Tento sair correndo, mas eles me cercam cada vez mais. Percebo que não há outro jeito a não ser matá-los. Quando meu pai se aproxima de mim, tento cravar a lança em seu estômago, mas não consigo. Então eu os afasto rapidamente para longe de mim, correndo o mais rápido que eu consigo. Desço os quatro andares, me desequilibrando, mas consigo. Quando chego ao andar térreo, todas as pessoas que eu conheço estão lá, tentando me matar. Eu corro vários quarteirões quando eu ouço um canhão. Paro com um estrépito, mas ao olhar para trás, percebo que ainda estão me perseguindo.

— Jared! Jared, você está vivo? — grito o mais alto que posso.

Ao chegar na Cornucópia, está tendo uma luta que eu não consigo enxergar muito bem o que está acontecendo. Procuro rapidamente Jared, mas apenas vejo Zoe caída no chão, com a Louise dando socos fortes na sua cabeça. Pego a minha lança e corro na direção deles, quando Stark atinge minha cabeça com um pedaço de pau. Fico meio inconsciente, mas consigo abrir meus olhos. Ele me prende no chão com uma faca e eu me remexo, tentando de alguma forma escapar, mas ele é muito mais forte que eu. Pense, Annie, algo que ele não esteja esperando. Ele quase atinge meu pescoço, mas eu me viro rapidamente, sentindo a lâmina raspar minha artéria e grito. Tento tirar minha lança, mas ele prende ainda mais forte meus braços no concreto, o que faz os meus cotovelos arderem. Olho nos olhos dele com um último olhar de piedade quando vejo que não há mais vida. Seu corpo desaba em cima de mim e ouço um canhão. Tiro a minha lança da mochila de costas, procurando o assassino de Stark, pronta para tentar lutar com ele. Alguém puxa meu braço com força, é Louise. Rosno e levanto a minha lança, pronta para matá-la.

— Eu estava salvando o seu amiguinho da Zoe, não quero te matar.

— Como eu vou saber que você não quer me matar? — mas não fico para esperar a resposta, saio correndo à procura de Jared, mas não o encontro.

Já está amanhecendo e resolvo sair logo do meu grupo de carreiristas. Esta é a ultima vez que terei algum tipo de proteção, e a partir de agora terei que viver sozinha, me proteger e me alimentar. Corro até não conseguir mais ver a Cornucópia. Paro e analiso tudo o que há ao meu redor, mas não consigo enxergar mais nada. Subo na árvore mais próxima, tentando me manter o mais escondida possível e me debulho em lágrimas. Não devia estar chorando, isso demonstra fraqueza para os meus patrocinadores e eles não vão querer me dar mais nada. Mas nada disso importa mais. Eu quero ir embora, esquecer tudo isso. Choro porque sei que não verei mais Jared e de algum modo ou outro, ou eu vivo, ou ele vive. Não há outra opção. Penso em Luke me assistindo matar outras pessoas, me vendo como um monstro. Acalmo-me e procuro o que há na minha mochila. Um saco de dormir, algumas cordas, uma faca pequena e um resto de comida que não cheira muito bem da noite passada. Mesmo assim, como um pouco para tentar me estabilizar. Guardo tudo que tenho dentro da minha mochila, e tento me equilibrar na árvore a procura de alguma comida. Acho um esquilo bem gordo e o mato. Limpo sua carne com a faca que tinha na minha mochila e, aproveitando que está de dia, desço da árvore e procuro um bom lugar para fazer um fogo e assá-la. Entre dois prédios, há um monte de pedras em uma passagem bem fina. Tento ultrapassá-la. Depois de muito esforço, chego lá e me deparo com uma figura pequena apontando um arco e flechas para mim.

— Taylor! — solto minha lança e ele solta seu arco e flecha. Eu abaixo para dar um abraço nele. — Meu Deus, achei que você não estava mais vivo! Que bom que você está aqui!

— Pois é, Annie, consegui me manter por aqui.

— Será que eu posso ficar um tempinho aqui? Preciso assar um pouco desse esquilo, não consegui achar um melhor para ficar escondida.

— Claro, pode sim. Você não tinha se aliado aos carreiristas? — ele me perguntou.

Contei toda a história enquanto assava o esquilo, inclusive que perdi Jared. Ele me contou tudo o que viu, e que Stark matou a sua colega de distrito. Dei meus pêsames e ele deu de ombros, ele já tinha se conformado que estava nos Jogos e não havia nada para fazer. Termino de assar o esquilo e divido com ele. Após comer, estávamos sedentos. Foi quando ele trouxe uma garrafa com água para mim.

— Meu Deus, onde você achou água?

Ele me guiou até uma torneira atrás do prédio, onde havia uma torneira que saía água potável e não continha substâncias alucinógenas. Limpei-me, já que ainda tinha sangue de Stark em mim e tomei muita água. Enchi algumas garrafas que tinham em uma espécie de compartimento secreto na minha mochila. Ficamos conversando quando ouvimos um tiro de canhão. Dois. Três. Quatro.