A Patricinha e o Lobisomem escrita por elizabeth beans


Capítulo 19
Capítulo 18 - Amo você, idiota!




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Amo você, idiota!

 

Amelie POV

 

 

 

Jake era um lobo, um lobo gigante com uma boca enorme cheia de dentes afiados... ou ESSA era a garota lobo? Definitivamente se ela tinha aqueles dentes, os de Jacob deveriam ser ainda maiores. O cara por quem eu estava apaixonada não era só um índio pobretão habitante do fim do mundo. Pra completar a equação surreal, ele ocasionalmente tinha uma calda.

 

Acordei em lençóis macios tentando me convencer de que tudo era apenas um pesadelo. Kim, ao meu lado na cama, sentada e babando em minha cabeceira era uma prova de que eu não sonhara.

 

E então, mais claro impossível, todas as historias vieram à minha mente e não era Jake quem me assustava, ao final de minhas avaliações.

 

A historia sobre os frios ficava enchendo minha cabeça com imagens de minha própria vida, meu Tio Oliver que nunca envelhecera uma ruguinha sequer em mais de dez anos.

 

Acreditar que tudo aquilo era real - e eu acreditava na parte dos lobos agora, já que eu vi com esses olhos e eu não estava louca - era acreditar que meu Dindo, a pessoa em quem depositei maior confiança do que depositava em meus próprios pais, a pessoa que mais significava para mim, apenas me enganou, sempre, como se eu não merecesse a verdade.

 

- Kim, Kim – sacudi minha doce amiga, que ficara ao meu lado mesmo enquanto eu a humilhava, por vezes. Ela me olhou meio assustada.

 

- Você está bem? - ela me perguntou, saindo de seu estado sonolento e demonstrando verdadeira preocupação comigo.

 

Sorri para ela, embora fosse um pequeno e incerto sorriso, quis tranqüiliza-la.

 

- Onde está o Jake? - perguntei, vendo que a luz que passava pelas cortinas ainda parecia difusa e indicava que estávamos apenas no incio da manhã.

 

- Ele deve estar dormindo no seu sofá! - Ela passou as costas das mãos nos olhos afastando definitivamente o sono. - Convencemos Marta de que você tinha bebido um pouco demais ontem. - ela parecia muito envergonhada. - Desculpe por isso, estávamos preocupados e era o único jeito de ficarmos por aqui sem levantar suspeitas.

 

Por um momento tive raiva. Tudo era segredo, tudo era mentira. Então me lembrei que ELES confiaram esse segredo à mim, logo aqueles a quem desprezei desde minha chegada ao que considerei um exílio e sabia agora ser meu verdadeiro lar. Uma estranha, mesmo com a historia do imprinting enfiada em minha mente, como todo o resto, eu ainda era uma estranha para todos aqui.

 

Meu Tio, minha família, jamais teve comigo essa mesma consideração.

 

- Chama ele pra mim, Kim – pedi, creio que da primeira vez tratando-a com o respeito e deferência que ela merecia. - Eu preciso conversar com ele.

 

- Não o menospreze Amelie, o imprinting é uma coisa seria e ele te ama muito. - ela pedia com os olhos, a expressão e a voz, conjunto completo.

 

- Fica fria – disse firme. Ela sorriu pra mim e se foi.

 

 

Ajeitei meu cabelo e refiz o rabo de cavalo arruinado. Jake não precisava me ver feia e descabelada mesmo que estivesse condenado a me amar pra sempre. O que agora me parecia imensamente lisonjeiro e aproveitável. Sorri sem me conter. Ele não me deixou mais tempo para arrumações, passou pela porta em instantes.

 

- Kim disse que queria me ver, você está bem? - ele atropelava as palavras adoravelmente. - Não achei que iria querer me ver por um bom tempo, achei que teria medo de mim, desculpe pela forma como a Leah explodiu na sua frente, não era assim...

 

 

Eu o calei, findando a distancia entre nós e o abraçando apertado, pela cintura mesmo, colando minha cabeça em seu largo e quente peitoral.

 

- Fica quietinho, tá bem? - Sussurrei, aspirando seu cheiro. - Nós estamos bem, OK? - perguntei olhando para cima e encontrando seus olhos castanhos profundos, mais brilhantes do que nunca.

 

- OK! - ele imitou meu tom e afagou meu cabelo. Voltei a me apoiar em seu peito.

 

- Realmente achei que você fosse sair gritando! - ele disse, casual.

 

- Eu desmaiei, não desmaiei? - disse confiante. - Acho que é chilique o bastante!

 

Senti sua risada baixa contra minha cabeça e continuei ali, escorada no meu... acho que AMOR era a melhor palavra.

 

 

 

Jacob POV

 

 

 

 

 

- Temos que nos arrumar, Mily. - eu disse, mesmo que a contragosto, perto de seu ouvido.

 

Ela separou-se de mim e me encarou.

 

- Vai me dar carona hoje, Black? - perguntou com uma sobrancelha elevada e uma cara de moleca.

 

- Sempre, Srtª Weelow! - respondi puxando-a pela cintura de forma brusca enquanto ela se deixava levar na ponta dos pés e sorria.

 

Me deu um celinho e então sua expressão se fechou, se retesou um tanto.

 

- O que aflige a minha garota? - perguntei segurando seu maxilar e olhando em seus lindos olhos.

 

- SUA garota? - ela desmereceu.

 

- Só minha! - eu disse à sério. Isso a fez voltar o sorriso nos lábios.

 

- Vai pra sua casa Jake, logo eu fico pronta e no caminho da escola agente conversa. - ela disse, saindo da prisão dos meus braços e desatando os cabelos, começando a se arrumar. - Será que a Kim já foi? - perguntou, enquanto se sentava de frente a uma comoda com um grande espelho e penteava os longos fios caramelo.

 

- Acho que sim, ela também tem aula cedo.

 

- Eu bem podia transferir minha matricula para a escola daqui, não é como se fosse muito pior do que Hoquiam. - ela disse de súbito e então se virou. - Não estou dizendo que aqui seja ruim...

 

- Esquece isso, eu entendi. - Disse, porque era obvio que ela estava se sentindo totalmente atrasada na escola de Hoquiam e se sentiria ainda mais aqui na reserva.

 

Por um momento pesou-me na consciência condena-la a uma vida simples quando ela estava tão habituada a tudo o que era caro.

 

- É serio Jake! - ela se levantou e tomou meu rosto nas mãos, me obrigando a olha-la. - Eu estou melhor com você do que estaria com um príncipe da Inglaterra e acredite, eu conheci o jovem Harry quando fui a Londres e ele não chega aos seus pés.

 

- Tá bom Mily, eu acredito! - disse amargamente, me punindo por ter transmitido meu desagrado de uma forma tão obvia.

 

 

- Todas as escolas são perda de tempo, no final. Eu nunca fui CDF, mesmo. - ela disse séria.

 

 

- Quer dizer que La Push agora é o bastante para você? - eu me mantinha cético e percebi que realmente me machucava pensar sobre isso.

 

- VOCÊ é o bastante pra mim. - ela falou e sua voz tremeu. - Jake, eu fugi de você e eu tenho ignorado o que sinto desde que cheguei aqui. Admito que não era o sonho da minha vida acabar em uma cidadezinha de interior e viver em uma casa que só tem um banheiro mas eu nunca, nem em meus maiores sonhos, esperava encontrar amor, porque eu não conhecia amor. Meus amigos não eram amigos de verdade, minha família não era uma família de verdade. Eu só tinha Marta, e bem, eu ainda a tenho e ela é como minha mãe. Agora, você disse que vai me amar pra sempre e eu não vou deixar meu orgulho no meio disso. Com o tempo eu coloco alguma classe nesse lugar. - ela disse com um sorriso largo e eu não podia acreditar no que ela dizia, ainda dividido entre a alegria e a incredulidade. Ela pareceu perceber minha indecisão porque continuou. - Eu amo você, seu idiota, eu amo você de volta, nós podemos viver com isso... Eu, vivi com tão menos. O dinheiro não é tão importante ass...

 

Mas não deixei ela dizer mais nada e a tomei pra mim num beijo sofrego, possessivo e alucinado. Ela me amava, ela não se importava com o fato de que um futuro ao meu lado era um futuro sem todas aquelas marcas caras e baladas da moda. Ela me amava, Amelie me amava e era o que mais importava.

 

Nem podia acreditar que era a mesma garota que chegou aqui a pouco mais de um mês com tristeza em seus olhos falsos e cheia de ataques. Ela parecia tão valente e tão doce ao dizer tudo o que disse. Minha guerreira, minha. A garota que eu sempre acreditei que ela poderia ser.

 

 

 

 

 

 

 

Amelie POV

 

 

Nunca pensei que eu seria daquelas pessoas, felizes em ser o grande peixe na pequena lagoa, mas eu estava tão bem, apesar de ainda confusa em relação ao Dindo e temerosa de que minha situação de órfã me atrapalhasse a viver o meu AMOR...

 

Mas era isso, eu amava e eu era correspondida. Acho que nem mesmo uma bolsa Gucci edição limitada fez tanto por mim quanto os beijos de Jacob faziam. Estava bem com isso: Eu namorava um membro do proletariado!

 

Porque obviamente ele só saiu de minha casa quando eu aceitei ser sua namorada, de forma oficial.

 

Também agradeci a Kim por ter ficado comigo o tempo todo e quase morri de rir da cara dela ao perceber que eu estava realmente agradecendo por algo, sem ser obrigada a isso ou sem a ajuda de substancias ilegais.

 

Pisquei pra ela quando ela saiu pela varanda e juro que ela quase engoliu a língua.

 

No meu Ipod eu coloquei uma seleção de musicas que eu mantinha quase que a sete chaves escondida - porque não fazia muito o estilo da minha antiga turminha PODRE de ex-amigos - e logo que a voz agradável da Taylor Swift chegou aos meus tímpanos, foi como se eu pudesse flutuar.

 

Sabia que a conversa que eu teria com Jacob a caminho da escola não seria das mais amigáveis porque se tratava, em grande parte, do meu Tio Oliver. Jake, no entanto, tinha bastante paciência comigo e isso era algo que eu tinha de admitir para ele.

 

A buzina do Rabitt me tirou de casa imediatamente, a mochila de couro YSL presa em um ombro só. Meu lindo namorado sorria pra mim como se presenciasse a própria Afrodite, vinda do paraíso. Eu definitivamente gostava dessa historia de impressão.

 

- Então, sou todo ouvidos. - ele disse depois de me sufocar um pouco em seu peito largo e me beijar daquele jeito sempre desesperado dele que me fazia suar, independente de sua temperatura elevada.

 

- Eu preciso saber mais sobre os Frios. - disse na lata mesmo, não era muito fã de enrolação.

 

Jacob franziu o senho e fez uma careta horrorosa. Dei um tempo pra ele.

 

- O que quer saber, exatamente? - ele perguntou ainda de muito mal-humor, olhando para frente e evitando o meu olhar. Se ele ia agir como um idiota o problema era dele. Eu teria essa conversa.

 

 

 

 

Jacob POV

 

 

 

Não gostava nada de estar dando todos os dados sobre vampiros que eu conhecia à uma Amelie que ouvia interessantíssima. Mas fazer o que se ela QUERIA saber, e achava que tinha DIREITO de saber.

 

Acho que no fundo, até que eu admitia que estava certo ela querer esclarecer tudo. Foi então que minha parte racional, preocupada em contemporizar com ela sofreu um golpe tão repentino quanto todo o resto de mim que já odiava estar sequer falando sobre aquilo.

 

- Eu quero visita-lo! - ela disse assim, fácil, como se não tivesse pedindo para que eu deixasse meu imprinting ir até outra cidade, quilômetros de distancia e ficar com um vampiro por horas, quem sabe dias, a sós.

 

O freio do carro protestou e cantou os pneus enquanto eu nos jogava no acostamento. Sai disparado do meu banco pra fora, emborcado e tentando conter o fluxo da tremedeira que se apossou de mim. Medo, ódio, panico completo.

 

- Jake! - ela gritava, parecia preocupada.

 

Levei uma mão a frente, me recusando a olha-la. Pareceu me entender já que não se aproximou. Fui me acalmando e pude fitar seus olhos. Ela estava corada e esbaforida, mas não parecia ter medo de mim ou guardar ressentimento.

 

- Eu preciso ir Jacob, ele mentiu pra mim mas ainda é da minha família. Preciso resolver as coisas com ele nem que seja para cortar relações. - ela estava muito séria, mas também foi bastante doce para seu normal.

 

- Não. - eu disse baixo e vi minha voz sair humilhada, implorativa. Não era nem de longe uma ordem. Quem mandava ali era ela.

 

- Jake, entenda.... você pode vir comigo se te deixa mais seguro! - ela tentou, dessa vez se aproximando devagar de mim. Já estava controlado o suficiente para permitir que ela me tocasse. Ela traçou a linha do meu maxilar.

 

- Ele não vai me fazer nada, ele nunca me fez nada a não ser... mentir. - e ela abaixou os olhos e tomou um longo folego.

 

Percebi que ela estava sofrendo com isso. Ela amava o sanguessuga, ela o considerava membro de sua família e ele havia lhe feito muito mal quando mentiu para ela sobre sua condição durante todos esses anos. Até me perguntei se ela realmente não sabia das segundas intenções que eu vi nos olhos do maldito. Me pareceu obvio que ela não sabia disso também.

 

Por mais que tudo aquilo me enchesse de ressentimentos e aflição eu não poderia vê-la sofrer.

 

- Nós vamos, então. - eu consegui dizer e não se parecia muito com minha própria voz ainda, estava ofegante.

 

- Obrigada, obrigada, você é o melhor! - ela pulou em mim, me distraindo e sorrindo, me beijando no rosto, no pescoço, na boca, em toda parte.

 

- Mas não vamos ficar muito. - eu disse, já completamente recuperado do grande susto, tentando não pensar muito no que estava fazendo ao concordar com aquela loucura.

 

- Eu só quero esclarecer tudo. Preciso ouvir da boca dele. Você pode grudar em mim como chiclete no asfalto! - prometeu com olhos brilhantes.

 

Eu a segurei pela cintura e a beijei demoradamente, carinhosamente. Tentando eternizar os segundos em que ela estava ali comigo, segura.

 

Pouco tempo depois nós voltamos para o carro. Já estávamos bastante atrasados.

 

 

 

 

 

Amelie POV

 

 

Jake tinha fugido dessa visita por quase duas semanas mas aqui estávamos nós, parados em frente ao loft que meu Tio adquirira em Seatle esperando que o porteiro confirmasse nossas identidades.

 

Podia senti-lo tenso de encontro aos meus braços, perpassados em seu quadril, tentando manter-se relaxado com os braços em torno de meus ombros, como um namorado comum. Nem cogitaria pedir para que ele esperasse aqui em baixo pois não estava disposta a faze-lo tremer como vara verde de raiva.

 

Segundo Kim e suas dicas de como namorar um lobisomem com sucesso, irrita-lo não era nunca o melhor caminho e eu entendia cada vez melhor sobre as historias e o segredo para saber que era realmente penoso para ele me ver, supostamente, “desprotegida. Tão próxima a seu inimigo de nascença.

 

- Jake, não vai fazer um cena, me prometa. - olhei duro para ele e recebi um olhar tenso.

 

- Não chega muito perto dele, por favor! - ele pediu entre dentes de forma implorativa. Eu quase sorri para a cara torturada que ele fazia. Peguei a mão que estava sobre meu ombro e a beijei. Ele pareceu relaxar, visivelmente.

 

Nossa entrada foi permitida e entramos no espaçoso elevador privativo.

 

Jacob me lançou um sorriso predador quando a porta se fechou e avançou até mim, parecendo muito cheio de idéias.

 

Me segurou pela cintura, me erguendo o suficiente para que eu o abraçasse pela cintura, minhas pernas rodeando seu quadril. Inclinou-se para mim e me beijou na boca com fome e se pôs a distribuir chupões por todo o meu colo.

 

Pega de surpresa e definitivamente exitada eu não pude fazer muito mais que evitar gemer enquanto ele trabalhava em mim.

 

- O que foi tudo isso? - eu consegui dizer ofegante quando ele me largou e aporta finalmente se abriu.

 

- Demarcando o território. - ele disse sacana e eu apertei meus olhos em raiva.

 

- Idiota! - eu tentei acerta-lo mas ele apenas riu e se desviou. - Você me paga Jacob, pode apostar que me paga.

 

Ele veio até mim e me pegou plea mão, sério de novo. Estava na hora. A grande porta de mogno entalhado da cobertura assomava agourenta até nós dois. Não precisei apertar a campainha para que ela se abrisse.

 

 

 

 

 

Oliver POV

 

 

Alguma coisa estava errada. Malditamente errada.

 

Era só o que eu podia pensar quando desliguei o telefone naquela tarde de sexta. Pela primeira vez em muitos seculos senti uma especie de medo se infiltrar em meu sistema morto. Amelie havia me ligado e fora, pra dizer o minimo, fria comigo.

 

Queria marcar um hora para me ver e recusou meu motorista categoricamente dizendo que um “amigo” a traria. Que amigo? - eu desejara como o inferno perguntar-lhe mas me mantive distante de um confronto por telefone.

 

Nada me tirava da idéia que aqueles cachorros estavam envolvidos, mas não imaginei realmente que ela tivesse descoberto nada demais, afinal, para isso eles teriam de contar sua parte da historia e não me parecia que eles queriam muita audiência para seus próprios segredos.

 

Deixei-me cair no sofá como se precisasse daquilo para relaxar, como o humano que eu já não era a tanto tempo. Agora faltava pouco, ela estava a caminho e logo chegaria até mim. Talvez eu devesse contar-lhe de uma vez sobre Eleanor e sobre estarmos prometidos e ligados pela eternidade. Talvez eu realmente o fizesse.

 

O porteiro interfonou e pediu autorização para deixar entrar uma garota que dera o nome de Amelie Wellow. Autorizei de pronto enrolando uma mão na outra, em outro gesto humano inútil de impaciência.

 

Observei o monitor que mostrava imagens do elevador privativo, em ótima resolução. Amelie entrou, linda, serena.

 

Mas então outra pessoa tomou minha visão. Um grande borrão em minha vista de minha amada, devo dizer. Prontamente reconheci o rapaz como um dos cachorros que me interpelaram no dia em que a visitei. Aquele que eu suspeitei que lhe enviava olhares quando ela se retirou com a babá.

 

Meus punhos se fecharam em ódio em vê-lo ali, junto dela, minhas piores suspeitas concretizadas. E nada, absolutamente nada, em mais de quatrocentos anos me preparou para a cena seguinte.

 

Aquele sórdido, sujo e imoral; aquele animal inferior colocou suas mãos possessivamente sobre ela, apalpando-a de forma indecente, esfregando-se nela enquanto ela permitia que ele a tomasse, suas pernas firmes ao redor dele, a cabeça levemente jogada para traz enquanto ele a possuía, parecendo desejosa do que ele fazia.

 

Minha vista se tingiu de vermelho e eu arremessei o copo de cristal, ainda pela metade de sangue, que estivera em minha mão. O cristal foi de encontro ao maldito monitor, destruindo os dois na dura pancada.

 

Meu coração morto parecia se esfacelar em minhas mãos impotentes e e pela primeira vez eu as vi como duas pessoas diferentes. Minha Eleanor jamais me trairia de forma tão atroz.

 

No que pareceram segundos o elevador chegou ao meu andar e eu os ouvi saindo. Ela ria e o provocava, no que parecia a resposta a qualquer piada que o estupido garoto tivesse feito.

 

Não delongaria mais meu próprio sofrimento. Abri a porta.

 

 

 

Amelie POV

 

 

O belo rosto de meu Tio estava contorcido numa expressão de cólera que me fez tropeçar de encontro aos braços seguros de Jacob, que me amparou.
Eu certamente não esperava por uma recepção daquelas.

 

- O que quer? - ele perguntou em um silvo e eu senti Jake praticamente rosnar em minha defesa.

 

Controlei uma lagrima que já se formava em meu olho. Porque ele havia me recebido assim?

 

- Nós precisamos conversar, seria bom se eu pudesse entrar... - tentei me manter firme, lembrando-me que era EU quem tinha direito de estar magoada ali e era EU quem merecia explicações.

 

Ele afastou-se da porta rudemente e aquilo pareceu uma deixa para que o seguíssemos.

 

-Parasita fedorento! - ouvi Jake murmurar em desaprovação.

 

- Shii! - pus meus dedos nos lábios trancados e fiz uma careta para ele, igual quando repreendemos uma criança sem boas maneiras. Ele rolou os olhos.

 

Meu Tio parou de encontro ao grande sofá preto com almofadas de veludo vermelho, manteve-se de costas, recusando-se a me encarar.

 

- Porque mentiu pra mim Dindo? - eu deixei sair assim, sem mais edições. Ser sincera em momentos de crise era uma coisa que eu nunca pude evitar.

 

Ele me fitou pela primeira vez, por de traz de sua mascara de raiva, parecia sentir dor.

 

- Porque me interpela dessa maneira? - ele disse encarando-me de forma ainda muito dura.

 

- Eu sei o que você é... - entendimento luziu nos olhos dele e sua mascara de raiva voltou a toda. Respirei com dificuldade para continuar. - Eu não posso entender... não posso aceitar você ter mentido para mim por tantos anos, você sequer é meu tio de verdade... - abaixei minha cabeça, de repente cansada demais para continuar. Senti Jake me afagando e me rendi a seu consolo quente e saudável.

 

- Me acusa de te enganar, deve estar pensando a respeito da especie de monstro eu sou... Eu me pergunto se você sabe que especie de monstro é este aí, em quem você se apóia, com quem se agarra como uma prostituta num local publico, sujeito a vigilância...

 

Jake se levantou e me deixou cair no sofá.

 

- Retire o que disse, sanguessuga, retire agora mesmo o que disse dela. - ele tremia e se convulsionava e eu só pude ouvir uma gargalhada amarga e assombrosa sair de dentro do ser que um dia considerei como uma parte importante de mim.

 

- Acha que tenho medo de um cachorrinho? Viva alguns anos mais antes de me dirigir a palavra, criança! - Aquela certamente não era a voz que me acalmou e confortou por anos, me fazendo segura, era realmente a voz de um monstro, um monstro frio.

 

Estava assutada mas sabia que não poderia deixar que Jake me defendesse. Pulei precariamente entre os dois, minhas mãos no peito de Jacob. Meus olhos implorando para que ele se acalmasse. Ele parecia tenso demais e ainda assim minha aproximação fez ele se retrair, o medo de me machucar colocando-o sano pelo menos por enquanto.

 

- Eu sei exatamente o que Jake é, porque ele não mentiu para mim como você fez, como você ainda tentaria fazer, creio eu, se eu não estivesse tão segura de quem você é... - e então uma grande raiva nasceu dentro de mim, como se não pertencesse a mim, somente. - Assassino! - eu cuspi.

 

Pareceu que meu Tio ficou ainda mais branco do que sua natureza impunha.

 

- Você não sabe o que diz... - ele desviou os olhos. - Eu não mato para me alimentar, nunca matei.

 

- Mentiroso, Cretino! - eu acusei com as lagrimas tomando conta. - Você matou o que eu um dia senti por você então você é sim um assassino. - respirei, doía, doía tanto e eu só queria sair dali, ir para La Push, me atirar entre minhas cobertas e me acolher nos braços quentes do Jake.

 

- Você não é mais meu Tio, você não é mais nada meu e se voltar a cruzar meu caminho eu não irei pedir pela sua vida quando as “crianças” quiserem elimina-lo. - eu jurei, olhando-o nos olhos e então juntei minhas ultimas forças para sair dali.

 

- Estou orgulhoso de você! - Jacob falou com sua voz mais doce, de encontro a meus cabelos, quando finalmente caminhávamos para o carro dele, para ir embora.

 

- Eu não sei se posso dizer o mesmo... - suspirei, ainda sentindo meus olhos molhados e transbordantes.

 

Minha voz era fraca e eu nunca teria permitido que ninguém me visse daquela forma. Mas uma prova de que eu mudara muito.

 

- Não sei exatamente se fiz certo... ele sempre foi bom pra mim, mesmo que fosse uma mentira... - minha raiva pelo Tio Oliver parecia menor agora que eu descarreguei tudo em cima dele.

 

- Acho melhor assim, você não pode se por em risco o tempo todo pra ter ele na sua vida. - Jake argumentou, sempre sério demais quando falava sobre esse assunto.

 

Me agarrei mais forte a ele querendo dar razão a cada uma de suas palavras e apenas esquecer. Quem sabe um dia eu estivesse pronta para perdoar e ser perdoada, por enquanto eu me sentia ainda muito órfã.

 

Definitivamente sem laços e sem nada que me prendesse ao mundo a não ser o gentil e tempestuoso homem que me mantinha inteira e me levava agora, de volta para um lugar que eu chamei de casa e que agora me pertencia. Talvez Marta tivesse uma caneca de chocolate quente com canela pra me fazer um agrado quando chegássemos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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