Antes Que Os Anos Me Levem escrita por psyluna


Capítulo 1
A Lua pelas asas de uma libélula.


Notas iniciais do capítulo

Pessoal demais para ser entendida por completo. Boa sorte se aventurando aqui. Eu deveria escrever um diário.



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A primeira vez foi por amor. Esse sentimento idiota, sobre o qual muita gente já escreveu, um assunto que parece nunca se esgotar. E nem vai. Cada um o sente de um jeito. Isso dá uma infinidade de visões, de textos, desenhos, poemas, todos eles amostras de dor e felicidade. Inclusive, essa primeira vez rendeu umas palavras, bem próximas destas de agora. Frutos da mesma condição. Diferentes e parecidos.

A segunda veio por desespero. A insônia forçada de sempre misturada com uma agonia desconhecida, muito nova, com cores de vida adulta. Resultados idem: uma manhã e tarde frenéticas num escritório de advogado para resolver o tal problema. No fim, deu tudo certo. É quase chato. O que é que deu errado até agora?

Depois dessas duas mais marcantes, não quis mais contar. Chegaram uma terceira, uma quarta, uma quinta, sexta, sétima, até que viraram hábito. Toda semana, sem falta. Algumas com motivo; trabalho atrasado, protelado sem visão de futuro, textos cuja inspiração bate na porta quando está a fim. Outras, por falta de vergonha na cara e desrespeito ao próximo. Não dá para mentir, é isso mesmo. E o mundo em volta morre de inveja. Você com horas de sobra e aí jogando a oportunidade fora? Pelo amor de deus. Merecia uns tapas.

Outra coisa que enfeitiça é o tal do silêncio, a solidão. Um momentinho de privacidade numa casa tão cheia. E mesmo quando não era cheia. A sensação de vigília só morria no escuro da madrugada. Aí comentam “claro que era pra algo moralmente indecente”. Também, dependia da época e do humor. Na maioria das vezes, não. Não é por não gostar dos outros e da presença deles; é necessidade pessoal e intransferível.

O negócio é que a vida funciona diferente quando acontece. O corpo fica incansável, a visão muda de câmera lenta para rápida bastando um piscar de olhos, uma coisa louca, só quem já experimentou sabe. Um transe natural, ou será que não tão natural assim? Faz mal, é óbvio. A memória decepciona ao longo do dia. E o sono, escondido sob umas camadas de agitação elétrica, volta depois com força total e derruba feito um dardo de tranquilizante, daqueles com dose para apagar uma onça. Nem ouse deitar se tem mais algo cobrando sua atenção; vai ser um blackout de entrar para a história. Sem exagero.

Vai ver é por outro motivo, muito bem disfarçado. Nem serviço, nem vadiagem. Sonhar acordada ainda dá pra controlar, ou alguma coisa faz esse favor. Sonhar dormindo não é assim tão fácil. Não dormir para evitar sonhar, para evitar lembrar durante a noite o que todo mundo diz para esquecer. Aquilo que falam que não vai dar futuro nenhum, que você tem que largar de lado porque é bobagem. Mas o desejo de entender é bem mais forte. Ficar no escuro, sem saber, sem compreender e fazendo papel de idiota é a pior coisa que existe. Uma resposta, por mais dolorosa e desfavorável que seja, ainda é melhor do que nada. Resposta essa que não está a fim de vir faz uns dois meses.

O que foi aquilo? O que vai virar? Se bem que isso ficou menos importante de uns minutos pra cá. Bateu de repente uma vontade sincera e enorme de agradecer. O que foi dito e ouvido naquele dia inesperado foi o primeiro choque que fez acordar e ver as coisas como elas são. Agora, por causa disso, nasceu uma pessoa melhor. Ou que luta pra ser.

O sol nascendo lá fora. Ele parece dizer “Largue esse teclado, desligue o despertador irritante e pare de pensar por um minuto que seja”. O primeiro pedido, dá para cumprir. O segundo, é de praxe. O terceiro, impossível prometer alguma coisa.


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Notas finais do capítulo

Devo chamar esse conto-diário de nova fase da minha escrita? Imaginei minha voz narrando a coisa toda. Narração complicadinha de elaborar, até. Gostaram? Um comentário será muito bem-vindo, e obrigada pela leitura!