— Ai, meu Deus. Jared? Jared, fale comigo, reaja, por favor — estava desesperada entre lágrimas. Um garoto veio a minha direção provavelmente para me matar, mas finquei minha lança em seu coração em questão de segundos. — Jared, olhe para mim, Jared.

Ele abriu seus olhos verdes semicerrados, pálido como nunca.

— Mags? Finnick? Aquela pomada. Aquela.

Em questão de segundos um paraquedas prateado caiu ao meu lado. Quando fui pegar, pude notar que Zoe estava nos protegendo de qualquer outro tributo que viesse atrás de nós. Peguei o paraquedas tremendo e procurei o lugar que ele havia sido ferido. Ele apontou para sua coxa onde eu vi um corte grande e profundo. Rasguei a calça dele e coloquei o pouco de água que havia em uma garrafa na minha mochila. Consegui ver o que o incomodava: uma lâmina de cinco pontas estava dentro da coxa dele. Tirei e depois, apliquei bastante pomada. Pude ouvir gemidos de alívio de Jared.

— Consegue se levantar? A gente precisa sair daqui logo.

Eu e Brendon o ajudamos e levantamos Jared, indo até um dos prédios que iríamos ocupar enquanto Jared melhorasse. Quando chegamos, um tributo do 6 estava se refugiando lá. Nada que o soco de inglês de Louise não consiga resolver; em questão de segundos, o corpo já sem vida do garoto que eu nem sabia o nome é carregado por um aerodeslizador para fora do prédio. Como ainda era de dia. separamos-nos em grupos. Brendon e Louise iriam procurar tributos enquanto Stark e Zoe procurariam comida ou água. Eu fiquei a responsável por cuidar de Jared.

O prédio era horripilante. Frio, grande e cinza, lembrava mais um alçapão. Quando eu perguntei para Jared o que aconteceu, ele me explicou.

— Eu estava à sua procura quando os shurikens da tributo do 3...

— Shuriken? — indaguei, já que não fazia a mínima ideia do que isso era.

— Sim, são como estrelas bumerangues afiadas. Você taca na sua vítima e irá feri-la, independente do lugar que você taque. Bom, então os shurikens atingiram a minha perna. Consegui pegar uma faca que estava caída do lado de um tributo que estava tão ferido que não consegui reconhecer. Fui atrás dela. Não a matei, mas a feri e muito. Esse sangue todo em mim, não é meu. É dela. Eu ainda estou meio chocado com a minha agressividade, mas eu estou nos Jogos.

— Isso não significa que você tem necessariamente que mudar, Jar. A Mags me disse uma vez que são pelos pequenos atos que somos lembrados. Lembre-se disso. Eu não quero passar os últimos momentos da minha vida com um monstro. Se fosse assim, eu nem teria você como aliado. — ele deu de ombros — Você consegue se levantar?

— Acho que sim, não está tão ruim, já que não tem mais nenhuma lâmina no meu corpo.

— Vamos ver o que tem nos andares superiores. Às vezes, a gente pode achar alguma coisa.

Fui até a porta com a minha lança, preparada fisicamente alguém caso fosse preciso. Não psicologicamente. Sem ameaças, ajudei Jared a se levantar e fomos no andar superior. Diferente do térreo, esse era pintado com cores claras. Era como um quarto de vários bebês: berços, brinquedos e fraldários.

— Ok, o que isso quer dizer? — perguntei ao Jared.

— Eu não faço a mínima ideia.

Entramos em uma portinha que era o banheiro. Olhamos juntos para a torneira e foi Jared quem tomou a iniciativa de abri-la. Nada, apenas uma gota de água que foi diretamente para o ralo.

— Vamos logo para o segundo andar. Isso aqui está me assustando. — reclamou Jared.

Murmurei em concordância e fomos para o outro andar, procurando algo útil. Era uma mesa grande, com dúzias de cadeiras e um banquete especialmente preparado. Tinha inclusive o peixe grelhado ao molho de maracujá. Eu estava prestes a pegar um pedacinho.

— Ei, não pegue! Esqueceu que isso pode ter um truque dos Idealizadores?

— Vamos descer logo. Daqui a pouco a gente morre em meio a tantas tentações. Tipo, literalmente.

Descemos e encontramos uma Zoe desesperada.

— Perdi o Stark. Louise vai me matar.

— Como assim perdeu? Ele morreu? — indagou Jared.

— Não. A gente se separou em frente a uma casa com a calçada azul. E então eu não consegui achar ele mais!

Falamos que ele iria voltar, consolando-a. Logo depois Brendon e Louise voltaram com alguns ratos-do-mato e gambás para comermos. Eu e Jared ficamos responsáveis pela cozinha. Jared pegou a faca, limpou-a com sua roupa e começou a limpar os bichos enquanto eu tentava fazer fogo. Assim que consegui, fui pegar algumas panelas no andar de cima para cozinhar. Desci e Stark havia voltado. Consegui fazer uma refeição gostosa, mas depois dela estávamos famintos. Já que estava anoitecendo, resolvemos dormir para voltar a "caça aos tributos" na madrugada. Decidimos que eu e Stark ficaríamos de guarda, já que eu rejeitava a ideia de dormir.

Assim que todos estavam posicionados para dormir, começou. O prédio começou a desmoronar nas nossas cabeças.