Quando se tem 21 anos e você se alista para o exército a última coisa que você espera é tropeçar em uma mala gigantesca e cair no chão. Pra falar verdade, Lily ficou ainda mais surpresa quando olhou para cima e viu de quem era a mala.

Era obrigatório o uso do uniforme que eles haviam enviados para os recrutas, uma calça camuflada e uma camisa verde, simples. Lily achava que todos estariam assim, todos deveriam estar assim, mas pelo jeito ninguém havia contado as regras para aquela garota.

– Ai meu deus! - a morena estendeu uma mão em sua direção, só ai Lily percebeu que tinha ficado no chão esse tempo todo - Eu sinto muito, não devia ter deixado minha mala solta por ai.

Lily olhou a sua volta.

– Ah sem problemas… - Seu olhar demorou no rosto da garota, no batom rosado, nos cílios longos, no olho delineado e no rabo de cavalo alto sem nenhum fio solto. - Sem querer ser indelicada você tem certeza que está no lugar certo?

Se a tal garota ficou ofendida não demonstrou.

– Ahh… Acampamento Militar, certo? Quarto batalhão…

Certo, como uma garota de maquiagem, sapatilha e uma mala gigantesca acha que vai sobreviver no exército? Aliás, por que uma garota dessas iria mesmo se alistar?

– Apropósito, meu nome é Marlene McKinnon.

– Lily Evans

Depois de se apresentarem "oficialmente" as duas foram para a fila do ônibus, já que era impossível de chegar até o pavilhão principal andando. Lily pode reparar que tudo era extremamente organizado e enorme. Pela janela, via-se as florestas que cobriam o local, densas e misteriosas. Demorou um tempo até que os primeiros sinais de construção pudessem ser vistos. O Pavilhão Principal foi a primeira coisa que chamou a atenção da ruiva, era uma casa clássica. As paredes brancas com um telhado avermelhada, era enorme e apesar de não ostentar muito, podia-se notar que era luxuosa. Ao lado esquerdo da entrada encontrava-se uma pequena casinha amarela, simples, ali era o correio, onde os recrutas podiam mandar as cartas para seus familiares. Não que esse fosse o caso de Lily. Do lado direito a entrada, uma grande construção de madeira, o refeitório. E espalhadas em voltas dessas construções, milhares de cabanas de madeira, perfeitamente enfileiradas.

– Peço a atenção de todos, por favor! - Lily foi tirada de seus pensamentos, pela voz no auto-falante. - Os cincos soldados que estão na frente de vocês, irão informar o número da cabana e dar o mapa do acampamento. Vocês tem 15 minutos para deixarem as coisas na cabana e se encontrarem em frente ao Mastro, aonde o General e a treinadora vão recebe-los.

Assim que os auto-falantes desligaram, Lily se apressou para entrar em uma fila. Em frente ao pavilhão principal, cinco soldados segurando pranchetas "atendiam" os calouros.

– Então, Lily, você por um acaso esqueceu sua mala no ônibus?

Lily arqueou uma sobrancelha, enquanto encarava Marlene. Com um aceno de cabeça ela apontou para mochila.

– Essa é a minha mala.

Marlene soltou uma risada.

– Como, você consegue?

– Nós vamos ter que usar uniforme todo dia, não é como se a gente fosse precisar de muitas roupas. Além do mais isso aqui é o exército, não um desfile de moda. - Sim, talvez ela ficasse um pouco demais na defensiva.

– Eu sei exatamente o que você está pensando.

Lily semicerrou os olhos, duvidando.

– Você quer saber o que uma garota como eu, estava fazendo aqui.

Sim, isso é exatamente o que eu quero saber.

– Ah… na verdade não - e muito teimosa também.

– Olha Lily, eu gosto de me arrumar e eu gosto de me sentir bonita, ok? Isso não quer dizer que eu seja toda fútil e bonequinha de porcelana, eu posso cuidar de mim mesma. Aparências enganam. - Marlene continuou encarando-a, os olhos azuis antes dóceis, agora selvagens.

Por mais que, Lily realmente achasse tudo aquilo, por mais que achasse que Marlene não estava no lugar certo, o que ela disse mexeu com a ruiva. Ela pareceu determinada e forte por dentro, apesar de por fora ainda aparentar ser frágil. Marlene, lembrou Lily de uma pessoa… de alguém em que ela não pensava há muito tempo. Inconscientemente, a ruiva levou a mão até o peito e sentiu-se reconfortada ao tocar em seu colar. Aquele colar que ela nunca tirava.

– Então, se você acha que pode ver através da minha aparência nós podemos ser amigas, mas se você continuar com essa cara de nojo que você esteve durante todo ônibus quando eu estive conversando com você, eu vou embora agora mesmo.

Lily sentiu-se mal por um momento, desde que conhecera Marlene a julgara, desde a primeira olhada. E a morena ainda tentou ser legal com ela, tentou conversar e ela só se esquivou… Durante os cinquenta minutos que as duas estavam juntas até agora, Lily só tinha sido desagradável. Vendo que Lily não respondera nada, Marlene pegou sua mala e já ia saindo para outra fila quando…

– Hey Marlene, acho que podemos ser amigas.

As duas trocaram um pequeno sorriso e Lene voltou para seu lugar na fila novamente.

– Que lindo! Vocês duas quase me deram vontade de chorar - Estavam tão distraídas que não perceberam que eram a próximas da linha, até que o soldado se pronunciou, com a voz carregada de sarcasmo - Isso aqui não é lugar para amizades, se vocês querem fazer um bando de amiguinhas vão para shopping gastar todo o dinheiro que vocês não tem. Isso aqui é o exército, não é lugar para brincadeiras.

Ótimo, primeiro dia e já me acham uma garotinha ridícula que vai voltar para casa em uma semana.

– Vocês acham que eu tenho o dia todo? Nomes! - pediu o soldado irritado

– Marlene McKinnon

– Lily Evans

O soldado fez algumas anotações nas pranchetas e entregou os mapas do acampamento para cada uma.

– Parabéns princesas parece que vocês ficaram na mesma cabana. - ele riu, cínico.

Morrendo de vontade de sair logo dali, as duas pegaram suas coisas e correram na direção dos chalés.

– Meu deus, alguém estava de mal humor! - comentou Lene, assustada.

– Nem me fale, acho que as coisas só vão piorar.

– Isso com certeza é falta de sexo

Lily riu com o comentário e as duas entraram na cabana 13. Aquele seria seu "lar" por tempo indeterminado, era tudo bem simples. O aposento era completamente impessoal e tinha cinco camas completamente alinhadas e com os mesmos lençóis brancos e lisos. Lily reparou que ao pé de três camas tinha malas, o que significava que as outras meninas já haviam passado ali, o que significava que ela e Lene estavam atrasadas para encontrar-se com o resto.

Mais uma vez as duas saíram disparadas até o Mastro, era uma espécie de praça com um mastro enorme no centro onde ficava a bandeira dos Estados Unidos, logo atrás delas podia ver-se o pavilhão e mais a frente outras construções que elas não faziam ideia do que eram. Assim que chegaram, logo entraram em uma das filas. Havia pelo menos 20 fileiras com 10 recrutas em cada. Lily engoliu em seco quando o viu, ali escorado por alguns soldado estava o General. Diferentemente do que todos esperavam, uma mulher com aparentemente 20 e poucos anos caminhou até a primeira fileira de recrutas.

Lily e Marlene se entreolharam, logo voltando atenção para frente novamente.

– Meu nome é Coach Hayle - Seus olhos, duros e frios como pedra, analisaram rosto por rosto - E eu serei responsável por mandar cada um de vocês para casa. Vocês realmente acham que deviam estar aqui? Vocês acham que vão sobreviver a isso? Vocês são um bando de criancinhas assustadas e eu não gosto de criancinhas assustadas. - Seus passos eram firmes enquanto ia passando pelas fileiras, sua voz saia em um tom claro e severo, sua postura impecavelmente reta - Eu vou descobrir a fraqueza de cada um de vocês e vou explorar ao máximo cada medo. Eu vou fazer com que vocês implorem para voltar para casa e somente aqueles merecerem vão ficar aqui. Eu vou humilhar vocês cada dia que vocês passarem aqui, e o melhor de tudo é que vocês não poderão fazer nada sobre isso.

Após passar por todas as fileiras, a treinadora voltou para a frente, onde estava o General bem em baixo da bandeira.

– O treinamento começa as 4h da manhã! Sugiro que tenham uma boa noite de sono, bem vindos ao inferno.

Ela simplesmente deu as costas e saiu, acompanhada do General e dos soldados. Assim que ela saiu de vista, os murmurinhos começaram a ser ouvidos por todo o pátio.

– Se ela estava tentando nos assustar funcionou, olhe a cara das pessoas aqui - Comentou Marlene em sussurro. Rapidamente, Lily olhou ao seu redor, a maioria das pessoas parecia amedrontada, ela tinha que confessar até ela teve um pouco de medo da treinadora.

– SILÊNCIO! - Lily logo reconheceu a voz do soldado que havia atendido a ela e a Marlene alguns minutos atrás. Todos se calaram imediatamente - O jantar será servidos ás 7h em ponto, não se atrasem ou vão comer no estábulos. DISPERSAR!

– As pessoas aqui não sem nem um pouco civilizadas - Reclamou Marlene - Nós estamos tentando servir o país, pelo amor de deus, estamos do mesmo lado.

Lily acenou com a cabeça.

– Deve ser muita pressão, estar em uma guerra, matar pessoas, salvar vidas… Eles só querem ter certeza que nós vamos estar preparados, para que a gente não faça nenhuma merda.

A morena deu de ombros, resmungando alguma coisa sobre pressão psicológica e falta de sexo.

– Ainda temos algumas horas até o jantar, vamos explorar o acampamento? - sugeriu Lily

Marlene sorriu.

– Você tirou as palavras da minha boca.