Duas Opções escrita por Bea


Capítulo 2
Capítulo 2




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Abri meus olhos. Espero que tenha sido um sonho, eu realmente espero. Olho pro lado a procura dos olhos verdes de meu pai, tentando encontrar algum refúgio naquela imensidade na qual eu sempre acho um lugar protegido. Mas nada. A única coisa que eu consegui ver era um teto cinza e ao meu lado, estava Jared Markevis. Ele olhava para mim atentamente, à espera de abrigo, de que eu pudesse talvez, oferecer alguma ajuda àquela alma perdida. Tento mover minha cabeça em negativa, mas não consigo. Ele tenta me levantar para irmos ao palco.

– Quanto tempo fiquei desacordada? - pergunto, sem entender muito o que havia acontecido.

– Não muito. Charlotte deu um jeito de um grupo de pacificadores te trazerem até aqui, te aplicaram algum remédio e logo você voltou. - de segundos em segundos ele olhava para o lado, com medo de que algo pudesse acontecer. Eu sentia o medo dele.

Fui levada para o palco onde estava Charlotte e o Distrito 4 todo me encarou, à espera que eu desse mais algum ataque e quem sabe, uma convulsão. Encontrei os olhos de Isabelle ao mesmo tempo que ela encontrou os meus. Ela me deu uma motivação, para que eu levantasse a cabeça. Então meu mundo desabou, quando eu vi Luke e meu pai, lado a lado, com Luke tampando a cara, não querendo ver o que aconteceria a seguir. E meu pai olhava para ele, com as lágrimas escorrendo. Mas eu sorri. Eu percebi que dali em diante, o único motivo que me faria ficar viva seria minha simpatia, para conseguir patrocinadores. Eu terei que me aliar com os Carreiristas se quiser voltar para o distrito com vida. Terei que ser uma Carreirista não treinada.

Entrei no compartimento reservado para os tributos e para as pessoas da Capital no Edifício da Justiça. Fiquei calada a maior parte do tempo. Finnick Odair, o homem que será meu mentor nesses Jogos, entrou na sala, esbanjando simpatia. Ele que me arranjará patrocinadores, que me ensinará a me manter viva na Arena.

Eu estava tão chateada que não consegui reparar em nada. Olhava ao meu redor, sorria, fazia piadas e era simpática com todos. Eles estavam me adorando. Percebi que Jared estava jogando como eu, toda vez que dava uma pausa, o sorriso saía e seu olhar se tornava triste. Eu estava na mesma situação.

Era a hora de me despedir dos meus parentes e amigos para depois ir direto para a Capital, conhecer, enfim, o desconhecido para qualquer pessoa normal. O pacificador abriu a porta e vi Isabelle.

– Cinco minutos.

Ela veio até mim e me abraçou. Não consegui me contentar e chorei. Chorei muito. Parei de abraçá-la e só consegui dizer uma coisa, entre soluços.

– Olhe. Meu pai. E Luke. Por mim.

Ela olhou bem em meus olhos e assentiu. O mesmo pacificador abriu a porta e disse que o tempo havia acabado. Olhei para ela com um olhar expressando o meu adeus. Eu sabia que eu não iria sobreviver, eu não tinha chances. Meu pai entrou na sala juntamente com meu irmão. Eu tinha que falar algo.

– Bem, eu não sei fazer nada e vocês sabem muito bem disso. Eu sou fraca, eu não sou ágil. Então, me prometam que, independente do que acontecer, vocês vão ficar firmes e seguir a vida de vocês. Jared é ótimo e vamos fazer o máximo para nos protegermos. Eu juro que eu vou tentar voltar para casa. Vocês não precisam de mim para sobreviver. E eu amo vocês, nunca se esqueçam. Obrigada, por tudo.

Demos um abraço demorado em trio e acabou o tempo. Agora eu estaria sozinha. Sai do local e fui levada para o trem que me levaria para a Capital hoje mesmo. Não sabia que era tudo tão rápido assim. Entramos em um compartimento do trem que era frio e claro, com luzes brancas ao redor do que me parecia como uma sala de jantar, como aquelas que apareciam nos comerciais da televisão durante a obrigatória programação de alguma edição dos Jogos Vorazes.

Sentado estava um conhecido do nosso distrito: Finnick Odair. Ele estava ao lado de Charlotte, que tinham uma conversa saudável acompanhada de grandes cubos de açúcar e risadas, o que determinava o fim de alguma piada provavelmente de mau gosto. Jared estava ao meu lado e nós invadimos, encarados, o papo dos dois. Enquanto Charlotte olhava-nos com nojo, Finnick se levantou feliz e receptivo. Ele era realmente bonito, digo. Finnick Odair era conhecido perante Panem inteira, não só pelo seu visual agradável mas também por ter ganhado os Jogos Vorazes com 14 anos. Como estava de manhã, havia uma mesa farta no meio da sala. Nunca na minha vida havia visto uma mesa assim, tão cheia com comidas para todos gostos e tipos: havia todos os tipos de carne que eu conhecia e mais alguns que eu não sabia o paradeiro, banhados quiçá em um molho de laranja ou quem sabe em picantes molhos de cebola. Não só isso, tinham também legumes variados e de todas as cores: rosa, vermelho, coloridos, amarelos. Era uma explosão de cores e felicidade.

Ao invés de me exaltar e sair correndo para devorar aqueles pratos (o que eu tinha vontade de fazer), fui cumprimentar os dois que estavam sentados em aconchegantes sofás pratas. Eu tentei ser o mais simpática e ao mesmo tempo arrogante o possível, e acho que os convenci. Charlotte, após cinco minutos, já conversava comigo feliz e empolgada, contando os últimos babados da Capital. Seduzindo-a, eu podia conseguir um milhão de coisas. Ela poderia convencer as pessoas e fazer com que eu fique um tempo a mais viva na Arena. Claramente entediado, foi Finnick que interrompeu e declarou que era hora do almoço.

–Bla bla bla. Chega dessa baboseira de Capital, que estupidez. Vamos almoçar logo que eu estou faminto.

Olhei para os lados. Como ele não tinha medo de falar assim da Capital? Além de câmeras, havia duas pessoas paradas e quietas que estavam ali o tempo todo, sem se movimentar nem ousar se mexer, rígidos como uma pedra bruta. Ele era corajoso, mesmo sendo um grosso como estava sendo agora.

Jared ficou quieto o tempo todo, de vez em quando fazia comentários inteligentes e racionais, o que me fez admirá-lo. Eu senti dó. Ele fazia parte de uma das famílias mais pobres do Distrito. Se eu não ganhasse, eu faria o máximo para ele ganhar. Mesmo sendo magro, ele podia se mostrar ágil e forte. Ele precisava mais do prêmio do que eu, já que, como ele havia me contado, ele era o segundo irmão mais velho de uma família de 8 irmãos com o pai falecido. Ele comia e eu sorria para ele sempre que trocávamos olhares.

Havia alguém olhando pra mim, e quando reparei era Finnick. Ele não para de me olhar, o que me deixou em uma situação desconfortável. Ele falou muito comigo, mas no fim, agiu como se a conversa tivesse sido perda de tempo. Seduzi Charlotte. E agora teria que seduzir o amado e desejado Finnick Odair?


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Notas finais do capítulo

Encerrei o capítulo assim porque se não, iria ficar gigante. Já estou escrevendo o terceiro. Espero que gostem (: