A Patricinha e o Lobisomem escrita por elizabeth beans


Capítulo 17
Capítulo 16 - She's the one




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She's the one!



 


9 de Jan. - Fairmont Olympic Hotel Seattle, 2:00hs. da manhã.


 


 


Amelie Weelow estava encolhida no elegante sofá da suíte que lhe pertencia, abraçada à mesma manta que tanto desmerecera quando estava na casa de Marta em La Push.


 


Havia mais de quatro casacos de pele ao seu dispor, sem contar o numero de edredons macios e caros, mas nada parecia aquece-la como aquela manta, então se encolhia cada vez mais e rezava para não suspirar enquanto chorava ou a sempre boa audição de seu Tio captaria tudo, do quarto consignado onde ele já deveria estar dormindo.


 


Sentia-se tão confusa e tão impropria, como se tivesse desaprendido a ser ela mesma, como se estivesse vagando em terra de ninguém. Sua mente e seu corpo gritavam pelo garoto índio que escorraçara acreditando fazer o certo e ela não sabia de mais nada. Algo secara dentro dela e tudo ia muito alem de qualquer entendimento e razão. Não era pra ser assim. Ela fugira do exílio, ela devia se alegrar, estar exultante, mas ela simplesmente não estava.


 


No quarto consignado, Oliver andava de um lado para o outro, cabeça baixa e expressão fatigada. Sua condição de imortal fora o maior dos tormentos nesses últimos dias, pois com ela os sorrisos vazios e as tentativas de encenação de Amélie eram inúteis quando todos os sons de seu corpo indicavam que ela estável miserável, como que arrancada de toda e qualquer alegria e não era assim, absolutamente, que ele desejava começar sua vida com ela.


 


A garota parecia tão frágil que ele nem sequer contara a ela o que deveria ter contado. A historia sobre sua real natureza e toda a sua espera por ela através dos seculos. Sua Eleanor, sua amada pela eternidade; parecia escorrer-lhe pelos dedos e tudo, tinha certeza, estava ligado àqueles malditos cachorros, ou mais especificamente àquele maldito cachorro que mais o enfrentou durante seu embate com eles. O garoto mais alto, aparentemente insignificante e que possuía um poder maior do que ele jamais imaginara sobre sua amada que nem sequer tocou todos os presentes preciosos que Oliver providenciara para ela e comia tão pouco que em quatro dias parecia ter perdido quatro quilos fazendo-se mais franzina do que o aceitável.


 


Só havia uma coisa a se fazer pelo bem de um futuro que agora lhe parecia verdadeiramente ameaçado. Ele iria leva-la de volta para que o tempo se encarregasse do romance adolescente e quanto tudo tivesse um fim ele poderia juntar os cacos e recomeçar, transformando-a e livrando-na das más lembranças humanas. Ele tinha tempo e ela ainda era de fato muito jovem para que ele precisasse correr.


 


Amelie limpou o rosto na manta, tentando fazer isso de forma discreta quando percebeu o Tio passar pela porta que separava os quartos de ambos.


 


- Minha Princesa, acho melhor que você volte para a casa de Marta. As aulas vão começar dentro de dois dias e você já está matriculada na escola de Hoquiam. Eles te aguardam! - o vampiro foi doce, mas não persuasivo. Ela decidiria.


 


- Claro Tio. Podem me levar agora? - disse imediatamente com um alivio que tentou não identificar mas que era claro como agua.


 


Sabia que seu Tio nunca se importaria em manda-la de volta se ela não estivesse fracassando tão visivelmente em ficar longe do “fim do mundo”, que se tronara sem que ela deixasse, o seu próprio mundo.


 


Sabia que só ela poderia fazê-lo recuar de tomar sua custodia agora, com seus pais desaparecidos, mas algo já mudara na relação dela com seu Tio.


 


Era estranho como ela não o via mais como seu único herói, era estranho como ele parecia incoerente as vezes. Movimentos etéreos demais, a pele mais branca do que ela jamais lembrara e o fato irritante de que nunca eles comiam juntos mesmo que ela estivesse recusando bastante comida em meio a depressão.


 


Se Amelie não estivesse tão concentrada em não sucumbir a dor e ao arrependimento de ter tirado Jacob Black de sua vida, talvez ela percebesse sozinha que seu Tio fora aquele que lhe contara a maior das mentiras, sem sombra de duvida.


 


 


 


Jacob POV


 


 


Eu via nos rostos de todos que eu voltara a estaca zero, ao mesmo patamar de sofrimento de quando Bella foi embora. Mas os rostos de Quil e meu pai ainda eram os mais decepcionados, pois eles acreditaram verdadeiramente que dessa vez daria certo.


 


Queria dizer que eles eram idiotas e que eu previra tudo, mas eu acreditei demais para acusa-los disso sem me acusar também.


 


Um semana sem noticias dela. Nem Marta tinha noticias dela porque certamente teria dito a Sam que diria a outro e então a fofoca se espalharia como sempre se espalha por aqui, bem depressa.


 


Não costumava pensar muito em se ela voltaria. Achava melhor fingir que ela nunca aconteceu em minha vida por mais que dessa vez fosse bem diferente de perder a Bella. Fosse uma dor completa. Uma perda emocional e física, afinal, a garota se tronara um vicio para mim e todos aqueles beijos ainda me assombravam em sonhos de esperança que eram verdadeiros pesadelos.


 


Uma sensação era, a mais desconhecida para mim, como se eu estivesse no lugar errado, como se não estivesse mais em casa. Isso eu com certeza não senti com a Bella. Quer dizer, pelo menos minha noção de lar e família ela não tinha abalado.


 


O que me parece que Amelie conseguiu. Ela atingira sua própria cota de abalos em mim e afinal, quem eu estava enganando se eu não pensava mais em Bella, quase nunca e com quase nenhum sentimento desde que Mily tomou tudo para si de assalto.


 


Não abandonei o bando, no fim das contas, e não abandonaria. Esse era um erro que eu iria concertar. Estava agora mesmo a caminho de uma reunião com Sam para rearranjar os horários de rondas para todos, agora que as férias de Natal acabavam.


 


No fim de quase uma hora de discussão sobre que aulas o Seth estava disposto a perder na escola e o que a patroa do Jared estava disposta a fazer por ele, ou mesmo qual eram os horários de babá do Quil, Sam e eu chegamos em um consenso que explorou um pouco Leah e os mais novos mas eles não tinham contas a pagar e isso contou um pouco nos horários da semana embora nós iriamos perder muitos sábados e domingos para recompensa-los.


 


- Jake, você trabalha em Hoquiam não é? - Sam me perguntou enquanto eu juntava uns mapas de cima da mesa e já ia me preparando pra ir embora.


 


- Sim. - respondi ainda concentrado nos mapas.


 


- Tia Marta precisa de uma carona amanha cedo, você poderia leva-la? - ele perguntou enquanto livrava a mesa das anotações dele.


 


- Sem problemas. - respondi no automático.


 


- Obrigado, vou avisar a ela. Que horas você vai mesmo? - ele perguntou quando eu já passava pela porta.


 


- Fala pra ela estar pronta as sete que eu passo lá.


 


- Tudo bem! - ele deu um aceno de tchau e eu fui pra minha casa curtir meu ultimo dia de fossa antes que a vida real me atingisse.


 


 


 


 


Amelie POV


 


 


 


Eram seis da manha quando Marta me acordou. SEIS HORAS DA MANHÃ!


 


- Por que está fazendo isso? - eu choramingava enquanto ela praticamente me carregava para o banheiro e começava a tirar a minha roupa do mesmo modo que ela fazia quando eu era pequena.


 


Estava tão débil que nem me importei. Marta parecia ter o dom de abusar de mim na exata hora em que não estava pronta para me defender.


 


- Sua carona vai passar as Sete e você precisa estar pronta. Eu sei como demora a se arrumar e não vai perder o primeiro dia de aula, mocinha... - e daí seguiu um sermão de meia hora enquanto ela me banhava ainda semi-acordada.


 


Assim que cheguei em La Push um dia antes, parte da minha inercia e depressão foram magicamente substituídas por uma esperança estranha e uma sensação de lar que jamais sentira com tal força a não ser nos braços “daquele lá”.


 


Tão logo pensei nele, no entanto, fui jogada novamente no arrependimento e no desgosto de ter expulsado ele de meu quarto. Não estava totalmente certa de que iria procura-lo e certamente não pediria desculpas mas eu me arrependia mortalmente e o rosto magoado de Jacob resvalava em minha consciência como se estivesse gravado pra sempre ali.


 


Ele sofria e eu sofria por faze-lo sofrer como se estivéssemos de algum modo unidos. Eu acho que fiz mais do que me apaixonar por ele e eu tinha muito medo de sequer cogitar isso.


 


 


Pelo menos não teria de vê-lo, ainda. Não estava preparada para isso, nem estaria tão cedo. Havia em mim uma falta de noção completa do que faria nessa ocasião, o que mostrava um risco de alto nível com alta propensão à cometer as maiores loucuras.


 


Senti a pequena caixinha de lentes escorregar por entre minha mão até o ralo da pia. Em meio ao sono ainda presente a resgatei, constatando que estava vazia e, como eu tinha certeza de que não encomendei lentes novas desde que vim morar no fim do mundo, isso significava que seriam meus olhos cinzentos e insossos que me acompanhariam no meu primeiro ia de aula, querendo eu ou não.


 


 


Gritei de ódio, me despertando finalmente e indo atrás de Marta pra ter alguem em quem descontar.


 


 


 


 


Jacob POV


 


 


 


Billy fez o meu café como de costume e eu peguei as chaves do Rabitt me preparando para ir até a casa que por todo aquele tempo eu considerei como sendo a casa dela e que agora eu tinha de lidar com a verdade de ser apenas a casa da Tia de Sam.


 


Não fazia frio pra mim então estava vestido com uma camiseta preta, minha jaqueta de couro e minhas jeans favoritas para ir trabalhar, cheias de buracos e bastante confortáveis.


 


Trabalhar em uma oficina não te obriga a desfilar moda, uma das coisas que muito me agradava em meu emprego e que me poupava muito dinheiro e tempo.


 


Parei no acostamento, em frente à casa e buzinei duas vezes para alardear minha presença. Apoiei minha cabeça em meus braços, debruçando-me sobre o volante e demostrando a fraqueza que eu não devia demonstrar assim que as lembranças dela correndo pela porta e vindo ao meu encontro me tomaram.


 


- Só um instante querido! - Marta apareceu na janela da sala me fazendo um sinal de espera com as mãos e depois as enxugando em um avental. Franzi a testa pois ela não parecia pronta para ir. Nem perto disso.


 


Então minha respiração parou, vergonhosamente, assim que Marta veio empurrando uma garota pela porta enquanto a mesma lhe tentava esbofetear e segurava uma escova de cabelos.


 


 


- Já disse que não terminei de pentear... me devolve isso Marta! - ela lutava com a senhora que estava ganhando visivelmente e a empurrava cada vez mais de encontro ao carro.


 


- A senhorita vai atrasar, Jacob, Srtª Weelow! - Marta disse séria e a garota estacou como se tivesse sido presa por estacas de ferro.


 


Como uma palavra magica meu nome pareceu fazer com que ela virasse uma massa inerte e Marta abriu a porta do meu carro conseguindo empurra-la ao banco de passageiro com facilidade impressionante.


 


Amelie sabia tanto quanto eu que iria de carona comigo. Ela estava branca como cera e não esboçava reação alguma. Antes que eu a olhasse de frente alguma coisa a moveu e grandes óculos escuros cobriram seus olhos. Eu não os vi. Marta acenou um adeus e disse obrigada por sua patroa que ainda estava muda, enquanto uma parte de mim que ainda se mantinha capaz acelerou o carro e nos pôs a caminho de Hoquiam em um turbilhão de emoções e um monte de perguntas que nenhum de nós ousou responder.


 


O silencio era mortal e palpável.


 


 


 


Amelie POV


 


 


 


Essa maldita viagem parecia que nunca iria acabar. Eu sentia ele presente naquele carro como se em vez de a um metro e de mim, ele estivesse a um centímetro. E era a distancia emocional a maior de todas, como se ele de repente se mudasse para a China enquanto eu tentava gritar o seu nome daqui de Washington.


 


Soava frio e engolia em seco enquanto tentava muito não olha-lo e mesmo assim falhava miseravelmente, agradecendo a Deus por meus óculos completamente negros que impediam-no de me ver o secando pela visão lateral a cada segundo.


 


Como podia estar ainda mais bonito. Desleixado, claro. Uma aparência pobretona e totalmente indecente mas, era inegável; tão lindo, tão gostoso, com seus músculos grandes e bem colocados e aquela pele macia e aquele cheiro de chocolate, pinheiro e manhãs de Natal por todo o carro que era dele e por isso parecia mais um criadouro daquela essência.


 


Minha mente ia até todas as vezes em que ele me tocou, meu coração acelerava e meu baixo ventre se exitava com cada uma das lembranças quentes daquelas mãos mais quentes ainda pelo meu corpo. Achei que meu coração pararia e eu certamente estaria ofegante se não estivesse tão resoluta a resistir.


 


Eu queria ele em mim, em cada pedaço do meu corpo e eu não estava nem ligando se tivesse que pedir desculpas. Acho que estava bem perto disso, quando:


 


- Chegamos, fique com esse cartão da oficina. Você sai mais cedo! - sua voz séria e gelada me acordou de toda aquela fome inexplicável me deixando com raiva por não estar afetando ele assim como ele me afetava.


 


- Eu posso ir embora de ônibus. Marta disse que eu teria que aprender. - refutei descendo do carro com a pouca dignidade que me restava.


 


- Fique com ele mesmo assim. Tanto faz pra mim te dar carona de volta ou não, faça como quiser. - ele disse e antes que eu pudesse me virar e chinga-lo, tirando meus óculos e olhando-o nos olhos com toda minha raiva, ele se foi arrancando aquele carrinho ridículo dele.


 


Eu estava de frente a um prédio de aparência desgastada e caipira. Minha nova escola.


 


 


 


 


Jacob POV


 


 


Eu me sentia um panaca completo. O cheiro daquela garota entranhado em mim até a minha ultima celula, as batidas rápidas e certamente assustadas do coração dela me seguindo como a melodia de uma musica ruim.


 


Mas parecia que eu estava em casa outra vez, que as cores tinham sentido e isso era tão desesperador. Eu a amava e quis abraça-la no momento em que Marta a empurrou para o carro.


 


O que eu faria com ela de volta? Não parecia muito melhor para mim do que quando ela se foi. A tensão entre nós dois era enorme e eu tentei tudo o que podia para não demonstrar o quando ela mexia comigo. Eu fui um grosso mas pelo menos ela pegou o cartão. Se precisar de mim tem ele e eu odiaria que qualquer coisa acontecesse com ela.


 


Por mais raiva que eu tivesse dessa situação eu tinha mais alivio; por ela ter voltado inteira e humana da maldita excursão ao covil do Tio sanguessuga. Pelo choque que ela pareceu levar enquanto me via em sua frente. Pelo suor que exalava dela indicando seu nervosismo e pela sua voz engasgada e branda, quase como se se importasse tanto quanto eu de estar ali, na frente dela depois daquela semana de incerteza, sofrimento e pesadelos.


 


Cheguei na oficina alheio a tudo. Peguei o primeiro serviço mais complicado que encontrei e me enfiei debaixo de um carro para expurgar Amelie Wellow de mim, como se isso fosse ao menos possível.


 


Na minha mente, a lembrança constante do seu sorriso que eu adoraria ver outra vez e a constante penitencia por ainda pensar dessa forma.


 


 


 


 


 


Amelie POV


 


 


 


- Pode se sentar naquela carteira ali no canto, por favor! - um professor baixinho e barrigudo indicou uma peça de plastico vagabundo com uma mesa de formica pintada de branco e cheia de rabiscos.


 


Quase tive um treco com aquela visão bestial e foi impossível não me recordar das belas e modernas cadeiras de aço inoxidável da minha antiga escola.


 


- Claro! - tentei não passar muito do meu nojo naquela misera palavra.


 


Mas acho que ele entendeu bem o que eu achei, já que fez uma cara ofendida e foi para sua mesa de professor, não muito melhor que a minha.


 


Uma garota ruiva com muitas sardas e olhos grandes e verde-aguados tentou me chamar a atenção cutucando o meu braço. Com grande pavor eu a atendi antes que ela me perfurasse com seus cutucões.


 


- Você é a novata que veio de uma escola particular na Califórnia? - ela perguntou com o que devia achar que era cortesia.


 


- Não, eu sempre estive bem aqui! - disse com meu grande sorriso falso e ela fez uma cara confusa.


 


Coitada, eu não a culpava pela chuva ter afogado seus neurônios e nem tão pouco estava me importando já que tudo o que não pretendia era fazer amigos naquela coisa que chamavam de instituição de ensino.


 


Sem mencionar que aquela aula pareceu uma reprise de meu ano de caloura. Que gente atrasada!


 


No intervalo, quando eu pensei que não poderia piorar, me deram uma bandeja cinzenta que se parecia exatamente com aquela em que prisioneiros comem nos seriados de TV que falam sobre gente na cadeia. Eu refutei e disse um: “Não, obrigada!” para a moça que me servia e ela falou com uma cara de bunda:


 


- Se não quiser comer na bandeja não vai comer de jeito nenhum!


 


E eu sai sem me dignar a olha-la uma vez mais. Mal educada e mal comida, isso sim era o que ela era.


 


Fui até a mesa mais distante e reservada daquele refeitoriozinho pífio, me lembrando de trazer o meu almoço de agora pra frente e quando eu já estava quase lá um braço me pucha e me faz virar de frente para uma garota loira de farmácia e com olhos castanhos muito comuns.


 


- Por que está com esses óculos aqui dentro, não tem noção do ridículo, novata? - ela disse em meio a risadinhas nasaladas enquanto mais três garotas fechavam o cerco.


 


Olhei para as roupas delas e deu um suspiro na tentativa de adiar a gargalhada. Lideres de Torcida do interior. Eu colei chiclete na cruz de Cristo.


 


- Querida, não precisa se sentir ameaçada por mim! - falei soltando meu braço com agilidade e sendo discreta ao mesmo tempo.


 


Olhei-a de frente, queixo erguido e tirei meus óculos Dior apoiando-os na cabeça, afim de fita-la melhor.


 


- Eu sei que eu sou possivelmente a garota mais bem vestida que você já viu em toda sua curta vidinha caipira e tenho certeza que você está achando que eu cheguei aqui para tira-la do seu grande posto de soberania aqui nesse lugarzinho mediócre mas faça um esforço para entender... - e cheguei bem próxima à ela, deixando o bico do meu scarpan esmagar o dedinho mindinho que saia pela sandália vagabunda que ela usava. Vi seus olhos se apertarem em dor e dei um sorrisinho. Continuei. - Eu não estou interessada em nenhum par de calças que possa estudar aqui nessa escola ou que more aqui nessa cidade ou que sequer já tenha lhe encostado o dedo. Também não me interesso por esportes de equipe e como nesse buraco não deve ter esgrima você vai ver que eu passarei como um fantasma por essa escola e estarei logo, logo, bem longe daqui.


 


A garota fez menção de falar algo e eu levantei minha mão a impedindo. Baixei ainda mais meu tom de voz para que só ela ouvisse e aliviei a pressão de meu sapato em seu pé.


 


- Agora você vai ser uma boa menina e mesmo que não tenha entendido tudo que eu disse vai dar meia volta e vai sumir da minha frente ou eu terei mais advogados atrás de você por danos morais do que um dia os seus pais sequer pensaram em combater. - E dito isso baixei meus óculos e me virei sem ser abordada para ir emfim, até a mesinha.


 


Teria que comprar novas lentes depressa. Não me agradava muito ficar de óculos escuros o tempo todo embora não fosse como a idiota tenha dito, ridículo. Era assim que as pessoas sem senso de moda pensavam enquanto aquelas que entendiam do riscado sabiam que o óculos escuro nada mais era que um acessório como outro qualquer e não necessariamente deveria servir para barrar o sol.


 


 


No mais o dia foi bastante comum e entendiante, como esperado e quando fui me informar na secretaria sobre o horário do – suspiro – ônibus, descobri que o único ônibus escolar que fazia o trajeto até Forks estava estragado e eles ainda não haviam substituído, o que me deixava com uma mão na frente e outra atrás, completamente preza nessa cidadezinha.


 


 


O cartão de Jake queimou no bolso da minha calça Gucci e mesmo odiando admitir, eu me sentia grata por ele ter tido a bondade de me dar aquilo. Pus-me a caminho da tal oficina.


 


 


 


Jacob POV


 


 


- Está muito distraído hoje, Jacob. - O sr. Doock, meu patrão, ia falando enquanto me via sair debaixo do veiculo que concertava com a camisa toda manchada do óleo que o carro refugou.


 


Tirei a camisa e enfiei no bolso detrás do jeans limpando minhas mãos em um pano já muito sujo que estava em cima do capô. Teria que me virar com uma regata que tinha sempre de reserva no porta malas do Rabitt.


 


Não era de me sujar muito mas hoje era um dia em que estava de fato, muito distraído, como bem reparou o homem.


 


Quem sabe se eu pensasse menos em uma certa garota e mais no carro acima de mim, eu teria me mantido limpo?


 


Como que por um arremedo do destino ouvi sua voz insegura e até mesmo tímida soando pelo grande galpão da oficina.


 


- Jacob. - ela chamava.


 


Parece que engoliu a arrogância e iria aceitar a carona. “Bom pra ela!” - uma parte amarga soou em mim, ainda mais arrogante do que eu a acusava de ser.


 


- Jacob! - chamou de novo, parecendo cada vez mais incerta. Achei melhor responder.


 


- Aqui no fundo, no carro verde. - gritei para que ela ouvisse, afinal não era ela quem tinha um ouvido de cachorro, por assim dizer.


 


 


- No fundo? - ela perguntou ainda vacilante.


 


- Siga reto Amelie, sem mais complicações. - disse impaciente, mas não grosso.


 


 


Ouvia o tiquetaquear dos saltos dela de encontro ao concreto. Eles se aproximavam cada vez mais.


 


- Achei você... - ela ia dizendo com bom humor, então parou. - Ou os seus pés! - completou. Não pude deixar de rir.


 


 


Deslizei o carrinho e me levantei. Ela estava de costas para o lugar em que surgi.


 


Pude distinguir claramente o movimento que ela fez enquanto tirava os óculos escuros e virava o corpo de frente para mim. Os cabelos soltos e revoltos fazendo um grande arco com a brisa que os pegou no giro, a outra mão arredando fios que caíram sobre os olhos agora desprotegidos e então EU A VI. Eu a vi de verdade pela primeira vez. Sem aquelas lentes difusas e restritivas. Eu a olhei nos olhos e era ELA.


 


ELA estava bem diante de mim. Aquela que foi feita para mim.


 


Os orbes cinzentos como o céu de Washington ou como o mar de La Push nos dias de inverno, os olhos mais doces e ao mesmo tempo mais fortes que eu já vira em toda a minha vida. Quase impossíveis demais. Quase impossível demais que fosse ela a me cegar ali, como se o sol estivesse nascendo na meia noite, como se nada fizesse absoluto sentido.


 


Como um homem cego que enxergava depois de uma vida na escuridão ou como um servo fiel que da a sua vida por sua rainha. Era isso que ELA era. A rainha da minha vida. A única até a minha ultima respiração.


 


 


Eu não conseguia acreditar.


 


 


Não fazia sentido e fazia todo o sentido.


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