A Patricinha e o Lobisomem escrita por elizabeth beans


Capítulo 3
Capítulo 2 - Mudança de Habito


Notas iniciais do capítulo

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2 - Mudança de Habito

Jacob P.O. V.

 

 

 

Cinco meses depois de ter recebido aquela carta da Bella, eu ainda estava aqui em La Push como o palhaço que eu era.

 

Sem reclamar por vingança e negligenciando ao máximo as minhas obrigações com o bando, dando uma de garoto rebelde estúpido e piegas já que afinal não tinha nada que eu pudesse fazer.

Você pode pensar que sempre havia a alternativa de me transformar e fugir como lobo, pra viver dessa forma pra sempre. É, eu também pensei nisso assim que acordei do meu sono de um dia inteiro depois de ter deitado na minha cama pra digerir aquela informação toda.

Mas não, Billy me fez o grande favor de pegar uma pneumonia e Rachel até se ofereceu para cuidar dele, mas já tinha feito inscrição pra a pós graduação e estava voltando para a faculdade assim que o verão acabace. Eu não ia atrapalhar a vida da minha irmã só porque eu não tinha mais uma e não ia deixar meu pai aos cuidados de amigos se ele tem a mim.

 

Depois disso, bom, felizmente Billy está melhor do que nunca, mas não posso dizer que esses cinco meses surtiram algum efeito positivo pra mim, já que agora eu pareço muito com um zumbi ranzinza que é considerado abaixo de Leah, em questão de boa companhia.

Praticamente só o Quil me agüenta, nem o Embry fica tão perto de mim mais.

 

Arrumei um trabalho numa oficina em Hoquiam e não voltei para a escola, não é como se realmente eu fosse pra Harvard nem nada do tipo. O emprego paga as contas da casa e é útil para me distrair; é claro, meu pai e Quil também tentam.

 

Parece que dei idéias demais a Quil quando mandei ele arrumar uma namorada, ele agora as aplica a mim. Por quatro vezes cheguei em casa do trabalho e tinha alguma “convidada” para o jantar. Gostava de pensar que eu os irritava de verdade com o meu plano de ação para essas ocasiões.

 

Sempre me sentava a mesa sem trocar a roupa suja de graxa, ignorava a garota, comia como um selvagem e o máximo possível, às vezes até deixava de ignorar elas para perguntar se iam comer o que estava em seus pratos. Eu era o mais grosso possível nas respostas das perguntas que as mais corajosas faziam e então quando o espetáculo acabava eu deixava um Quil ou um Billy muito mal humorados, dava uma risada sem humor e tomava meu banho pra dormir e começar tudo de novo. Como eu já disse, não era uma vida.

Amelie P.O.V.

 

 

 

Eu ainda me perguntava se estava vivendo o mesmo pesadelo, ou se tinha entrado em alguma realidade paralela, talvez um estado de coma e um novo nível de consciência.

 

Considerei abdução alienígena por ultimo, não acreditava muito em ficção cientifica ou qualquer tipo de mito; coisas idiotas para gentinha de mente pequena.

 

Uma Marta, sorridente e otimista ao meu lado, na poltrona da primeira classe, no entanto, era eficaz para me trazer de volta à feia realidade.

 

É muito lógico Marta estar assim tão feliz. Ela não esta abandonando toda a sua turma de amigos e conhecidos desde o jardim de infância, todos os seus lugares favoritos onde se sentia segura e alegre ( O SHOPING), todo o seu batalhão de apoio ( Esteticistas, cabeleireiros e manicuras que freqüentou desde a infância.), o seu verdadeiro lar (BEVERLY HILLS, I S2 You).

 

  NÃO MESMO!   Marta estava voltando para casa, para junto do seu povo, como ela mesma se enchia de orgulho em dizer; estava indo morar em La Push, uma pequena reserva indígena lá onde Judas-perdeu-a-ultima-peça-de-roupa, na costa de Washington.   OMG!  Washington. Não, não, É um PESADELO, eu sei que é... Respira Mily, respira.   Sentia-me acuada e ofegante, como se tivesse passado uma semana inteira na dieta de lacticínios e ido malhar com minha amiga Trace em seguida, sem comer nada.

 

A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: Porque eu, Amelie Violet Gerard Beafarth Weelow - Mily apenas para os VIPs - estava indo junto?

 

Não é que eu não tenha gasto 70.000$ em bebida ilegal e ajudado a desativar a ala norte da casa dos pais da Trace, eu sei que ajudei... mas, meus pais não poderiam tirar o meu laptop apple por uma semana ou mesmo, meu celular blackberry rosa e roxo, talvez? Esses seriam os castigos certos. Qualquer coisa assim já me mostraria o valor do dinheiro e da responsabilidade, blá blá blá.

 

Parecia que ... não dessa vez. Uma coisa pior, mas que eu preferia realmente esquecer, eles nem se importaram que já fosse praticamente Natal. HELLOW! Seis dias para o NATAL!!!

 

Varri essa informação dolorosa pra debaixo do tapete na velocidade da luz.

 

Voltando a situação X. A coisa estava mesmo feia, eu era uma pobre exilada de 16 anos confusa e desnorteada sem minha maratona de compras da terça; como eu iria sobreviver sem uma visitinha aqui e outra ali pela Melrose? Oh, céus!

 

Era bom eu ter feito yoga desde os sete anos nessas horas, controlar sua respiração e não entrar em pânico pode ser muito trabalhoso. Já tava vendo a hora em que teria cantado o ultimo mantra calmante que conhecia.

 

Tentei uma abordagem pratica de analise e autoconhecimento, tinha lido uma matéria na PEOPLE que dizia que devíamos fazer listas de nossos problemas para nos confrontarmos com eles e melhor resolve-los. Tudo bem. Concentrei-me nisso.

 

1° - Meu cartão agora tinha um limite: 1.500$ mensais. Deus me ajude!!!! (Isso não paga nem os meus cremes para os pés).

2° Tomaram o meu celular: todos os contatos da minha agenda foram junto. (Eu tive uma vida social um dia, um dia...).

3° Limitaram o uso do meu laptop: duas horas diárias para pesquisa escolar. (Era como pegar emprestado, eca, coisas emprestadas, jamais peguei nada emprestado em toda a minha vida. Que coisa de POBRE!)

 

E então me lembrei da pior coisa, a mais medonha de todas. A nova “casa” teria 1 banheiro, isso mesmo, um único e misero banheiro; não um banheiro para suas amigas ou um banheiro extra caso você preferisse tipos diferentes de HIDRO, nãooooooooo, um só banheiro pra dividir mais Marta, a empregada; não que eu não ame Marta, mas ela é mesmo a EMPREGADA; e eu disse DIVIDIR?

 

Eu teria que dividir algo na vida pela primeira vez e eu não começaria com uma barrinha de cereais.

 

Inspira, expira, inspira, expira... Ai aiaiaiai, eu preciso respirar no saco, só a yoga não adianta mais.

 

Ta, não deu muito certo essa coisa do confronto com os problemas. Isso porque eu não cheguei nem na metade deles.

 

-         Srtª Weelow, fale alguma coisa, eu já estou ficando realmente preocupada com a Srtª. De verdade. – Marta tentava, de novo - pobre coitada - obter alguma reação de minha parte.

 

Eu só pensei: È Marta, deve ser porque a coisa toda é muito preocupante, DE VERDADE!!!!!!!!!!

 

Depois de mais um tempo, descemos em um aeroportozinho que parecia mais uma rodoviária, não que eu já tivesse estado em alguma, mas, hei, eu vejo TV.

 

-         Já chegamos Srtª  Weelow, Aeroporto de Port Angels. – ela anunciava irritantemente animada. – Meu sobrinho deve estar chegando a qualquer hora para nos buscar, o vôo nem atrasou, não é uma sorte?

 

Eu nem sequer balancei minha cabeça, em consideração a Marta que afinal de contas foi quem me criou desde bebezinha; porque se eu ao menos balançasse a minha cabeça, corria o risco de eu abrir a minha boca e acho que se eu abrisse minha boca agora, nunca mais eu conseguiria parar de berrar algumas palavrinhas mágicas, impróprias para menores, sobre como eu considerava tudo o que me aconteceu até ali uma grande, enorme e monstruosa SORTE.  

 

-         Tia Marta. – uma voz grave e firme soou no saguãozinho miserável, onde nós esperávamos o parente de Marta, que muito gentilmente nos daria uma CARONA (Você não disse essa palavra, não disse, é só um pesadelo.)

 

O grande índio pegou nossas malas para leva-las até o seu carrinho popular, insípido e insignificante.Parecia que o homem não estava tendo dificuldade alguma com as MUITAS malas e reparando melhor em seu porte físico, ombros muito largos; comecei a pensar se talvez não teria uma academia naquele fim de mundo.

Achei melhor não nutrir esperanças. 

 

Ainda não mencionei que meus pais me tiraram o meu new beetle, azul-bebê conversível com bancos de couro caramelo, mencionei? Eu era oficialmente uma pedestre agora.

 

 

-         Então Samuel, como vai a Emily? Vocês já se casaram? – Marta conversava, realmente interessada.

 

Me limitei a olhar para a janela e me despedir de qualquer idéia de civilização enquanto tentava MUITO não fazer caretas. É que, elas dão rugas, eu não preciso de MAIS esse problema.

 

-         Ainda não tia, vai ser no mês que vem, no dia 4.

 

Pelo jeito que o homem falava parecia que iria ganhar na loteria e não se amarrar a uma só mulher para o resto da vida. Babaca.

 

-         Ótimo. Chegamos a tempo para a cerimônia, então.

 

Agradece ao meu porre ilegal envolvendo a policia - eu pensei amarga.

 

-         Espero que não se importe de jantar conosco essa noite. Emily não me perdoaria se recusassem.

-         Claro, querido, aposto como a Srtª Weelow também se sentirá honrada com o convite.

-         O QUE? – eu repeti a única coisa que eu tinha dito nos últimos dois dias.

-         Ela aceita, Sam. – Marta se intrometeu.

 

Que bonito, agora ele já era “Sam”. Quem sabe poderíamos cantar uma musica do amigo agora, dar as mãos e cometer um suicídio coletivo? Era uma GRANDE idéia.

 

-         Estou de dieta. – minha voz estava asquerosa depois de tanto tempo calada. Voltei a ficar calada em seguida; mas pelo retrovisor pude ver Marta sorrindo satisfeita, acabara de constatar que eu ainda tinha atividade cerebral regular.

 

QUE ODIO!

Jacob P.O.V.

 

Cheguei em casa no dia 20 de dezembro, tendo sido infelizmente dispensado do trabalho até depois do ano novo; os patrões nunca te mandam trabalhar quando você realmente precisa disso; quem se importa com as festas de fim de ano? Como se eu tivesse alguma coisa para festejar, afinal. 

 

Não vi sinal de ninguém por lá, então tomei meu banho, coloquei um moletom preto e uma camiseta qualquer e calcei um chinelo.

 

Já ia me acomodar no sofá pra ver algum seriado ruim de TV aberta quando senti três conjuntos de braços me agarrarem e me imobilizarem. Eu poderia facilmente me soltar, se eu lutasse, mas estava mesmo desinteressado de qualquer coisa, então deixei eles fazerem o que fosse.

 

-         Isso é uma INTERVENSÃO. – a voz de Quil saiu animada. Embry e Seth riram.

-         Eu não estou me drogando, Quil. – eu aleguei com minha nova voz, sempre entediada.

-         Não temos certeza disso. – Embry falou rindo. Eu fiz uma careta.

-         O que pensam que vão fazer, gênios? – eu perguntei sem nenhuma curiosidade na voz.

-         Você esta sendo intimado para um jantar na casa da Emily. – Seth respondeu.

-         Quem é a vitima da vez? – eu perguntei agora um pouco mais interessado e com muita raiva de eles terem chegado depois do meu banho.

-         Porque pensa que tem uma garota envolvida, Jacob? Você ta ficando muito mal acostumado. Não vou te arrumar mais garotas, você nunca as aproveita. – Quil desdenhou.

-         Até que enfim. – eu rolei os olhos.

-         Mudou de lado, foi Jake? – Embry alfinetou.

-         Mudei Embry, não quer me dar um beijinho? – eu pisquei batendo os cílios teatralmente para ele.

-         Eca, cara. – ele fez uma careta real.

-         Podem me soltar agora? Se não tem mesmo ninguém, eu vou de livre e espontânea vontade. Emily cozinha bem. – passei a mão no estomago e lembrei que estava há um tempo sem nada dentro dele.

 

Eles pararam de me carregar e eu segui com eles.

 

Quando agente entrou, Emily já foi dizendo.

 

-         Quil, elas não chegaram ainda. – eu lancei um olhar assassino para Quil.

-         Ei cara, fica calmo, ela ta falando da tia do Sam e a patroa dela.

-         Marta? – eu perguntei, me lembrando da senhora boazinha que às vezes vinha da Califórnia para visitar La Push.

-         É cara, agora vai melhorar essa cara?

-         Tudo bem. – afinal, ninguém ia me jogar em cima da tia quarentona do Sam, parecia seguro.

-         Ta desenvolvendo fobia de garotas, Jacob? – Emily me perguntou com um sorrisinho. Eu abri outro sorrisinho amarelo pra ela, em resposta.

 

Me sentei no sofá, me perguntando o porque de toda aquela INTERVENSÃO, se não era pra me arranjar uma garota. Não que eu não estivesse mais satisfeito com essa nova abordagem, mas eu ainda não estava 100% convencido dessa mudança. Afinal, era o Quil, pode-se esperar muita coisa do Quil, mas não que ele desista.

 

 

 

    Amelie P.O.V.

 

 

 

Fomos acomodadas em nossa nova casa, se é que aquele muquifinho poderia ser chamado de casa. Só o meu quarto em Beverly Hills era umas duas vezes maior.

 

Quando Marta me levou até o meu “quarto”, que, Deus; era um armário de vassouras praticamente; me sentei na beirada da menor cama de casal que já vira na vida e olhei para cada centímetro de chão que estava coberto pelas minhas malas empilhadas uma em cima das outras já que não caberiam lá se não fosse assim.

 

A voz de Marta veio da cozinha até mim, facilmente; ela nem precisou gritar. Estávamos TÃO perto.

 

-         Arrume-se Srtª Weelow, a casa de Emily é pertinho daqui e nós podemos ir caminhando.

 

Acho que precisei mesmo daquela frase dela pra que a negação fosse um estagio superado em minha mente, agora eu estava definitivamente desesperada e com MUITA MUITA raiva; tinha tanta raiva que não me lembro exatamente como foi que passei as próximas horas a partir desse momento.

 

Sei que me esgueirei para fora sem que Marta percebesse e me vi do lado de fora, em uma avenidazinha que logo mais a frente se resumia à mato, mato e mato.

 

Corri praquela floresta com uma velocidade que não era minha, corria e corria, tropeçava e levantava outra vez pra continuar correndo; arranhei minhas mãos nas quedas já que o resto do meu corpo estava coberto com roupa impedindo que os galhos me arranhassem por outras partes também.

 

Minha vontade de voltar para casa era tanta que eu nem sequer me sentia ofegante.

 

Era como se minha humanidade estivesse sendo substituída e eu de repente tivesse músculos de aço. Acho que os sons que eu ouvia vinham mesmo de mim, a floresta em si parecia muito silenciosa e escura, embora eu não registrasse muita coisa e continuasse correndo na linha mais reta que eu conseguia manter.

 

 Eu nem tinha tempo pra pensar em ter medo; era como não ter mais nada o que perder e eu não tinha mesmo.

Meus pais? Nunca se importaram o suficiente para se manterem em casa mais de uma semana e, nota-se, não vieram junto para o fim de mundo, também.

 

Minhas distrações, meus amigos, minhas coisas, meu quarto que era meu santuário? Tirados de mim, levados embora. E NADA me foi deixado pra suportar isso, nada além de uma babá, uma babá para uma pessoa de 16 anos.

 

Soluços sacudiam meu corpo e espasmos de dor física começavam a me impedir de continuar correndo, eu tropeçava cada vez mais, tinha cada vez mais sangue nas minhas mãos.

 

No tropeção seguinte eu cai, as sapatilhas Chanel completamente arruinadas em meus pés, meu moletom Gucci, edição limitada, todo cheio de lama e meu próprio sangue espalmado em meu jeans Levi’s.

 

Encolhida em posição fetal e completamente anestesiada eu acreditava, finalmente, que eu estava sonhando. Porque simplesmente não era real estar daquele jeito.

 

Acreditar nisso foi a coisa mais reconfortante e maravilhosa que me aconteceu, desde a hora em que Marta me avisou da mudança.

 

 

   


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