A Patricinha e o Lobisomem escrita por elizabeth beans


Capítulo 7
Capítulo 6 - Ninguem está te obrigando!


Notas iniciais do capítulo

...



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Ninguem tá te obrigando

 

 

 

    LA PUSH-Residência da SrªMarta Uley-10hs da manhã

Dia 28 de Dezembro.



Amelie Weelow estava ferrada no sono, agora que já se acostumara a dormir de moletons e não mais as camisolas La Perla tão adoradas e próprias para climas mais quentes.

Ela se perdia em um sono agitado com o homem que lhe beijara a força na véspera de natal e como nos sonhos nos permitimos embarcar nas mais loucas aventuras sem que tenhamos que responder por isso, ela aproveitava para se declarar a ele e continuar aquele beijo que ela tanto relutou em interromper.

Na sala de estar, Marta fazia um tricô enquanto as madeleines que ela colocou para assar não ficavam prontas.

Jacob Black, o homem do sonho de Amelie, descia a avenida principal de La Push apressado pa chegar até a casa da Srª Uley e falar pessoalmente com Amelie que vinha evitando seus telefonemas desde o beijo. Ele considerou pular a janela do quarto dela e acabar logo com a maldita birra que ela insistia em fazer, mas não achou que seria muito respeitoso com a Srª Uley que o tratava tão bem e fazia tanto gosto da presença dele em sua casa, porque com certeza Amelie gritaria um pouco e faria outro escândalo até que ele a beijasse outra vez, fazendo-a se calar.

Então, agora, ele esperava apenas entregar um bilhete e sentar-se na sala até receber a sua resposta, negando-se a ir embora até que a garota lhe desse algum indicio verdadeiro de que não sentira tudo o que ele sentiu quando se beijaram.

Tocou a campainha.

    Amelie P.O.V.

Acordei com as batidas frenéticas da Marta em minha porta, ela tentava falar alguma coisa, que eu obviamente não ouvia enquanto tentava dormir de novo. Ela continuava batendo e alguém teria de lembrar à ela que não era mais a porta de carvalho do meu antigo quarto e se ela continuasse com aquilo acabaria derrubando a tabuinha ridícula que era a única coisa à me isolar dentro daquele muquifo que ela chamava de casa.

Tava sonhando com aquele cretino do Balck, e ual, esse sonho tinha sido um pouco mais realista do que os outros. Mais um tópico para a minha depressão. Mais um ponto a favor da minha derrocada social.

- Derruba logo essa porra! – eu gritei abrindo a porta e passando pela Marta antes que ela pudesse falar alguma coisa.

Bati a porta do micro banheiro e me entrincheirei lá dentro. Ela passou um papelzinho dobrado por debaixo da porta. Abri a porcaria enquanto me sentava no vaso sanitário que era quase menor que a minha bunda. A pobreza DOI.


Amelie,

Você poderia, por favor, parar de ser tão infantil e ASSUMIR que você QUERIA me beijar naquela noite? Se você me fizesse esse favor nós poderíamos sair hoje e nos divertirmos um pouco antes que as férias de Natal acabem, ou você poderia se enfurnar no quarto e não atender aos meus telefonemas, também. Você escolhe! Mas eu garanto que a primeira opção é melhor.

Jacob.


AAAAHHHHHH! Aquele ... aquele... cretino, cachorro, desgraçado, agora estava me mandando bilhetes? Eu ia cortar as mãos da Marta pra ela não conseguir me entregar mais nada.

Sai do banheiro subindo a calça de moletom de qualquer jeito e sem ter tempo pra lavar a cara, que fosse e me postei na frente dela, ali toda tranqüila e tricotando.
Peguei uma caneta na mesinha ao lado do sofá, ainda virada de frente para Marta e rabisquei nas costas do bilhete. “EU ESTAVA BEBADA!”

- Agora poderia me fazer o favor de entregar isso aquele cretino e dizer pra ele me deixar em paz? – eu falei com todo o azedume que pude reunir.

- Acho que o cretino entendeu. – uma voz rouca e seria soou por de traz de mim.

OW! Não era pra ele ouvir aquilo. Eu não... não quis dizer daquele jeito... é só que.. Eu quis dizer, mas...

- Adeus Srtª, eu não vou incomoda-la mais. – ele disse e saiu.

- Marta? – eu perguntei em pânico.

Ela me olhou com uma cara muito reprovadora. O que eu podia fazer se ele tava atraz de mim? Não é como se eu tivesse visto ele!!!

 

Jacob P.O.V.

Qual era o problema comigo, afinal? Eu tinha alguma doença rara e contagiosa? Porque todas as garotas que se envolviam comigo não queriam admitir que gostavam de mim? Será que o problema era EU, que realmente interpretava os “sinais” da forma mais errada possível?

Eu era uma ameba, isso sim.

- Jacob. – a voz dela veio fraca, mas alta o suficiente.

Eu me virei, tentando manter a minha expressão composta.

- O que você quer? – eu fui seco.


- Me desculpar? – ela tentou um sorrisinho amarelo. Estava com um moletom todo largo e os cabelos parecendo a encarnação da medusa, os pés descalços na neve, mesmo assim não parecia feia. E ela não parecia arrogante também, então eu parei de fazer o tipo “indiferente” e fitei os olhos dela.


- Você foi legal comigo naquela hora, na varanda, lá na ceia de natal. – ela olhou em volta como se quisesse se certificar de que estávamos a sos. – mas, não espere nada de mim, eu vou embora disso aqui o mais rápido que eu puder e... Nunca daria certo. – e esse final ela não olhou nosmeus olhos enquanto falava. Parecia que eu não tava interpretando nada errado, afinal, era obvio que alguma coisa lutava ali dentro a meu favor.

Me adiantei até ela e peguei a sua mão. Ela me olhou nos olhos automaticamente.

- Sem problemas Srtª. – mas eu não falei aquilo como deboche, eu falei com um sorriso sincero nos lábios. – Podemos ser amigos?

- Amigos? – ela relutou, não esperava aquela minha resolução.

- Amigos! – eu entoei serio.

- Sim. – ela falou com a voz mais falha ainda e as bochechas dela coraram de uma forma adorável.

Puxei ela pra mais perto e dei um beijo em sua bochecha, esbarrando no canto da boca de propósito, ela arrepiou na hora.

- Até mais tarde então, amiga, vou te mostrar um lugar legal que tem por aqui.

  Amelie P.O.V.

O que aquele cara tava tentando fazer, ele queria me matar? SERIO!
Queria esmagar o pouco de paz que eu tava conseguindo juntar aqui no fim do mundo?

Não que o Black não fosse um cara legal, eu acho, pelo menos quando ele não tava dando uma de “Sei que você me quer!”, e eu queria mesmo, mas não vem ao caso. Isso não era aceitável.

Ele queria ser meu amigo, tipo, pra QUE?

Não é como se agente pudesse conversar sobre as mesmas coisas, ou se divertir juntos em alguma balada. Por aqui nem tinha balada. E que lugar era esse em que ele queria me levar? Alguma daquelas lanchonetes caipiras que agente só vê em seriados de baixo orçamento?

Mas eu QUERIA ir, isso era o pior, eu queria ter essa desculpa patética que ele mesmo arrumou, com essa coisa de “AMIGO” pra ficar perto dele sem ter que responder por isso. E quem eu estava enganando? Não agüentava mais ficar presa em casa, com a vaca da Trace sem me dar noticias até hoje! Eu bem que podia cumprir a ameaça e colocar ela chapada e semi-nua na internet mas como EU era amiga de verdade, nem fiz isso.

Voltei pra dentro de casa e dei de cara com Marta me olhando daquele jeito de mãe decepcionada quando o filho faz alguma coisa muito má.

- Eu pedi desculpa e agora nós somos AMIGOS, feliz? – eu cuspi, sem saco pra ser educada.

- É uma ótima noticia, Srtª. – E ela voltou a fazer o tricô dela.

Fui pro meu quarto e sem querer me olhei no espelho; tive um ataque cardíaco e quase desmaiei ali mesmo. O fim de mundo tinha me deixado definitivamente louca.

Como é que eu fui aparecer daquele jeito na frente DELE?

Eu nunca estive mais feia em toda a minha vida e olha que uma vez eu peguei uma alergia das piores por causa de um visgo venenoso numa festa da piscina da Stace, prima da Trace, e fiquei duas semanas cheia de furúnculos.

EU TINHA FURUNCULOS e estava em melhor forma!

Me sentei na cama e comecei a passar a escova nos ninhos do que um dia foi o meu cabelo pra depois tentar dar um rumo na minha cara de cadela que caiu da mudança com o caminhão em MOVIMENTO.

Mesmo se ele fosse me levar pra alguma lanchonete vagabunda eu não poderia aparecer assim, não é mesmo? Ou essa coisa de AMIGO seria muito VERDADE.

 

Quil P.O.V.

Fui deixar Claire na casa da Emily depois de ter saído com ela pra tomar café da manha numa lanchonete em Forks, onde tinha o bolinho preferido dela. Passei na casa do Jake pra buscar ele nem que fosse a força e ter uma boa conversa com ele sobre a Srtª Weelow.

Eu vi ele agarrando ela no natal, o que ele tava esperando pra continuar com o bom trabalho? Garoto lerdo, às vezes eu pensava que se não fosse por mim, ele ainda ia ta chorando pela mais nova sanguessuga. Bella.

É claro que fui eu quem planejou o encontro dos dois naquele jantar onde ela acabou fugindo; é claro que também fui eu a furar o radiador do Sam pra que o infeliz tivesse que levantar a bunda do sofá e ir buscar ela para a ceia de natal nos Clearwater.E desde aquela ceia, onde eu conheci a tia de Sam melhor e nós conversamos um pouco quando ela me ensinou um xarope pro resfriado que a Claire tinha pego, eu pude conquistar uma aliada de peso para a minha causa: DESENCALHANDO O JAKE.

Dona Marta também queria arrumar alguma BOA COMPANHIA para a patroa e me contou que a garota tinha problemas com autoridades, bebidas e amigos desmiolados com muito dinheiro e pouco juízo. Nós iríamos mudar isso!

Jacob tava entrando na casa dele ao mesmo tempo que eu.

- O que ta fazendo aqui, cara? – Ah, Jake amigo, bom dia pra você também.

- E ai, seu lesado, já convidou ela pra sair? – eu perguntei de uma forma pratica e seria. Vamos logo ao que interessa.

- Não te interessa Quil, meta-se com sua vida! O que aconteceu com o papo de não me arrumar mais garotas pra mim? – ele levantou as sobrancelhas com uma cara de poucos amigos.

- Ah, Jake, eu vi você agarrando ela cara, sai dessa, já chamou ela pra sair ou não?

- Vou pegar ela hoje mais a tarde.

- Bom garoto! – eu soquei o ombro dele e ele continuou com a cara assassina de antes.

- Agora cai fora, já conseguiu o que queria.

- Ainda não, espere. – e peguei um cartão no meu bolso, entregando pra ele.

- O que é isso?

- Uma casa de doces. Vendem as melhores tortas de nozes e chocolate lá, só coisa fina. – ele me olhava espantado. - Também fazem bolos decorados para festa de criança. – eu acrescentei, me justificando por saber sobre o lugar.

- Cara, você ta cada dia mais GAY. – Jacob riu da minha cara. Eu virei os olhos sem me importar nem um pouco e continuei com a minha ajuda necessária. – Eu aposto que você vai levar ela no penhasco, você adora aquilo lá, então me faça o favor de não agir como um garoto idiota de 13 anos com a amiguinha e compre essa torta, alguns refrigerantes de marca boa e leve uma manta pra que a garota não seja obrigada a sentar na grama congelada.


Aí dei um tapa na cabeça dele e ele ainda me olhava esbabacado. Me virei pra ir cumprir a minha ronda e ainda completei, falando pelo ombro.

- Uma manta QUENTE. A garota não é um lobisomem e sente FRIO!

 

Jacob P.O.V.

As vezes eu tinha certeza que o Quil bebia, se eu não tivesse mais certeza ainda de que o álcool não tem efeito no nosso metabolismo super rápido, eu poderia até leva-lo no AA para uma ajuda.

E era fato que o pobre coitado andava muito com mulheres agora que cuidava da Clair quase em tempo integral, desde que a mãe dela deixou ela morar em La Push com a Emily. Que historia era aquela de “tortas finas”? Eu tinha que arrumar um tempinho na minha nova agenda cheia pra dar uma mão ao meu amigo antes que ele começasse a distribuir dicas de moda.

Olhei de novo pro cartãozinho que ele tinha me dado.

É, a coisa parecia bem chique, que nem a Amelie mesmo.

Talvez desse certo, só esperava que não fosse muito caro, porque afinal eu não tinha dinheiro pra jogar fora com essas frescuras. Já que não custava dar uma esticada até Port Angels pra conferir... Eu ia de moto mesmo e chegava antes do por do sol.

A hora perfeita pra levar ela no lugar mais bonito que existe em toda a península do Olympo! - E olha que, com as rondas, eu já vi de tudo por aqui e sei do que to falando.

Um doce, um por do sol incrível no único ponto onde o sol aparece por essas bandas, quem sabe sopra uma brisa... aí eu dou um abraço de “amigo” pra aquecer ela do tempo frio... ÊEEE Jacob, você vai se dar bem hoje, cara!

Coloquei a camisa que Rebeca mandou pra mim, que Billy queria que eu usasse no Natal, também não ia me custar nada ir com uma aparência menos desleixada, não que ela fosse lembrar muito das roupas quando o meu plano de conquista-la tivesse dado certo, mas já que ainda tava na fase inicial eu ia jogar o jogo dela.

Pus um jeans novo também, uma calça que eu raramente usava por achar meio engomadinha demais, sem nenhum desfiado sequer. Passei um pouco de creme no cabelo depois do banho pra tentar amansar o monstro, não surtiu muito efeito, me irritei e parei com essa coisa de “melhorar a aparência”. Peguei a jaqueta de couro surrada de sempre, subi na Harley e fui buscar a tal torta.

Era patético, mas eu tava um pouco nervoso, cara; aquela menina era um osso duro de roer. Mesmo que os meus dentes fossem afiados, não ia ser tão fácil quanto as melhores esperanças apontavam que seria. Devia me preparar pra ouvir alguns “Não, nunca e nem pensar” e pra ver aquela mascara de paty nojentinha que ela usava na maior parte do tempo.

Se pensar mesmo, analisar as coisas de um ângulo mais amplo, eu era mesmo um imbecil.

Qual era o meu problema?

Porque só as garotas IMPOSSIVEIS eram atraentes pra mim? Porque só me interessava por aquelas com problemas e complicações maiores que elas mesmas?

Era definitivamente o meu ima para as garotas ERRADAS em ação.

Porque eu simplesmente não podia arrumar uma KIM pra mim?!!!!

Imbecil, cem vezes imbecil.

 

Amelie P.O.V.

- Srtª Weelow. – Marta me apareceu na porta do quarto contendo sua empolgação a muito custo.
- Sim. – eu disse enquanto passava o esmalte na ultima unha da mão esquerda.

QUE MORTE! Mas eu poderia fazer o que se nesse fim de mundo nem deve ter manicura? E mesmo que tenha, até parece que vou confiar a minha mão que já foi modelo numa campanha de anéis pra Tiffany & Co, aos cuidados de uma açougueirazinha qualquer dessas bandas.

- Jacob ligou e pediu para a Srtª esperar por ele ai na porta daqui uma meia hora que ele ta passando!

- HAHAHAHAHAHAHA. – Até borrei o esmalte. Brincou né?

- Ele também pediu pra lembrar a Srtª de usar um sapato baixo porque vocês terão que andar um pedaço a pé!

- HAHAHAHAHA. Você ta tão engraçada hoje Marta, você deveria se inscrever num show de talentos. – eu falei enquanto ainda limpava a unha estragada.

Ela saiu sem me dizer mais nada e eu continuei com o que tava fazendo.

Aumentei um pouco mais o som e fiquei lá tentando imaginar que na verdade eu estava dentro do meu closet tendo um momento de reflexão pessoal, lá na minha linda mansão em Beverly Hills.

30 minutos depois...

- Srtª Weelow. – Marta veio de novo até o quarto. – Jacob acabou de chegar.

- Que bom pra ele Marta. Espero que sejam felizes! – eu continuei escovando os meus cabelos.

- Srtª Weelow, não vai dar o bolo no garoto, eu a proíbo! – Ela ameaçou toda toda.

- Proíbe, Marta? E como você pretende me proibir? – eu enfrentei.

- A srtª disse que agora eram amigos, não pode deixa-lo esperar assim! – e aí ela me olhou com decepção, com aqueles olhares de “Eu não esperava isso de você” e “Isso não é direito”.

Eu fui desarmada na hora e esqueci o insulto que eu ia dizer, talvez eu pudesse guardar ele para usar com o Black, eu não ia DESSEPCIONAR a Marta por uma coisa relativamente simples como agüentar aquela anta por alguns minutos.

- Mande ele esperar sentado!

- Mas srtª? – a cara dela de decepção aumentou.

- Ei! Mande ele esperar sentado na sala, ENQUANTO EU ME ARRUMO, TÁ BOM? – eu esclareci tentando não socar ela quando seu sorriso apareceu e ela de repente parecia orgulhosa.

Calcei uma bota Chanel branca com preto e própria para a neve, coloquei um cachecol listrado e colorido de cashmere, um suéter rosa claro com um casaco de couro caramelo PRADA e mantive o jeans blue da Calvin Klein que já estava no corpo. Passei um rímel correndo e deixei meu cabelo solto, porque apesar de todo o volume, ele estava do jeito que eu gostava. Era tudo bom demais praquele idiota, então, respirei fundo e segui até a sala pra encontra-lo e ter uma “saída de amigos”

E quem disse que aquela COISA – gostosa, perfeita e PARA DE PENSAR ISSO AMELIE – estava sentada no sofá da sala, como qualquer ser humano normal?
Não, o infeliz e APARECIDO, tava lá escorado numa Harley antiga. – E que eu tinha que admitir que tinha classe. – Com os braços cruzados na frente do corpo em uma camisa cinza com as mangas puxadas até o cotovelo mostrando todas as veias saltadas e os músculos maravilhosos, COM CERTEZA DE PROPOSITO!

Uma jaqueta de couro preta pendurada na moto e tinha uma caixa de aspecto decente apoiada no banco, mas ele tava tampando e não deu pra ver o que era.

- Você deixa todos os seus amigos esperando assim ou é SÓ COMIGO? – ele levantou a sobrancelha pra mim, fazendo uma cara debochada.

- Meus amigos costumam me ligar, combinar a saída e depois entrar e esperar, se eu ainda estiver arrumando. Eles não me tratam como se eu fosse um pacote de carne que eles buscam na hora que dá pra eles buscarem. – respondi no mesmo tom.


- Então não tem nada a ver com o fato de eu não ter vindo numa LIMUSINE?! – ele deu um sorrisinho sarcástico e incrédulo.

- Claro que não! – eu disse ultrajada.


Ta certo que eu era avessa à “pobreza” e às praticas do proletariado, mas eu não tinha preconceito com as pessoas que eram “pobres”, eu não deixaria de ser amiga de alguém SÓ por isso. Por falta de classe, de estilo, de porte, sim, mas POBREZA mesmo, não, nada a ver! A pessoa mais importante da minha vida era Marta, e afinal, ela era minha empregada.

- Você ta muito bonita. – ele cedeu e o sorriso deixou de ser sarcástico pra se tornar um sorriso todo lindo. Aquele menino mudava rápido demais de tática, ele ia acabar me deixando maluca. Eu já me sentia confusa e ainda nem tínhamos ido pro tal lugar.

- Obrigada. – saiu mais sem graça do que devia.


Eu era definitivamente mais idiota na frente dele. E eu não gostava nenhum pouco disso. Era um absurdo.

 

Jacob P.O.V.

Subi na moto e passei a caixa de torta pra frente do corpo, vi ela se esticando e tentando ver o que era. Ainda não! - Eu pensei convencido de que, afinal, tinha sido uma boa idéia. Nem foi tão caro.

Ela tava tão gata que parecia até uma miragem vinda direto de um filme, daqueles que, bom ou ruim, sempre é salvo pela protagonista, que é BOA demais pra ser real.

- Não tem um capacete? – ela perguntou, tentando ser presunçosa, mas aí eu puxei a mão dela e enlacei na minha cintura pra ela se segurar em mim e ela ficou calada na hora, dava pra ouvir o coração dela acelerando às marteladas; eu contive a risada.

- Não vamos sofrer nenhum acidente, pode ter certeza. – eu disse, completamente à vontade e ela deve ter aceitado; ficou calada depois disso.

Acelerei por uma estrada de terra assim que sai da rua principal e quis testar até onde ia a confiança dela, pisei fundo, ela nem pareceu notar a velocidade aumentando, como se sinceramente não se importasse. MUITO DIFERENTE DA BELLA, uma parte involuntária em mim fez a comparação. Parte involuntária E estúpida, porque ainda doía.

Senti Amelie suspirando próximo a minha nuca, quase como se estivesse entediada. Meus cabelos se arrepiaram maliciosamente e Bella voou pra longe da minha cabeça como se eu tivesse tomado algum remédio instantâneo contra ela.

No bolso da jaqueta estava o saco com os refrigerantes, que ainda estariam gelados por causa da baixa temperatura e o pouco tempo que estavam fora do freezer; a manta estava amarrada atrás do bando e faltava só alguns metros pra gente chegar à pé quando eu parei a moto e ela desceu com toda aquela classe e equilíbrio que ela tinha, quase sobre-humanos.

- Vem, falta pouco. – eu falei estendo minha mão, que ela recusou de forma antipática. Abri um sorriso zombeteiro pra ela e ela fez uma careta olhando a mata pra onde eu indicava que devíamos seguir.

- Eu não vou entrar aí! – ela disse casualmente de uma forma confiante, como quem encerra o assunto. Estava sendo pirracenta como eu esperava que ela fosse. Bem previsível.

Eu sorri pra ela sem me abalar e peguei sua mão em um momento de distração, ela relaxou instintivamente, mas logo percebeu o que fazia e retirou a mão.

- Ande logo! – ela decidiu ríspida, passando pela minha frente e entrando onde eu tinha mostrado.

Peguei a manta e a caixa com a torta e a segui, ficando imediatamente a sua frente e guiando ela até o lado do penhasco onde pretendia leva-la. Ela evitou tocar em mim como se eu tivesse alguma doença horrível e super contagiosa, mas eu sabia que não era BEM POR ISSO que ela me evitava, então eu continuei caminhando feliz e relaxado.

 


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