Duas Opções escrita por Bea


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores, tudo bem? Antes de vocês lerem o capítulo, quero dizer desculpas. As coisas aqui em casa andam meio difíceis, e acho melhor demorar para postar do que postar um capítulo meia-boca. Espero que vocês gostem. Beijinhos, B.



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— Sou Annie Cresta, a tributo escolhida do distrito quatro para lutar no 70º Jogos Vorazes. Meu tio, Oliver, morreu nos Jogos também. Meu melhor amigo morrerá. Ou eu morrerei. — eu dizia para mim em voz alta, enquanto descia as escadas do prédio que eu estava com Jared. Eu o acordei, mas precisava sair dali e andar um pouco sozinha e esclarecer minhas dúvidas.

Eu decidi que hoje seria o último dia que ficaria com Jared, que depois disso seria cada um por si só. Sei que ele não conseguiria me matar se ficássemos juntos até o fim, mas não confio tanto assim em mim. Ouvi o tiro de um canhão estourar, subi correndo, mas Jared estava lá em cima ainda, arrumando as coisas.

Desci observando cada um dos três andares. O terceiro era como um escritório, havia computadores e diversas salas isoladas, com papeladas, tudo novo, como se tivesse sido revirado ontem. Mas sangue ou alguma substância vermelha pingava e denunciava tudo, mostrando que estávamos nos jogos e não no Distrito 3, o distrito da tecnologia. Procurei algo nas papeladas, porém tudo estava em branco. O segundo andar era um apartamento como um dos que eu fiquei na Capital, com uma grande sala, uma grande cozinha, o quarto que fiquei, o quarto que Jared ficou, o quarto que Finnick ficou... Desci rapidamente esse e cheguei ao primeiro, que continha diversas lojas, como vi na TV destruídas, sem luz. Algumas queimadas, outras velhas demais, mas tudo destruído. Não sabia o que isso era, mas fiquei com medo. Já o térreo não tinha nada. Era tudo vazio, sem portas, como um grande salão. E havia apenas um buraco que era como uma porta. Ao sair dali, toda a atenção é pouca. A qualquer momento alguém pode me atacar e esses serem meus últimos minutos de vida.

Saio procurando algum animal para comer, mas não acho nada. Uma vez ou outra ouço som de vozes, passos, folhas se quebrando, mas acho que é apenas ilusão. Vou até o que parece ser o fim da arena, onde começa a se tornar um subúrbio. Meus professores falavam que normalmente no fim da arena tem um campo de força que é possível identificar tacando alguma coisa ou observando atentamente. Afasto-me um pouco e taco uma frutinha que achei no chão. Ela é absorvida pelo campo de força. Eu me viro, decepcionada por não encontrar nada durante esse caminho, quando sinto alguma coisa atingir minha nuca. É a frutinha que taquei. Atiro-a novamente, espero um tempo e ela volta para mim. Não tentei passar por ele e fui contornando o seu perímetro, procurando alguma pista, alguma coisa que eu poderia fazer para sair viva dali. Penso em Taylor, meu amigo de 12 anos que fiz na Arena e em como o tiro do canhão pode ter sido dele. Penso nos carreiristas, que embora agressivos, me acolheram e me salvaram algumas vezes. Penso em Jared, que se esforça tanto para me salvar. E o quanto sou ingrata a todos, o quanto eu tentei fugir e ignorar o que eles fizeram de bom pra mim.

Já estava no começo da tarde e somente um tiro de canhão. Isso quer dizer que faltam mais oito e alguém será o vencedor. E eu realmente quero ficar entre os oito tributos. Tento não pensar em como ficará Luke e meu pai quando forem entrevistados, como ficará Isabelle e todos lá. Afinal, uma garota inocente e pequena do Distrito 4 matou pessoas e irá matar o quanto for necessário para se manter viva.

Eu já estava voltando para o prédio quando anoiteceu. Tudo ficou escuro, com uma lua nova no céu e nenhuma estrela. De longe, ouvi o barulho de um chocalho e um chiado. Bestantes. Entrei no prédio mais próximo de mim quando as paredes começaram a tremer, pronto para desabar. Eu não tinha para onde fugir e os chiados estavam cada vez mais perto de onde eu estava.

Estoura o tiro de um canhão ao fundo. Alguém foi atacado pelos bestantes e não conseguiu fugir deles. Eu era uma das oito sobreviventes e eles irão entrevistar todas as pessoas próximas de mim, descobrindo mais ainda sobre minha vida e tudo o que me cercava antes de a minha vida dar toda essa reviravolta.

Corro até a árvore mais próxima e tento subir, mas depois de quatro tentativas eu caio. Nunca subi em nenhuma árvore antes, e ignorar as aulas no centro de treinamento foi uma grande burrada. Meus joelhos e minhas pernas já estão ralados e ardendo quando ouço respirações. Bem atrás de mim tem um réptil gigante e branco, com os olhos vermelhos e a língua cortada e rasgada planejadamente para fora, seus dentes incrivelmente claros apontados para mim, pronto para me atacar.

Pego minha lança e o ameaço, mas ele não reage. Tento subir novamente quando o réptil guizalha e começa a tentar me pegar, mordendo e rasgando meus pés e minhas pernas. Chego no galho mais próximo sem conseguir me estabilizar, ficando pendurada. Grito de dor e chamo alguém, mas ninguém aparece para me ajudar. Novamente ele me ataca, me fazendo sentir mais dor ainda e novos bestantes chegam. Eu consigo subir e sento em cima do galho. É incrível o que conseguimos fazer quando estamos com medo e a adrenalina está no cem por cento. Olho minha perna e consigo ver meus ossos. Reviro a mochila que também foi rasgada pelos bestantes. Procuro minha garrafa de água, mas o rasgo o deixou cair, e há bestantes lá embaixo prontos para me atacar caso eu faça algum movimento mais brusco. Tento limpar uma parte com o tecido da jaqueta, mas não consigo, já que há músculos e ossos a mostra. O hino de Panem toca e eu me inclino para conseguir olhar o céu e ver os mortos. É Yumi, a japonesa do Distrito 3 que atacou Jared e eu.

Amanhece rapidamente. Como estou perto do campo de força e consequentemente do subúrbio, consigo ver o sol nascer igual como no Distrito 4. O céu com várias cores, laranja, rosa, azul e verde rapidamente se apagam e volto a perceber que estou na arena. O clima é úmido, mas a brisa é fresca, deixando tudo mais simples. O chão começa a tremer e os répteis são "absorvidos" pela terra, me deixando sozinha em cima da árvore. Passo a mão em meu rosto e consigo perceber que ele também está machucado. Solto meus cabelos e penteio com os dedos, aliviando-me por não ter algo puxando minha cabeça e forçando-a.

Procuro em minha mochila a pomada que usei em Jared e está lá, mas não tem como tentar passá-la sem limpar. Antes de descer, dou uma olhada na árvore para ver se tem alguma fruta ou algo do tipo e encontro algo que se parece com um pêssego. Não sei se é envenenada, mas dou uma mordida nela do mesmo jeito. Não tem nenhum primeiro efeito, então pego várias e coloco na parte da mochila que não foi rasgada pelos bestantes.

Desço da árvore com dificuldade e pego a garrafa com água, limpando meus ferimentos. Estão horríveis e me dá ânsia de vômito vê-los, mas é preciso fazer isso. Aplico toda a pomada restante no machucado, rasgo um pedaço da minha blusa e consigo enfaixar grande parte do meu machucado. Preciso sair daqui logo, antes que apareça mais algum bestante ou um tributo. Ouço gritos vindo da Cornúcopia. E eles chamam por mim.

— Jared! — grito em resposta instintivamente. Corro o mais rápido que posso até a Cornucópia, ainda ouvindo barulhos de guerra e gritos.

Ao chegar lá, Jared está com um jogo de corpo com Zoe, a garota do Distrito 1 com quem me aliei no início dos Jogos. Corri e Jared virou para mim. Nesse momento, consegui tacar uma lança que acertou no pescoço de Jared. Mas era tarde demais, quando ela já havia decapitado Jared com sua espada. O tiro de dois canhões estoura no fundo, mas não ouço nada mais depois daquilo. Os gritos dele, chamando-me, gritando por socorro, ecoam na minha cabeça. Coloco as mãos nos ouvidos, tentando fingir que é um sonho, que nada disso aconteceu, mas a cabeça de Jared desprendida de seu corpo me traz de volta a realidade. O aerodeslizador vem buscar os dois corpos, corro para cima tentando evitar que peguem o de meu melhor amigo, mas é em vão.

Ainda escuto os gritos, ainda vejo o modo como ele sorria por tudo e transformava tudo em piada. Como tive a má sorte de conhecê-lo somente nos Jogos. Como ele era o menino mais inteligente e estratégico que eu já conheci na minha vida. O modo como ele falava de sua família, como ele me beijou, como tudo aconteceu para no fim ser apenas memórias vagas.

Isso me deixou louca. Ouvir os gritos o tempo todo, ver seu olhar de socorro toda vez que eu fechasse os olhos. Eu precisava matar alguém. Eu preciso saciar e tentar descarregar toda minha raiva em algum desconhecido. Corri para a Cornucópia sem me importar se tinha alguém e peguei várias lanças, um martelo e uma faca.

Eles querem que eu seja uma peça dos jogos deles. E é exatamente isso que vai acontecer. Deixe os Jogos realmente começarem.


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Notas finais do capítulo

~Spoiler: esses mesmos bestantes que eu usei na arena foram os que mataram o Finnick em A Esperança. E vocês lembram que a Annie é meio louca, certo? Tô tentando passar isso pra vocês e o porque dela cobrir os ouvidos e rir de qualquer coisa e qualquer hora. Espero que eu consiga e que vocês gostem! Beijoooos.



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