Duas Opções escrita por Bea


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/396409/chapter/1

Acordei assustada. Mais um pesadelo devido à Colheita que será realizada hoje não só no meu distrito, como em Panem inteira. Mais uma vez o horror começa. Mais um dos Jogos Vorazes vai começar. Mais 23 pessoas mortas.

Olho para meu lado esquerdo, onde está meu pequeno irmão Luke. Ele tem apenas 10 anos de idade e ano que vem o nome dele será posto na Colheita. Ele poderá ser escolhido. Mas isso não me importa muito, considerando que no meu distrito tem os carreiristas, coisa que eu nunca deixaria ele ser.

Carreiristas são tributos que treinam sua vida toda para se voluntariarem quando se acharem suficientemente bons para disputar os Jogos, com capacidade de ganhar. Praticamente todos os vitoriosos do Distrito 4, do 1 e do 2 são carreiristas, então quem não está preparado para ir não precisa se preocupar, sabendo que alguém vai se voluntariar caso você for escolhida e não queira.

É proibido que os tributos treinem para combater os Jogos, mas isso já é habituado no meu distrito e nos dois primeiros, desde que começou, há 70 anos atrás.

Mesmo meu distrito sendo o distrito dos carreiristas, ainda tenho medo de ser escolhida e ninguém se voluntariar, já que isso aconteceu algumas vezes. Não sei fazer nada além de nadar, pescar e fazer anzóis e redes. Essa é a vida para todos no 4. Se eu for escolhida e ninguém se voluntariar, eu serei morta no primeiro instante, no banho de sangue na Cornucópia.

Levanto da cama com todos esses pensamentos em mente. Vou para a janela do meu quarto esperando ver o mar e sentir a brisa, afinal nunca se sabe o que está para acontecer. Não está tudo como de costume, mas as pessoas no meu distrito são felizes, ou pelo menos fingem ser. Quase ninguém passa fome e nós podemos nos reunir algumas vezes ao ano. Não vejo quase nenhum rosto conhecido andando na areia. Alguns amigos do meu pai passam na rua e me cumprimentam. Mas percebe-se a expressão deles. Estão rígidos. Mesmo nosso distrito tendo os carreiristas, todos ficam tensos antes da Colheita, afinal, quem saberá se o seu filho vai se voluntariar? Ou melhor, se matar? Muitos pacificadores andam na rua, nos deixando ainda mais ansiosos.

Meu pai me chama. Luke ainda está dormindo. Ele estava doente ontem, queimando de febre, então a gente resolveu o deixar dormindo, até dar a hora. Papai disse para eu ir tomar um banho que dali duas horas era a colheita. Ele escolheu um belo vestido rosa-chá, com detalhes de conchas pratas, que era da minha mãe. Minha mãe morreu quando eu tinha 4 anos, afogada após ter sido levada por uma onda até longe da região costeira. Eu não me lembro muito bem, só me lembro de ter um grande movimento na casa e eu perguntava e apenas o que me respondiam era:

– Pare, volte para seu quarto, pare!

Eu voltei e chorava, embaixo dos cobertores, onde ela sempre me disse e me fez acreditar que eu estaria longe dos perigos se lá permanecesse. Nada mais me lembro, apenas de ter tentado invadir novamente a sala e ver meu pai debruçado em lágrimas, com seu melhor amigo, Tom, tentando consolá-lo.

Tomei meu banho, me vesti e deixei meus cabelos soltos, coisa que raramente faço, já que sempre estou de cabelos presos. Pensei em minha mãe. Minha sensível e bela mãe, que tentou fazer o máximo para termos o mínimo de condições possível. Pensei em o que ela veria, se ela ficaria orgulhosa de mim hoje, se ela sentiria que eu era realmente um membro da família Cresta.

–Annie, já está pronta? Estamos em meia hora. - ele me apressava.

Luke acordou. Fui olhar para ver como ele estava e ele estava milagrosamente melhor. Ótimo, já que todos tinham que obrigatoriamente ir para a colheita no Edifício da Justiça, localizado na praça central, independentemente de como estivesse o estado de saúde. Eu o arrumei, coloquei o cabelo dele de lado, penteando delicadamente. Ele, sem dúvidas, é um dos mais adoráveis garotos do Distrito 4. Coloquei uma camisa e um jeans nele, e fomos a caminho da praça. Encontrei minha amiga Isabelle, que estava vestindo um delicado vestido amarelo, em contraste com seus cabelos pretos.

Chegamos à praça e passamos por testes pra nos identificar e ficamos esperando para que Charlotte Dickens, a bestante (na verdade, ela não é uma bestante, pois bestantes são seres vivos geneticamente modificados pela capital,o que ela não é) que vem nos informar quem serão os tributos escolhidos pela capital. Ela começa após estarmos todos posicionados em filas certinhas a fazer o seu tradicional discurso:

– Olá, cidadãos do Distrito 4. Como todos sabem, meu nome é Charlotte Dickens e eu estou aqui para eleger um tributo masculino e feminino para a 70ª edição dos Jogos Vorazes. Os Jogos Vorazes foram feitos para mostrar que nada tem mais poder do que a Capital! - ela disse essa última sentença com um toque de excitação.

Após alguns segundos, o telão se ilumina e começa a passar um curta sobre Panem, iniciado pelo hino. A destruição, a Capital reerguendo e formando os distritos. O Distrito 1, responsável pelos produtos de luxo enviados a Capital. O 2, que produz as armas. O 3, que faz a maior parte de eletrônica de Panem. O 4, o mar, a pesca. O 5, eletricidade. O 6, que transporta todos os produtos dos distritos para a Capital. O 7, o distrito dos lenhadores. O 8, responsável pelas vestimentas, pela produção têxtil. O 9, que colhe os grãos da região. O 10, da pecuária. O 11, que tem a agricultura e um dos mais extensos. O 12, que minera os carvões. E por fim, o 13, responsável pela atividade nuclear e pelo grafite, que por causa dos levantes, foi destruído e hoje serve de exemplo para nós.

– Ótimo, ótimo, ótimo! - ela encerra com felicidade e com uma lágrima caindo dos olhos, provavelmente apenas um mimo feito pela Capital - Agora, vamos começar com o tributo masculino! - ela remexe com suas grandes unhas de urubu um pote de vidro desenhado com traços finos cor bronze, com o símbolo de Panem. - O tributo masculino é Jared Markevis!

Olhei para o lado a espera de ver alguém se voluntariando, já que era o que sempre acontecia. Ninguém. Localizei Jared. Ele parecia ter 16 anos e tinha uma aparência de carreirista. Ele andou em direção ao palco confiantemente, embora sua cara esbanje desespero. Charlotte, com seu vestido escandalosamente vermelho e com as mangas decoradas em dourado, e seus bigodes azuis com a peruca comprida da mesma cor, começou a parabenizar Jared.

– Parabéns, Jared! Muito bem, vamos então eleger a tributo dos nossos Jogos deste ano! - ela remexe novamente os papéis e tira um pequeno papel e sorri - Annie! Annie Cresta.

Ouço um grito que parece ser do meu irmão. Eu olho desesperadamente a procura de uma carreirista. Nenhuma agitação, nenhum movimento, nada. A única coisa que eu lembro é de Isabelle me olhar, com uma expressão triste e então tudo fica preto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!