Inopino escrita por Roberta Matzenbacher


Capítulo 17
Capítulo dezessete


Notas iniciais do capítulo

Hello, girls! Tudo bem?
Então... Eu sei que não postei na sexta nem no sábado como prometido, mas isso só aconteceu porque eu enfrentei dois problemas sérios: falta de internet e desespero. Tá, pode até parecer exagero, hsaushua, mas é a verdade. Meu pai resolveu que queria baixar o preço da internet e trocou nosso plano, sendo que agora NUNCA tem sinal, mas enfim... Já na parte do desespero, foi porque fiquei presa numa parte desse capítulo que me rendeu altas discussões com minha amiga Gisele. Por isso, quando tu ler essa nota, Giks, sinta-se agradecida! Não posso te dedicar a fanfic inteira como tu quer, hahaha, mas esse capítulo aqui sim! ♥ Beijos, sua lindona.
Também quero agradecer MUITO os reviews que vocês estão me mandando! Fiquei feliz não apenas com a quantidade, mas com a qualidade! Teve gente que eu não via há tempos e surgiu do nada apenas para a minha felicidade! E claro, os novos leitores que estão demonstrando sua opinião. Gente, isso me deixa muito, muito, mas muito contente. Vocês não fazem ideia de como isso me motiva a continuar sempre. É tão bom receber um retorno, não postar para as paredes, como gosto de dizer. Obrigada mesmo por isso. Estamos na marca 200, hein? Quem diria?
Por último, queria alerta-las sobre algo que esqueci no capítulo passado. Estamos em contagem regressiva, sabiam? Mas não é para o final da fic, shaush, mas sim para a cena do colar! Yeah! Muita gente está ansiosa e eu sei bem disso. Então, aviso que o capítulo passado foi a cena 10 da contagem. Portanto, estamos na cena 9! Agora, sejam boazinhas e parem de me importunar com isso, está certo? shuasha. Não falta muito não!
Bom, bom, bom... Chega de falar!
Vamos ao capítulo.



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Capítulo dezessete

O vento frio da manhã batia em meu rosto, mas eu estava longe de me importar. Na verdade, até gostava da sensação. Era muito bom apreciar o contraste da agitação que acontecia ao meu redor.

De acordo com o cronograma da Academia, a chegada da rainha Moroi, Tatiana Ivashkov, estava prevista para dali alguns dias e isso foi o bastante para colocar o ambiente em polvorosa. Caminhões atrás de caminhões irrompiam pelos portões a cada duas horas e metade dos guardiões fora designada apenas para o carregamento. Como consequência, minhas rondas praticamente dobraram, o que me deixava feliz. Assim, aproveitava aqueles momentos longe de tudo para tentar me esquecer do último episódio épico que poderia muito bem ter custado meu emprego.

Ainda não podia acreditar na minha ousadia, na forma como eu perdera a cabeça e quase agredira um aluno de St. Vladimir, que, por acaso, era Moroi da realeza e parente de Ivan. Quando foi que comecei a ser tão impulsivo? Por que eu não poderia ter simplesmente agido como uma pessoa civilizada? Eu sabia a resposta, e era isso que me incomodava. Só de pensar na conversa que presenciei e no modo como os encontrei, tinha certeza de que, mesmo agora, eu não teria agido de outra maneira.

De alguma forma, era ela a responsável pela minha reação. Rose. Se fosse qualquer outra garota, mesmo Lissa, eu não me importaria. Poderia até tê-los punido como espera o regulamento, mas a sensação de decepção e desgosto nunca teriam me atingido. E por quê? Eu não sabia – e nem queria. Pois, quando começava a pensar a respeito, as explicações que me vinham à mente não me agradavam nenhum pouco.

Então, ali estava eu, atento aos movimentos acelerados dos funcionários, tão parecidos com meus pensamentos. Aquelas rondas estavam sendo minha válvula de escape, meu refúgio, mas eu sabia que não duraria muito. Apesar de não querer encarar a situação, não poderia fugir por muito tempo, ainda mais quando faltavam apenas vinte minutos para que elas acabassem. E eu queria estar pelo menos um pouco mais relaxado quando encontrasse Rose, e mesmo depois disso. Não suportaria ter de encara-la sem resolver minhas próprias questões.

Portanto, quando o tempo finalmente acabou, meus pés me guiaram até o escritório de Alberta.

– Com licença? – Sussurrei depois de bater. Ela apenas acenou para que eu entrasse, focada em organizar uma pilha de papéis. Quando terminou, Alberta juntou as mãos em punho abaixo do queixo.

– Algum problema, Belikov? Está tudo bem com a princesa?

– Ah, sim. – Pigarreei, pego de surpresa. Fazia muito tempo que eu não pensava no problema de Lissa. – Depois que você trocou meus horários, eu pude acompanhá-la mais de perto.

Aquilo não era bem a verdade, já que eu passara mais tempo na igreja ou em meu quarto do que qualquer outro lugar. E depois, com as rondas e meus pensamentos confusos sobre Rose, não haveria espaço para outras coisas.

– Então, o que quer?

– Eu fiquei sabendo que estão precisando de ajuda nos preparativos para a chegada da rainha e queria saber se fui escalado para o serviço. – Fiz uma pausa. – Se não, eu gostaria muito de fazer isso.

Ela me encarou com o cenho franzido.

– Algum motivo em especial?

– Não. Eu só não gosto de ficar parado quando há trabalho a ser feito.

– Mas você já tem trabalho até demais, Belikov.

– Eu sei... – Eu disse, frustrado. Como explicar minha necessidade de fugir de tudo? – Estou dando conta disso. Mas mesmo assim.

Ela suspirou.

– Certo. Eu tenho aqui uma lista com todas as atividades mais pesadas, você sabe, carregar as mesas e cadeiras, prender os tecidos, abrir os tapetes... Essas coisas. Se quiser, eu posso encaixar você nos intervalos que tiver e depois dos treinos com Rose também, mas...

– Perfeito. – Interrompi-a. – Pode fazer isso.

– Tudo bem. – Ela alongou as palavras, surpresa. Eu via sua confusão, mas torcia para que não me perguntasse nada, pois não saberia o que responder. No entanto, para meu alívio, ela apenas pegou uma de suas longas listas e rabiscou mais uma vez os meus horários. – Pronto. Um novo carregamento vai chegar daqui a dez ou quinze minutos. Se quiser, já pode ajudar por lá.

– Ok, obrigado.

– Disponha.

Meia hora depois, eu estava dentro do salão de recepção, ajudando a desencaixotar os objetos decorativos para o banquete. Havia mais alguns guardiões da Academia, mas a maioria pertencia à guarda real. Aparentemente, a rainha não saía sem que sua comitiva fizesse uma inspeção minuciosa de todos os lugares onde ela passaria, ainda que fosse uma escola cercada por wards e tudo o mais.

Mantive-me focado em meu trabalho, tentando não pensar em mais nada. As atividades por ali eram constantes, tendo pelo menos uma pessoa da equipe de preparação passando para nos avaliar, seus olhos atentos a qualquer defeito. Aquilo me ajudava muito a distrair minha mente, mas não impedia que imagens indesejadas a invadissem. Sem que eu percebesse, relances de pequenos detalhes me tomavam, como a maneira que encontrei Rose naquela saleta, as formas do seu corpo e suas palavras acusadoras. Quando aquilo acontecia, eu prontamente as afastava, querendo escapar dos sentimentos conflituosos que elas me provocavam.

– Psiu. Ei, Belikov? – Yuri chamou, aproximando-se de mim. Desviei a atenção do que estava fazendo para olhá-lo. Havia um pequeno bilhete em sua mão que ele prontamente me estendeu. – Recado da Kirova. Está encrencado, hein, colega?

Franzi as sobrancelhas, confuso.

– Duvido muito. Eu não tenho ideia do que ela poderia querer falar.

Ele deu de ombros.

– Bom. Seja lá o que for, boa sorte.

Com um suspiro, entreguei a caixa a Yuri e me afastai do salão, rumando sem pressa até o escritório de Kirova. Surpreendentemente, a porta já estava aberta quando cheguei, mas um segundo de análise me fez perceber que uma mão a segurava por dentro. Havia vozes ressoando dali, também.

– Eu já mandei chamar o guardião Belikov, professor Nagy. – Era Kirova. – Ele com certeza irá nos explicar o que aconteceu.

– Sim, mas me admira ele ainda não ter reportado nada à direção como manda o protocolo. Eu tive que interceptar um bilhete clandestino no meio de minha aula para descobrir isso.

Revirei os olhos.

– Com licença? – Eu disse, fingindo chegar naquele momento. Professor Nagy se empertigou no lugar e endureceu a postura assim que ouviu minha voz, calando-se. – Mandou me chamar, diretora?

– Sim. Por favor, entre, guardião Belikov.

Acenei para o professor ao passar, fingindo displicência. Ele retornou meu cumprimento, mas se manteve quieto. Por fim, escorei-me na parede a frente de Kirova e aguardei.

– Belikov, pode me explicar o que é isto? – Ela disse finalmente. Em suas mãos, segurava vários pedaços de papel rabiscados com caneta azul, mas eu não tinha ideia do que aquilo significava. Pela forma da escrita, pude captar algumas dicas. Um tal de J, um encontro em uma saleta vazia...

Ah, não.

Rose.

– Hum... Me parece uma conversa entre estudantes. – Disse hesitante, disfarçando minha surpresa. – Mas não imagino o que isso tenha de relevante.

– E uma interação entre garotos e garotas no dormitório Dhampir por acaso virou irrelevante? Ainda mais, sendo esta garota sua aluna, que, se bem me lembro, ainda está passando pela fase probatória?

– Bom, não pensei que algo assim pudesse lhe importar tanto, diretora. Ainda mais quando está escrito aí que, hum, Rose recebeu de mim “uma bronca que foi foda”. – Contive o sorriso. Isso era tão a cara dela. – Pensei que duas horas extras por dia e um treinamento mais puxado já seriam suficientes como punição, mas se a senhora achar que precisa de mais eu posso...

Sua boca se abriu em choque.

– Desculpe? Mais horas de treino?

– Isso. – Assenti. – Rose concordou com essa punição, diretora. Inclusive, está quase na hora do treino. Estava indo para lá quando recebi seu chamado.

– Simplesmente concor... Bom. – Ela suspirou, jogando os papéis na lixeira. – Apenas fiquei preocupada. Rose e a princesa Vasilisa trocavam esses bilhetes no meio da aula e fiquei muito chocada ao saber disso pelo professor Nagy. – Sei. Estava mais preocupada em arrumar uma desculpa para expulsá-la, isso sim. – Mas já que tudo está resolvido, não há razão para alvoroços.

– Concordo. Posso me retirar?

– Sim, claro. Está dispensado. E o senhor também, professor.

Mas o pobre Nagy continuou em sua posição, aparentemente chocado com o desenrolar da conversa. Aproveitei o momento para colocar minha mão em seu ombro e sussurrar:

– Professor Nagy, fico feliz por se preocupar tanto com o regulamento. Isso é quase uma raridade quando Rose está envolvida. – Pisquei, cúmplice. – E caso ela faça mais alguma coisa que perturbe sua aula, não hesite em me avisar, sim?

– A-aham. – Gaguejou. – Com certeza irei.

Abri um sorriso conciliador.

– Então, temos um acordo.

Mas, quando finalmente saí dali rumo ao ar livre de fim de tarde, ele sumiu do meu rosto imediatamente. Uma sensação estranha tomou meu corpo, mais precisamente, o meu estômago, e eu não era capaz de respirar. O que estava acontecendo comigo? Por que qualquer menção ao ocorrido da noite passada me deixava daquele jeito?

Eu não sabia o que pensar. Relembrar aqueles momentos era torturante e eu já não aguentava mais reprisar o que acontecera sem ficar completamente insano. Minha reação às palavras daquele garoto e suas intenções com Rose... Aquilo nem era o pior. A irritação que eu senti no começo até poderia ser justificada por esse motivo se não fossem outros fatores, estes que eu considerava bem mais graves. A forma como a olhei quando percebi sua falta de roupas, a forma como me senti ao constatar o quão atraente ela era sem elas. Isso sim era perigoso. Fazia-me sentir um estranho, alguém diferente do Dimitri que eu pensara conhecer até então.

Não havia outra explicação plausível.

Com esforço, guiei meus pés em direção ao ginásio de esportes, fazendo valer a mentira que contara a Kirova, mas, por alguma razão, eles não queriam me obedecer. Eu não tinha ideia do que faria quando encarasse Rose. Não estava preparado para suas reações, que poderiam ser imprevisíveis, não suportaria qualquer tipo de insinuação, do seu asco por minha atitude.

Literalmente, eu estava maluco.

– O que eu faço agora, vovó? – Murmurei em russo, cobrindo meu rosto com as mãos, completamente exasperado. Ela soubera o que me dizer no momento em que mais precisei, mesmo que eu ainda não tivesse ciência disso, talvez pudesse me ajudar novamente. – Como posso agir a partir de hoje?

Rapidamente, tentei reprisar o sonho que tivera semanas atrás, buscando alguma coisa, qualquer coisa, que eu teria deixado passar, mas a única imagem que aparecia era a minha própria, enquanto resvalava meus dedos pela roza vermelha. O contraste entre a delicadeza daquelas pétalas e a selvageria dos espinhos me hipnotizou desde aquela época, no entanto, quando pensava a respeito, não via ninguém que pudesse representá-la melhor do que Rose.

Frustrado, decidi que lutar pelo controle dos meus pensamentos seria inútil, não quando quem disputasse pelo espaço fosse aquela adolescente encrenqueira. Sorri involuntariamente. Era engraçado pensar como uma única pessoa era capaz de mudar tantas coisas, mas eu decidi que não valia a pena me martirizar por aquilo. Claro, não me sentia completamente preparado para encará-la outra vez, entretanto aquilo não importava. Eu havia prometido a ela uma chance para provar que era digna de minha confiança. Além do mais, estava sendo patético. Admirar minha aluna era uma atitude desprezível, tudo bem, mas isso não queria dizer que aconteceria outra vez. Eu me certificaria pessoalmente disso.

Alguns dias depois, quando Rose chegou para um novo treinamento – na hora certa, não atrasada –, prontamente a posicionei no meio do tatame do ginásio para que ficássemos de frente um para o outro. Aquela era a posição padrão para praticamente todas as lutas corpo a corpo que usaríamos dali em diante. Ela não disse nada, apenas me observou enquanto eu cruzava os braços diante do meu peito, concentrado.

– Qual é o primeiro problema que você vai enfrentar ao se deparar com um Strigoi? – Perguntei.

– A imortalidade deles?

– Pense em algo mais básico.

Ela franziu o cenho por um momento.

– Eles podem ser maiores do que eu. E mais fortes.

Assenti.

A maioria dos Strigoi possui a mesma altura de seus antecedentes Moroi. Eles também são mais fortes, têm reflexos mais rápidos e sentidos mais aguçados do que os Dhampir. E é por isso que os guardiões fazem um treinamento tão pesado: precisamos compensar essa desvantagem.

– Isso torna as coisas difíceis, mas não impossíveis. Você poderia muito bem usar o excesso de peso e de altura de uma pessoa contra ela mesma. – Indiquei meu peito. – Eu, por exemplo, devo ter pelo menos trinta centímetros a mais do que você, além de mais massa muscular, mas essa vantagem nem sempre é positiva. Seus reflexos são mais rápidos que os meus e, por isso, você tem maior liberdade de locomoção. Se você usar isso para me derrubar, conseguirá poupar força e resistência.

Eu me virei, então, e demonstrei a ela diversas manobras, apontando para os locais aonde era melhor se mover e como deveria me atacar. Percebi certa hesitação de sua parte no início, mas isso se extinguiu conforme ela pegava o jeito dos golpes e maior segurança nos movimentos. Vários “vícios de guerra” – como costumávamos chamar as manias erradas dos aprendizes – logo foram superados, e pude sentir sua excitação crescer conforme ela assimilava o mesmo.

Com espanto, percebi que, em apenas uma aula prática de luta, Rose ficara mais animada do que em praticamente todos os nossos treinos anteriores. Aquela empolgação era tão crescente e contagiante que me vi instigado por ela e, quando dei por mim, já estava virado na sua direção em uma posição defensiva, meu cenho franzido de expectativa.

– Vá em frente. – Eu disse. – Tente me acertar.

Rose não precisou de um segundo incentivo. Com um grunhido engraçado, ela veio em minha direção velozmente, mas eu estava preparado, desviando de seu soco e, usando a mesma mão, atirei-a contra o tatame. Por um momento, ela absorveu a dor da pancada, porém logo se reergueu, provavelmente tentando pegar a minha guarda baixa. Foi inútil. Ainda que tivesse usado uma técnica diferente daquela vez, tentando me acertar nas pernas ao invés do peito, não foi suficiente.

Vê-la se esforçar daquela maneira era até divertido.

– Está bem. – Ela exclamou depois da vigésima segunda tentativa falha, erguendo as mãos como quem se entrega. – O que eu estou fazendo de errado?

Quase ri de sua desgraça. Quase.

– Nada. – Eu respondi.

Ela estreitou os olhos, desconfiada.

– Se eu não estivesse fazendo alguma coisa errada, a esta altura, já teria nocauteado você.

– Seria difícil. Os movimentos estão todos corretos, mas esta foi a primeira vez em que você realmente tentou. Eu venho fazendo isso há anos.

Rose revirou os olhos teatralmente, balançando a cabeça. Ela detestava quando eu fazia menção aos meus anos de combate, que nem eram tantos assim, mas me davam liberdade para fazer piada com sua idade.

– Tudo bem, vovô. – Respondeu. – Podemos tentar novamente.

Olhei para o relógio na parede.

– Nosso tempo acabou. Você não quer ir se arrumar?

Com um sobressalto, Rose acompanhou meu olhar até o relógio e se espantou ao constatar que faltavam poucos minutos para o banquete real em homenagem ao Dia de Todos os Santos. Haveria um baile logo mais e, surpreendentemente, ela conseguira uma autorização para frequenta-lo.

– Diabos! – Exclamou. – Claro que eu quero!

Virei-me de costas para que ela não percebesse o enorme sorriso que se abriu em meus lábios, rumando até a saída rapidamente. Sua animação era tamanha que ela nem se dera conta de que tinha outros compromissos, e aquilo me fazia mais feliz do que ela poderia pensar.

No entanto, ao invés de me seguir como o esperado, a única resposta que obtive de Rose foi o silêncio. Aquilo me deixou em estado de alerta, mas fingi categoricamente que não percebera nada, continuando a andar despreocupado. No momento seguinte, porém, ouvi aquele mesmo grunhido que ela exclamara durante todo o treinamento, virando-me na sua direção pouco antes de ela conseguir me golpear por trás. Agarrei seu braço direito e utilizei minha perna para derrubá-la com rapidez, imobilizando-a no chão sem esforço algum.

Ela grunhiu, decepcionada.

– Eu não fiz nada de errado!

Encarei seus olhos, surpreso com a sua evidente crença de que conseguiria me atacar daquela vez. Será que Rose realmente pensou que poderia me derrubar?

– O grito de guerra foi o que entregou você. – Eu disse enquanto ainda segurava seus pulsos. – Tente não gritar da próxima vez.

– Teria mesmo feito alguma diferença se eu tivesse ficado calada?

Lembrei-me da tensão que senti pelo seu silêncio nada característico.

– Não. Provavelmente não.

Ela suspirou ruidosamente, mas eu sabia que não estava realmente chateada. Depois de tantas outras quedas, aquela não deveria fazer qualquer diferença. O que me impressionou, na verdade, foi o seu ímpeto em tentar me acertar, que durou praticamente a noite inteira. Ela estava obstinada a me derrubar e aquilo me divertia mais do que eu acharia saudável em circunstâncias normais.

Um cheiro doce e inebriante de repente me alertou que estávamos na mesma posição fazia vários segundos. Quando olhei para baixo, entretanto, todos aqueles sentimentos confusos que estiveram embaralhando minha mente durante a semana me tomaram. Em seus traços, eu não mais via uma simples aluna, mas sim aquela mesma garota que eu peguei com Zeklos, encarando-me como se esperasse mais de mim. Em um rompante, tornei-me consciente de onde nossos corpos se tocavam, da sensação que sua pele quente em contato com a minha me causava. Desci meus olhos, então, para outros detalhes de seu rosto: as bochechas coradas pelo esforço, seus lábios carnudos e a respiração descompassada que saía deles, batendo em minha face e me deixando propriamente sem fôlego.

– Então... É... – Ela sussurrou, sua voz hesitante. – Você tem mais algum outro movimento para me mostrar?

Ao ouvir aquilo, pude sentir um sorriso tentando me escapar novamente, mas lutei para esconde-lo. Só mesmo Rose para tentar falar sério naquele momento. E pensar que nem isso era suficiente para apagar seu histórico de piadas fora de hora. Mesmo que ela estivesse obstinada a cumprir cada promessa que me fizera, ainda assim não conseguia deixar de lado tal mania. Lembrava-me de que, no começo, fora difícil conviver com seu humor ácido, mas passei a me acostumar com ele assim que percebi que era algo comum. Agora, era estranho pensar nela sem essa característica tão marcante de sua personalidade.

Respirando fundo, tratei de sustentar minha expressão séria e o sorriso longe. Era cada vez mais fácil me deixar levar por ela e pela sua leveza de espírito, que pareciam emanar uma doce sensação de paz. O pior é que ela fazia isso sem perceber, o que me exigia o dobro de esforço para me manter equilibrado. Por fim, usei os calcanhares para me erguer do chão, olhando-a de cima.

– Vamos. Está na hora.

E assim, deixei o ginásio sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado *-*



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