Encontro Surpresa escrita por Flor de Cerejeira


Capítulo 8
A tentação




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 Ainda acho que deveria ser um anel de dia­mantes! - Risa não se conformava e repetia teimosa. — Quando minha avó vir essa coisa velha, vai pensar que você não ama Rin.

— Nós vamos fazer com que acredite! — Sesshoumaru argumentou.

— Como?

— Bem... Eu vou dizer a ela.

— Sabe muito bem que não será o suficiente para ela. — Risa estava irritada. — Sabe como ela é.

— Tenho certeza de que vamos pensar em algo que a convença.— Sesshoumaru disse, mudando de assunto e pedindo-lhe que colocasse a toalha na mesa para o jantar.

- Acho que você vai ter que beijar Rin — disse Risa, enquanto organizava os garfos e facas.

— Possivelmente — ele disse secamente.

— Você já a beijou? — Risa perguntou ao pai com interesse. Houve uma pausa em que os adultos pareceram congelar.

— Não acho que seja de sua conta, Risa — ele disse secamente.

— Apenas pensei que precisam praticar, se nunca se beijaram — ela disse, com um ar inocente.

— Bem, bem, mas ninguém vai praticar agora. Vamos jantar, e depois disso, você mocinha, vai para a cama. – Rin logo falou, não se contendo mais.

Risa parecia não notar o clima tenso durante o jantar. Conver­sava sem parar, e Rin sorria automaticamente em resposta, seus pensamentos concentrados na idéia do beijo. Não importava se fosse apenas para praticar. Seria um beijo de qualquer forma.

Quando terminaram, Rin arrumou mecanicamente a cozinha, enquanto Sesshoumaru dava boa-noite a Risa.

Sesshoumaru voltou e não fez mais referência alguma à mãe ou ao que Risa havia dito, não dando a Rin a chance de falar sobre o assunto.

 

Ele apenas a ajudou a organizar as coisas, movendo-se com incrível facilidade pela cozinha, sem nem mesmo passar perto dela.

Frustrada, Rin imaginou se deveria propor discutir o assunto. A princípio, pensou que jamais teria coragem, mas conforme o si­lêncio se prolongava, já estava mudando de idéia.

Pegando um pano para enxugar a louça, Rin tomou a iniciativa.

— Estive pensando sobre o que Risa disse.

— O quê? — Sesshoumaru perguntou.

Ele estava guardando os copos no armário e parecia distraído, como se estivesse muito longe.

— Não posso acreditar que me preocupei porque ela era muito calada — ele acrescentou. — Agora, não pára de falar um instante.

Rin olhou-o com ressentimento. Ele não facilitaria as coisas.

— Risa sugeriu que nos beijássemos antes que sua mãe chegasse — relembrou Rin, surpresa com a tranqüilidade com que aparen­tava tratar o assunto.

— E o que pensa disso? — retrucou Sesshoumaru.

Com raiva, Rin empinou o queixo e olhou-o nos olhos dele, tendo a sensação de que estava deixando tudo nas mãos dela.      

— Acho que devíamos tentar — ela disse secamente. — Não há por que manter todo esse jogo, se, quando ela chegar, perceber no primeiro instante que nunca nos tocamos. Se ela é perspicaz como você diz, pareceremos tolos tentando enganá-la. Nos primeiros mi­nutos ela já terá certeza de que não estamos noivos.

— Acho que você está certa — Sesshoumaru admitiu relutante.

Os lábios de Rin se apertaram. A resposta dele fez parecer que beijá-la seria uma tarefa desagradável, mas que ele não teria como se esquivar.

—Não vai ser fácil para nenhum de nós — ela disse rispidamente, incomodada com a reação dele e ainda mais incomodada consigo mesma, por querê-lo, mesmo que a fizesse sofrer. — Apenas acho que seria menos embaraçoso nos beijarmos sem audiência.

Sesshoumaru guardou o último copo e fechou a porta do armário.

— Então quer que eu a beije?

— Eu não quero que me beije — Rin mentiu com um olhar gelado. — Estou apenas sugerindo que seria sensato praticarmos antes, para agir naturalmente se precisarmos convencer sua mãe.

— Está bem — disse Sesshoumaru. — Devemos começar agora?

— Agora? — A voz de Rin saiu mais aguda do que o esperado. Ela engoliu em seco. — Está bem.

Sesshoumaru se aproximou dela e tirou-lhe o pano das mãos, colocando-o na mesa. Voltou-se para Rin, que tinha a pulsação acelerada e os joelhos quase fraquejando.

— Devemos fazer isso então? — ele perguntou, a expressão séria. A garganta dela estava tão seca que ela não podia falar. Fez um movimento com a cabeça, e Sesshoumaru a enlaçou pela cintura e aproxi­mou-a mais de seu corpo. Instintivamente, Rin levantou a cabeça, mas ele não esperava pelo movimento e acabaram se batendo. Sesshoumaru a soltou imediatamente, desajeitado.

— E por isso que estamos praticando. — Ela tentou sorrir, sem sucesso.

— Exatamente — ele concordou. — Devemos tentar de novo?

— Claro.

Desta vez, ele colocou as mãos nos braços dela e escorregou-as até os ombros, enquanto olhava profundamente em seus olhos, cui­dadoso. Presa em seu olhar frio, Rin ficou imóvel enquanto sentia as mãos quentes segurando-lhe o rosto.

Ela tremia antecipando a sensação daquele contato, e havia uma excitação correndo por todo o seu corpo quando Sesshoumaru se inclinou para encontrar os lábios dela.

Rin sentiu que seus pés flutuavam no chão quando a boca dele tocou a sua. Afastou suas mãos para os lados para que seu corpo se aproximasse mais do dele, e ele beijou-a de novo.

Os dedos de Sesshoumaru subiram pelo rosto e deslizaram por seus ca­belos. Rin sempre pensara que a boca dele era fria e tensa, mas não era assim que a sentia naquele instante. Estava morna e os movimentos dele a persuadiam a se entregar mais e mais. O encon­tro era tão perfeito que ela ficou atenta apenas ao prazer de beijar e ser beijada, enquanto um tremor de excitação ia tomando seu corpo. O gosto da boca dele, a sensação que os lábios dele provoca­vam, e o toque do corpo sólido e forte contra o dela reforçavam o sentimento de que aquilo era certo e a deixavam fora de controle.

Ela se agarrou a Sesshoumaru, um tanto assustada pela intensidade de sua reações, sem saber como interromper o beijo, e sem querer fazê-lo, mas atenta ao fato de que se não o fizesse não poderia esconder dele o que realmente sentia.

Talvez Sesshoumaru houvesse percebido sua confusão, ou talvez houvesse se assustado pelo fato de o primeiro beijo haver tomado vida própria, levando-os a um terreno desconhecido. O fato foi que ele também hesitou e, com dificuldade, interrompeu o beijo.

Por um momento, eles apenas se olharam, ainda trêmulos, e en­tão ele pareceu lembrar que seus dedos ainda estavam enroscados nos cabelos negros, e puxou-os abruptamente.

Rin estava cambaleante e forçou-se a continuar equilibrada.

Seu coração batia vigorosamente e estava quase aterrorizada pe­la intensidade com que desejava abraçar e beijar Sesshoumaru de novo.

Sesshoumaru parecendo chocado deu um passo para trás, como se receasse que ela fizesse aquilo mesmo.

— Bem... — ele disse e calou-se, obviamente sem saber como continuar.

— Assim foi... melhor — Rin disse sem segurança.

A expressão abalada de Sesshoumaru foi o suficiente para trazê-la de volta à Terra. Só no mundo dos sonhos podia imaginar que com um sim­ples beijo ele descobriria que a amava.

Tudo que podia fazer naquele momento, ela decidiu, era voltar à sua posição de defesa e não deixá-lo perceber em hipótese alguma o que tudo aquilo significara para ela.

— Sim, foi — disse Sesshoumaru, parecendo tão espantado quanto ela. — Acho que sim.

— E pelo menos, agora sabemos como fazer.

— Sim.

Outra pausa aterradora.

Por fim foi ele quem quebrou o silêncio.                   

— Tenho algumas mensagens para enviar — ele disse como se nada houvesse acontecido, como se nunca a houvesse beijado e como se seus dedos nunca houvessem se enroscado nos cabelos dela. — Vou estar em meu escritório se precisar de mim.

Rin observou-o sair, queimando de frustração e desejo. Talvez devesse subir, bater na porta e dizer-lhe que precisava dele. Queria que a levasse para o quarto, fizesse amor com ela por toda a noite e prometesse que ficaria com ela para sempre.

Claro que não faria nada disso. Sentindo-se triste, Rin final­mente pegou os pratos mais uma vez. Pensar na expressão de Sesshoumaru depois de beijá-la, fazia-a estremecer.

Mas Sesshoumaru claramente desejava que o beijo nunca houvesse acon­tecido. Trancara-se em seu escritório e não havia por que esperar que reaparecesse disposto a discutir com ela o que havia ocorrido. Rin tinha certeza de que ele não sabia da importância da comuni­cação para o bom relacionamento entre as pessoas.

Não que eles tivessem um relacionamento. Ela tinha um empre­go, e Sesshoumaru uma falsa noiva.

Como previra, Sesshoumaru não fez mesmo nenhuma menção ao beijo e continuou agindo exatamente como antes.

Rin desejava poder fazer o mesmo, mas a mera lembrança fazia com que sua pele se arrepiasse.

Os dias não eram ruins. Havia momentos em que, passeando com Risa e o cachorro e rindo divertida, Rin quase podia acreditar que o beijo de Sesshoumaru era passado em sua mente. Mas então ele voltava do trabalho e andava pela cozinha, pesado e austero, e ela se lem­brava do contato entre ambos em detalhes, como se ele houvesse acabado de dar a volta na mesa e beijado-a novamente.

Sesshoumaru era educado, reservado e muito cuidadoso em manter sua privacidade.

Rin não podia deixar de se sentir ressentida e frustrada. Estava tão irritada com ele que Sesshoumaru finalmente perguntou:

— O que há com você?

— Nada.

— Por favor, não me faça adivinhar — ele disse com um suspiro irritado. — Eu tive um dia difícil e não estou com disposição para quebra-cabeças. Apenas me diga o que está errado.

Rin se imaginou fazendo aquilo. "Bem, Sesshoumaru", ela poderia dizer, "o problema é que estou desesperadamente apaixonada e você não me dá a mínima atenção! Sei que prefere colecionar lesmas, mas será que poderia me levar para a cama e fazer com que eu me sinta melhor?"

Rin ficou tentada a falar exatamente daquele jeito, apenas para provocar nele alguma reação que fugisse do habitual. Pelo menos ele faria uma cara horrorizada, ou ficaria vermelho.

Doce ilusão. Provavelmente apenas sairia da cozinha, e a deixaria mais do que humilhada.

— Não há nada errado. Estou apenas fazendo meu trabalho. Sesshoumaru afrouxou o nó da gravata e tirou-a, jogando-a na cadeira. —

—O seu trabalho não prevê comportar-se como uma esposa magoada.

— Não — Rin concordou, pondo o espremedor de batatas na pia com mais força do que o necessário. — Inclui cuidar de você, de sua filha, de sua casa e de seu cachorro. Eu não tenho realmente de me comportar como uma esposa, quanto mais uma esposa magoada!

— Se precisa descansar, Rin, por que simplesmente não me diz isso?

— Esqueça, estou apenas de mau humor, está bem? Não vou lhe dar trabalho extra, não tenha receio.

Mas se ele continuasse insistindo ela iria lhe dizer a verdade, e ele ia ter que se haver com isso.

— Talvez queira tirar essa noite de folga — disse Sesshoumaru.

— E um pouco tarde para isso — Rin respondeu rispidamente. — Além disso, vou sair amanhã.

— Ah, é? Com quem? — ele quis saber, curioso demais para um homem que minutos antes quase a empurrara porta afora.

 

— Com você — Rin respondeu vingativa. — Vamos tomar um aperitivo com sua vizinha.

As sobrancelhas se ergueram:

— Qual vizinha? — Sesshoumaru parecia pressentir algo de errado.

— Aiko. Ela esteve fora, e quer saber as novidades.

Aiko era uma mulher glamourosa. Divorciada, de meia-idade, Rin não pôde deixar de identificar um brilho predador em seus olhos. Ela não pareceu feliz ao falar com Rin, e não com Kaede.

Sesshoumaru ainda estava com as sobrancelhas erguidas.

— Espero que tenha dito que eu estava ocupado.

— Não, eu disse que adoraríamos ir.

— Nós?

— Claro, nós: eu e você. Sei que apagou isso de sua mente, mas estamos supostamente noivos!

— Fingindo estar noivos!

— Foi o que eu disse.

— E apenas enquanto minha mãe estiver aqui — Sesshoumaru continuou. — Não há por que envolver meus vizinhos nesta fantasia.  

— Eu não esperava que mais ninguém soubesse — ela protestou. — Esta mulher entrou pela porta, querendo vê-lo de qualquer jeito, enquanto eu estava usando esse bendito anel. E claro que ela per­cebeu, pois estava atenta a isso. O que queria que eu dissesse?

—Você poderia ter dito que estava noiva de qualquer outra pessoa.

— Oh, sim. Seria a desculpa perfeita — Rin disse sarcasticamente. — Quando sua mãe estiver aqui e encontrarmos Aiko, eu digo que tudo não passou de um engano? Afinal qual é o grande problema em que Aiko saiba que está noivo?

Sesshoumaru estava se servindo de saquê.

— O grande problema é que eu evito essa mulher desde que ela se mudou para cá e descobriu que eu era viúvo. Fui obrigado a dizer inúmeras vezes que não estou pronto para um novo casamento.

— Então diga a ela que mudou de idéia quando me conheceu.

— Quando você for embora, terei que dizer a ela que meu "noi­vado" acabou, e ela vai pensar que não tenho mais motivo para não querer outro relacionamento — Sesshoumaru rosnou.

— Você precisa aprender a dizer não ao invés de usar a desculpa de que é viúvo — Rin disse firmemente. — Nunca pensei que uma pessoa como você achasse tão difícil dizer a verdade — ela acrescen­tou com desprezo. — Falar o que pensa parece ser sua especialidade.

— O que quer dizer com isso?

— Bem, você não é exatamente uma pessoa que tem tato. Aiko deve ser uma mulher corajosa para continuar insistindo. Provavel­mente todas as mulheres ficam aterrorizadas com você.

— Nunca percebi esse seu "terror" — Sesshoumaru disse, em um tom ácido.

— Eu disse a você que era boa em dramatizações — ela disse, não com tanta segurança quanto teria desejado.

— Você realmente disse que iríamos à casa dela?

— Sim! — Rin exclamou, tentando se controlar. — Não vejo razão para não ir — ela continuou, enquanto um cheiro apetitoso evaporava da panela. — Quando Aiko percebeu que não poderia convidar só você, já começou a falar em convidar também outras pessoas. Pode ser até divertido!

— Ter que me mostrar educado em uma conversa tola por horas não me parece nada divertido.

— Ora, vamos! Você pode conhecer alguém interessante!

— E quanto a Risa? — ele perguntou com voz dramática, como se Rin houvesse esquecido.

Ela olhou-o com desdém, e voltou à panela.

— Vamos estar na porta ao lado, por cerca de uma hora. Risa pode ir conosco, ou então pedirei a Kagome ou Sango que venham ficar com ela. Tenho certeza de que não vão se importar. De qualquer modo eu aceitei o convite por você, então terá que ir — ela disse, colocando um fim na discussão e começando a soltar o avental. — Tente chegar em casa um pouco mais cedo amanhã. Fomos convi­dados para as seis e meia.

— Você está ótima! — Kagome exclamou, quando Rin desceu a escada, usando uma saia longa com a cintura bem apertada e malha bordada, também justa. — Parece mais relaxada, mais sensual.

— Não acha que esse decote está um pouco grande? — Rin olha­va com preocupação para seus seios.

— Não. Se escolheu esse, assuma! — Kagome exclamou animada.

— Queria poder comprar outras roupas. Aiko parece tão sofis­ticada...

— Você está linda — Risa, que estava jogando cartas com Kagome, disse lealmente. — Não acha, papai?

Rin se virou sobressaltada. Não vira Sesshoumaru entrando na cozinha, e seu coração começou a bater forte ao vê-lo, alto e sério, com seu terno escuro.

— Parece que sim — ele disse.

— Oh, Sr. Sesshoumaru. Por favor, pare! — pediu Rin, escondendo seu desapontamento com uma brincadeira. — Vou ficar sem graça com tantos elogios.

Sesshoumaru suspirou, revirando os olhos.

 

— Você está linda... charmosa... glamourosa... O que mais devo dizer?

— Magra — Rin respondeu rapidamente.

— Sexy — Kagome sugeriu.

Os olhos de Sesshoumaru pousaram sobre a curva dos seios dela.

— É, sexy — ele disse finalmente.

Houve uma pausa de instantes. Sesshoumaru olhou para o relógio.

— Se já terminou de arrancar elogios, é melhor irmos — ele disse.

— Quanto mais cedo chegarmos, mais cedo poderemos sair.

— Esse meu noivo é um bicho do mato, não é, meninas? — Rin pegou-o pelo braço para virá-lo em direção à porta. — Pare de rosnar. Ficará melhor — ela disse. — Apenas pense nisso como um ensaio para quando sua mãe chegar... E você deve pelo menos fingir que gosta de estar comigo.

Como ela havia suspeitado, Aiko abandonara a idéia de um encontro mais íntimo com Sesshoumaru, e convidara também vários outros vizinhos. As mulheres usavam roupas elegantes e discretas e, pela expressão de Aiko ao abrir a porta, Rin soube que a blusa decotada havia sido um erro. Perto das outras, ela parecia espalhafatosa, extravagante e talvez até um pouco vulgar.

Mas já que não havia como voltar e colocar uma roupa mais ele­gante, Rin resolveu esquecer aquilo e se divertir. Logo começou a conversar com dois rapazes que estavam perto da mesa principal, e percebeu que Sesshoumaru foi sentar-se em uma poltrona mais afastada, ganhando em seguida a companhia de Aiko.

Aos poucos, uma roda se formou em torno do pequeno grupo que incluía Rin, e a conversa foi ficando muito animada. De quando em quando ela procurava por Sesshoumaru com o olhar, mas ele parecia não querer contato algum com ela.

Conforme o tempo passava, Rin distraiu-se dele, absorvida pelo clima descontraído das pessoas em torno dela. Qual não foi sua sur­presa ao ser pega pelo braço e praticamente arrastada para fora da festa. Sesshoumaru estava, dessa vez, claramente mal-humorado.

— Vocês voltaram cedo! — Kagome exclamou quando retornaram.

— Esperávamos que demorassem bem mais. Como foi a noite?

— Excelente — Sesshoumaru disse com cinismo. — Rin conseguiu des­truir minha reputação e dezenas de casamentos em poucos minutos.

— Do que está falando? — Rin perguntou irritada, sentindo o sangue lhe subir ao rosto.

— Sabe muito bem. — Sesshoumaru foi ainda mais irônico. — Quis ir até lá apenas para se exibir. Aiko não ficará surpresa em saber que terminamos nosso "noivado" depois do modo como se comportou — ele disse furioso. — Só faltou se jogar nos braços de um deles!

— Não fiz isso. E você nem teria notado se eu o fizesse! — ela respondeu. — Ficou o tempo todo com a visão ofuscada por Aiko. Sua atitude revela mais do que o que diz, Sesshoumaru.

— Mas deve revelar bem menos do que seu decote — Sesshoumaru a repreendeu sem meias-palavras.

— Bem, bem, crianças, calma — Kagome interrompeu com firmeza.

— Acho melhor se controlarem se querem ainda parecer noivos quando a mãe dele chegar. Aliás, estão me confundindo, não sei se que­rem fingir que estão noivos ou casados com uma briga dessas...

— Não sei o que vai acontecer quando minha mãe estiver aqui — disse Sesshoumaru. — Ela nunca vai acreditar que Rin e eu formamos um casal, se Rin se comportar como essa noite.

— Não há problema, você não corre esse risco — Rin provocou.

— Eu estava relaxada, sentindo-me bem entre pessoas simpáticas e espontâneas. Sozinha com você isso jamais acontecerá.

— Estive conversando com Sango... — Kagome disse diplomatica­mente. — E pensamos que, para convencer sua mãe, seria interessante que fizéssemos uma festa de noivado enquanto ela estivesse por aqui. Se você ficasse noiva de verdade com certeza faríamos uma festa, Rin. E como Sesshoumaru é amigo de Miroku, e Rin é amiga de Sango, nada mais natural do que um jantar com os amigos mais próximos, eu, Kohako e nossos namorados.

Sesshoumaru fitou Kagome com olhar indignado, e ela prosseguiu:

— Tenho certeza de que se ela vir seus amigos tratando-os como se estivessem noivos, vai se convencer de que é verdade, não importa o quanto você e Rin briguem.

— E possível — disse Sesshoumaru, ainda mal-humorado com Rin. — Mas não é preciso que vocês se envolvam. Toda essa história já está saindo fora do controle, que dirá com sua participação e a da Sango também.

— Não se preocupe conosco — disse Kagome. — Qualquer desculpa vale para fazer uma festa. O que acha, Rin?

Sesshoumaru havia sido tão irritante que Rin não o apoiaria, apesar de achar que as coisas corriam mesmo o risco de sair fora do controle, principalmente com a participação dos amigos.

— Acho que é uma idéia maravilhosa — ela disse com firmeza.

— Vou ligar para Sango para acertarmos os detalhes.

Rin passara os dois últimos dias limpando a casa de cima a baixo. Colocara flores no quarto de hóspedes, toalhas e sabonetes perfumados, e mantivera fechada a porta do quarto para que Raito não rolasse pelo colchão. Tinha planejado também um jantar de boas vindas, e estava preparando taças individuais de mousse de chocolate como sobremesa. Quando Sesshoumaru desceu, depois de ter dado boa-noite para Risa, tinha um ar preocupado.

— Está tudo sob controle?

— Acho que sim — Rin respondeu à vontade.

Depois da noite desastrosa em que haviam ido à casa de Aiko, os dois haviam recuperado o equilíbrio e agiam educadamente.

— Vou apenas terminar esta sobremesa. O quarto dela já está pronto e vou colocar champanhe no freezer amanhã cedo.

Sesshoumaru ergueu as sobrancelhas.

— Champanhe?

— É uma comemoração, não é? Faz tempo que não vê sua mãe, e nós vamos nos casar! É claro que precisamos de champanhe.

— Se você acha... — Sesshoumaru mergulhou o dedo na mistura de cho­colate, limpando a vasilha antes que Rin a colocasse na pia.

— Não há por que encenar uma história se não fizermos tudo como se deve.

— Você está certa — ele disse, lambendo os dedos e ignorando a braveza dela.

Com cuidado, ela guardou as taças na geladeira.

— Acha que conseguiremos continuar com isso?

— Se pudermos nos controlar. Minha mãe é muito perspicaz e não poderemos relaxar enquanto ela estiver aqui. Ela perceberá no mes­mo instante se houver alguma coisa estranha. Na verdade...

Sesshoumaru não completou imediatamente. Andou em volta da mesa, as mãos nos bolsos, os ombros curvados, parecendo refletir se con­tinuava ou não.

— Não sei bem como pedir isso a você, Rin — ele disse por fim. — Mas queria saber como se sentiria sobre dormir comigo enquanto ela estivesse aqui.

Ele observou que Rin levantou os olhos da tigela que estava lavando, e corrigiu rapidamente:

— Claro que não estou pedindo que durma comigo... Quero dizer apenas... dividir o quarto.

— Claro. - Ele não iria mesmo querer dormir com ela, iria? Rin deixou a tigela na pia.

— Ela achará estranho se não o fizermos — ele continuou.Um acordo comercial. Não foi isso que dissera a Kagome? Rin era uma atriz que não levaria nada daquilo a sério. Uma garota que não se importava com tolices como beijar ou pular na cama do chefe.Não poderia mudar sua imagem naquele momento.

Começou a juntar todas as louças sujas na pia.

— Claro — ela disse apenas. Sesshoumaru olhou para ela, surpreso com a concordância tão rápida.

 

— Você fará isso?

Não me importo de dividir o quarto com você enquanto sua irmã estiver por aqui. Sei que você não vai... — ela tentou ser forte, mas se embaraçou. — Que nós não vamos... você sabe...

— Eu sei — ele disse secamente.

— Podemos começar essa noite — ela sugeriu, determinada a recuperar sua confiança e tirar a situação de letra. — Assim agire­mos com maior naturalidade quando ela estiver aqui.

Claro, tudo parecia fácil e sensato enquanto estavam na cozinha. Mas parada à porta do quarto de Sesshoumaru, Rin não sabia o que fazer.

Pelo menos trouxera uma camisola e um penhoar com ela. Havia se trocado em seu próprio quarto, mas sentindo a seda suave deslizar por seu corpo, perguntava-se se não estava muito exposta. Não com­prara aquele conjunto para se fantasiar de freira...

Mal podia acreditar que entraria no quarto de Sesshoumaru e se dormiria na cama com ele. Seu corpo todo tremia por antecipação.

Mas nada mais era que um acordo comercial, certo?

Com o penhoar bem amarrado em torno de seu corpo, respirou profundamente e abriu a porta.

Sesshoumaru esperava por ela, parecendo incomodado em seu pijama. Rin teve certeza de que ele também não estava acostumado a dor­mir com aquela roupa.

— Vou pegar outro cobertor e dormir no chão — Sesshoumaru disse per­cebendo que ela hesitava na porta.

— Pretende destruir nossa encenação. E se sua mãe entra no quarto e vê onde você está? Essa cama parece grande o suficiente para nós dois... Não se preocupe. Eu sei que você vai manter suas mãos longe de mim.

Uma expressão preocupada se abateu sobre Sesshoumaru. Ele parecia abalado com o modo prático como Rin lidava com a situação.

— De que lado você dorme normalmente? — ela perguntou, to­mando a iniciativa.

Ele apontou o lado e ela deu a volta na cama, levantando a seguir as cobertas.

Tirou o penhoar e jogou-o na cadeira, enfiando-se rapidamente embaixo das cobertas. Se Sesshoumaru esperava que ela fizesse uma enorme cena, ficara frustrado. Kagome ficaria orgulhosa dela.

Ainda com um olhar intrigado, Sesshoumaru desligou a luz principal. Rin fingiu se mexer para ficar mais confortável, quando ele se deitou do outro lado e apagou a luz da cabeceira.

— Bem... Boa noite — ele disse.

— Boa noite.

Rin tentou não se lembrar de que Sesshoumaru estava a poucos centí­metros dela. Seria tão fácil se enroscar nele no meio da noite...

Ele se virou para o lado, e ela prendeu a respiração, imaginando se aquele era um movimento de aproximação.

Mas não. Ele apenas se ajeitou e não se moveu mais. Em pouco tempo, havia apenas o som de sua respiração pesada e tranqüila no escuro.

Quando ficou óbvio que ele estava mesmo dormindo, ela cumpri­mentou a si mesma por ter sido tão indiferente.

Aos poucos, e depois de muito tempo, começou a relaxar.

Na verdade, não havia mais o que pensar. Só lhe restava dormir também.

 

 

N/A:

Isso sim que é resistência e controle!

 

Bem meninas, é isso!

Logo estarei postando o próximo e penúltimo capítulo!

Espero que tenham gostado desse.

 

No próximo capítulo:

 

"Pare com isso", Rin avisou a si mesma severamente. "Ele vai acordar!"

 

 

Aguardem!


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