Depois da Escuridão escrita por Lucas Alves Serjento


Capítulo 10
Capítulos 9 & 10 - Especial Duplo - Bijuus




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N/A: Estou repostando a história para corrigir a gramática e fazer leves alterações para tornar a história mais agradável de ler. Espero que gostem.

 

Capítulo 9 & 10 – Especial Duplo – Bijuus.

 

Haruno Sakura

O olhar de olhos vermelhos. O Sharingan que me impressionava e entregava um terror que eu não conseguia conter. Minhas mãos tremiam, um grito estava preso em minha garganta. A pouca segurança que restava em meu corpo ameaçava quebrar por causa da intensidade da situação.

—Sakura! Cuidado com genjutsus! – A voz do alerta de Sai me despertou.

Eu havia esquecido isso e, no mesmo instante, desviei meu olhar daquele rosto. Não foi um movimento efetivo, pois no momento seguinte senti tontura. Não consegui controlar direito o movimento de minhas pernas, que ameaçavam dobrar contra minha vontade.

—Droga! – Exclamei, sentindo o fechar de meus olhos.

Não demorou até que minha vista escurecesse. E, antes de perder a consciência, senti ainda meu corpo tocando bruscamente o chão. Teria sentido a dor, se não desmaiasse antes.

*

Quando finalmente acordei, não sabia onde estava ou o que tinha acontecido. Apenas senti algum cansaço, como se tivesse sido submetida a um grande esforço.

—Sakura? – A voz inconfundível de Sai atingiu meus ouvidos. Senti alguma calma me invadir depois de escutar a voz dele. Algum conforto trazido pela voz familiar.

Tentei levantar, mas a tentação de permanecer largada sobre o piso era grande. A dormência que senti em todos os meus membros não ajudou também.

—O que foi? – Perguntei.

—Você está bem?

Minha vontade era responder que, sinceramente, não estava. Minha mente estava confusa e as sensações se embaralharam nos instantes seguintes. Não consegui pensar direito. Minha boca não abriu para responder e tudo estava muito confuso.

—Sakura, olha, eu sinto muito por tudo o que aconteceu. Eles eram muito fortes e eu não consegui fazer nada. Eu queria ter feito algo. Matado todos eles. – Sai prendeu a respiração por um instante, a irritação era clara em sua voz. – Eu não consegui detê-los….

Não consegui compreender o que o deixara tão irritado. Claro, imaginava que não foram gentis na minha locomoção até a cela, o que era evidente pelas manchas em meus braços e pela dormência em minhas pernas. Mas não entendi o que, nisso tudo, o faria perder a compostura.

Usando os cotovelos, empurrei meu corpo para frente em pequenos impulsos, até alcançar a parede do fundo da minha prisão. Com muito esforço consegui apoiar minhas costas ali e, finalmente, olhar para frente. Do meu lado esquerdo, vi diversas barras de metal que brilhavam com revestimento de chackra, separando a minha cela daquela onde estava Sai.

—Não há necessidade para ficar tão irritado. – Eu disse. – Eles não foram gentis ao me trazer, mas isso era esperado.

Ele me olhou como se não acreditasse no que eu dizia.

—O que aconteceu? – Perguntei.

—Sakura, eu…. – Ele hesitou e eu esperei. Era evidente que continuaria. – Não tenho certeza. Apenas ouvi um deles dando risadas enquanto me trazia para cá.

Ele fez uma pausa e aquela hesitação toda estava me assustando.

—Fale de uma vez.

Ele olhou em meus olhos com uma intensidade que eu nunca vira antes. Ele continuaria, mas parecia querer fazer aquilo como uma retirada de um esparadrapo. Seu olhar triste não ajudou na narrativa.

—Os guardas me escoltaram para cá e o Uchiha ficou com você do lado de fora da prisão. Eu fui pego no jutsu de um deles, que me fez ficar com o corpo dormente, mas com a consciência ativa. Por causa disso eu escutei a conversa que eles tiveram. Segundo eles, o Uchiha precisava de uma garota para…. Continuar com o plano dele. E uma garota de Konoha seria o ideal.

—O que isso significa?

Ele fez uma careta de dor.

—Pelo pouco que escutei, eles queriam colocar algo encoberto de chackra dentro de você. Quando vi a maneira que você chegou aqui, tirei as outras conclusões.

—Como assim? – Minha consciência enfim retornara de modo pleno.

—Sakura, olhe para suas roupas. – Só então percebi que ele tomava o cuidado de olhar apenas para meu rosto.

Baixei meus olhos e vi que minha camisa estava totalmente rasgada, com poucos trapos em seu lugar. Comecei a entrar em desespero. Baixei meu olhar, com a respiração falhando. Alguma sensibilidade das minhas pernas voltou e eu percebi que estava sem roupa de baixo. Minhas pernas estavam à mostra e apenas uma tira de pano nas coxas ocupavam o lugar que antes era das minhas roupas.

Então eu entendi. Eles colocaram “algo” encoberto de chackra dentro de mim. Um embrião coberto com chackra tinha uma chance de mais de 95% de gerar uma gravidez em um útero saudável.

O Uchiha abusara de mim. Explicava os braços roxos. A dormência em meus membros inferiores.

—Meu Deus…. – Foi o que consegui dizer. Um ódio mortal despertou em meu peito.

—Eu tentei te cobrir, mas você se arrastou para longe do casaco. – Ele apontou seu casaco, que estava próximo do lugar onde eu estivera desmaiada há pouco. Recolhi-o e cobri meus ombros e seios com ele.

Sai ainda tentou me acalmar, mas eu não queria ser acalmada. Levantei, olhando a parede onde estivera apoiada. Uma pequena janela a furava, revelando a floresta às costas do esconderijo, onde eu me escondera antes.

Sem pensar duas vezes, concentrei o máximo de chackra que pude reunir em minha mão. E soquei a parede. O ódio em mim era tão forte e a brutalidade no meu golpe era tão pura, que mesmo recoberta com chackra a parede cedeu, caindo na primeira tentativa.

Meu corpo, entretanto, não estava pronto para tal descarga de poder. Assim que a parede caiu, senti meu corpo fraquejar. Meu olhar vacilou e meu corpo desmontou. Antes de desmaiar novamente, senti as mãos de Sai, segurando-me. Em seguida senti o vento em meu rosto. Sai aproveitara a oportunidade para fugir.

*

Acordei várias horas depois, no hospital de Konoha. Sai me contou que Tsunade-sama me examinara pessoalmente. Ao que parecia algo no meu corpo estava me deixando mais fraca, mas, infelizmente, nem mesmo ela sabia o que estava acontecendo e teria que investigar e fazer exames periódicos para tentar descobrir.

Ele me acompanhou para o escritório da Godaime e, por motivos que eu não soube explicar, mas que certamente tinham relação com o trauma de ser violentada, eu queria ficar próxima de Sai. Alguma coisa nele parecia trazer uma sensação de segurança, por mais contraditório que isso fosse parecer. Durante o tempo em que estive no hospital, mantivemos segredo, como se eu estivesse em missão. Fui eu quem pediu, porque não queria conversar com ninguém sobre o assunto. Apenas Sai podia saber. Talvez fosse por isso. Apenas ele entendia o que acontecera. O único ciente do meu segredo.

Mesmo Naruto pareceu diferente depois daquilo. Ainda que fosse besteira minha, preferi não arriscar uma aproximação. Ele não era Sai. Alguns dias depois, estava tão fraca que nem mesmo percebi a aproximação de Naruto enquanto revelava para Sai que não amava o Uzumaki. Tive que ficar em observação no hospital. E, algumas horas depois, o pior começou. Algo que me consumiu durante dias, corroendo minhas entranhas, matando minha consciência.

Algo que chegou ao auge quando fui ver Naruto em sua prisão domiciliar.

Até aquele momento, quando entrei naquele quarto, eu ainda era eu. Depois disso, não posso dizer o mesmo.

*

Não gosto de lembrar aquele dia. Vi os olhos de Naruto e algo dentro de mim tomou o controle. Em um piscar de olhos, nem mesmo a expressão em minha face estava dentro do meu controle.

Aquele dia eu não pude fazer nada, exceto ver o sofrimento de Naruto enquanto escutava as piores palavras que eu poderia ter lhe dizer.

A todo o momento, a cada palavra, eu tentava pedir desculpas. Afinal, eu estava ali, no quarto dele, vendo a imagem de seu rosto com uma dor que passava em ondas para mim e ainda assim eu continuava. Eu via sua dor aumentar. Eu a sentia em seus olhos, a via em suas mãos trêmulas, a percebia em sua voz fraca.

Podia ele me amar tanto assim? Era possível sofrer daquela maneira?

Então meu corpo, ainda fora do meu controle, deu as costas a ele. Como era possível eu ser tão cruel? Como ninguém vinha me atacar, virar minha cabeça para ele e dizer: “Essa é a pessoa mais especial que você vai encontrar em todo o mundo!”?

Mas ninguém fez nada. Eu não fiz nada. E, um instante antes da minha saída, ele disse aquilo.

—Eu te amo, Sakura.

Palavras com um impacto inimaginável.

—Não quero que vá….

Ninguém imaginaria a importância daquelas palavras. Aquele era um pedido de Naruto. Ele nunca pedia as coisas para mim. Estava sempre tentando fazer algo por mim. E ali estava ele. Eu sabia que ele estava ali, naquele momento, precisando de mim…. Eu não podia permitir que continuasse.

E durante cinco segundos eu lutei com todas as minhas forças para recuperar o controle. Eu não podia ir embora. Naruto estava ali. Naruto precisava de mim.

Cinco segundos e eu não aguentei mais. Meu corpo passou pela porta e o primeiro dos enjoos me atacou. Meu corpo estava sob meu controle mais uma vez. Tudo o que eu pude fazer foi soltar uma lágrima e desmaiar nos braços de alguém.

*

Quando percebi que Naruto veio ao quarto de hospital onde eu estava, decidi manter meus olhos fechados. Pressenti que se o encarasse, perderia o controle de meu corpo novamente. No entanto, quando percebi que ele estava ali para se despedir, não consegui conter a ansiedade. E olhei mais uma vez para ele.

Meu pressentimento estava correto. Quis fechar meus olhos para não enxergar o que aconteceria, mas não consegui. Fui obrigada a assistir tudo o que aconteceu. Não pude evitar que minha boca falasse, minhas pernas andassem ou meu corpo lutasse. No meio de tudo ainda senti novo enjoo. Eles vinham de quinze em quinze minutos agora.

Antes que eu soubesse o que acontecia, Naruto sumiu por entre as árvores. Eu estava ao lado de Sai. Nesse momento, senti novo enjoo e desmaiei.

 

FLASHBACK OFF

Acordei no hospital, com Tsunade ao meu lado.

—Oi.

—Olá. – Ela respondeu, olhando alguns exames.

—O que está acontecendo comigo, Tsunade-sama? – Eu não tinha paciência para esperar. Precisava resolver aquilo.

Ela balançou a cabeça.

—Não dá para saber ainda. Eu já disse para você. Mesmo eu, que dediquei minha vida à medicina jamais vi algo como o que está acontecendo a você. Pedi a Shizune para que procurasse algo semelhante nos arquivos da vila, mas acho improvável que ela termine de analisar tudo o que há lá em pouco tempo.

Eu fiquei em silêncio por alguns segundos. Ela se levantou para sair, voltando-se para mim uma vez.

—Sai me contou que você está sendo controlada pelo que foi injetado em você. É verdade?

—Não. – Respondi. – Agora, por exemplo, não estou sendo controlada por nada. Mas…. Tem horas em que não consigo me controlar.

Ela sorriu para mim.

—O que foi? – Perguntei.

—Eu só estou satisfeita em saber que não foi você quem fez aquilo tudo com Naruto.

—Acha mesmo que sou tão importante para ele? - Uma pergunta que, hora ou outra, faria a mim mesma.

Tsunade enrugou a sobrancelha, como se estranhasse a pergunta.

—Sakura, para o Naruto, eu desconfio que você seja mais importante do que a própria vida dele.

Eu não respondi. Ela saiu do quarto. Foi quando notei algo diferente em mim. Uma espécie nova de sentimento.

Seria possível, mesmo depois de ter declarado para o próprio Naruto que não o amava, que eu sentisse outra coisa?

Seria possível começar a amar Naruto agora?

Eu não saberia responder.

 

Uzumaki Naruto

Ao acordar, eu estava sem ideia alguma sobre o que fazer. Afinal, estava deitado no meio de uma floresta destruída. A única coisa inteira ali era o meu corpo. Percebi que diversas pessoas se aproximavam do lugar onde eu estava. Senti em meu corpo cansaço tão grande que nem sequer pude pensar em fugir. Meus membros pareciam ter sido feitos em pedaços e depois costurados de volta ao tronco de uma maneira bastante desleixada.

E, antes que eu estivesse preparado para receber alguém, um shinobi pulou em algum lugar próximo da parte de trás da minha cabeça, fora do alcance da minha visão.

—Quem é? – Perguntei, ouvindo o som fraco da minha própria voz.

—Você está horrível. – A voz de Kakashi respondeu.

Senti meu corpo relaxar imediatamente. Sabia que poderia confiar nele.

—Nunca estive pior, Kakashi-sensei. Pensei que fosse morrer.

—Não fale idiotices. – Ino apareceu um pouco à minha direita. – Se estivesse morto, de que adiantaria virmos todos até aqui?

—Se bem que, – Tentei estava ao lado dela. – com ele acordado, vamos ter ainda mais problemas.

—Vamos levá-lo para um lugar mais seguro. – Sugeriu Kakashi. – Não queremos correr o risco de ter uma visita da Kyuubi.

Tive a impressão de que os outros concordaram. Kakashi veio até meu corpo e me ergueu, apoiando meu tronco em seu ombro. Senti-me ridículo, mas não tentei me mexer, sabendo que seria pior tentar fazer algo naquelas condições.

—Para onde vamos? – Perguntei enquanto fechava os olhos.

—Vamos procurar uma gruta, ou uma caverna. – Ele respondeu. – Se eu não me engano, sei de um ótimo abrigo aqui perto.

—Tomara que seja perto. – Ino parecia divertida, mas tive a sensação de que tramava algo.

—Para quê a pressa? – Perguntei ainda de olhos fechados. A voz dela surgiu novamente próxima de mim, o que me assustou um pouco.

—Por quê? – Ela estava indignada. – Acho que você nos deve uma explicação para ter soltado seu Bijuu. Sem contar essa história de se livrar dele sem morrer.

Eu não respondi. Não previra a hipótese de ficar vivo. Estava sem nada para falar.

—Além disso, temos outra pergunta importante. – Kakashi resolveu se manifestar. – Porque a Kyuubi não te matou? Você estava fraco, sozinho e desacordado.

—Eu não sei. – Respondi.

Ouvi o riso de alguém que devia esperar isso de mim.

O vento que bateu em meu rosto indicou que estávamos nos movimentando com velocidade. Ninguém falou mais durante alguns minutos, até eu escutar novamente a voz de Kakashi.

—Chegamos. Parece que ainda está de pé.

—Puxa! – A voz de Ino indicava que ficara impressionada. – Parece que você não estava mesmo brincando quando disse que conhecia um ótimo lugar, hein, Kakashi?

—Achei que ficaríamos em uma gruta ou caverna. – Kurenai brincou.

—Eu posso fazer surpresas de vez em quando. – Ele respondeu.

Não consegui me segurar. A curiosidade falava mais alto. Senti estranheza ao perceber a demora em meu corpo para responder. A falta do chackra da Kyuubi me curando mais rápido se fazia presente. Só então notei o quanto dependia daquela habilidade.

Insisti em tentar abrir os olhos. E entendi a surpresa dos outros. Afinal, o máximo que já conseguira como esconderijo era uma casa de madeira que Yamato construíra. Então, ver um castelo abandonado era um pouco…. Diferente.

Era um castelo de algum antigo senhor feudal. Abandonado depois de alguma das guerras antigas, composto por quatro torres e várias pequenas salas, ligadas por grandes muros de cimento e um grande salão central. Tudo isso corroído pelo tempo e desolação dos terrenos em redor, com pedaços de parede quebrados, escadas destruídas e mato por toda a parte. Alguns dos móveis ainda estavam intactos, outros foram comidos por insetos, assim como parte da estrutura. Um legítimo castelo abandonado.

—É seguro? – Perguntei, achando estranho que a fala não me doeu o corpo.

—Acha mesmo que eu traria vocês aqui se não tivesse certeza disso?

Estava tão exausto que resolvi não perguntar mais nada. As dores pareceram diminuir um pouco, dando lugar a uma sonolência pesada.

—Quando eu vou poder dormir? – Perguntei.

—Quando eu achar uma cama. – Kakashi não se irritou. Pareceu se divertir com aquilo.

Não demorou muito para que ele achasse um lugar. Quando eu estava ao ponto de dormir enquanto era carregado, senti o conforto de um colchão. Queria fazer perguntas sobre o tal castelo, mas deixaria isso para ouro dia. Antes que pensasse na palavra “dormir”, eu peguei no sono.

 

Yamanaka Ino

De onde estava eu via o nascer do sol no horizonte, pensando em quanto tempo poderia ficar fazendo apenas aquilo. Parada. Vendo o sol nascer.

—Quando você acha que ele vai acordar? – Perguntei para Kakashi, que conversava com Kurenai ali perto.

—Acho que vai demorar um pouco, Ino. Afinal, ele não tem mais a recuperação do chackra da Kyuubi.

Um som chamou nossa atenção. Uma tosse. Olhei assustada para a porta da sala.

—Quanto tempo eu deveria levar para me recuperar se estivesse com o chackra da Kyuubi? – Naruto estava em pé, na nossa frente. Curado em apenas uma noite.

—O que. – Senti minha voz falhar. Tossi com a surpresa antes de tentar novamente. – O que aconteceu?

—Pelo que parece, o mesmo de sempre! – Ele parecia animado. – Acho que não era apenas a Kyuubi quem me curava.

—Mesmo assim. – Kurenai interveio. – Mesmo com a ajuda dela você demoraria mais de cinco dias para se curar. Isso está além dos limites de um shinobi, Naruto.

Ele riu despreocupadamente, como se aquele fosse um assunto menor.

—Mas eu me curei antes. Por isso agora temos tempo de bolar um plano, não é? Aliás, para quê serve esse plano?

Eu ri antes de responder. Não consegui conter o gesto ao perceber que um pouco de seu senso de humor voltara.

—Nós precisamos de um plano para parar a Kyuubi. Afinal, precisamos de alguma desculpa para poder voltar à vila, não acha?

A face dele se alterou um pouco, contendo a seriedade para manter a brincadeira no brilho dos olhos.

—Se for isso, então eu tenho uma ideia do que podemos fazer.

—Como é? – Eu não esperava que ele tivesse um plano tão rápido. Não esperava que ele tivesse um plano nunca.

—Pois é. Eu tenho uma ideia. – Ele parecia já esperar a minha reação.

Kakashi não disse nada, apenas fixou seus olhos no aluno. Kurenai o imitou.

—Acho que você deveria esperar todos se reunirem se vai contar o que pensou.

Naruto deu uma pequena risada. Kakashi olhou para Kurenai.

—Nós dois podemos vasculhar os arredores do castelo para encontrar aqueles descansando. Os outros estão de guarda nas torres ou se movimentando no terreno. Vamos levar algum tempo para reunir todos.

—E quanto a mim? – Perguntei.

—Alguém precisa ficar aqui cuidando de Naruto. – Kakashi soou mais sério do que eu esperava.

—Eu não preciso de guardas. – Ele pareceu ficar um pouco chateado com a ordem.

—Ainda não sabemos se você se curou completamente, Naruto. Ficar sozinho agora está fora de questão. Ino, acha que pode cuidar dele.

—Sim.

—Então vamos, Kurenai.

Eles saíram e eu fui até a comprida mesa que ficava no centro da sala para me sentar.

—Você não está pensando em nenhum plano louco, está?

—Não. – Ele continuava sorrindo. Como deveria ser. – Quer dizer, pelo menos eu acho que não.

Eu balancei a cabeça em uma negativa. Esperava ao menos que Kakashi conseguisse convencê-lo a não fazer besteiras se isso fosse necessário.

—Então? – Ele perguntou.

—Então o quê?

—Porque decidiram que não queriam me matar? – Ele ainda sorria, mas eu sabia que ele não se esquecera da batalha pela qual fora obrigado a passar.

Abaixei minha cabeça. Senti vergonha por não ter ajudado quando ele estava em desvantagem. Senti-me embaraçada por hesitar.

—Não precisa ficar assim, Ino. – Sua voz era de consolo. Eu a aceitei. – Vocês todos já estão fazendo demais por mim. Mais do que eu merecia, depois de ter libertado a Kyuubi.

Eu não queria continuar com aquele assunto porque estava sentindo certo desconforto que eu não estava acostumada a sentir perto de Naruto. Resolvi dar-lhe um minuto de silêncio antes de mudar de assunto.

—Então. O que você achou de um castelo como abrigo? – Ele riu.

—É muito mais legal do que eu imaginaria um esconderijo. Mas é uma pena que não temos comida da realeza, não acha? Afinal de contas, isso aqui deve estar abandonado há mais de dez anos. Eu só não entendo porque largaram os móveis por aqui.

Kakashi entrou naquele momento, olhando para Naruto.

—Deve ser porque esse foi um castelo que Konoha invadiu durante uma guerra.

—Quer dizer então – o tom de Naruto foi de desagrado. – que você participou de uma guerra e ajudou a esvaziar esse castelo? Pensei que tinha sido muito antes da nossa geração.

—Você se esquece de que houve uma época em que eu só me importava em realizar missões. Não importando qual. Destruir a construção para não parecer recentemente destruída era parte dela. Além disso, esse lugar pertencia a um shinobi que utilizava genjutsu de alto nível para angariar soldados. Seu exército chegou a um ponto que Konoha não podia mais ignorar.

—Venceram facilmente? – Perguntei.

—Pelo contrário. Esse castelo exigiu muito esforço e não caiu sem uma boa luta.

Nós nos calamos por alguns momentos enquanto encarávamos o saguão. Os nossos amigos se colocaram à mesa em que eu estava. Tentei ficou ao meu lado e Chouji ao lado dela. Kakashi e Kurenai se colocaram à minha esquerda. Shino se colocou próximo de Naruto, que se sentou do lado oposto a mim.

—Então? – Kurenai quebrou o silêncio. – O que tem a nos contar, Naruto?

Ele suspirou e falou olhando para Kakashi.

—O meu plano é simples. Vocês me entregarão como prisioneiro para Konoha.

Eu fiquei confusa. Não entendi o que ele havia dito por que era impossível alguém sugerir algo assim àquela altura. Quando finalmente entendi do que se tratava, ia brigar com ele quando Tenten resolveu se adiantar:

—Ficou louco, Naruto? Sabia que a ordem é para que sejamos todos caçados? Por causa da Kyuubi as buscas estão atrasadas, mas certamente seremos presos se aparecermos por lá!

Ele esperou que ela terminasse com uma cara paciente antes de recomeçar.

—Pelo que percebi, o único crime que vocês cometeram foi me ajudar. Por causa disso conseguiram a simpatia de Tsunade-sama. Se me levarem agora, ela vai perceber que fui eu quem decidiu voltar. A boa notícia é que isso não fará diferença para nós.

Ele esperou alguma pergunta, mas não veio nenhuma.

Depois de alguns segundos resolveu continuar.

—Com a Kyuubi à solta, é provável que até mesmo Danzou concorde em inocentar vocês. Assim, estarão mais bem protegidos e podem enfrentar a Kyuubi com mais chances de vitória e caso sobrevivam à batalha, sua dívida com a vila estará paga.

Eu pisquei, sem saber o que fazer. Não poderia ignorar um plano como aquele. Naruto pensara em quase tudo. Nenhum argumento dele podia ser ignorado. Mas….

—E quanto a você? – Perguntei. – Eles não vão te deixar livre. Você sabe disso.

Seu olhar para mim foi determinado. Não parecia o Naruto que fora preso antes. Lembrava aquele garoto que eu conheci quando era criança. Aquele que se tivesse um plano, eu seguiria sem hesitar, pois tinha certeza de que ele queria apenas o melhor para nós e para a vila.

—Eu não serei condenado à pena de morte porque a Kyuubi não está mais no meu corpo. O máximo que vão fazer é me condenar à prisão por algum tempo. E não é esse o ponto, Ino. – Ele falava comigo como quem dá instruções a alguém menos experiente. – A intenção é inocentar vocês. Não quero que fiquem expostos ao perigo como estão agora. Eu também estarei mais seguro na prisão, junto de vários outros shinobis e guardas. Para nós é uma opção que dá maior segurança contra a Kyuubi. E também uma maior chance de a pegarmos.

Eu não diria nada depois disso. Olhei para todos os outros sentados à mesa, seus rostos presos em detalhes sobre o plano. Pensei ser a única que não sabia o que pensar.

Tudo naquele plano era muito bom. Mas entregar Naruto ao julgamento dos conselheiros era algo que eu não queria permitir. Mesmo sabendo que Tsunade tentaria ajudar na pena como uma forma de redenção, os outros também votariam. E isso não me agradava.

—Naruto, - Eu me sobressaltei um pouco quando Kakashi começou a falar. Estivera concentrada demais. – tem certeza de que é isso o que você quer?

Ele deu de ombros como resposta. Estava claro para mim que ele tentava tornar a situação mais fácil para nós.

—É o melhor a se fazer, Kakashi-sensei. Eu pensei bastante nisso. E não tem muita margem de erro, sabia?

O jounin acenou com a cabeça. Olhei para os dois algum tempo, querendo entender o que planejavam.

—Vocês querem mesmo fazer isso? – Perguntei.

Kakashi olhou diretamente para mim.

—Eu não acho que Naruto esteja errado, Ino. O plano dele faz sentido.

—Mas se o levarmos para julgamento, os conselheiros podem considerá-lo um perigo. Não sabemos, com certeza, nem temos nenhuma garantia do que vai acontecer.

—Por isso eu perguntei se era isso mesmo que ele queria. O único perigo aqui é para ele. Todos os outros só têm a ganhar com esse plano.

Estranhei a maneira de pensar de Kakashi. Não parecia seu hábito arriscar Naruto daquela maneira. Ainda que eu não pertencesse ao time original, sabia que não era assim que ele estava acostumado a agir. Kakashi voltou a falar antes que eu o questionasse.

—Acho que precisamos de um tempo para pensar. Todos nós. Se puderem, gostaria de discutir um pouco o plano a sós com Naruto.

Nenhum dos presentes discutiu, mas eu não queria sair. Esperei que todos os outros saíssem da sala e vi Shino ser o último a sair. Parecia desconfiado de alguma coisa

—Ino, eu acho que você também deveria ficar de guarda. Se a Kyuubi estiver por perto-

—Eu não saio daqui antes de saber o que você e Naruto estão tramando. Depois de tudo pelo que passamos, acho que mereço um pouco de confiança, não concorda?

Kakashi olhou para Naruto, que coçou a cabeça, sorrindo para ele.

—Acho que não fui convincente o bastante, Kakashi-sensei.

—Como assim? Kakashi, o que vocês estão planejando?

Ele olhou para mim de modo inexpressivo.

—Ino, para ser sincero, eu não sei. Só estou aqui porque sei que Naruto não se atiraria de braços abertos para Danzou agora, mesmo com todas as vantagens que ele mostrou com tanto entusiasmo.

Eu sorri. Não consegui conter.

—Estamos falando do Naruto. Eu não duvidaria que ele fosse fazer isso.

—Muito engraçado. – Apesar da frase, Naruto não pareceu muito contrariado. – Mas eu não pretendo ficar preso para sempre, sabia?

—E o que você pretende fazer, gênio? – Eu sabia que irritá-lo não ajudaria em nada, mas ajudou a me sentir melhor.

Ele suspirou por um segundo antes de fechar os olhos. Eu senti o clima sério que ele foi capaz de estabelecer antes de nos contar os detalhes de seu planejamento.

 

Senju Tsunade

Eu estava sentada no meu escritório, procurando um tempo para descansar, esperançosa da sua proximidade. Como quase sempre, eu estava enganada. Shizune entrou correndo pela porta enquanto eu assinava um dos últimos papéis da minha mesa. Aquele método espalhafatoso de se fazer mostrar já era tão rotineiro que eu não me surpreendia mais com sua chegada.

—O que aconteceu, Shizune?

Ela não falou de imediato, como se esperasse algo de mim. Meus olhos estavam quase fechando de cansaço por causa do volume de coisas que tinha lido e do trabalho ininterrupto desde que o sol nasceu. Como ela ainda parecia esperar alguma coisa, eu resolvi espantar o sono com um gesto de mão e olhar o rosto dela. Sua expressão era assustada, como se tivesse visto um fantasma.

—Pode falar.

Eu passei a manhã examinando os arquivos médicos que você me pediu e não encontrei nada parecido com o caso de Sakura. Então eu resolvi olhar os arquivos secretos e, no começo, não encontrei nada. Hoje à tarde então eu finalmente encontrei algo.

Fechei os olhos, dando adeus ao meu descanso antes mesmo de pegar os papéis que ela me entregava.

—Eu acho – Seu tom era soturno. – que você devia começar a vigiá-la, Tsunade-sama.

 

Uzumaki Naruto

Senti a tensão crescente na musculatura das minhas costas. Minhas mãos tremiam de nervosismo. Eu sabia que era porque estávamos deixando o castelo, mas isso não ajudava muito.

—Naruto, o que foi? – Ino, às minhas costas, pareceu perceber meu nervosismo.

—Nada. – Não queria falar sobre aquilo. – Podemos ir?

Eu sabia que a resposta era positiva. Todos já haviam procurado alguma coisa de útil no tal castelo para a viagem de volta. Infelizmente, não pudemos encontrar nada de útil. E carregar aquela espada enorme comigo o tempo todo fazia com que eu desejasse desesperadamente por alguma comida.

—Nós podemos ir. – Kakashi já pegava impulso para poder correr. Mesmo com meu corpo machucado eu sabia que ainda conseguiria acompanhá-los. Apesar de estarmos prontos, aquele silêncio entre todos estava me incomodando.

—Eu acho que vou tentar passar no Ichiraku antes de ser preso.

Ino sorria para mim. Ela ficara satisfeita com o meu plano para ficar livre.

Começamos a correr. Kakashi se mantinha ao meu lado. Corríamos a uma velocidade confortável para quase todos. A única exceção era Chouji, que parecia estar no limite de sua velocidade.

—A viagem não será longa. – Kakashi estava ciente de sua situação. – Se Naruto estiver tão rápido quanto da última vez que o vimos, contanto que nós o acompanhemos de perto, devemos chegar com menos de uma hora.

—Estamos tão perto? – Kurenai, como todos os outros, estava surpresa.

—Não. Mas a velocidade compensa a distância.

Eu entendi aquilo como uma ordem e aumentei minha velocidade, mantendo o ritmo mais rápido possível com o qual os outros conseguiriam me acompanhar.

—Muito bem, Naruto! – Kakashi se animou. – Continue nessa velocidade que chegaremos dentro do prazo previsto!

Ino se esforçava para emparelhar comigo e Kakashi. Não parecia ansiosa em ficar um pouco para trás.

—Ino, o que foi?

—Nada. – Ela parecia envergonhada. Era a primeira vez que a via assim. – É só que…. Eu acho que não sabemos bem o que faremos em Konoha.

—Nós temos pouco tempo. – Kakashi sabia que não pensamos bem no que faríamos. – Mas é bastante simples. Apenas preste atenção no que os outros disserem para não contradizer ninguém. No interrogatório, mantenha tudo simples. Encontramos Naruto, vimos que ele liberou a raposa e o capturamos para devolvê-lo à justiça da vila.

—E quem liderará a prisão dele? – A pergunta era mais profunda do que ela fez parecer. Quem fosse escolhido não faria uma imagem ruim para os protetores de Konoha, mas ficaria mal visto por aqueles que não concordam com traição dos amigos.

Kakashi sabia disso e eu percebi seu olhar sério para frente. Pensar naquilo agora poderia parecer tolice, afinal, nem mesmo sabíamos se chegaríamos até Konoha. Apesar disso, em meu interior, alguma coisa parecia me garantir a chegada, como se uma espécie de linha me puxasse pelo caminho. Eu achava aquilo estranho, mas decidi que era uma espécie de instinto que me guiava.

—Vai mesmo ficar tudo bem assim? – Tenten estava à minha direita.

—Eu não sei. – Respondi, sem saber se deveria mesmo ser sincero. – Provavelmente tudo ficará bem.

—Eu estou perguntando se você vai ficar bem, Naruto. – O tom dela estava irritadiço. – Afinal, a gente fez tudo isso para você ser preso no fim?

—Não, Tenten. Não é a mesma coisa. Eu estou indo de boa vontade agora. Apesar de não ser exatamente o que eu gostaria de fazer, ainda é o melhor. Para todos vocês e até mesmo para mim.

Ela silenciou.

—Então acho que está na hora de ficarmos mais próximos, Naruto. – Shino indicou algum ponto no horizonte com um gesto de cabeça.

Ao olhar para onde ele indicava, vi os portões de Konoha. Chegamos. Kurenai se adiantou.

—Kakashi, Shino tem razão. É melhor pararmos por aqui.

Eu parei antes de todos, olhando para seus rostos. A vida deles seria diferente dali em diante. Mesmo inocentados, sempre seriam os cúmplices do Jinchuuriki que libertara o maior e mais forte dos bijuus.

Sorri tão forte quanto consegui enquanto olhava seus rostos.

—Eu deveria ter preparado um discurso de agradecimento, eu acho. Sinto muito, mas não tive tempo.

Andei em direção a Kakashi e levei a mão às costas. Com um gesto só, entreguei-lhe minha espada. Ele a pegou e Ino se aproximou com uma corda para me aprisionar. Foram necessários alguns minutos para preparar minha aparência de prisioneiro.

Levantamo-nos ao fim, preparados para partir, agora andando lentamente em direção à vila.

Eu era um prisioneiro. E estava na hora de rever a vila da folha.

 

Senju Tsunade

Eu senti indignação pelas palavras de Shizune. Como ela podia ser capaz de falar aquilo? Sakura estava hospitalizada, com enjoos fortíssimos dominando seu corpo em curtos intervalos de tempo. A única alimentação que seu corpo aceitava era o soro dado pelas máquinas do hospital. Sua constituição física estava fraca e ela desmaiava com frequência. Alguma coisa estava tomando o controle de suas ações a todo o momento e ela estava próxima de um colapso nervoso.

E Shizune queria que eu a vigiasse?!

—Shizune, faça um favor para nós duas. – Apesar de controlar meu tom, sabia que ela entenderia meu olhar. – Nunca mais repita isso. Você me entendeu?

—Me desculpe.

—O que você queria me contar? Sente-se um pouco, não fique me olhando dessa maneira. Pronto. Pode falar.

—Como eu disse: Depois de examinar os arquivos secretos eu finalmente encontrei um caso parecido com o de Sakura. Aqui, o pergaminho com as informações. Posso continuar? Algumas gerações atrás, o primeiro Hokage examinou os bijuus que ele mesmo capturava e resolveu montar uma pesquisa para entender como eles eram criados.

—Sim, eu sei. No início da construção da vila. Eu estudei sobre isso.

—Então. Mas o que Konoha manteve em segredo foi um experimento paralelo conduzido pelos Uchiha. Segundo os registros do pergaminho que lhe entreguei, eles fizeram testes em humanos, na tentativa de criar bijus com base na força vital e no chackra das Kunoichis.

—O quê?! Konoha teve algum experimento assim?! Meu avô jamais permitiria isso!

—A vila parou os experimentos assim que descobriu o que estava acontecendo. No entanto, meses depois circularam boatos de um homem que tinha planos para tais experimentos.

—Quem seria esse homem?

—Lembra-se do Uchiha que aprisionava shinobis em genjutsus e tentou formar um exército?

—Mas que droga. Kakashi era o único que poderia nos dizer mais sobre esse homem. Mas que merda! Como chegamos ao ponto de não poder contar nem com Kakashi?

—Como não podemos contar com ele, pedi a alguns shinobis nossos que olhassem o antigo castelo desse tal ninja. Como ele era um Uchiha, mandei também uma especialista. Eles partem para o castelo dele amanhã.

Suspirei. Uma. Duas vezes. Shizune esperava que eu estabilizasse. Suspirei novamente.

—Shizune, diga-me: Se isso se confirmar, é possível que Sakura, que ela….

—Sim. Se eu estiver certa, Sakura está criando um Bijuu em seu corpo.

Fim do Capítulo Duplo

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