Depois da Escuridão escrita por Lucas Alves Serjento


Capítulo 26
Capítulo 26 - Passos para o Fim




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N/A: Estou repostando a história para corrigir a gramática e fazer leves alterações para tornar a história mais agradável de ler. Espero que gostem.

 

Capítulo 26 – Passos para o Fim.

 

Yuhi Kurenai

Nunca enfrentou um monstro? Considere-se uma pessoa de sorte. Continue assim. Porque eu, aqui, encarando essa garota, sinto o desconforto da pessoa que se vê sem chances de vencer. É um sentimento forte o bastante para fechar a garganta e cerrar os punhos.

—O que vai fazer? - A voz dela parece a de seu receptáculo.

—E eu tenho outra escolha? Vamos lutar.

—Se chama isso de lutar, então você está certa.

Ela anda em minha direção. Sorrindo com o rosto de Sakura.

Apesar de eu nunca ter sido amiga íntima da garota, sempre fomos boas companheiras. Lutamos juntas e protegemos a mesma vila. Aturamos Naruto e estabelecemos a ordem por onde passávamos.

Ela tinha honra. Era uma companheira.

Agora alguém violava sua imagem. Caminhava até mim. Desdenhava de tudo o que sempre acreditei. Saquei minha kunai.

Ninguém tem noção real dos meus poderes.

Revisto a kunai com chackra. A garota avança. Sua velocidade é impressionante. Alguém menos atento seria rasgado ao meio pelo golpe que ela deu com uma mão, num giro em sentido horário.

Eu consegui acompanhar. Enquanto ela recupera o equilíbrio eu ergo a mão, tentando golpeá-la, mas me surpreendo com a velocidade dela, que recolheu o corpo e deu um passo para trás, voltando ao seu lugar original. Seu olhar mudou. Bingo.

—Você parece muito disposta a resistir. Acha que pode me vencer?

Fechei os olhos para quebrar o contato visual. Sentia-me motivada o bastante.

—O q-

Ela parecia surpresa ao abraçar a própria barriga, tentando se libertar.

—Qual o seu maior medo? - Tomei meu tempo. Saboreei as sílabas. - Porque eu vou te prender no meu genjutsu e você sofrerá, torturada por esse medo. - Suspirei por dez segundos, evitando pensar. - Sinto-me mal por não conseguir enxergar o mesmo que você.

Ela gemeu mais alto. As dores aumentavam.

Os gemidos cresceram e viraram gritos.

Os gritos cresceram e se tornaram berros.

E então veio o silêncio. Para mim, ela devia estar morta, mas mantenho o jutsu ativo por precaução. Meu lado consciente me dizia que isso deveria ser mais difícil. Então outro som. Diferente daqueles que surgiram até então. Não levaram mais que vinte segundos até eu perceber que se tratava de arfadas. Ruídos que crescem e se tornam risos. Que crescem e se tornam gargalhadas.

Risos histéricos de uma mente em euforia.

—Isso era para me debilitar? Vocês ainda não entenderam como nós somos, não é? Porque eu não sou como qualquer humano.

Silêncio. Ela continua.

—Não somos humanos, sabe. Nós somos mais como… - Ela pôs a mão sob o queixo, fingindo pensar. - Bijuus. Podemos não ter o mesmo tamanho ou quantidade de chackra, por isso nos parecemos mais com vocês. Por isso nós também temos mais velocidade e agilidade. Mais inteligência e menos limitações. Somos melhores que os bijuus.

Meu genjutsu estava ativado. Ela deveria estar rendida, agonizando.

—Esse jutsu seu não funcionou por um motivo simples: - Ela queria se gabar. - Eu não tenho medos. Talvez funcionasse com algum de meus irmãos, mas eu… Sou muito nova. Se eu tenho algum medo, talvez seja o de perder uma batalha, mas também não consigo imaginar um oponente que derrote meu pai. Da mesma maneira, eu não tenho medo do meu pai porque ele jamais faria mal a mim.

Sentindo a ineficiência do genjutsu, eu a analiso à procura de fraquezas em seu corpo e ela nota o movimento. Vem na minha direção. Eu escuto a minha respiração e noto o silêncio que domina os arredores. O ambiente está muito quieto.

—Que silêncio é esse? - Eu sei o que está para acontecer. Estou aceitando meu destino.

—Todos os andares aqui estão sustentados pelo chackra do meu pai. - Ela não se importava em revelar. - Enquanto ele estiver seguro, esse prédio é a construção mais forte que você já viu. E também está bastante separado do mundo lá fora.

Ela está a menos de três metros de mim. Minha única opção é a kunai.

—Convenhamos que, se eu quisesse, você estaria morta. - Ela falou com piedade. Achei estranho. A massa de chackra faz com que seu corpo trema. Eu posso ver partículas de chackra saltar de seus poros a cada mínimo movimento. - Não me faça apressar as coisas. Afinal, seu objetivo era ganhar tempo, não era?

Sinto minhas costas tocando a parede e só então percebo que estive recuando. No fundo, sei que estou com medo de morrer. Não posso morrer. Não por mim, mas por minha filha.

Um golpe forte me atinge. Lágrimas escorrem por meus olhos e eu sinto a mão dela se separar de mim. Meu corpo não recua e a parede não cede às minhas costas. Ela se afasta e eu caio no chão, beirando a inconsciência. Meus sentidos estão todos embaralhados.

Eu ergo o meu rosto, sentindo, surpresa, o efeito do jutsu em meu cérebro. Não vou conseguir me mover tão cedo. Apenas ergo o meu rosto. E vejo o de Sakura.

—Por quê? - Ela parecia surpresa ao me fazer a pergunta.

—O… - Arfei, tentando tomar controle sobre minha boca para uma simples palavra. - Quê?

Eu erguera meu rosto e encarava os olhos de Sakura. Via lágrimas em seus olhos. Mas aqueles não eram os mesmos olhos de antes, eram? Onde estava o instinto frio de um assassino sem escrúpulos?

—Por que eu não consigo te matar?

Eu erguera o meu rosto e encarava os olhos naquele rosto. Os olhos de Sakura.

 

Uzumaki Naruto

Nós finalmente estamos com as informações que precisamos. Graças a Shizune, sabemos sobre tudo o que elas organizaram. Desde o “exército” que Tsunade reuniu até a atual escolha de aparência da Hokage.

—Shikamaru, posso falar com você? - Temari o chamava. Ele me olhou e eu fiz um sinal, indicando que não me importava que ele saísse do meu lado.

—Nós alcançamos vocês em breve. - Ele anunciou, afastando-se. Kakashi se aproximou, tomando o lugar dele ao meu lado.

—Alguma ideia? - Ele parecia preocupado.

—Nenhuma a não ser que devíamos ir mais rápido.

Ele sorriu e acenou. Nós aceleramos o passo um pouco. Senti a tatuagem em meu ombro coçar, bem como todo o meu braço.

—Não sente nada do selo? - Yamato não esperou resposta. - Kakashi, não é hora de outro tratamento?

Ele refletiu e então voltou seu rosto para mim.

—Está sentindo algo?

—Uma coceira. Um pequeno formigamento.

—Então está na hora. - Fiz uma careta. Queria continuar no caminho. - Qualquer sintoma assim é um sinal, apesar de saber que isso vai te deixar irritado.

—Desculpe. - Meu tom é áspero, mesmo com o meu esforço para manter a aparência calma. - Vou tentar não transparecer muito.

Ele fez um sinal de cabeça, mas não parou a caminhada para o tratamento. Eu sabia que não demoraria para isso acontecer.

O restante da viagem até o prédio da Hokage foi uma espécie de caminhada, já que tínhamos que nos mover devagar, evitando qualquer sinal de chackra por perto. Foi o bastante para conseguirmos evitar batalhas.

—Vocês conseguem pressentir quantas pessoas estão no prédio?

—Provavelmente… - Shizune parecia tentar lembrar suas informações. - Tenzo e mais dois assistentes.

—Provavelmente são Nail e Gahel. Tem certeza que não há mais ninguém?

—Não. Pode ter mais alguém, mas teria que ser alguém que já conhecemos. Lembrem-se disso: Nós conhecemos todos os filhos de Tenzo. O problema é que não conhecemos os poderes de Gahel, então não posso ajudar com isso. Ainda assim, o elemento surpresa deverá ser nosso.

Kakashi não falava. Isso era sinal de preocupação.

—O que há com você?

—Vamos reforçar o selo outra vez. Em breve, não teremos tempo para isso.

—Vai demorar?

—Isso não importa agora. O seu selo está brilhando em vermelho, Naruto. Ele vai quebrar enquanto você não percebe.

—Eu não morro de imediato se a doença for liberada. Terei algum tempo.

—Está enganado. Se o selo romper, seu corpo será consumido pelo próprio chackra. Você vai ter tempo, no máximo, para um ataque. Eu não quero que isso aconteça antes da hora, consegue me entender?

Assinto com a cabeça.

—Irá demorar cerca de meia hora. - Ele vê minha careta. - É a última vez que eu reforço esse selo, tenho que fazer direito. Você deve saber que eu não poderei fazer nada depois disso. - Ele suspira.

—O que você quer me dizer, Kakashi?

Ele suspira de novo e olha em meu rosto. Existe algum desafio em seus olhos.

—Você pode voltar. Deixar que nós cuidemos disso. Confie na nossa força e espere o resultado. Nós enfrentaremos Tenzo por você. Resgataremos Ino por você. Salvaremos a vila em seu nome. Se você não lutar, deixar que outros façam isso, pode sobreviver. Ter uma vida comum. - Seus olhos são suplicantes. - Ter uma vida depois que essa confusão se resolver.

Eu não respondo. Os olhos de todos estão em mim. Eles sabem o que eu sei. Nós sabemos o que significa a minha ida.

—Você quer que eu não tente salvar Ino? Que eu não tente salvar a vila? Que eu não enfrente o homem que matou Sasuke e criou o monstro que destruiu Sakura? Que virou a vila contra ela mesma? Você quer que eu me sinta mais importante que aquilo que eu e todos nós acreditamos? - Ele olha em meus olhos. - Eu sou um herdeiro da vontade de fogo, Kakashi. Ino está com ele e eu não posso perdoar isso. Mesmo que as chamas me queimem, lutarei sem hesitar. Mesmo que o fogo me consuma, morrerei sem lamentar. Então não me faça essa pergunta. E eu vou fingir que você nunca colocou em dúvida a minha vontade.

Todos permaneceram em silêncio enquanto eu olhava Kakashi. Não estava nervoso pela sugestão. Ele queria o meu bem, eu sabia disso. Mas ele precisava saber que eu não poderia aceitar a possibilidade de ficar para trás. Essa era uma luta maior do que eu, maior que nós dois. Eu precisava e ele teria que entender isso, se não por minhas palavras, pelo olhar em meu rosto.

Nós nos olhamos até ele voltar a falar.

—Depois… depois que eu fizer esse selo, nós teremos que ir diretamente para o prédio Hokage. Você terá até o início do pôr do sol, aproximadamente. O selo vai se romper até o fim da tarde.

Olho para cima. O sol está no seu ponto mais alto.

—Vamos começar. - Minha voz era séria. - Não quero que dure mais que o necessário.

 

Hyuuga Neji

—Podemos entrar agora?

Chouji estivera ansioso durante todo o percurso e não parecia disposto a mudar tão cedo.

—Vamos. Não há vigilância do lado de fora.

—Ainda bem. Não gosto de brigar na rua.

—E eu não gosto de lutar em lugares fechados. - Falei, enquanto entrávamos no prédio Hokage.

Não vi ninguém no pátio principal a princípio, até notar um corpo jogado em um dos cantos.

—Kurenai? - Chouji perguntou, andando na direção dela. Uma garota estava próxima do corpo.

—Não se aproxime! - Gritei, segurando o manto dele.

—O que foi? Nós precisamos ajudar!

—Olhe primeiro. Analisar primeiro, agir depois.

Ele olha para elas e demora alguns segundos para perceber que Nail, à frente de Kurenai, não parece lutar, como seria esperado.

—Ela está chorando?

—Está. - Afirmo. - E Kurenai está viva. Talvez não seja melhor começar com um ataque.

Ele deu um meio sorriso e eu ativei o Byakugan a tempo de ver que Kurenai desmaiou.

—O que está fazendo? - A garota se virou na minha direção, me encarando.

—Eu não sei. - Ela parou de chorar e começou a sorrir.

Seus olhos não estão vermelhos. Suas mãos não tremem. Não há hesitação em sua expressão. Não parece alguém que acabou de passar por um conflito emocional.

—Cuidado Chouji. - Alertei. - Ela não vai hesitar antes de nos atacar.

—Não devia prestar mais atenção em si mesmo?

Antes que eu reconheça a voz que fez a pergunta, meu corpo voa. Então essa garota usa golpes físicos.

—Neji!

Idiota. O corpo de Chouji também voa e cai ao lado do meu.

—Não falei para prestar atenção? - Minha voz é irritadiça.

—Falou o senhor exemplo.

Levantamos o mais rápido que conseguimos. Nail estava à frente, rindo de nós.

—Meu corpo está estranho. Parece que é culpa de vocês também. - Ela piscou. - Por causa disso, vão morrer.

—Ela é louca? - Chouji estava confuso.

—Não tenho tempo para descobrir.

Cubro as mãos de chackra e avanço. Ela parece prever meus ataques. Ataco de modo limpo e seguro, sabendo que preciso dar a Chouji algum tempo até que consiga analisar a situação dela.

Acerto o primeiro golpe, na altura do abdômen. Mesmo que seja forte, sentiria algo. Eu espero e não me surpreendo ao perceber o braço dela em um movimento desesperado na minha direção.

Recuo dois passos.

—Vai Chouji!

Olho para trás e vejo que ele está enorme.

—Droga. Não consegui me concentrar o suficiente… - Ele reclamou. Ela fixou os olhos nele.

Chouji não estava usando o jutsu para aumentar de tamanho. Estava contendo uma quantidade absurda de ar. Ele fez um bico e soprou. Ela não teve tempo de se prevenir do vento de chackra cortante que ele soltou pela boca.

A pressão do golpe foi grande o bastante para me fazer recuar. Aos poucos, enquanto se esvazia, Chouji volta ao normal. Vou até Nail assim que o chackra do garoto acaba. Ela está cambaleante. Para se recuperar das feridas e se conservar em pé, teve que gastar muito chackra. Aproveito seus movimentos lentos e acerto sete de seus tenketsus antes que possa se recuperar. A minha empolgação após acertar o sexto ponto abriu uma brecha na minha postura. Eu vacilara. Ela me acertou com um soco no estômago. Eu não percebo antes de golpear outra vez e recuar, mas ela selou minha saída de chackra. Eu estaria em apuros se não tivesse selado os dois braços dela.

Olho para Chouji e ele olha para mim. Sabe, só com esse gesto, a minha situação. Durante o planejamento, tivemos tempo para nos tornar algo parecido com um time.

Ele avança para o ataque. Ela é rápida o bastante para sair do caminho dele e não ser morta. Mas ele está mais rápido agora. A sombra negra na qual ele se torna ao se mover é muito forte. E rápida. Nessa distância, ele me lembra um pouco do estilo de luta de Naruto.

Nail avança para cima dele com as mãos unidas em um selo. À sua volta se forma um grande monstro de chackra puro. Ela parecia disposta a sacrificar seu corpo para nos ferir.

—Esse é o meu último presente por hoje, Chouji. - Falei e fiz um in. Tinha que abrir mão dos resquícios de chackra em meu corpo para ativar o resto de energia que deixei nos braços dela.

Três dos tenketsus nos dois braços de Nail explodiram.

O monstro sumiu e ela estava de frente para Chouji.

Como a inércia do movimento ainda a jogava para frente, ele parou o corpo dela com a palma recoberta de chackra. Abriu a própria boca e era visível a energia saltando do corpo dela, engolida pelos lábios dele. Não era apenas uma técnica para sugar chackra. Ele estava selando-o também.

Esperei até que ela deixasse de ser um monstro de chackra e, quando tinha sido drenada ao ponto de se tornar um shinobi comum, fiz um sinal para Chouji. Ele parecia perto de seu limite e obedeceu, parando de se alimentar.

—Como fazem isso? - Ela choramingava. - Como paralisam os meus poderes?

—Você ainda não sentiu? - Perguntei a ela. - Não somos nós que estamos te parando.

Toquei a parte superior da cabeça dela.

—Mesmo que pense que está controlando esse corpo, não está fazendo uma suposição correta. Afinal, você está com algo que não lhe pertence, Nail. E ao trazer o corpo de volta, veio com ele algo que você não desejava. - Ela parecia entender. Seus olhos se iluminaram. - Você está enfrentando os amigos dela. Tentando matar pessoas pelas quais ela morreria.

—Impossível. - Ela balançou a cabeça em negativa. - Isso é impossível. Teria acontecido com os outros também.

—Não é impossível. Os outros iguais a você pegaram os corpos e sumiram das vilas onde os encontraram. Você é a primeira a dar um choque emocional na alma desse corpo.

Os olhos dela estavam arregalados.

—Esquisito, não acha? - Eu sentia prazer em continuar. - Se você não lutasse, isso não aconteceria. Por causa disso, você reviveu a primeira pessoa que gostaria de ter derrotado em batalha. Só te resta esperar.

Ela estava atônita. Sem precisar fazer qualquer novo esforço, eu e Chouji a amarramos e deixamos o mais distante possível do corpo de Kurenai. Quando terminamos, ele fez sinal para mim, para falar distante de onde elas estavam.

—Isso é verdade? - Ele perguntou.

—O quê?

—Que Sakura voltará para seu corpo? Mesmo que esse corpo seja uma cópia?

Olhei para ele com seriedade.

—Sim. E não deveria ser novidade para você. Se é, significa que estivemos subestimando a ligação entre nossas almas e seus corpos.

—E agora? O que a gente faz?

Olhei em volta e me dei conta do silêncio que nos cercava.

—Vamos embora, recuar até que Kurenai acorde.

—E o restante do prédio? Deve ter mais inimigos por aqui.

—Vão embora. - Uma voz diferente. Olhamos os dois para a entrada principal. Bastante gente estava agrupada ali.

—Obrigada pela ajuda. - Outra voz. Reconheci o timbre de Shizune.

—Podem deixar o restante para a gente. - A primeira voz novamente. Naruto.

—Hm… - Chouji parecia triste. - Acho que mesmo que eu quisesse, não conseguiria ajudar mais.

—Quem é você? - Naruto olhava para ele, confuso.

—Sou eu. Não está me reconhecendo? O Chouji!

Não fui cumprimentar Naruto. Ao invés disso, fui carregar Kurenai. Cortei as amarras que impediam o movimento dos pés de Nail para que pudesse escoltá-la para fora. Parei ao lado de Kakashi. Em um minuto ele me deixou a par da situação atual. Voltei-me para Chouji e vi que ainda falava com Naruto, esclarecendo a situação sobre seu estado físico atual. Ao me perceber, ele se dispôs a partir também.

—Foi bom saber que vocês podem continuar. - Falei. - Deixamos o restante com vocês.

—Obrigado por cuidar das coisas enquanto não estávamos.

Acenei com a cabeça para Naruto e dei as costas para eles, com Chouji ao meu lado. Começamos uma lenta caminhada até a orla da floresta ao pé da montanha Hokage, onde Kakashi me disse que estava livre de batalhas até agora.

—Não vai contar para eles? - Chouji cortou o silêncio.

—O quê?

—Sobre Nail?

—Não. Naruto está em um momento delicado, Chouji. Precisa da nossa ajuda para conseguir se concentrar.

—Como assim?

—Ele está se sujeitando a uma doença grave. Graças aos conhecimentos de Kakashi, está vivo agora, mas o próprio Kakashi me disse que não é possível voltar atrás. Essas podem ser as últimas horas de Naruto.

—Não! - Nail se voltara para mim.

—Me desculpe, mas não posso deixar que Nail se aproxime dele. Mesmo que você consiga o controle parcial, precisa de controle total para se aproximar dele.

—Por quê? - Quer perguntou foi Chouji.

—Porque ela já se aproveitou de situações assim antes. Foi por causa disso que ele perdeu a credibilidade da vila na época. Não tem como sabermos o que vai acontecer agora. Precisamos de cautela.

—P… Por… - A voz de Sakura entrecortava.

Os joelhos dela cederam. Eu não sabia como reagir àquilo. Ela parecia prestes a desmaiar, mas fazia força para abrir os lábios.

—Por… Por… Favor… - Lágrimas escorriam de seus olhos.

Eu não via mais Nail ali. Nem Sakura. À minha frente, estava acontecendo uma guerra entre um monstro e uma garota agonizante, suplicando para ver Naruto antes de sua morte.

E entre as duas estava eu.

Sakura não parava de chorar. Seu corpo todo tremia e as palavras lutavam para sair.

—Por favor… Deixa ver… Naruto… Quero… Desculpas… Pedir desculpas….

 

Uzumaki Naruto

—Shizune?

—Sim, Naruto?

—Você conhece bem a planta do prédio, não conhece?

—Sim. Tenho em minha cabeça. Por quê?

—Porque eu quero saber se existem duas saídas entre o segundo e o terceiro andar.

—Sim. São duas rotas de acesso para o terceiro andar. Por que a pergunta?

Estávamos subindo em direção ao segundo andar. À frente, era possível ver o caminho se separando em dois.

—Vocês vão para a direita e eu vou para a esquerda.

—Você quer se separar? Para quê? - Shikamaru parecia incomodado.

—Se nos separarmos, podemos conferir se há alguém escondido nas salas. O próximo andar é o último e antes de começarmos a última batalha, não queremos ser atacados pela retaguarda porque deixamos inimigos para trás, não concorda?

Ele pensou um pouco. Esperei com o máximo de paciência que consegui reunir.

—Por que ninguém vai com você então? - Temari perguntou. Shikamaru respondeu por mim.

—Naruto luta de modo aberto. Poderia atingir os companheiros sem querer e não pode se conter agora que não se preocupa mais com o selo.

Acenei para ele com a cabeça em um sinal de agradecimento.

—Espero que vocês se saiam bem. - Falei.

—Boa sorte Naruto. Nos encontramos lá em cima. - Ele piscou para mim.

—Até lá então.

Virei-me para a esquerda e subi as escadas, acessando o lado oeste do terceiro andar do prédio, deparando-me imediatamente com um corredor cheio de portas. Não me demorei muito inspecionando as salas. Tudo o que fazia era abrir as portas, ver se não encontrava fontes de chackra ou outro sinal de inimigos e então saía em direção à próxima.

Tinha passado por mais de metade das salas quando senti algo.

Olhei em volta, tentando localizar com maior precisão o que se tratava. Notei então que era uma espécie de instinto assassino bastante forte. Alguém que não se intimidava perante a morte, misturado com tristeza e dor. Era um sentimento familiar, mas, ainda assim, chocante para alguém de fora. Era uma mistura de sentimentos que dava ao chackra uma forma diferente. Anormal talvez fosse a melhor expressão.

—Olá Naruto. - A voz viera baixa, sussurrada, de uma das salas mais distantes no corredor. Fui imediatamente até ela. Abri a mesma porta e vi, ao fundo, uma pessoa encapuzada, de máscara, esperando minha chegada.

—Quem é você?

—Não me reconhece? - A voz era carregada de sentimento. Não havia dúvida que fora o chackra dela que eu senti.

Com um movimento rápido, ela retirou sua máscara.

—Mamori? Eu pensei que tinha te matado.

—Não tão fácil. Nós ainda temos algo para resolver.

A minha expressão não poderia ser mais séria. Eu sei o quanto ela é forte.

Com alguma sorte, tenho chances maiores agora que posso começar com todo o meu poder.

Então me espere Ino. Em breve eu estarei ao seu lado. E me perdoe essa breve parada. Eu só parei um pouco para ajudar a definir o destino de Konoha antes.

 

Yamanaka Ino

—Finalmente. - A voz que invade meus ouvidos não é a voz que eu quero ouvir.

Nem aquela que preciso.

—Ino? Hora de acordar.

Meus olhos me obedecem.

—Finalmente terminamos o jutsu. - Ele sorri. - Não se sente diferente?

—Acho que você não conseguiu a minha lembrança. Estou certa? - Eu sorri antes de ele responder.

—Acha isso engraçado? E o que acha disso? Nunca mais poderá tocar seu querido Naruto. Não poderá nem mesmo pegar em sua mão sem matá-lo com isso.

Nós estamos sobre o telhado do escritório Hokage e eu estou presa a uma cadeira, presa sobre o chão. Meu coração parece bater mais devagar. Minha respiração está pesada. E Tenzo continua rindo para mim.

—Você ainda não compreendeu o pior. Eu não me importo mais com o seu segredinho, pois agora só o que resta é eu me deparar com Naruto. Mesmo que haja uma lembrança, não é mais necessária para mim. Até o fim do dia nós resolveremos essa situação de modo definitivo. Entendeu, Ino? Eu conseguirei o poder que reside em seu amado Naruto. Então serei invencível. Inatingível. E nada poderá me deter!

Ele se foi, me deixando com meus fantasmas.

Sozinha.

O sol forte atinge meu corpo, mas ele não se esquenta.

Minha mente se volta para o jutsu que foi implementado em meu corpo. Um jutsu irreversível. Um selo que foi feito com muito chackra em um jutsu que demorou muito tempo para ser realizado.

Ninguém poderá me tocar novamente.

Sozinha, deixo que as lágrimas rolem por minha face.

Eu ainda desejo que Naruto vença. Que Konoha triunfe.

Mas sinto que pode ser tarde demais para mim.

Minhas mãos não estão mais atadas. Eu sei que Tenzo me matará se eu tentar sair daqui. Eu arriscaria uma fuga, mas há horas minhas pernas não se movem mais.

Tento movê-las, sentindo o desespero da falta de movimento, mas sem sucesso.

Passo os braços em volta de mim mesma, em um abraço solitário.

Sozinha.

Lágrimas rolam por minha face.

Fim do Capítulo 26

*


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