Entrei de baixo da água quente. Ela batia em minhas costas causando-me pequenas e curtas ondas de prazer. Finalmente estava em um lugar quente e aconchegante, mas não era onde eu queria estar. Sinceramente, se fosse pra pensar em Jean a todo o momento eu preferia estar na selva, onde eu me encaixava bem. Onde eu realmente era eu, um animal… Mas eu não estava somente pensando na Jean, estava?
Imagens e cheiros do quarto ao lado me vieram na cabeça talvez fosse da tal professora, Natalie.
Natalie. Eu já estava começando a ficar obcecado por essa Natalie.

Pela quantidade de vezes que o nome dela me veio na cabeça. Certamente.

Saí do chuveiro, secando-me. Passei pelo armário, enfiando-me dentro de uma cueca e depois uma calça que saíram da bolsa surrada.
Vou confessar, nunca tive habilidade em secar o cabelo, então deixei-o de lado, joguei a toalha na cama arrancando uma blusa da mala.

Escutei passos vindos do corredor.

– Eu estou ocupada, Barton…– A voz feminina falou, com um tom raivoso – A ideia de me mandar pra cá, foi dele. Não se esqueça! Agora sou uma professora…– Andei até a porta, abrindo-a. Vi uma mulher de costas, era baixinha, pele branca como giz, estava vestindo uma calça de couro preta, uma blusa de manga comprida branca com um jaleco preto – rasgado – um all star pra terminar. O cabelo era cacheado até a cintura. – Não me interessa. Termine isso sozinho. – Ela desligou o celular e respirou fundo.

– Não sabia que alunos podiam vir a esse andar. – Falei e ela se virou para mim, de começo assustada, não esperava. Depois deu um meio sorriso e arcou uma sobrancelha.

– E eu não sabia que agora se pode andar seminu em uma escola. – Ela falou andando até mim, e eu me toquei que não havia colocado a blusa. – Natalie – Falou docemente apontando para si própria – E… - Ela chegou um pouco mais perto, o bastante pra eu poder sentir o cheiro do quarto novamente – Não caçoe da minha altura.

Eu sorri, ela era bem ameaçadora pra uma nanica.

– Sou Logan. Ou Wolverine, mas prefiro Logan. Fadinha. – Ela me mediu com os olhos, olhos negros como… A noite sem estrelas. Tá, isso foi gay.

– Tudo bem, grandão. Esteja lá em baixo em cinco minutos… Vestido. – Ela se virou novamente indo em direção ao elevador. Revirei os olhos.

– Nanica folgada. – Murmurei.

– Eu escutei isso – Pude ouvir quando o elevador se fechou.

Eu ri. Tudo bem, talvez não fosse lá total desperdício ficar na mansão por um tempo.
Coloquei a blusa e entrei no elevador. Saí assim que as portas se abriram.

– Ora se não é o Senhor Pelado – Disse a voz doce da professora Natalie. Os alunos riram, e eu arquei uma sobrancelha.

Ela distribuía alguns sucos e refrigerantes entre as crianças sentadas ao chão, que assistiam algum seriado de tv.

– Fico feliz que tenha se juntado a nós. – Ela falou antes que eu pudesse brincar com seu tamanho, entregou-me uma limonada. Com um sorriso debochado.

– Eu não estava pelado – Sussurrei inclinando-me pra perto da professora, mas algumas crianças ouviram.

– Vamos agradecer por isso. – Disse ela, ainda não perdendo o bom humor. Deu um sorriso malicioso, medindo-me com os olhos. E afastou-se, fora pra cozinha. Olhei para ela descrente, depois para os alunos. Todos me fitavam com uma expressão meio boba, um pouco maliciosa.

– Ela é ótima. – Falou um dos alunos apaixonados.

Eu fiquei parado por um tempo, com todos me fitando. Até que decidi ir atrás da professora. Andei apressadamente para a cozinha.
Vi uma morena com uma garrafa de refrigerante em mãos, sentada de costas. Era impossível não reparar em suas curvas, mas decidi desviar o olhar.

– Agora entendi porque os alunos te obedecem. – Falei e ela se assustou, por um segundo.

– Logan. – Disse ela, arfando. Em um sotaque que eu não reconheci muito bem. Mas logo se recompôs limpando a garganta.

– Não é deste país, certo? – Perguntei sentando-me de frente para ela.
Ela suspirou, tomando um gole de refrigerante como se fosse cerveja.

– Não. Faz parte do meu disfarce. – Ela sussurrou, em um tom de piada, fazendo “shhhh” pra mim.

– Porque está aqui? – Ela me encarou, foi uma pergunta direta.

– Tia Nat! – Gemeu um menino entrando na cozinha de repente. – Eu tõ com sono, não consigo dormir. – Tenho que admitir, o garoto é bom ator.

– Oh meu bem. – disse ela doce – Deita na cama e fecha os olhinhos. – Ela ainda olhava pra mim, mas falava com o menino.

– Ah tia…

– Nathan. Não vai conseguir se concentrar na prova amanhã se não dormir. – Ainda tinha doçura em sua voz, com essa até eu ia dormir.

– Ah sim… - Gemeu o moleque saindo da cozinha com o que parecia ser um olhar raivoso para mim.

– Seu dom é persuasão ou isso se deve ao fato da sua beleza? – Perguntei sarcástico.

– É um dom natural feminino, Logan – Ela falou jogando o cabelo para o lado – Eu deveria encarar isso como uma ofensa, mas por trás dessa onda de ironia, veio um pequeno elogio. Obrigada.

– De nada e você vai responder minha pergunta? – Ela fitou-me com um meio sorriso.

– Espere mais dez, quinze minutos, sim? – Ela falou levantando-se e indo para a sala.

De começo eu não entendi muito bem, mas logo me toquei… Os alunos.

Esperei pacientemente cinco minutos, quando um sinal tocou ajudei Natalie por as crianças na cama… Acho que eles não gostaram muito da troca de tia Nat para tio Logan.

Quando as crianças já estavam na cama – as que dormiam, ao menos – ela me lançou um olhar, novamente medindo-me, mas dessa vez não havia malicia. Era só… Indecifrável. Ela andou silenciosamente até a cozinha, eu a segui, saímos pela porta lateral.
O vento soprou forte, estava frio, eu não liguei, mas Natalie se encolheu apressando o passo para a estufa de flores. Lá, ao menos, era quente.

– Bem… Pode perguntar. – Ela falou, suspirando de costas, e depois virando-se para me fitar. Seus olhos estavam derretidos, como se tivesse medo. Não medo de mim, mas medo que eu perguntasse algo; Algo sobre seu passado.