar Sam até sua casa. Depois voltamos e dormimos. De manhã, Don saiu para comprar algumas coisas para o café no mercado e eu fiquei sozinha. Depois fomos trabalhar. Estava saindo do elevador quando escutei uma gritaria vinda da recepção.

– EU QUERO SABER ONDE ESTÁ A MINHA FILHA! QUE DIABOS!

– Se o senhor não me dizer quem é, vai ficar um pouco difícil. – disse Dayse, com a maior calma do mundo.

– A MINHA FILHA FOI AGREDIDA E NÃO TEM UM DETETIVE DESTA PORCARIA DE DEPARTAMENTO PRA ME ATENDER?

– Senhor, eu...

– Tudo bem, Dayse deixa comigo. – eu disse me aproximando do balcão.

– Você é detetive?

– Sim, detetive Evans. Algum problema?

– ALGUM PROBLEMA? CLARO QUE TEM UM PROBLEMA! MINHA FILHA FOI AGREDIDA E AINDA NÃO RESOLVERAM O CASO! ESSE CARA PODE MATÁ-LA!

– Senhor, por favor, abaixe o tom de voz, senão eu te prendo por desacato.

– VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO, MOCINHA? – velho continuou a gritar.

– Não eu não sei. Mas se o senhor não abaixar este tom de voz, eu vou lhe prender. Estou avisando.

– EU TRABALHEI AQUI MINHA VIDA INTEIRA E OLHA SÓ O QUE EU TENHO QUE AGUENTAR!

– Eu te avisei. – disse lhe prensando contra o balcão e lhe algemando. – vamos.

– COMO VOCÊ É ABUSADA!

– O senhor não me deu escolha. – o levei para uma sala.

– OLHA AQUI... EVANS. – disse olhando em meu crachá. – eu vou reclamar com os seus superiores. Você é a detetive mais abusada que eu já vi na minha vida! Tomara que receba uma punição exemplar.

– Eu só estou fazendo o meu trabalho.

– Eu sei como é isso. Não precisa me dar desculpas.

– Se o senhor sabe, porque não se acalma?

– Minha filha foi agredida e eu tenho que ter calma?

– Você que estava dando este espetáculo todo? Dava pra ouvir seus gritos lá do último andar! – disse Flack, surgindo atrás de mim.

– Ainda bem que você chegou. Essa mocinha é da sua equipe? Olha o que ela fez comigo! Ela me prendeu! Quanta humilhação meu Deus!

– Não ela não é da minha equipe. Solta ele Anne. – ele me disse.

– Tudo bem...– disse soltando o velho.

– Agora eu quero saber quem está cuidando do caso da minha filha. Pode me dizer, Don?

– Ela tá na sua frente.

– Eu não acredito!

– É o seu pai?

– Donald Flack, muito prazer.

– Annelies Marie Evans, o prazer é todo meu. – disse ironicamente.

– Eu sinto muito, Anne. Ele às vezes não sabe o que faz.

– Ela é a sua protegida?

– Pai, por favor. O que você quer aqui?

– Saber da Sam. Eu quero saber da minha filha.

– Ela está bem, tem um policial à paisana na porta da casa dela.

– Quem fez isso?

– Nós ainda não descobrimos, senhor. Sua filha não está colaborando com as investigações. E eu sei que ela está mentindo.

– O cara que fez isso não pode ficar solto. Se vocês não resolverem, eu resolvo.

– O senhor precisa ter paciência. Estamos dando o máximo de nós para pegá-lo.

– Igual vocês fizeram com Caroline? Vocês a deixaram morrer!

– Nós não tivemos culpa! Ela que quis voltar pra casa. – eu disse um pouco exaltada.

– Você devia ter impedido.

– Pai! Já chega!

– Tudo bem, Don. - eu disse - Senhor, vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance. Quando nós pegarmos ele, vai ser o primeiro a saber.

–Excelente, detetive. –ele disse desconfiado.

Eu estava a ponto de explodir. O pai de Flack tinha acabado com toda a paciência que me restava. Estava morrendo de vontade de chorar de raiva.

– Anne, relaxa. Isso não é bom para o bebê. – ele disse me levando para o canto.

– Eu sei, só que o seu pai me secou o sangue. Eu estou com tanta raiva que me deu vontade de chorar. – disse e as lágrimas já caíam.

– Calma. Tá tudo bem. Eu peço pra ele te pedir desculpas.

– Não! Não precisa.

– A sua colega tem que saber controlar as emoções, Flack. O velho disse olhando para nós.

– Você pode ficar quieto, por favor? Você foi muito mal educado, sabia?

– Se ela não sabe lidar com as críticas, é melhor ela largar esta profissão.

– Eu não vou ficar aqui escutando desaforo, Flack.

– Calma, Anne. Tá tudo bem. Vai ficar tudo bem. – ele disse me abraçando. Eu não conseguia controlar o choro. E não era porque o Sr. Flack havia dito palavras duras pra mim; era porque eu estava sensível demais pra ouvir aquilo.

– Don? Ela realmente ficou chateada com isso? – o velho parecia preocupado.

– O QUE VOCÊ ACHA?

– Eu não queria te ofender menina. Eu sinto muito.

– Pai, ela tá sensível demais pra ouvir tudo o que ouviu.

– Às vezes é bom a gente receber críticas, menina.

– Não desse jeito, pai.

– Eu estou preocupado com a minha filha.

– E eu também. A Sam só se mete em confusão. Lógico que eu estou preocupado, mas eles vão descobrir quem fez isso. Eu confio na Anne e no Tyler. São excelentes profissionais.

– Desculpe-me, detetive Evans. Eu ainda não entendo porque você ficou tão sentimental de uma hora pra outra, alguns minutos atrás você parecia bem durona.

– Eu ando muito sensível ultimamente. Eu não me importei com o que você disse.

– Que ótimo. Mais você não me parece muito bem.

– Não é nada, eu só estou com um pouco de tontura, mas vai passar.

– Você quer se sentar? – Flack me perguntou.

– Acho que sim. – disse me sentando. – é melhor, pra eu não passar vergonha.

– Pai, pega um pouco de água pra ela. Por favor.

– Claro. – o velho pegou um copo d’água e me entregou. Minhas vistas estavam embaçadas e tudo girava, mas não senti que ia desmaiar.

– Obrigada, senhor.

– O que esta menina tem Don?

– Ela só está grávida.

– Ah, mas isso é normal. Já passa, você vai ver. Sua mãe sentia muito isso, Don.

– Já está melhor? – Don me perguntou.

– Estou sim.

– De quantos meses você está? – ele me perguntou.

– Quase quatro. – eu respondi.

– Tomara que o seu bebê seja tão bonito quanto você.

– Obrigada. – agradeci um pouco envergonhada.

– Ele tem que se parecer com o pai também, você não acha? – disse Flack, rindo.

– Ah, ai eu não posso garantir, eu não conheço o pai. – o Sr. Flack disse.

– Como não? Você está olhando pra ele.

– Não entendi.

– Eu sou o pai dessa criança.

– Você vai ser pai, Don? – perguntou um pouco surpreso.

– Vou.

– Oh, meu Deus. Eu não acredito. Porque não me disse antes? – ele deu um forte abraço no filho.

– Você não deu nem uma brecha.

– Quer dizer que você está gerando mais um Flack? – ele perguntou virando-se para mim.

– Sim.

– Que orgulho. Eu sempre quis ter um neto. Estou feliz por vocês. E mais uma vez, desculpe-me pelo modo que eu te tratei. Eu não tinha ideia quem você era.

– Desculpe-me por ter te detido.

– Acho que começamos com o pé esquerdo.

– Temos tempo pra consertar isso, senhor.


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