Depois da Escuridão escrita por Lucas Alves Serjento


Capítulo 11
Capítulo 11 - O Caminho de Konoha




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N/A: Estou repostando a história para corrigir a gramática e fazer leves alterações para tornar a história mais agradável de ler. Espero que gostem.

 

Capítulo 11 – O caminho de Konoha

 

Haruno Sakura

Tentei esticar a mão para fora da cama do hospital, esperando assim encontrar alguma liberdade. Ainda que ela se resumisse em gesto tão pequeno, mas que demonstraria algum controle sobre meu corpo.

A resposta de meu membro não veio. Nem mesmo aquilo eu não tinha mais capacidade de fazer.

Deitada naquela cama, eu me sentia sufocar. Precisava sair, mas sabia que, se tentasse, os shinobis cercando meu quarto não permitiriam uma saída pacífica. Era irônica a situação, considerando a maneira que eu apoiara tal comportamento semelhante em relação a certo alguém, dias antes.

—Sakura? – Tsunade, ao meu lado, fitava meu rosto.

Durante a tarde inteira ela tentara me consolar com algumas palavras esperançosas. Em vão. Depois de entender o que acontecia com meu corpo, uma dormência estranha me dominara. Não fiquei histérica, como acho que deveria, mas também não senti nada. Minha vida inteira virava de cabeça para baixo enquanto conversávamos.

—Essa suspeita sua. Desde quando você a tem?

—Assim que soube dessa teoria, vim para cá. Fiquei com medo que você estivesse em perigo.

—E como isso pode ser perigoso para mim?

Ela se calou. Até onde percebi, ela não queria explicar os detalhes, mas eu precisava saber, por piores que fossem. Pensei comigo que uma tragédia a mais em todo o drama que se desenrolara em minha vida não significaria um golpe tão violento que eu não pudesse aguentar.

—Pode falar, Tsunade-sama. Eu quero saber.

—Sakura, eu…. Julgando seu estado de saúde atual, acho que mais informações podem gerar choques perigosos. Você sabe do que eu estou falando. Distúrbios, mesmo que apenas emocionais, podem gerar alterações sensíveis em sua-

—Rede de chackra, que num estado delicado como o que me encontro pode ser perigoso e, em casos extremos de realinhamento das redes e escapes inesperados de chackra como em cultivos de jutsus ou fontes novas de concentração de energias, podem ser fatais. Eu sei disso. Sei mais do que qualquer paciente seu jamais soube. E não me importo. Eu estou consciente do que estou falando, mas não consigo nem mesmo mover meus braços. As desgraças em minha vida são numerosas o bastante para me dar alguma autoridade e eu sei que você está ciente disso. Sei que hesita, mas quer me contar. E você sabe que eu devo saber. Sabe que, quanto maior o perigo, mais deve me contar, para que eu não me iluda pensando em saídas que não existem. Eu não sou um paciente qualquer e você não é uma médica qualquer. Então me diga, Tsunade-sama. Como essa… geração de um bijuu pode ser perigosa para mim?

Naquele momento, olhando para os seus olhos, eu enxerguei a profundidade de seu olhar. Por um momento, creio que compreendi a responsabilidade que ela carregava ao decidir prosseguir com sua explicação. Afinal, ali, ela não era apenas uma médica. Não era apenas uma kunoichi. Era minha mestra, uma sennin, uma ninja lendária, a Godaime. E minha amiga. Talvez, por um segundo, olhando em seus olhos, eu tenha compreendido.

—Até onde sei, três casos como o seu ocorreram no passado. E você os conhece. Eu não suspeitei antes que fosse a mesma coisa, afinal, não consegui crer que algum ninja ainda tivesse algum conhecimento a esse respeito. Até onde sei, o último deles surgiu há muito tempo, antes mesmo da existência de Konoha. Sua história está no pergaminho negro da medicina.

Minhas pupilas dilataram. Um dia, enquanto eu procurava informações sobre o que a Akatsuki fazia com os Jinchuurikis capturados, Tsunade me viu lendo aquele pergaminho velho e empoeirado, escondido entre os arquivos confidenciais do alto escalão do País do Fogo. O treino pelo qual ela me fez passar nas semanas seguintes quase me matou. Em minha mente, resquícios da história permaneceram.

 

—O Pergaminho Negro da Medicina. Volume 13-

Nota Geral da Coleção dos Pergaminhos Negros:

Este pergaminho contém informações sobre técnicas antigas, que sob circunstância alguma devem ser reproduzidas. Sua catalogação foi feita por shinobis da Vila da Folha, a serviço do senhor feudal do País do Fogo com o único objetivo de prevenir seu uso e doutrinar os shinobis e kunoichis para que não sejam vítimas desprevenidas de tais ataques.

Os relatos abaixo descritos são obra de Niibe Kayumi, escritora das coleções históricas “Guerras Antigas”, “A Derrocada dos Países Antigos”, “O Nascimento das Nações Shinobis” e “Konoha – Uma Nação”.

*

Dentre os shinobis antigos, antes do nascimento das vilas, três se destacaram. Lendas entre os homens, ídolos entre os guerreiros. Seus nomes se perderam na história, mas sua importância até hoje não encontra semelhantes. Por conta dessa perca e por causa de sua importância, eles foram simplesmente nomeados como: Ichi, Ni e San.

Esses três shinobis estavam no continente durante a explosão shinobi, a grande expansão do conhecimento de chackra e início das maiores nações shinobi. Eles reconheceram a necessidade de criação de um poder superior, que mantivesse a ordem entre os ninjas com o conhecido sistema de controle pelos mais fortes.

Sua primeira tentativa consistiu em uma união dos chackras dos três shinobis e a criação de um organismo dotado de vida e poder. Puro e simples. Uma concentração nunca antes vista e que seria o paradigma de poder dali em diante.

Fez-se o Juubi. Essa é apenas uma das lendas acerca de tal criatura, mas é aquela utilizada para validar o jutsu que analisaremos nesse pergaminho. Após a criação de tal monstro – que, repito, pode ou não ter sido o Juubi – os mesmos ninjas se empenharam em estabilizá-lo e manter seu poderio sob controle. Não foi possível obter um controle ideal e o monstro, depois de meses, foi subdividido. Seu poderio foi distribuído entre diferentes criaturas, como teste do poder criado. Assim criaram-se os bijuus – ou monstros muito semelhantes.

Nove desses monstros estão hoje catalogados como os grandes seres das caudas, com força abissal se comparada a shinobis comuns. Logo depois de sua criação, os três shinobis continuaram seus estudos e os monstros trilharam seus caminhos sozinhos. Ninguém sabe o motivo de tal desprendimento dos shinobis em relação à sua criação, mas desconfia-se que exista relação com o início do desvanecimento de seus poderes.

Alguns desses seres foram capturados por vilas ninjas antigas, anteriores à construção das atuais grandes nações. À época, compreendeu-se que tais bijuus não conseguiriam viver sozinhos por conta da sua composição frágil e inapta a conter tamanho poder. Seu corpo precisava evoluir. Eles precisavam de nutrientes e crescimento saudável. Três deles foram capturados pela antiga nação da luz, cujas ruínas ainda são motivos de histórias nas bocas das crianças. Uma delas, em particular, conta sobre três monstros que caíram nas mãos da nação da luz, cujos médicos concluíram que seria possível utilizar um hospedeiro para possibilitar tal evolução (saiba mais sobre a jornada de captura, estudos e métodos de análises durante esse período no livro “A Derrocada dos Países Antigos”).

Um hospedeiro animal não seria suficientemente forte, assim como não o seria um corpo humano comum. A solução encontrada foi a utilização de kunoichis, por intermédio de jutsus de construção – afinal, nessa época não existiam jutsus médicos para estabilizar as pacientes, sendo necessários jutsus de construção de células em técnicas hoje vistas como arcaicas – e, por fim, reduzindo o tamanho dos supostos bijuus, utilizaram seus corpos como abrigos e incubadoras. Três mulheres foram selecionadas – e aqui chegamos à história que melhor explica o surgimento das primeiras pessoas a receber a denominação “Jinchuuriki”.

Tais kunoichis experimentaram, durante toda a sua vida, poder ainda maior que o dos Jinchuurikis atuais, afinal, como incubadoras elas concediam, além de abrigo, meio de crescimento aos monstros que abrigaram. E, fato talvez inusitado, foram essas kunoichis que assumiram os postos de ninjas mais fortes do mundo à época.

Tal posto, porém, foi delas por pouco tempo. Um mês após chegarem ao topo da cadeia de poder, a Jinchuuriki do Ichibi foi internada em estado grave. Infelizmente, não se tem registros do ocorrido – apesar de especulações feitas, nem mesmo lendas existem a respeito e apenas após meses de pesquisa encontrei resquícios de que realmente houve uma internação. Após isso, o que resta são histórias sobre o retorno de Ichibi em sua forma hoje conhecida, o que se leva a crer que a Jinchuuriki não sobreviveu.

Quanto às outras duas, estas também sucumbiram, mas em momentos diferentes. Uma delas caiu em batalha oito meses depois, quando já demonstrava sinais de fadiga e exaustão extremas, falecendo em um registro deixado pela terceira e última. Esta que, por sinal, deixou uma marca ainda mais significativa na história, chegando a ser apelidada “Kage Kunoichi”. A última a falecer e mais forte entre as três deixou um relato em detalhes da batalha e como presenciou a saída do bijuu do corpo de sua companheira, bijuu esse que, mais tarde, seria chamado de Kokuo. Essa mulher viveu durante anos e deixou um legado ninja impressionante, muitas vezes atuando ao lado de Senju Hashirama durante o fim das Guerras dos Países Antigos e presenciando aquilo que seria a primeira construção de Konoha. Ela viu o alvorecer da grande vila ninja, tornou-se esposa do primeiro Hokage e contribuiu ativamente para a construção dos pilares dessa nação tão forte. Chegou um momento, porém, que o bijuu em seu interior estava forte demais. Nesse momento, ela pediu ao primeiro Hokage que evacuasse a área. Sua hora chegara. Aqui a história difere em razão de detalhes técnicos.

Afinal, alguns afirmam que o monstro usado por Uchiha Madara durante sua batalha contra o primeiro Hokage era a Kyuubi em toda a sua força, enquanto diversos especialistas afirmam que não, que ele somente teria utilizado uma sombra do bijuu que extraiu temporariamente do corpo dela e que, por isso, perdeu a batalha contra Hashirama. O fato é que Madara, naquele dia, manipulou o bijuu abrigado por ela para que fosse utilizado em batalha. Depois, quando ela pôde aprisioná-lo novamente, o controle dela sobre seu monstro de caudas se tornou ainda mais precário, chegando ao ponto em que ela não resistiu e teve de se fundir ao seu monstro, para tentar mantê-lo longe da civilização, onde os resquícios da consciência da kunoichi impedissem o bijuu de realizar catástrofes.

O nome dessa kunoichi era Mito Uzumaki. E o monstro que nasceu aquele dia foi a Kyuubi, em sua forma mais poderosa, aquela que conhecemos hoje e que supera tanto em poder aos outros bijuus.

Essa é a história dos bijuus e de sua criação. Um jutsu proibido de encubação de chackra em seres humanos, cujos detalhes técnicos foram perdidos pela história, mas cuja recriação é terminantemente proibida por seu caráter desumano com os hospedeiros e qualquer um praticando tais técnicas será punido com todas as forças da mais forte nação shinobi.

Que a vontade do fogo habite em todos nós.

*leia o Pergaminho Negro da Medicina – Volume 14 para detalhes sobre as fontes, detalhes médicos técnicos, datas aproximadas, adaptações sugeridas aos livros históricos e explicações complementares em relação ao conto de Kaguya Otsutsuki.

Pergaminho redigido por Niibe Kayumi.

 

Haruno Sakura

—Então eu sou, o quê? Um estudo semelhante?

Tsunade enrugou uma sobrancelha. Não queria responder, mas aquela era a resposta que eu precisava.

—Então eu vou me tornar um Jinchuuriki?

—Talvez. Não sei ainda. Afinal, segundo o pergaminho negro, os detalhes técnicos foram perdidos. Provavelmente o que foi feito em você foi algo semelhante, talvez mais avançado, talvez mais precário. Por isso a minha preocupação.

—Tem algo mais.

—O quê?

—Tem algo que você não está me dizendo e que está te preocupando. O que é? A vila? Naruto?

Senti que chegara perto.

—Vamos, Tsunade. Diga. Naruto? O que tem? Ele foi encontrado? Está bem? Ou não? É a Kyuubi? – Seu rosto tremeu um pouco. – O que tem ela?

Tsunade suspirou antes de me responder.

—Você lembra o que dizia o pergaminho?

—Sobre a maneira que a Kyuubi atingiu sua forma completa?

—Sim.

—Lembro-me.

—Lembra também o que dizem os registros posteriores? Sobre a maneira que Madara alterou a constituição da Kyuubi para que destruísse qualquer resquício de Mito Uzumaki de sua mente?

—Sim.

—É isso que me preocupa. A Kyuubi sente e nutre um ódio mortal por ela e qualquer coisa que a ela se assemelha. Por isso ela e Naruto nunca se deram bem.

—Mas isso não é novidade para você. O que muda nesse caso?

—Você muda. Eu estou preocupada que a Kyuubi sinta o surgimento de um poder semelhante ao dela, criado de maneira semelhante a ela.

—Entendo. Então você teme que ela venha atrás de mim.

Tsunade não respondeu. Mas sua feição tremeu e eu tinha a resposta de que precisara.

 

Yuhi Kurenai

Naruto caminhava pouco atrás de mim, um pouco desajeitado, com dificuldades de se mover. Eu não esperava algo diferente, considerando que suas mãos estavam amarradas, seus braços estavam com movimentação limitada, correntes nos calcanhares não lhe permitia dar passadas longas e sua boca estava amordaçada.

Por causa disso, em vez de correr, agora caminhávamos lentamente, dando a ele o tempo necessário entre um passo e outro. Esperávamos também que alguém da vila nos percebesse nesse ínterim e viesse nos receber sem muito alarde, já que nossa lentidão era evidentemente proposital.

—Finalmente. – Kakashi, às minhas costas, soltou um suspiro.

Concentrei-me, tentando encontrar o mesmo que ele. E, apesar de estarmos a 230 metros da fronteira, encontrei o que Kakashi encontrara. A uns trinta metros, três ninjas estavam parados, provavelmente descansando.

—Kurenai, por favor, vá à frente. – Ele pediu.

—Por quê? – Tenten perguntou. – Aconteceu algo?

—Isso porque só temos dois jounins aqui e Kurenai é a única que eles não atacariam antes de fazer alguma pergunta.

Eu dei uma pequena risada. Sabia que ele tinha razão. A julgar pelo ataque feito a Naruto no hospital, eu só não seria atacada porque perguntariam o motivo pelo qual eu os traíra.

Acenei com a cabeça para Kakashi e joguei meu corpo para frente, ganhando a dianteira. Um minuto depois eu estava em frente a uma barraca de guarita, pouco à frente do portão principal. Três shinobis me esperavam.

—O que está fazendo aqui, Kurenai? – Shikamaru. Provavelmente previu minha chegada.

Esperei a surpresa passar. Não queria assustá-los. Percebi-me presa pela sombra de Shikamaru e cheguei à conclusão de que deveria começar a falar imediatamente.

—Eu e os outros vimos o que Naruto fez. Por isso, resolvemos capturá-lo e entregá-lo à justiça de Konoha, como um pedido de perdão.

Hinata estava do lado de Shikamaru, mantendo sua expressão serena. Não demonstrou nenhuma espécie de choque ao escutar o nome do Uzumaki. Kiba, que estava ao seu lado, porém, parecia muito surpreso.

—E vocês conseguiram pegá-lo? – Mesmo Shikamaru parecia impressionado. – Afinal, ele se demonstrou forte o bastante mesmo sem o chackra da raposa.

Não demonstrei emoção alguma. Tinha de me ater à história.

—Naruto foi capturado assim que soubemos que a Kyuubi se libertara. Ele estava fragilizado.

Shikamaru enrugou uma sobrancelha. Apesar de Kiba parecer convencido, eu tinha certeza de que Shikamaru não se deixaria convencer tão facilmente.

—A Kyuubi foi libertada ontem, Kurenai.

Eu sorri. Tinha, assim como o restante do time, uma resposta simples a esse tipo de pergunta.

—Demoramos um pouco a encontrá-lo e depois de capturá-lo, tivemos que descansar um pouco.

Eu sabia que ele cederia nesse ponto. Ainda que desconfiasse, não encontraria argumentos para desconfiança.

—E onde estão os outros? – A voz de Hinata, de tão serena, me surpreendeu.

—Se vocês prestarem atenção, sentirão shinobis se aproximando. Estão mais lentos por carregar Naruto.

Shikamaru sorriu.

—Tenho que admitir que não estava esperando isso acontecer. Viemos para cá aguardando o retorno de algum de vocês que tivesse se arrependido. Acho que assim é melhor. – Ele me libertou de seu jutsu da sombra. – Vamos esperar.

Ele suspirou e sorriu. Eu não duvidaria se ele tivesse descoberto todo o plano nesses poucos segundos. Afinal, ele era o shinobi mais inteligente de Konoha.

—Acho que vocês vão ser inocentados depois que Naruto for posto sob os cuidados dos ninjas da vila, não é? – Ele perguntou, para deixar isso claro aos outros presentes. - Quem pensou nisso merece os meus parabéns.

Eu queria contar que a ideia foi de Naruto, mas lembrei que não deveria.

—Acho que foi Naruto. – Ele encostou a uma árvore, próxima dali. – Afinal, ninguém sugeriria isso. Afinal, vocês estão dispostos a fazer muita coisa por ele, não é mesmo?

Eu continuaria calada, mas sabia que tinha de me fazer de desentendida. Não me sentia segura deixando aquelas ideias por ali, ainda que fosse apenas em suposição.

—Você pensa muito, Shikamaru. Está começando a conspirar demais. Além disso, Naruto jamais concordaria em ser preso.

Ele sorriu mais uma vez. Parecia ter gostado do plano.

—Não se preocupe, Kurenai. Eu não sei de nada. Mas também não acredito que vocês ou o próprio Naruto queiram essa prisão. Não de verdade.

Quem sorriu agora fui eu. Até onde sabia, Naruto concordara em ser preso para que os outros ficassem bem. Nenhuma fuga fora planejada e eu duvidava que seria tão cedo, se o fosse.

—Eu não sei o que você está falando.

Kiba tentava entender o que estava acontecendo. Mas, como sensei dele, eu sabia que ele não entenderia nada daquilo tão rápido. Hinata, por outro lado, estava indecifrável. Ela parecia muito distraída olhando por entre as árvores. Tentava enxergar algo. Eu então percebi que os outros ninjas da vila se tornavam visíveis no fim da estrada.

Ao perceberem que estava tudo bem, apertaram o passo. Afinal, eu não precisava mais de tempo.

—E então? – Kakashi perguntou ao chegar – Já sabem o que aconteceu?

Shikamaru sorriu mais uma vez. Parecia estar com vontade de ficar sabendo de tudo pela boca do Kakashi, mas se calou.

—Já. Kurenai nos informou tudo.

—Bom trabalho. – Kakashi me disse. Mas apenas parte de meu cérebro percebeu isso. A outra olhava para Hinata. Seu olhar parecia um pouco analítico. Analisou o corpo todo de Naruto. Depois de fazer sua “inspeção”, ela se manifestou.

—Você está apenas na classe de um chuunin médio. Sem o chackra da Kyuubi, até mesmo seu chackra sennin está comprometido. – Antes que alguém a interrompesse com perguntas, ela continuou. – É preciso muito chackra muito forte para controlar o chackra sennin. E, apesar de você ter uma grande quantidade de chackra, ele ainda é muito fraco para um nível shinobi tão alto.

Por um momento, temi a reação de Naruto. Afinal, perder tanto poder de uma vez poderia ser um choque grande.

Mas, ao contrário do que pensei, as sobrancelhas dele se ergueram e um ruído por debaixo da mordaça indicou um leve riso.

—Você acha que poderá fazer qualquer coisa enquanto estiver preso? – O tom de Hinata não era de hostilidade, mas legítima curiosidade àquela reação.

Naruto não respondeu, mas senti algum desdém em seu olhar.

—Acho que devemos ir. – Shikamaru ficara sério. Parecia ainda suspeitar de algo. – Naruto, eu sei que você deve ter ótimos motivos para fazer isso. Mas já aviso que, depois que você entrar em Konoha, eu vou fazer com que não consiga mais escapar. Sua maior chance é agora, com alguns amigos ainda em seu redor.

Ele queria deixar claro que sabia que o protegeríamos, se fosse necessário.

Ninguém respondeu.

—Então vamos acabar logo com isso.

 

Uzumaki Naruto

Finalmente. Depois de meia hora tendo de caminhar com todo aquele aparato me atrapalhando os movimentos, nós chegamos. Enfim o portão principal de Konoha.

—As coisas vão mudar agora, não é mesmo? – Ino sorria ao meu lado. Sua voz estava irritante. O que era bom, considerando que esse era seu papel ali.

—Não o provoque, Ino. – Kakashi repreendeu. Nós passávamos pelo portão da vila.

Os dez guardas que protegiam o portão pelo caminho terreno abriram espaço a um sinal de Shikamaru. “Você parece ter virado um figurão” era o que eu queria dizer, mas aquela maldita mordaça me impedia. Por isso, assim que passamos pelo portão eu recobri meus dentes de chackra e a despedacei com facilidade.

—Que cheiro de cachorro molhado é esse? – Eu sempre agi como um idiota e recentemente estava chegando à conclusão de que era porque eu me sentia melhor assim. – É você, Kiba? Ou será o Akamaru?

—Cale a boca, Naruto.

Eu não me intimidaria com tão pouco.

—Quem quer fazer um bolão sobre qual vai ser a minha sentença?

Hinata sorriu um sorriso pequeno. Apesar de não ser o tipo de pessoa que tem pensamentos cruéis normalmente, foi assim que ela pareceu naquele momento.

—Você vai morrer? – Ino sugeriu. Eu não conseguia levá-la a sério.

—Eu aposto que vou ser condenado à morte! – Pronto. Os olhares de todos pareciam desacreditar da minha saúde mental. Até mesmo Kakashi e Ino. Isso me fazia contente. Uma sensação que eu não sentia há tempos.

—É a mesma coisa, Baka! – Ino parecia indignada.

—Não é não. Eu posso muito bem morrer me suicidando antes do julgamento, ou ser assassinado na prisão!

Ninguém riu. Gostei do resultado do teste. Ninguém ali gostou de pensar na minha morte. Mesmo depois de tudo.

—Vamos lá, é uma aposta. O que vocês acham?

—Você nunca cala a boca? – Foi Hinata quem perguntou.

Imediatamente eu me voltei para ela. Sua feição ainda era de curiosidade. Naquele instante pude compreender que algo nela não estava normal. Talvez fosse paranoia, mas ela estava estranha e eu queria encontrar o motivo. Por enquanto, a única coisa que eu devia fazer eu fiz.

—Parece que você se esqueceu do básico, Hinata.

Eu continuaria falando, mas minha atenção se desviou para a entrada do escritório da Hokage. Olhei para Shikamaru. Ele queria um julgamento imediato, sem risco de me “perder” durante vários transportes. Esperto? Eu acho que desesperado era a palavra mais adequada. Tsunade estava à porta, entrando no prédio. Akamaru foi na frente para chamar sua atenção. Mesmo à distância, assim que ela virou nós dois nos encaramos. Senti que poderia fazer algo impressionante. E, sem que eu pudesse pensar, meu corpo se movimentou.

Talvez por estar sem a Kyuubi, quando me movimentei eu senti um buraco onde era para estar aquele chackra. E, no segundo seguinte, esse vazio se preencheu novamente. Pela primeira vez eu senti aquele poder que não era meu nem da Kyuubi, mas que estava ali. Eu o senti. Muito mais denso que os outros. Muito mais obscuro também.

Assim que meu pensamento cogitou a movimentação, as correntes banhadas em chackra que cercavam meu corpo se romperam e, assim que elas partiram, eu estava na frente dela. Somente depois que o seu barulho indicou que caíram no chão. Eu atingira uma nova velocidade máxima.

Sem saber o que dizer, afinal, eu não tive tempo de pensar, apenas mantive a postura e, a quinze centímetros dela, eu sorri e disse:

—É a hora de me julgar, Tsunade-sama.

Fim do Capítulo 11

*


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