As Quatro Estações 2 - Romione escrita por Verônica Souza


Capítulo 6
Primavera 6


Notas iniciais do capítulo

Música para ouvir enquanto leem. http://www.youtube.com/watch?v=md4aBXC_5dQ



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               Hermione abriu os olhos com dificuldade. Suspirou sentindo um cheiro conhecido, mas que ela odiava com todas as forças. Estava no hospital. Olhou em volta piscando freneticamente por causa da claridade. Tentou se lembrar de como foi parar ali, e então a imagem de Rose sendo carregada por Rony, imóvel... A blusa de Rony suja de sangue. Não eram imagens boas, e aquilo foi demais para uma mulher com gravidez de risco. “Gravidez”... Ela se lembrou. Sentou-se rapidamente na cama, mas sentiu uma pontada em seu ventre. Voltou a se deitar e fechou os olhos. Não queria fazer aquilo, mas era necessário. Levantou o lençol e olhou para sua barriga. Havia um corte.

- Não... – Ela sussurrou começando a chorar. – Não, por favor... Por favor... – Ela fechou os olhos. Não queria ficar sozinha. – RONY! – Ela gritou. – RONY!

               Imediatamente a porta se abriu, e um Rony preocupado entrou na sala, disparando para perto dela.

- Meu amor, o que foi? Está sentindo alguma coisa?

- Rony... – Ela olhou para ele, chorando. – O que aconteceu?

               A palidez tomou conta do corpo de Rony. Ele parecia nervoso e aflito. Fechou os olhos suspirando, e reconhecendo o marido que tinha, Hermione sabia que não eram notícias boas.

- Quando foi? – Ela perguntou abaixando a cabeça.

- Ontem... – Ele respondeu com a voz tremula.

- Nós... O bebê...

- Está em observação... Mas... Os médicos não deram muita chance.

- Onde está Rose? – Ela enxugou as lágrimas. – Rony eu quero vê-la. Ela está machucada não está?

- O que? Não Hermione... – Rony segurou a mão dela. – Rose está bem... Está com Harry e Gina, não quis que ela ficasse aqui.

- Eu quero ver ela Rony.

- Eu vou pedir para trazerem ela, mas agora precisa descansar.

- Eu não quero descansar! Meu filho está entre a vida e a morte. Descansar pra que? – Ela disse com raiva, mas ainda mantendo o tom de voz baixo.

- Meu amor...

- Rony, por favor, eu sei o que você vai dizer... Mas os sonhos que eu tive... As sensações... Não poderia ser diferente. Eu só... Eu só queria... Ter a sensação de ter meu filho nos braços... Só isso... – Ela começava a chorar novamente.

               Rony não tinha ideia do que fazer naquele momento. Desde que tinham feito a cirurgia em Hermione ele tinha pensado em como reagir aquela situação. Mas era impossível saber. Agora parado ao lado de Hermione aos prantos, ele não tinha a mínima ideia do que fazer ou dizer, principalmente quando ele mesmo estava magoado e atordoado. Queria aquele filho tanto quanto Hermione.

               Tudo o que ele foi capaz de fazer foi sentar-se ao lado de Hermione e abraçá-la. Ela deitou sua cabeça no ombro dele e chorou. Era a única coisa que poderiam fazer naquele momento... Chorar.

Xx

               Eu não sei por que essas coisas acontecem comigo. Quase perdi Hermione, depois minha filha desaparece, e logo depois meu filho está entre a vida e a morte. Penso todos os dias o que fiz na minha vida para ser castigado desse jeito. Desde criança minha mãe sempre nos levava à igreja, e dizia que quando fazíamos algo errado Deus nos castigava.

               Mas eu não tenho feito nada de errado ultimamente. Quero dizer, sou um ótimo pai, um ótimo marido... Trato todas as pessoas bem, inclusive os funcionários da loja. Às vezes sou meio impaciente, principalmente no transito. Mas quem não fala palavrão quando está nervoso? Se fosse assim, todas as pessoas do mundo tinham que ser castigadas.

               Eu realmente não sei o que eu fiz... E sendo sincero comigo mesmo... Não sei se ainda tenho fé.

- Rony? – Minha mãe se aproximou de mim. Abri os olhos e olhei em volta. Tinha adormecido no sofá do hospital. – Vai pra casa... Eu fico aqui com eles.

- Não... – Me ajeitei na poltrona e senti uma forte dor nas costas. – Não estou cansado.

- Está na cara que você está cansado. – Meu pai disse. – Vá pra casa, e descanse. E isso é uma ordem.

               Nunca desobedeci meu pai. Sempre o respeitei, até mais do que minha mãe. Talvez pelo fato dele quase nunca chamar a nossa atenção, sabíamos que quando ele fazia isso, é porque era pra valer.

               Me levantei e me estiquei. Há dois dias eu estava daquele jeito, sem dormir direito, apenas pensando...

- Amanhã Gina e Harry vão trazer Rose para vê-la. – Minha mãe disse.

               Balancei a cabeça afirmando e deu um beijo no rosto dela.

- E Rony... – Ela me chamou quando eu estava prestes a sair da sala. Me virei e olhei pra ela, já com os olhos vermelhos. – Não perca a sua fé meu filho.

Xx

               Acordei com o sol batendo em meu rosto. Sentei na cama rapidamente e olhei as horas. Dormi mais do que eu tinha esperado. Levantei correndo vestindo outra camisa, e passei uma água em meu rosto. Saí apressado indo para o hospital.

               Quando cheguei, vi que Rose, Gina e Harry estavam na sala de espera. Rose não parecia estar sabendo de toda a história, porque estava dando gargalhadas e brincando com Harry. Não achei isso ruim, era melhor mesmo que ela não soubesse de toda a história.

- Bom dia. – Gina disse olhando para mim.

- Oi. – Respondi um pouco seco. – Estão aqui há muito tempo?

- Meia hora mais ou menos. – Ela respondeu. – Como você está?

- Não esperava ter dormido tanto. – Tentei não responder realmente como eu estava.

- Você precisava disso.

- Como está princesa? – Peguei Rose no colo e olhei para ela.

- Bem papai... Por que você está com essa cara? A mamãe disse que não é pra você ficar trabalhando a noite inteira.

- Eu... Eu prometo que não vou fazer mais isso. – Forcei um sorriso para ela.

- Eu fui ver a mamãe, ela também parece cansada. Eu disse pra ela que você também disse que não é pra ela ficar se esforçando, e ela começou a chorar e me abraçou.

               Senti meu coração apertar cada vez mais.

- É... Eu vou conversar com ela. – Beijei o rosto dela e a coloquei no chão.

- Acho que já podemos ir almoçar não é? – Harry olhou para ela. – Tiago e Alvo estão na casa da vovó esperando para o almoço.

- Você vem com a gente papai?

- Não, vou ficar por aqui. Mais tarde vou lá está bem?

               Ela balançou a cabeça afirmando e segurou a mão de Harry. Ele deu tapinhas amigáveis em meu ombro, e então saiu com Rose. Gina ficou me olhando, e ela era a ultima pessoa que eu queria que ficasse a sós comigo naquele momento. Gina tinha alguma coisa que me fazia ser eu mesmo quando estou com ela. E o meu “eu” naquele momento, estava louco para chorar.

- Mamãe me disse que você está muito abatido... Eu não acreditei. Até te ver.

               Fiquei em silencio, porque sabia que se eu falasse alguma coisa, eu iria chorar.

- Você não pode ficar assim... Não é o fim Rony. Ainda tem uma chance! Os médicos podem ter errado... Ele pode conseguir sobreviver...

- Gina, você não estava quando eles fizeram a cirurgia. – Finalmente tive coragem de dizer, e senti um nó em minha garganta, lembrando a cena. – Eles pegaram o meu filho, sem vida. Com muito custo conseguiram fazer ele reagir. Eu estava lá, eu vi tudo! Ele é tão indefeso Gina... Tão pequeno... – Fechei os olhos tentando tirar aquela cena da minha cabeça. – Logo depois me disseram que não tinha muito que fazer.

- Mas eles podem ter errado Rony! Podem achar que não tem mais jeito, mas tem. Sempre tem! Vocês não chegaram até aqui para terminar assim! Tenha fé.

- Fé? – Aumentei o tom de voz e olhei para ela. – Acha que tudo isso que me aconteceu foi por falta de fé? Desde quando achei que tivesse perdido Hermione, eu não tenho fé. Ela voltou para mim, e eu comecei a acreditar que esperança e fé eram verdadeiras. Mas agora estou aqui, novamente nesse maldito hospital, esperando que meu filho sobreviva, com 3% de chance. Como você explica todas essas coisas acontecendo com uma pessoa só?

- Eu acho que isso é um teste... Um teste para saber até onde a sua fé vai.

- Então eu estou realmente encrencado, porque minha fé não vai muito longe.

- Não diga isso Rony. – Ela se aproximou de mim quando eu me virei. – Mamãe sempre nos ensinou que...

- Se tivesse acontecendo com você, saberia o que estou sentido.

- Acha que não sinto as suas dores? – Percebi que a voz dela estava falhando. – Acha que tudo o que você passa eu não passo também? No acidente de Hermione, quando Rose sumiu, e agora. Tudo o que você sente, toda essa dor, todo esse desespero, eu sinto também. – Ela segurou minha mão e eu me virei para olhá-la. – Quando éramos crianças nós fizemos um pacto, se lembra? Que sempre íamos ajudar um ao outro, e nesse dia você me prometeu que não ia deixar que nada nem ninguém me machucassem ou me magoasse. E eu fiz essa mesma promessa. Agora você precisa fazer o que eu te digo... Não perca a sua fé Rony. Porque ela é a única arma que você tem nesse momento.

               Não suportava segurar mais naquele momento. Puxei Gina para um abraço e comecei a chorar. Sempre tive essa maldita mania de segurar as coisas dentro de mim. Não chorava, não desabafava, e sempre acabava acontecendo aquilo. Uma hora minhas forças iam embora, e tudo que tinha acumulado dentro de mim saía em forma de lágrimas. Vi que Gina também estava chorando, mas não ligávamos para isso.

               Depois de longos minutos abraçando ela, eu me separei enxugando minhas lágrimas.

- Eu... Eu vou ver ela. – Suspirei meio a soluções, e Gina fez o mesmo.

- Sim... Ela está precisando de você.

- Depois eu vou para a casa da mamãe, buscar Rose. Quero que ela durma em casa hoje.

- Também acho melhor. – Ela limpou as lágrimas. – Fique bem.

- Obrigado... Você também.

               Ela beijou meu rosto e saiu desnorteada pelo hospital. Passei as mãos em meus cabelos e fechei os olhos, suspirando. Precisava me recuperar para ver Hermione. Ela não poderia me ver daquele jeito.

               Tomei um copo de água, e então saí da sala. Fui em direção ao corredor, e me deparei com Hermione em pé, em frente uma janela. Iara estava com ela.

- Hermione. – Eu a chamei e as duas olharam para mim. Andei em direção a elas e então parei, segurando em sua cintura. – O que estão fazendo aqui?

- Hermione me pediu para vim vê-lo. – Iara disse.

- Eu não queria que ela viesse Iara, eu te disse ontem...

- Eu sei, mas ela insistiu. Não posso negar isso a ela. – Ela me respondeu friamente. – Vou deixar vocês dois a sós. Rony, daqui a cinco minutos ela tem que voltar para o quarto.

               Balancei a cabeça afirmando, e ela saiu andando pelo corredor. Olhei através da janela, de onde Hermione não tirava os olhos. Ali, sozinho dentro daquela sala, estava o nosso filho. Tão frágil quanto da primeira vez que o vi. Estava dentro de uma incubadora, respirando tão devagar quanto quando os médicos o reanimaram. Se pra mim era triste ver aquela cena, imagina para Hermione?

               Olhei para ela, e ela estava chorando silenciosamente.

- Hermione...

- Sabe... Ontem a noite consegui me lembrar de quando Rose nasceu.

- Conseguiu?

- Eu a peguei em meus braços, e não conseguia imaginar como alguém que estava dentro de mim poderia ser tão perfeita. Passei todos os meses pensando em como ela seria, com quem ela iria parecer... E quando olhei para ela, tão pequena, eu percebi que ela era muito melhor do que eu tinha imaginado. Senti um alivio tão grande de sentir a respiração dela em meu peito... Pensei que seria do mesmo jeito dessa vez.

- Não é bom pra você ficar aqui, vamos voltar para o quarto.

- Ele é tão lindo... – Ela tocou no vidro. – E pelo que consigo ver se parece com você.

- É... Parece um pouco...

- Eu faria tudo... Tudo para trocar a minha vida pela dele. Daria minha vida para que ele tivesse igual aos outros bebes... Sem todos aqueles tubos ligados a ele, sem precisar respirar com a ajuda de aparelhos... Se eu ao menos pudesse... Fazer essa troca...

- Hermione, vamos voltar para o quarto.

               Segurei a cintura dela, e ela me olhou. Balançou a cabeça afirmando e então se virou. Deu uma ultima olhada pela janela, e nós dois saímos em direção ao quarto. Quando entramos, ajudei ela a se deitar, e então a cobri. Ela se inclinou na cama, sentando e olhando para mim.

- Que foi? – Perguntei sorrindo para ela, percebendo que o olhar dela era divertido.

- A minha infância inteira pensei que você era um legume insensível, que não ligava para os sentimentos dos outros a não ser os seus.

- Uma grande observação sua. – Eu sorri e me sentei na cadeira ao lado dela.

- Nunca ia imaginar que fosse um marido tão perfeito.

- Estou ficando envergonhado. – Brinquei e ela riu. Pela primeira vez.

- Acho que realmente sempre temos a impressão errada das pessoas, como eu tive de você.

- Acho que nunca tive uma impressão errada de você. Você é realmente uma sabe tudo irritante às vezes. – Eu sorri e beijei a mão dela. – Mas também tem tudo que eu sempre quis.

- Eu queria ter a força que você tem. – O sorriso dela diminuiu. – De conseguir passar por tudo isso com tanta seriedade. De conseguir ajudar os outros quando você mesmo está prestes a desabar. Acho que a única vez que te vi chorar foi quando Rose nasceu, e mesmo assim você tentou disfarçar.

- Não gosto de chorar na frente das pessoas. – Respondi rapidamente virando o rosto.

- Mas você chorou hoje.

- Como sabe?

- Eu te conheço. – Ela apertou minha mão. – Foi com a Gina não foi?

               Fiquei em silencio, ainda olhando para o outro lado.

- Não precisa ter vergonha de dizer. Eu fico feliz que tenha feito isso. Não gosto quando você esconde suas dores pra você, e já te disse isso varias vezes. Não faz bem. Sei que você nunca ia chorar na minha frente, só com sua mãe e sua irmã.

- Eu não fiz porque eu quis. – Respondi um pouco frio. Odiava que Hermione soubesse que eu sou fraco.

- Não acho que isso seja uma fraqueza. – Ela disse como se tivesse lido meus pensamentos. – Acho que você precisa fazer isso... Você é muito orgulhoso. E chorar e desabafar não é uma fraqueza, você precisa entender isso.

- Eu quero e preciso ser forte por você e por Rose. Não admito desabar quando eu sou o homem dessa família e preciso colocar tudo em ordem.

- Você já fez o suficiente meu amor... Agora não é mais com a gente. Você tem que descansar mentalmente... Precisa parar de cobrar tanto de si mesmo. Você já fez até mais do que deveria...

- Eu não vou descansar enquanto não ver nossa família feliz.

- Mas nós somos felizes, apesar de tudo. Se nada sair como esperamos, é porque não era pra ser Rony... As coisas acontecem como deveriam ser. Nós vamos ficar magoados, vamos ficar arrasados, mas vamos dar a volta por cima, porque nossa família não pode acabar assim.

- Falando assim parece fácil.

- Não é fácil, e eu sou a prova viva disso. Já chorei tanto que você não imagina. Mas eu tenho fé Rony...

- Fé... Todo mundo fica falando de fé. – Me levantei irritado. – Eu não tenho, está bem Hermione? Eu queria ter, mas não tenho. Não consigo. Não depois de tanta coisa ter acontecido em nossas vidas.

- Coisas ruins aconteceram, mas boas também. Encontramos Rose, eu voltei para você... Agora só precisamos ter fé que o nosso filho vai ficar bem...

- Não suportaria mais ter tanta fé pra depois tudo desabar.

- É só não pensar assim.

- Você disse... Que se lembrou de quando Rose nasceu... Enquanto você dormia eu a peguei no colo... Também não acreditava como uma criança que estava tantos meses só em nossa mente pudesse ser tão perfeita e tão frágil... Ela segurou o meu dedo com suas mãozinhas, e o apertou. Eu acho que nunca tinha sentido tanta emoção na minha vida. Porque imaginamos que um bebê não poderia ter tanta vida assim... E ela tinha. Pode parecer loucura, mas ela sorriu para mim... Eu pensei que com nosso filho seria assim. Quando me contou que estava tendo aqueles sonhos estranhos, eu só conseguia ter fé Hermione. Fé que tudo aquilo não passava de pesadelos, e que logo eu ia ter a mesma sensação que tive com Rose. Mas quando vi nosso filho imóvel nas mãos do médico... Eu acho que minhas forças foram embora, junto com minha fé.

- Você nunca pode deixar de ter fé. Mesmo quando o seu mundo desabar em sua volta.

- Não consigo acreditar nisso. – Respondi e me virei para ela. – Não quero mais falar disso.

- Tudo bem... Como quiser...

               Por sorte Hermione era inteligente o suficiente para saber que eu realmente não queria falar daquele assunto. Logo estávamos falando de outra coisa. Mas meus pensamentos eram sempre o mesmo: “Ter fé, ou não ter?”.

Xx

               Adormeci na cadeira ao lado de Hermione. Acordei com barulho de pessoas conversando. Olhei para a cama e Hermione dormia. Olhei pela janela e um médico conversava com Harry e Gina. Me levantei imediatamente e saí do quarto, dando de cara com eles.

- O que aconteceu com meu filho?

               Os três se entreolharam, e então o médico se aproximou de mim.

- Não estamos tendo retorno... Nem melhorias. Rony, eu odeio ter que fazer isso... Mas seu filho não tem mais chances... Precisamos desligar os aparelhos.

               Tudo em minha volta ficou zonzo. Olhava para Harry e Gina e eles pareciam ter a mesma sensação. Escorei na parede e fechei os olhos. Respirei fundo, e a imagem dele, pequeno, dentro daquela incubadora há três dias não saia da minha cabeça. Tinha lutado por tanto tempo, para ser assim... Não era justo.

- Eu sinto muito Rony, mas não temos mais nada para fazer... Ele só está respirando com a ajuda de aparelhos, parece até que está piorando... Ele não tem respondido aos processos e aos exames, que só estão dando resultados ruins.

               Eu não queria mais ouvir aquilo. Não era justo com Hermione. Ela tinha tanta fé. Por isso eu não gostava de ter fé. Ficávamos decepcionados com o resultado.

- Sinto muito... – O médico tocou meu ombro.

               Sentia muito? Sentia muito por meu filho não conseguir sobreviver, ou sentia muito por todos esses acontecimentos na minha vida? Senti que meu mundo estava desabando, e não poderia ficar mais ali. Saí andando pelo corredor, enquanto Harry me gritou e eu não dei atenção. Iara veio em minha direção, mas eu desviei. Fechei os olhos com força e então senti as lágrimas escorrerem.

               Por sorte era de madrugada e não havia quase ninguém no hospital. Segui sem direção, não sabia para onde ir. Só não queria ficar perto de ninguém. Queria ficar sozinho com meus pensamentos e minha falta de fé. Parei em frente uma porta, onde não tinha mais lugar para ir. Olhei para cima, e vi um escrito pequeno em cima da porta. Não acreditei que tinha parado ali. Justo ali. Mas sabia que não tinha outro lugar para ir. Abri a porta e entrei. Fechei ela com força e então parei, encostado a ela. Chorei como uma criança. Deixando que a dor saísse naquele momento.

               Abri os olhos e olhei para frente. Um altar. Há muito tempo não entrava em uma igreja ou capela. Desde quando eu era criança. Só tinha um motivo para eu ter parado em frente aquela porta, e então me aproximei do altar. Andei desnorteado até conseguir me ajoelhar em frente o altar. Não sabia de onde saíam tantas lágrimas, e principalmente, de onde eu tirei forças para conseguir ficar ajoelhado.

- Eu sei que não sou um homem de fé... – Eu dizia meio aos soluços. – E sei também que nunca tinha feito isso na minha vida... Mas... Eu imploro... Mesmo que eu não mereça, mesmo que eu tenha pecados suficientes para tudo isso estar acontecendo, meu filho não tem culpa. Ele é apenas uma criança... Por favor...

               Coloquei minhas mãos no chão e continuei chorando. Me sentia muito mais aliviado por ter feito aquilo, mas não sentia nenhuma diferença. Minha dor continuava, meu coração ainda estava despedaçado. Realmente não sabia o que eu estava fazendo ali, mas não tinha forças para sair naquele momento. Fiquei ali, ajoelhado, colocando todas as minhas dores para fora. Aliviando o meu coração.


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Notas finais do capítulo

Não sou muito religiosa, mas não resisti escrever esse capítulo desse modo. Se tiver algo exagerado me desculpem, não tenho tanto costume.



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