Cold World's Legend escrita por Teud


Capítulo 1
Estranho Rastro


Notas iniciais do capítulo

Esta é a primeira história minha desse jeito... É bem diferente, realmente. Espero que gostem e deixem comentários com boas análises e críticas construtivas.



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Aproximadamente 5,5 bilhões de pessoas morreram em um segundo. Casas, prédios, cidades, países e ilhas sumiram do mapa em menos de uma hora. O mundo nunca vira uma catástrofe daquela magnitude.

O mundo nunca vira um fenômeno natural daquele porte.

O mundo nunca vira um apocalipse diferente dos descritos em Bíblias.

O mundo nunca vira uma chuva que cobrisse toda a face da Terra.

Mas ela aconteceu, e permaneceu por quatro anos e meio.

Cold World's Legend

Prólogo ~ Estranho Rastro

O mundo nunca vira um sobrevivente brasileiro.

Mas eu sou um.

Porém meu nome é Siegfried, o nome de um herói da mitologia nórdica. Meu pai amava estudar mitologias.

Minha mãe, diferente dele, odiava mitos e religiões.

Eles e minha irmã foram mais vítimas do neodilúvio.

Eles não fizeram nada, apenas uma viagem.

Que por sorte (ou azar) recusei.

Fiquei com uma casa relativamente grande só para mim.

Mesmo assim, minha alma estava congelada com o frio.

Meu bairro foi um dos poucos preservados do Rio de Janeiro, e um dos pequenos pedaços de civilização intactos do mundo.

Uma floresta nasceu após um relâmpago, cobrindo parte da "cidade maravilhosa". Mesmo assim, ela era igual o resto de tudo que sobrou.

Todos que sobreviveram que eu conhecia estão mortos neste momento.

Justamente por tentarem sobreviver sozinhos.

Ingratos. Fiz tanto por vocês e me abandonam desse jeito.

"Tiveram a punição divina correta", foi o que eu pensei. Não que eu acreditasse em Deus, mas aquelas pessoas mereceram isso.

Só o sangue deles sobrou. Sangue preto.

Floresta.

Prédios e casas destruídos.

Falta de comida.

Morte.

O mundo realmente se tornou cinza.

***

A chuva realmente estava mais pesada que no dia anterior. Calculei, após alguns meses, que a média que é acrescentado de peso ao indivíduo na chuva é 50 kg, então eu ficava com 120 kg na chuva, claramente com toda a proteção necessária contra o frio de -35° C. Nos primeiros dois meses, era quase impossível andar nela. Já se passados seis meses, eu conseguia andar pelas redondezas, pois logo ficava fatigado. Porém naquele dia a chuva estava mais pesada. Eu, que normalmente conseguiria sair de casa sem muitos problemas, estava tendo dificuldades para andar. O frio parecia estar mais intenso que o comum também.

E lembrando que estou na antiga cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. Imagina como deve ser frio no hemisfério norte?

Deixando isso de lado, após muito esforço, consegui andar na chuva, roubei um pouco de comida das casas inexplorada pelo caminho e cheguei até o limite da cidade. O que via em minha frente era uma floresta repentina que surgiu por cima da cidade após um raio. Ela surgiu fazia menos de uma semana, e ainda não havia chegado a explorá-la. Duvidava que fosse encontrar algo, pois era cinza, assim como o resto do mundo.

Depois de encarar a estranha floresta por alguns segundos, virei para explorar as casas abandonadas que estavam próximas ao limite, porém pisei em algo quente. Levei um susto, até porque calor era algo raríssimo. Virei para trás, olhando onde meu pé tinha pisado. Fiquei boquiaberto. Uma calcinha vermelha. Uma calcinha vermelha, tamanho M e quente estava no chão. Encarei aquela bizarrice por alguns segundos de olhos arregalados. Era a primeira cor que eu via desde que tudo aquilo começou. Ao sentir o frio invadir os olhos, fechei-os intensamente e esfreguei para esquentar com as mão nuas. Botei rapidamente as luvas de volta, e quando consegui abrir os olhos novamente, percebi que a peça íntima continuava lá, só que além disso havia um rastro. Um rastro de calcinhas. Cada uma de uma cor, contudo todas do mesmo modelo. Peguei a primeira, segurei-a com força nas duas mãos e apoiei-a no peito para me esquentar e segui a trilha para dentro da floresta...

Após duas horas de uma intensa caminhada, parei para descansar. Aquela floresta era fechada, ou seja, não permitia a passagem nítida de luz e chuva, e cheia de galhos pelo caminho. Como eu tenho uma faca de exército herdada de meu pai, cortá-los foi fácil. Comi um enlatado após fazer uma fogueira fraca. Enquanto eu comia, o fogo era consumido pela chuva e rajadas de vento polares. Logo que ele se apagou, eu terminei de comer e parti. O rastro era longo e parecia ser infinito. Segui por dez minutos reto até encontrar algo raro.

Uma linda de garota inconsciente. Sentada abaixo de uma árvore, ela estava com roupas de panos finos, totalmente ensopada, tremendo, e com uma mochila debaixo do braço esquerdo. Parecia ter em torno dos dezesseis aos dezoito anos, era loura e esbelta. Engoli em seco. Estava perplexo demais por encontrar um sobrevivente nesse estado, no meio dessa floresta e ainda mais sendo um garota.

"Ela espalhou o rastro?", pensei. "É provável que sim, até porque o rastro é de calcinhas...".

Verifiquei a bolsa dela e confirmei. Haviam inúmeras calcinhas, provavelmente para continuar o rastro. Havia outras roupas e pertences também, como facas, um enlatado, um porta-retrato quebrado e um isqueiro. Peguei a mochila, coloquei-a nas costas junto a minha.

— Levarei você comigo. Se ficar aqui, congelará como todos - sussurrei no ouvido delicado.

Duvido que ela tenha escutado, porém insisti em fazê-lo. Ergui-a em meu colo e levei-a ainda inconsciente e com muito esforço até minha casa. Para protegê-la da chuva intensa após a saída da floresta, coloquei uma capa de chuva que sempre trago de reserva para caso a minha rasgue por cima dela.

Foi um esforço tremendo e incoerente. Mesmo que o tempo de ferro ordenasse que eu parasse de salvá-la, continuava a teimar pela sobrivência da jovem. Lutei contra minha fraqueza e o clima pesado, e após três horas cheguei em salvo, ainda são e sem grandes problemas além da exaustão.

Mesmo assim, foi algo irracional. Por que salvar uma garota que nem conheço? Por que fiz isso? Por que segui um rastro de calcinhas em uma floresta estranha e desconhecida?

Após colocá-la sobre a cama que pertencia a minha irmã, consegui uma resposta.

Ao olhar mais atentamente para o rosto da menina, percebi que apenas queria uma companhia. Ela se tornou minha esperança. Eu tinha que agarrar a chance com todas as minhas forças. E foi o que fiz, mesmo sem poder. Enquanto eu a olhava, ela congelava. Esqueci do fato de que o frio era grande, mesmo dentro de casa. Resolvi secá-la, mas para isso... eu tinha que despi-la. As roupas finas estavam encharcadas. TInha que secá-las também. Mas fazer isso com ela... seria perigoso.

"E se ela acordar? O que eu farei?", pensei.

Ouvi um gemido de dor e frio. O processo de congelamento já havia começado. Eu não podia perder mais tempo! Fui a cozinha e comecei a usar meu "método de secagem e esquentamento rápido". Tinha que dar tempo. Eu não podia perder minha esperança tão rápido.


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Notas finais do capítulo

Quero comentários para enriquecer a história. Qualquer crítica construtiva é aceita.