As Quatro Estações 2 - Romione escrita por Verônica Souza


Capítulo 7
Primavera 7




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               Sentado no chão sem forças, cansado de tanto chorar, eu finalmente me sentia mais aliviado. Enxuguei o meu rosto, porém ele continuava vermelho assim como os meus olhos. Olhei para cima, e fechei os olhos, pedindo novamente tudo o que eu tinha pedido.

- Se a fé realmente existe... Eu prometo que de agora em diante terei.

               Disse antes de levantar. Não sabia exatamente o que eu estava fazendo, não sabia dizer se havia alguém me ouvindo, mas eu estava tão desesperado...

               Me levantei, apoiando em um dos bancos. Respirei fundo e engoli o fôlego. Limpei o meu rosto, e poucos segundos depois me recompus. Criei coragem para voltar até lá e contar tudo para Hermione, não seria nada fácil.

               Me virei e saí, olhei para o corredor e ele estava vazio. Melhor assim, não queria me explicar para ninguém. Andei em direção ao quarto de Hermione, e o corredor também estava vazio. Harry e Gina já deviam ter ido embora.

               Suspirei fundo antes de abrir a porta do quarto. Hermione estava dormindo ainda, andava muito cansada por causa dos medicamentos e soros. Me aproximei da cama, e então me sentei. Como ela tinha o sono leve, ela acordou, virando-se para mim.

- Estava chorando... – Ela disse imediatamente. Provavelmente pelo fato dos meus olhos estarem vermelhos. – Não precisa dizer... – Ela disse rapidamente quando eu abri a boca, se virando novamente.

- Eu... Sinto muito Hermione. – Eu me inclinei para olhá-la. – Não tem nada que podemos fazer.

- Eu já sabia... Quero dizer... Eu queria muito que ele ficasse com a gente... Mas não tínhamos muita chance...

- Foi você quem me disse para ter fé.

- E eu ainda tenho. Não vai ser por isso que vou perdê-la.

               Senti um orgulho enorme de Hermione, sendo mais forte do que eu. Tinha que ser o contrário, mas eu já deveria esperar que Hermione fosse essa mulher forte e determinada.

- Quando? – Ela olhou para mim, com os olhos marejados.

- Provavelmente amanhã de manhã...

- Eu queria vê-lo.

- Não sei se é uma boa ideia.

               Ela ficou em silencio, e depois suspirou.

- Tem razão, acho que seria pior. – Ela se ajeitou na cama. – É horrível... Ele esteve tão perto.

- É...

               Foi a única coisa que consegui dizer. Na verdade eu não queria conversar naquele momento, e pelo visto Hermione também não. É como se a vida te desse um presente, e logo depois o tomasse de volta. E fica apenas uma sensação de vazio.

- O que vamos dizer para Rose? – Ela perguntou.

- Acho que podemos ser sinceros com ela. Ela vai entender.

- Ela vai ficar arrasada.

- Todos nós estamos...

               Era horrível aquela sensação. Eu não sabia o que dizer para a minha própria esposa. Não tinha vontade de pensar em nada, não tinha vontade de dizer nada. Não poderíamos conviver com aquilo. Como íamos fazer para olhar para o quarto do bebe, e imaginar que ele não estará ali? O que fazer com todos os presentes que nos deram? Pensar que voltaríamos para casa felizes com um bebê nos braços e agora voltaríamos apenas com uma tristeza enorme.

               Segurei a mão de Hermione, e então deitei ao lado dela. A cama não era tão pequena, cabíamos nós dois. Não sei se aquilo era permitido, mas eu não estava me preocupando. Queria dormir abraçado a ela, como não fazia há três noites. Só queria fazer com que ela se sentisse segura e amparada.

               Ela segurou minha mão quando eu a envolvi em meus braços, e então nos ajeitamos na cama.

- Amanhã será um longo dia... – Ela disse antes de fechar os olhos.

- É... Será. – Eu disse antes de me entregar ao sono.

Xx

               Hermione se mexeu e eu acordei. Olhei ao redor, desejando que tudo tivesse sido um horrível pesadelo, mas não era. Estávamos na mesma sala de hospital.

- Oi... – Ela sussurrou olhando para mim.

- Oi. – Dei um meio sorriso. – Como está se sentindo?

- Péssima.

- Eu também.

               Ela se sentou na cama, e eu fiz o mesmo. Me espreguicei e então me levantei.

- Vou buscar algo para você comer.

- Eu não estou com fome.

- Mas vai ter que se alimentar direito.

- Tudo bem...

- Eu já volto, está bem?

- Você pode... Ficar um pouco comigo? Eu posso comer, depois...

               Olhei para ela me pedindo tão docilmente.

- Claro... – Eu sorri e voltei para a cama.

- Não estou preparada ainda.

- Eu também não... Mas precisamos ser fortes.

- Você é mais forte que eu.

- Acho que ontem foi comprovado que não. – Eu sorri.

- Mesmo assim...

- Vamos ficar bem, com o tempo... Eu espero...

- Eu também espero.

               Antes do silencio voltar, a porta foi aberta por Iara. Ela parecia atordoada e assustada ao mesmo tempo.

- Iara. – Hermione exclamou. – O que aconteceu?

               Ela não respondeu. Apenas olhava com os olhos arregalados para Hermione e para mim.

- Iara... Vocês já...? – Eu parei a pergunta, e ela continuou sem responder. – Pelo amor de Deus Iara, fala alguma coisa!

- Vocês já desligaram os aparelhos?

- Sim... – Ela finalmente respondeu, mas continuou com o mesmo rosto assustado. Hermione apertou minha mão, e vi que ela estava prestes a chorar, quando Iara como se acordasse de um transe, balançou a cabeça.

- Vocês não vão acreditar no que aconteceu!

- O que? – Perguntamos juntos e eufóricos.

- Doutor Victor foi desligar os aparelhos hoje cedo. Assim que desligamos ficamos observando o bebê. E a reação dele foi algo que não esperávamos.

- Iara, por favor, não entre em detalhes. – Eu pedi olhando para Hermione.

- Não Rony! Vocês não estão entendendo! O bebê está bem... Pra falar a verdade, está ótimo! Ele está conseguindo respirar sem a ajuda de aparelhos, e já está se mexendo! Está respondendo bem aos exames, e doutor Victor acha que ele já pode ser amamentado! É um milagre! – Ela exclamou animada.

               Eu e Hermione ainda estávamos em estado de choque. Não conseguíamos digerir aquelas palavras, ou não conseguíamos acreditar.

- Fala alguma coisa gente! – Iara riu.

- Então... Nós... Nós não vamos perdê-lo? – Hermione finalmente perguntou.

- Não! Ele está bem! Vai ficar com vocês! Parabéns, vocês são oficialmente pais de um lindo e saudável garoto! – Ela sorriu emocionada.

               Hermione olhou para mim como se não acreditasse. Abri um largo sorriso, e ela também sorriu para mim.

- Nós conseguimos! – Ela disse antes que eu a puxasse para um abraço. – Não acredito... Ele está bem Ron! Nosso filho está bem!

- Está! – Eu disse ainda abraçado a ela.

- Eu disse para não perdermos a fé Rony!

               Fé... Me lembrei da madrugada anterior. Algo aqueceu o meu coração naquele momento, e eu não sei explicar o que foi. Mas percebi naquele momento que eu tinha fé, e que a fé era a maior arma que tínhamos.

Xx

               Era inacreditável como as vidas das pessoas podem mudar de um dia para o outro. Olhando através da janela, observei Hermione amamentar nosso bebê, com a ajuda de Iara. Ele se mexia a todo o momento, e aquilo era uma coisa linda de se ver. Juntando as imagens de quando ele estava dentro daquela incubadora, imóvel, era realmente um milagre.

               Fechei os meus olhos e agradeci. Agradeci por ter me devolvido uma das coisas mais preciosas da minha vida, e agradeci pela minha família estar novamente unida, e mais completa do que antes.

- Ali! – Gina disse apontando em minha direção. – Viemos o mais rápido que pudemos! Demoramos um pouco porque deixamos as crianças na casa da mamãe.

- Papai, cadê a mamãe? E o meu irmãozinho? – Rose veio correndo em minha direção. Peguei-a no colo e beijei o rosto dela, animado.

- Ali. – Apontei para o vidro. – Aquele ali é seu irmãozinho.

- Ele tem os cabelos iguais os meus! – Ela disse animada. – Podemos ir lá?

- Ainda não... Mas logo, logo nós vamos para casa, e você pode ajudar sua mãe a cuidar dele. – Eu sorri.

- Eu vou ser uma irmã mais velha muito legal!

- Vai sim! – Nós três rimos.

- E como vocês estão? – Harry perguntou sorrindo.

- Melhor impossível. É tão boa essa sensação de alívio...

- Harry, porque você não leva Rose pra comer alguma coisa? Saímos sem tomar café. – Gina disse.

- Certo...

               Coloquei Rose no chão e os dois saíram juntos.

- Eu vi onde você estava ontem. – Gina disse assim que os dois se afastaram.

- Viu? – Perguntei tenso.

- Vi, mas não quis dizer nada. Fico feliz por você ter entendido. Viu só como as coisas acontecem? Você tem o seu filho de volta.

- Sim... Percebi que vocês tinham razão. Basta ter fé.

- Com certeza. – Ela sorriu. – Vou me juntar a eles, estou morrendo de fome. E você trate de comer também, agora não tem mais motivos para ficar abatido. – Ela riu.

- Pode deixar.

- Daqui a pouco voltamos para ver Hermione. – Ela disse e logo depois se virou.

 Iara fez sinal para que eu entrasse na sala, e então eu entrei. Não me cansaria nunca de ver a cena de Hermione amamentando nosso filho.

- Precisamos dar um nome para ele. – Hermione disse olhando para mim. – Sugere algum?

- Escolhi o de Rose, vou deixar esse pra você escolher. – Eu sorri.

- Mas eu quero que você escolha... Afinal ele está aqui graças a você também. – Ela piscou para mim. – Segura ele... – Ela disse.

- Mas... Eu posso?

- Claro, como eu disse... Ele está ótimo. – Iara sorriu.

- Certo... Não sei se ainda tenho jeito pra isso.

- Você nunca perde o jeito. – Hermione riu.

               Me inclinei para pegá-lo em meus braços, e então ele se mexeu. Meu coração disparou com aquele toque. Para quem o viu imóvel nas mãos do médico, aquilo era um alívio enorme. Hermione tinha razão, eu não perdi o jeito. Ele se acalmou em meus braços, e abriu os olhos azuis de encontro ao meu.

- Se parece comigo mesmo. – Eu sorri para Hermione.

- Não sei o que dá em mim, que só faço filhos que não são parecidos comigo. – Ela sorriu.

- Quem sabe o próximo. – Iara disse.

               Eu e Hermione nos olhamos e então rimos. Precisaríamos de muito tempo para conseguir recuperar daquele grande susto.

- E então... Qual vai ser o nome? – Hermione perguntou.

               Olhei bem para ele, e me lembrei de uma história que minha mãe sempre contava para mim e para meus irmãos. De um homem que durante a guerra foi muito corajoso, e que viveu por muitos anos sendo apelidado de “O Forte”.

- Acho que... Ele combina com Hugo.

- Hugo? – Iara olhou para mim. – É muito bonito!

- Eu gostei. – Hermione sorriu.

               Sorri de volta para ela.

- Então será... Hugo Weasley.

- Sim, Hugo Weasley. – Olhei para ele, e mais uma vez, sem saber se era da minha imaginação ou alguma coisa paternal, ele deu um pequeno sorriso para mim.


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