Lord's Princess escrita por Brigadeiro


Capítulo 4
3 - Por Essa Eu Não Pude Esperar


Notas iniciais do capítulo

Hello, Peoples!
Ainda tenho apenas três leitoras, entããão... Obrigada a vocês três!
E um super obrigada especial para Amora, a única leitora que comentou no capítulo anterior e que me deixou super emocionada! Suas palavras me incentivaram demais, flor!

Nome do capí­tulo: trecho da música Coração Que Sangra, da Fernanda Brum.
Sem mais delongas... Boa leitura!

B♔.



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BELLA PDV

— Essa é a pior de todas as loucuras que você já inventou, Isabella Cullen! — Emmett foi o primeiro a falar depois que contei a ele e a Alice sobre minha ideia.

— Não é tão ruim assim — me defendi. Não era nada ilegal e nem perigoso, pensei comigo... — Só envolve uma mentirinha básica.

— Mentirinha básica?! — Alice começou a gritar. — Em que mundo contratar um ator para fingir ser pai da sua filha é uma mentirinha básica?

— Você faz parecer ruim!

— É RUIM! — Emmett e Alice gritaram juntos.

Estávamos os três dentro do meu camarim, ainda estava bem cedo e eu agradeci a aos céus por Edeline estar em um sono profundo no camarim de Carlisle, que tinha uma cama. Eu mal tinha dormido com a empolgação da ideia que me surgiu.

Edeline havia me pedido por um pai e era exatamente o que eu daria a ela. Eu só precisava de um ator que se parecesse um pouco com ela e que aceitasse fazer papel de pai em troca de uma boa grana. Todos sairiam felizes.

— Vocês são pessimistas demais — eu respondi, nada me faria desistir. — Eden vai conhecer o pai, que fará algumas visitas de vez em quando. O cara ganhará um bom dinheiro todo mês e só terá que aturar alguns paparazzi de vez em quando.

— Isso tudo é carência, Bella? — Emmett soltou uma risada leve. — Faz tempo que eu digo que você precisa de um homem, mas também não precisava exagerar...

— Cale a boca, Emm. Estou dizendo, vai dar certo...

— Ah, sim, gênio... E quando Edeline crescer, ein? Já pensou nisso? Um ator não vai estar lá para sempre por ela e um dia ela vai descobrir! — Alice estava quase desesperada, eu quase dei risada da sua expressão. — Sua filha vai te odiar, Bella! Me escuta por favor!

— Você não acabou de ouvir os detalhes.

— Eu não sei se quero ouvir, estou até com medo — Emmett murmurou. Ele estava sentado no chão em posição de índio com as mãos apoiada nos joelhos. Se o clima não estivesse tenso, eu acharia graça.

— É um contrato vitalíceo — avisei a eles. — Um papel para a vida inteira. Terá que ser alguém responsável, de boa índole e que seja bom com crianças. O homem escolhido vai estar à disposição da Eden sempre que ela quiser.

Aos poucos Emmett e Alice foram arregalando os olhos, Emmett fingiu engasgar com a própria saliva e Alice deu tapinhas desesperados em suas costas. Ambos me olhavam como se eu estivesse com uma melancia na cabeça e minha irmã começou a gritar...

— Você está ficando louca, Isabella. Não pode fazer isso com a sua filha, a vida dela será uma mentira. Isso está ultrapassando todos os limites!

Eu suspirei enquanto deixava Alice se acalmar. Quando ela finalmente parou de gritar, eu voltei a falar: — Ela nunca vai descobrir. Vai ser como se ele fosse pai dela e todos saem felizes. Estou fazendo isso por ela.

— Espera só um momento — Emmett se levantou do chão e começou a andar de um lado para o outro com uma expressão pensativa. — Se você está tão decidida assim a dar um pai a Edeline, porque não contrata um investigador e tenta achar o verdadeiro pai biológico dela? Seria bem mais fácil, menos insano e com bem menos mentiras.

Eu cheguei a pensar naquela opção, mas rejeitei no mesmo segundo. Era arriscado demais. E se ele a rejeitasse? Ela ficaria destruída. Ou pior, se o pai dela realmente a quisesse? Ele teria direitos sobre ela, as implicações legais disso... Eu não dividiria minha filha em fins de semana e feriados. E só de pensar em ficar longe dela meu coração já estremecia. Não. Meu plano era a forma mais segura de ela ter um pai sem eu correr qualquer risco de perdê-la.

— Não, isso está fora de questão — o tom que usei foi tão decisivo que Emmett e Alice não me questionaram. — Vão me apoiar no plano ou não?

— Bellinha, quero deixar bem claro aqui que na minha humilde opinião... Você enlouqueceu — Emmett me olhou com uma expressão séria e depois abriu um sorriso. — Mas loucura é comigo mesmo. Estou dentro.

Eu soltei um suspiro aliviado. Emmett era o melhor irmão do mundo.

— Obrigada, Emm! — eu pulei em seu pescoço e o abracei. Em seguida me virei para Alice. — E você, pulga?

Alice estava tão séria como nunca a vi na vida. Seus olhos pareciam querer me cortar ao meio tamanha a intensidade, mas depois de um tempo ela apenas suspirou.

— Como se eu tivesse alguma escolha... Você vai levar isso adiante com ou sem meu consentimento — ela respondeu. Não quis interrompê-la naquele momento, mas ela estava absolutamente certa. — Comigo segurando as rédeas as chances de isso dar muito errado serão menores. Não acredito que vou dizer isso, mas... Vou ajudar.

Eu a abracei também. Meus braços tinham mais facilidade em rodear a pequena Alice do que o gigante Emmett. Os músculos do meu irmão se sobressaiam em qualquer camiseta que ele usava. É fácil se assustar com ele antes de conhecê-lo, mas depois disso é impossível temê-lo.

— A modéstia te mandou um abraço, Alicinha — ele riu.

— Não me chame de Alicinha, é horrível — Alice fingiu um tremor — Bem, se você está mesmo disposta a continuar com essa loucura... Vou começar a procurar alguns atores desconhecidos.

Eu assenti. Não podia ser ninguém famoso.

— Papai e mamãe ficarão sabendo da verdade? — Emmett perguntou enquanto olhava para suas unhas. Ele mirou seu dedinho e depois colocou-o na boca. Eu ri, sabia que ele estava imitando Alice.

— Mas é claro que não! — respondi como se fosse algo óbvio. E era. — Mamãe armaria um escândalo só de ouvir a ideia e papai jamais permitiria. Para eles eu simplesmente terei encontrado o pai biológico de Eden que realmente queria ficar perto da filha.

Emmett apenas concordou com a cabeça. Alice soltou um resmungo.

— Não gosto de mentir para nossos pais — ela disse.

Eu sabia como ela se sentia e concordava. Esme e Carlisle nos deram tudo e era muita ingratidão retribuir com mentiras. Mas eu não tinha escolha.

— A mentira não é sua, é minha. Você apenas estará guardando um segredo.

— Mentira é mentira. Omissão e segredo são apenas variações que as pessoas usam para se livrarem da culpa.

Emmett imitou o som de um cavalo dando um coice e eu fechei a cara. Alice estava certa, mas nem morta eu admitiria. Eu prefiro morrer a admitir que estou errada.

— Vai querer me dar lição de moral agora?

Nós duas nos encaramos com raiva. Era difícil ficar brava com ela porque nunca brigávamos, mas ela precisava decidir se estaria do meu lado ou não. Emmett, sentindo a tensão, interrompeu.

— Ótimo, então Alice irá procurar atores, eu vou verificar Edeline e depois cuidar desse contrato maluco e você irá para o set de filmagens neste momento, Bella. Já está atrasada — ele bateu palmas audivelmente, fazendo nós duas bufarmos e virarmos as costas uma para a outra.

Eu bati a porta ao sair. Corri para o set de filmagens e pedi desculpas a Carlisle, que já estava ali me esperando por algum tempo. O cenário era uma sala de estar de tempos muito antigos, os atores que contracenariam comigo já estavam lá: Kate Denali, Garret Derrair e Jacob Black, respectivamente nos papéis de Jane, Bingley e Darcy.

— Aí está a diva! — Jake foi quem me cumprimentou primeiro quando pisei no set, suas roupas volumosas atrapalharam um pouco.

Ele estava usando uma farda estranha de camurça, havia babados saindo da gola e eu quis rir daquilo, mas não podia porque estava usando um vestido de época igualmente ridículo. Se eu não risse dele, ele não riria de mim.

— Eu só estava ocupada, vamos gravar isso logo.

A cena era quase no final do filme, em uma passagem em que os dois casais estão na sala e então Bingley pede para Darcy e Elizabeth se retirarem para ele pedir Jane em casamento. Kate e Garrett estavam namorando há quase dois anos por isso pensei que a cena de um pedido de casamento ficaria perfeita. E ficou. Havia realmente amor no olhar deles. Carlisle gritou corta e disse que já poderíamos nos trocar.

— Desculpe, Carlisle... Acho que não ficou muito bom. Podemos refazer somente este pedaço? — Garret pediu.

Fiquei confusa. A cena estava ótima. O que Garret queria afinal?

— Claro — meu pai respondeu.

Atendendo ao seu pedido, voltamos para o set e retomamos tudo da parte em que eu e Jacob saíamos do cômodo. Porém, quando Garrett se abaixou em frente a Kate e segurou sua mão, as palavras que saíram da sua boca eram completamente diferentes do texto original.

— Kate Denali, há exatos dois anos e seis meses eu te conheci em um set de filmagem amador, ambos estávamos iniciando nossas carreiras e veja onde estamos agora... Alcançamos o mundo! Porém, eu não alcancei meu mundo completamente, pois meu mundo é você — todas as mulheres presentes, inclusive eu, exclamaram um “Awn” e Kate começou a chorar. — Kate, eu te amo e não suporto viver mais um dia longe de você... Aceita se casar comigo?

Dito isso, ele retirou uma caixinha de veludo vermelho do bolso e abriu, revelando uma linda aliança. Kate gritou um sim e todos bateram palmas. Eu observava tudo sorrindo, deveria ser muito bom ter alguém que te ame dessa maneira, sem restrições... Com exceção da minha família, eu jamais tinha experimentado esse tipo de amor. Sempre estive tão focada em ser mãe que nunca me apaixonei, e ver cenas como essas me faziam imaginar como seria. Mas eu tinha a minha filha e ela era o suficiente para mim. E, me lembrei, era por ela que eu estava prestes a me meter na maior loucura da minha vida. Como as gravações não voltariam tão cedo depois daquilo, encontrei minha deixa para voltar aos camarins e ver o meu tesouro.

— Eu quero essa gravação, Carlisle! — a voz de Kate foi a última coisa que ouvi antes de correr para os fundos do set.

As sapatilhas macias no meu pé mal faziam barulho e foi assim que o estranho no meu camarim não me ouviu entrar. Me deparei com ele assim que entrei, mas não gritei porque ele também não percebeu minha presença e não parecia estar fazendo algo de errado. Observei com curiosidade. Era um homem alto, estava de costas para mim e falava em um aparelho de celular tão velho que não devia fazer nada além de ligações. Pude perceber que usava um macacão azul, o uniforme padrão dos faxineiros.

— Não, Rose... Se acalme, por favor! — ele soava urgente ao telefone. — Em que hospital vocês estão? Sim, eu sei onde é. Ela estava só com dor ou foi algo mais sério? Ok, então não há com o que se preocupar ainda. Escute, não posso ir agora... — ele fez uma pausa bem longa, sua voz era melodiosa e macia, mas ele parecia bem preocupado. Fiquei encostada no batente da porta, apenas esperando. — Estou no primeiro turno do meu primeiro dia de trabalho, Rose! Quando eu terminar aqui vou passar no banco e ver se consigo um empréstimo que cubra a cirurgia para...

Ele se virou naquele momento, dando de cara comigo. Seus olhos se arregalaram, ele desligou o aparelho e paralisou. Eu também paralisei. Seu rosto anguloso, o queixo e o nariz eram completamente familiares. Seu cabelo curto e despenteado possuía uma cor estranha que eu só tinha visto uma vez em toda a minha vida. Seus olhos, arregalados de medo naquele momento, eram duas esmeraldas perfeitas. Ele era peculiarmente lindo, tão lindo quanto a minha filha. Tão parecido com ela que assustava.

— Senhorita eu... Eu... Me desculpe, por favor. Eu entrei para limpar, me disseram que a senhorita estava gravando e eu... Eu recebi uma ligação da minha irmã, minha sobrinha está no hospital, mas claro que a senhorita não quer saber dos meus problemas. Me desculpe, por favor — ele começou a tagarelar de forma incontrolável, exatamente como Edeline fazia quando estava nervosa. Eu quase comecei a rir da perfeição com a qual ele se enquadrava no papel, era como se o cara tivesse caído do céu.

— Está tudo bem... Qual é o seu nome? — perguntei interessada.

— Edward Masen. E a senhorita é Isa Marie, é claro... Eu sou o novo faxineiro do período da manhã, fui contratado ontem.

Hum... Devia ser o substituto da Natalie, de quem Heidi havia falado. O que também era ótimo, porque ele estaria por perto. Eu precisava me controlar e ser simpática se quisesse fazer ele cooperar. Ser amigável com estranhos não era o meu forte, mas tentaria dar o meu melhor.

— Pode me chamar só de Bella, Edward. É um prazer conhecê-lo — eu estendi a mão e ele apertou. Só minha família e amigos mais íntimos me chamavam de Bella, seria mais fácil vê-lo com bons olhos se ele me chamasse assim. Convidei-o para se sentar no sofá e ele aceitou. Ficamos frente a frente, ele parecia envergonhado. — Foi você o contratado no lugar da Natalie, eu suponho.

— Sim, senhorita... Quero dizer, Bella.

— Assim está melhor — eu sorri. — Acho que ouvi sua conversa sem querer, algo sobre hospital. Está tudo bem?

— Está sim, obrigada por perguntar. Apenas minha sobrinha pequena que está com um probleminha um pouco sério, ela está internada e precisa fazer uma cirurgia seguida de um tratamento que são um pouco caros.

— Quantos anos sua sobrinha tem? — perguntei.

— 6 anos.

— Você é casado, Edward? — perguntei novamente. Aquilo estava ficando cada vez melhor.

— Hum... Não. Somos apenas eu, minha irmã e minha sobrinha — ele respondeu um pouco desconfiado com tantas perguntas. — Eu ajudei minha irmã a criá-la desde que nasceu.

Ele estava precisando de dinheiro, era solteiro e tinha experiência com crianças. Eu jamais encontraria alguém mais perfeito para o papel. Claro que eu teria que verificar antecedentes criminais, histórico familiar e possíveis influências negativas, mas tinha quase certeza de que aquele seria o escolhido. Se ele aceitasse, é claro.

— Tenho uma proposta a lhe fazer, Edward — eu sorri para ele.

— Proposta?

— Sim, proposta. Certamente você já conhece a minha filha, Edeline Cullen...

— A Princesinha da América. Claro que sim... É uma criança muito famosa, e tive um breve encontro com ela há alguns segundos atrás.

— Ótimo. O que acha de ser o pai dela? — eu perguntei de uma vez, sem rodeios, sem enrolarão. Eu precisava de muita praticidade aqui.

Assim como Emmett, ele engasgou, porém não de brincadeira. Não tentei ajudar, deixei-o se recuperar sozinho. Quando estava respirando normalmente, ele me olhou como se eu fosse louca.

Por que todos insistiam em me olhar daquela mesma maneira?

— O quê? — foi apenas o que saiu de sua boca.

Eu expliquei pacientemente o plano todo para ele. Disse o quanto minha filha queria um pai, contei que estava disposta a contratar um ator e que ele era perfeito para o papel. Quando terminei sua expressão denunciava sua incredulidade com o que eu estava propondo.

— Se você aceitar será para sempre. Vai assinar um contrato que só perde a validade com o final da sua vida, ou se você quebrar alguma regra. Não vai ter poder sobre a vida dela, mas fará visitas constantes e nunca, jamais contará a verdade a ninguém. O que acha? — terminei minha explicação brilhante.

Ele não parecia ser capaz de emitir uma resposta coerente. Seu rosto denunciava sua incredulidade diante da ideia.

— Tenho minhas duvidas de que esteja falando sério.

— Você é parecido demais com ela, ninguém jamais irá desconfiar — insisti.

— Sua filha perguntou pelo pai e você simplesmente inventou todo esse plano? Não era mais fácil dizer não? — ele perguntou exasperado.

— Ela não é só a Princesa da América, é a minha princesa. Ela nunca conheceu o pai e agora pediu por ele. Nunca lhe neguei nada.

— Para tudo há uma primeira vez na vida.

— Não estamos discutindo se minha decisão foi correta ou não, estou apenas lhe fazendo uma proposta. Aceite se quiser.

— Desculpe-me, mas não posso aceitar um absurdo desse. E, se me permite, a senhora deveria mimar menos sua filha, ou não terá controle sobre ela quando crescer — ele cruzou os braços e me encarou.

Eu fiquei vermelha. Quem ele pensava que era para falar mal da minha filha? É por isso que eu nunca dava abertura para funcionário, era isso o que acontecia quando eu tentava ser simpática.

— Edeline não é mimada!

— Eu já vi aquela criança na TV gritando quando queria algo — ele zombou.

— Eden é uma criança exigente — defendi-a. — E você não é ninguém para falar assim dela.

— Sim, muito exigente eu diria. Esqueça, estou fora — ele se levantou para sair. — Se me der licença...

— Não, eu não dou.

Eu respirei fundo para me acalmar. Tinha que ser ele, eu jamais encontraria outra pessoa tão perfeita e além do mais ele amaria Eden quando a conhecesse de verdade. Todos amavam. E eu ainda tinha uma carta na manga.

— Se você aceitar, eu pago a cirurgia e todo o tratamento da sua sobrinha — eu disse rapidamente, sua boca se abriu e ele descruzou os braços. Agora eu tinha chamado a atenção dele. — Além do mais, você e sua irmã receberam uma boa quantia em dinheiro todo o mês. Eu também providenciarei para que sua sobrinha vá para uma boa escola e pagarei a faculdade dela no futuro, se quiser.

Ele estava respirando profundamente. Eu sorri, sabendo que já o tinha na palma das mãos.

EDWARD PDV

Aquele dia começou uma benção. Realmente não sei como terminou com tanta loucura! 

Eu acordei bem cedo, dei uma ajeitada na casa, deixei pão fresco na mesa para minhas garotas e saí de casa para chegar a tempo no meu novo emprego. Eu estava revigorado, me sentia como se tudo pudesse dar certo. Ledo engano.

Quando cheguei ao estúdio fui recebido por Heidi, a mulher que tinha me contratado, ela foi simpática e me mandou começar o serviço pelos camarins, o que eu atendi prontamente. Era um pouco intimidador estar rodeado de pessoas que o mundo inteiro conhecia, mas que fingiam que eu não exista. Por onde eu andava era ignorado, mas estava tudo bem porque eu sabia o meu lugar. Estava muito feliz pelo emprego. O primeiro camarim em que entrei foi o de Carlisle Cullen, o diretor do estúdio. Porém, o lugar não estava vazio.

Um homem grande estava sentado na grande cama fazendo cosquinhas em uma garotinha. Eu me pronunciei e pedi licença para limpar o lugar, os dois olharam diretamente para mim. O homem me era desconhecido, mas a garota não.

Ela era familiar de duas formas diferentes. Primeiro porque seus traços, seu cabelo e principalmente os olhos, eram muito parecidos comigo. Eu poderia passar horas divagando sobre meu filho perdido olhando para aquele rosto, se já não o tivesse visto antes. Edeline Cullen era realmente uma criança estrela, seu rosto vivia estampado em capas de revistas e em telas de TV pelos concursos que participava e pela mãe que tinha.

E também pelos comentários que todos faziam. Aquela garota era conhecida como a menina mais mimada e insuportável do planeta, todo mundo já viu na TV pelo menos um daqueles ataques escandalosos dela. Eu e Rose sempre agradecíamos a Deus por Dominique ser o completo oposto daquela garota.

— Bom dia — eu disse com toda a educação que me deram na infância.

O grandão parou de brincar com a menina e levantou-se da cama, parando de frente para mim. A menina se sentou e ficou me olhando.

— Bom dia — respondeu o homem.

— Tio Emm, quem é ele e o que ele ‘tá fazendo no camarim do vovô? — a menina perguntou ao tio.

Ele me olhou rapidamente e se aproximou de mim. A roupa e os acessórios que eu trazia no carrinho de limpeza deve ter deixado tudo muito claro.

— Suponho que você seja o novo faxineiro. Prazer, sou Emmett Cullen — ele me estendeu a mão e eu a apertei prontamente, feliz com o boa recepção.

— Sou Edward Masen, senhor. Sim, fui contrato ontem, muito prazer também — eu disse a ele e olhei para a menina — Olá, anjinho.

Apesar de tudo ela ainda era uma criança, mesmo sendo a mais mimada delas. A garota apenas me olhou com a cabeça torta e depois para o tio.

— Me desculpe, ela sempre tem ordens claras de não falar com estranhos a menos que digamos para fazê-lo — Emmett me respondeu. — Eden, querida, este é Edward. Ele é quem vai substituir a Natalie agora.

A garota olhou para mim e depois para Emmett, tornou a olhar para mim e para Emmett novamente. Sua boca foi se ajuntando em um bico e ela começou a reclamar com uma vozinha enjoada.

— Mas eu não quero outra pessoa, eu quero a Natalie! Tio Emmett eu quero que a Natalie venha para brincar comigo! A mamãe disse que ia trazer ela de volta!

Eu me assustei, não sabia que a menina era tão apegada à Natalie. Minha amiga vivia falando dela e até elogiando a menina, mas eu não fazia ideia do tamanho da relação das duas. Eu fiz uma oração silenciosa pedindo a Deus para não perder o emprego que eu demorei tanto a conseguir por causa daquela criança.

— A mamãe disse que ia conseguir que ela viesse te visitar, nada mais. A Natalie tem a vida dela, Eden, ela não vai voltar — Emmett disse e a menina parou de falar, só fungando agora. — Agora peça desculpas ao Edward.

— Desculpe, Edward — ela respondeu arrependida, sua expressão triste chegava a ser fofa.

— Não foi nada, anjinho — eu respondi — Volto aqui mais tarde, vou começar por outro lugar. Com licença.

Dito isso, saí de lá e me dirigi ao camarim ao lado, em cima de uma estrela desenhada na porta lia-se Isa Marie. Me disseram que ela estava filmando naquele momento então entrei no cômodo. De fato, estava vazio. Olhei em volta, prestando atenção nos detalhes. Não parecia com o que se imagina de um camarim de alguém tão famosa quanto essa mulher era, parecia mais como um quarto de hotel. As paredes eram brancas e o chão era coberto de carpete preto; havia, claro, uma penteadeira com espelhos e muita maquiagem em cima, mas também um sofá cama, uma mini geladeira e uma escrivaninha com gavetas.

Quadros e porta retratos com fotos estavam por todos os lugares, a grande maioria com fotos de Edeline Cullen, algumas outras com a família adotiva dela, pessoas que eu também reconhecia da TV. Parei em frente de uma foto dela em um quadro grande, estava em um vestido azul celeste e fazia uma pose autoritária. Era uma mulher muito bonita, apesar de tudo. Mal comecei a limpar o lugar e meu celular tocou. Eu não ia atender, mas li o nome de Rose na tela e me preocupei.

— Rose? O que aconteceu? — perguntei assim que atendi, eu sabia que ela não ligaria por nada simples.

— Edward, eu estou no hospital com Dominique! Ela começou a sentir muita dor e eu corri com ela para cá, começaram a fazer exames e... Ah, Edward! O lipoma está crescendo e o doutor disse que se não realizarmos a cirurgia logo e o caroço continuar crescendo o tumor vai evoluir para maligno e minha filha vai morrer, Edward! MORRER!

Ela estava berrando ao telefone, totalmente desesperada. Meu coração quis entrar naquele desespero também, mas alguém tinha que acalmá-la.

— Não, Rose... Se acalme, por favor! — eu gritei de volta, ela começou a chorar. — Em que hospital vocês estão?

— No posto do seu convênio novo. Acho que é perto do estúdio em que você está...

— Sim, eu sei onde é. Ela estava só com dor ou foi algo mais sério?

— Só com dor, mas ela gritava tanto Edward...

— Ok, então não há com o que se preocupar ainda. Escute, não posso ir agora...

— Eu sei que você não pode, droga! Eu só precisava falar com alguém, não aguento isso sozinha. Me ajuda pelo amor de Deus, Edward!

 Eu deixei-a gritar e se acalmar primeiro para que eu continuasse. Minha intenção era começar a orar assim que minha irmã desligasse.

— Estou no primeiro turno do meu primeiro dia de trabalho, Rose! Quando eu terminar aqui vou passar no banco e ver se consigo um empréstimo que cubra a cirurgia para...

Então eu me virei... E ela estava ali. Isa Marie em pessoa parada no batente da porta do camarim, olhando fixamente para mim. Eu gelei e paralisei no lugar, morrendo de medo. Como eu conseguiria um empréstimo se perdesse o emprego? Eu precisava começar a ter mais cuidado nesse lugar!Comecei a tagarelar sem parar pelo nervosismo, um traço que todos na minha família tinham.

— Senhorita eu... Eu... Me desculpe, por favor. Eu entrei para limpar, me disseram que a senhorita estava gravando e eu... Eu recebi uma ligação da minha irmã, minha sobrinha está no hospital, mas claro que a senhorita não quer saber dos meus problemas. Me desculpe, por favor.

Ela parecia querer rir. Eu estranhei, porque tinha sido alertado por Heidi sobre ela e sua família, para ser cuidadoso porque ela era muito exigente e inflexível. Apesar do medo da demissão, pude perceber o quanto ela era bonita. Na verdade bem mais bonita pessoalmente do que na TV ou no retrato. Seu cabelo caía brilhando em cachos perfeitos por seus ombros, ela trajava um vestido azul colonial que contrastava perfeitamente com sua pele de marfim lhe deixando com um ar de suave leveza, sua pose descontraída ao me olhar e seus olhos... Parecia chocolate. Impossível não admirar.

— Está tudo bem... Qual é o seu nome? — ela perguntou. Como sua voz era linda, nítida e melodiosa. Não era a toa que ela fez tanto sucesso.

— Edward Masen. E a senhorita é Isa Marie, é claro... Eu sou o novo faxineiro do período da manhã, fui contratado ontem — respondi prontamente. Agora eu entendia o porquê todos no mundo faziam a vontade dela e da filha... Seu olhar firme era intimidador.

— Pode me chamar de Bella, Edward. É um prazer conhecê-lo.

Eu devia ter notado que algo estava errado quando ela foi tão gentil. Foi então que começou toda a loucura que me perseguiria pelo resto da minha vida. Acredite, o que ela me disse a seguir mudou cada mínimo detalhe dos meus dias a partir dali.

Ela perguntou sobre sobrinha e me fez algumas perguntas estranhas e sem sentido, depois me disse que tinha uma proposta para mim. Ela queria que eu adotasse a filha dela. Sim, de certa maneira poderia ser considerado adoção. Eu fingiria ser pai da menina e faria visitas, seria relativamente presente conforme a vontade da criança e tudo porque a garota exigiu conhecer o pai.

Então eu me perguntei: ela é louca? A proposta inteira iria contra todos os meus princípios.

Eu jamais aceitaria aquilo. Era completamente imoral, errado e sem falar que talvez fosse até ilegal... Não, acho que ilegal não. Mas mesmo assim errado. Eu lhe disse que jamais aceitaria aquilo. Chegamos até a discutir sobre o quanto aquela menina era mimada. Era uma criança, era só dizer não!

Eu estava realmente disposto a recusar, até que...

— Se você aceitar, eu pago a cirurgia e todo o tratamento da sua sobrinha. Além do mais, você e sua irmã receberão uma boa quantia em dinheiro todo o mês. Eu também providenciarei para que sua sobrinha vá para uma boa escola e pagarei a faculdade dela no futuro, se quiser.

Minha boca se abriu. Não era aquilo tudo o que eu sempre pedi a Deus? Uma maneira de curar minha sobrinha e um bom futuro para ela, o pacote ainda vinha com um bom salário todo o mês.

Eu pensei em recusar, pensei em ir para casa e continuar com o plano do empréstimo no banco... De qualquer maneira, eu sabia que Deus não me desampararia. Mentir era errado, eu não ia resolver esse problema em cima de um pecado... Mas minha irmã não aguentaria ver a filha sofrer por muito mais tempo... Nick agora tinha dores constantes, o caroço em suas costas crescia a cada ano e ela já era excluída pelos amigos. Se fosse apenas pelo dinheiro eu jamais teria aceitado, mas Dominique precisava daquela cirurgia e depois da cirurgia precisaria de medicamentos caríssimos para se recuperar. Confesso que assim que meus pensamentos se desviaram para Dominique, eu agi por impulso.

— Eu aceito — as palavras saíram da minha boca em um impulso, selando o acordo. — Mas que fique bem claro que estou fazendo isso pela minha sobrinha e...

— Ok, sem lições de moral — Isabella me interrompeu. — Sei bem o quão irresistível é a proposta. Agora, quanto aos detalhes...

— Não, agora você vai me deixar falar — eu interrompi, uma coragem repentina surgindo em mim. Dane-se o respeito entre patrão e empregado, ela estava me pedindo pra adotar a filha dela! E se eu iria adotar aquela menina, eu seria um bom pai. — Se vou ser pai dela, serei pai de verdade. Não vou fazer parte de uma mentira deste tamanho. Está me pedindo para adotar sua filha, pois bem, ela será minha filha. Se é pra entrar nessa loucura, eu vou fazer direito.

Se eu iria entrar mesmo naquela, tentaria minimizar os danos. A mentira que tudo aquilo envolvia tinha proporções enormes, mas eu poderia diminuir a gravidade de tudo aquilo se me dispusesse a ser realmente o pai que aquela criança precisava. Se eu me esforçasse, poderia fazer o bem ao invés do mal. Acho que surpreendi a Bella, que ficou em silêncio por alguns minutos. Sua expressão estava mortalmente séria. Pensei que estava tinha desistido quando finalmente voltou a falar.

— Ninguém aqui usou a palavra adoção, Sr. Masen. Edeline é minha filha e apenas minha. Não vai ter direitos sobre ela, não vai se beneficiar da imagem dela, não vai exigir nada. A partir do momento que assinar o contrato você será um ator; vai visitar quando eu quiser que visite, vai brincar com ela e estar presente quando ela quiser que esteja. O seu papel de pai acaba aí.

Ela estava vermelha, visivelmente nervosa, o problema é que agora eu também estava irritado. A mulher era completamente louca se achava que eu iria aceitar aquilo.

— Não sei que tipo de homem pensa que sou, senhorita, mas       não sou um aproveitador e nem um oportunista. Eu sou um homem temente a Deus e tenho caráter. O que está me pedindo é para viver uma vida mentindo e eu não vou fazer isso — respirei fundo tentando recuperar o fôlego, mas ainda não tinha terminado. — Não quero direitos, só peço respeito. Se vou fazer isso, quero fazer da maneira mais certa possível. Tentar minimizar as mentiras, fazer o melhor possível e para isso vou precisar de respeito. Do dela e do seu. Não sou seu cachorrinho obediente e nem serei brinquedo da sua filha.

Ela ficou um tempo calada e sua expressão foi se suavizando. Ela sentou no sofá e cruzou as pernas, parecia mais calma. Coloquei as mãos nos bolsos do macacão, tentando não parecer tão ridículo quanto eu me sentia naquele momento.

— Vai se fingir de bom samaritano e dizer que só quer o melhor para ela, então?

— É uma criança inocente, é claro que eu só espero o melhor para ela. Não quero me aproveitar de ninguém, senhorita. Só quero salvar a minha sobrinha e, se possível, tentar não magoar a sua filha.

Ela me encarou desconfiada.

— Não acredito em bons samaritanos, senhor Masen.

— Não deve ter conhecido muitas pessoas decentes em sua vida então, senhorita Cullen.

Ela mordeu os lábios, parecendo pensativa. Eu não a conhecia e não conhecia sua vida, mas algo me dizia que não havia mesmo muitas pessoas decentes em sua história. Eu podia ver em seus olhos a luta interna que ela estava travando para confiar em mim. Por fim, ela suspirou e voltou a me encarar.

— Tudo bem Edward, estou de acordo. Em partes. Ouça bem, porque quero que fique claro. Você não toma decisões importante na vida dela e nem tem o direito de brigar com ela, gritar, e se a fizer chorar é fim de contrato. Mas terá o meu respeito e o respeito de Edeline também — ela estava meio contrariada quando disse aquilo, mas arrumou a expressão hostil do rosto e voltou para a seriedade. — Hoje mesmo, assim que eu terminar a gravação, iremos para o meu escritório avaliar e assinar o contrato. Se quiser levar um advogado, fique à vontade. Amanhã de manhã você irá cedo para a minha casa para que sejam apresentados como pai e filha.

— De acordo — foi apenas o que eu disse. — Mas e o meu emprego aqui?

— Vai querer mantê-lo?

— Claro que sim. Escute senhorita, não quero salário nenhum. Não vou ser pago pra ser pai. Apenas cuide do tratamento da minha sobrinha e do futuro dela e estamos entendidos — eu disse. Eu realmente não conseguiria aceitar dinheiro dela todo mês por algo tão simples. Eu já estava me sentindo culpado o suficiente.

Ela me olhou nos olhos, pensei que ia dizer algo mas apenas assentiu.

— Como quiser. Vou falar com Heidi, você estará liberado do serviço sempre que o assunto for a Edeline.

Assenti, e um silêncio constrangedor se instalou quando ela pegou um celular caro e começou a digitar nele. Fiquei quieto, tentando assimilar toda a confusão na qual eu acabara de me meter.

— Onde você mora? — ela perguntou de repente, levantando o olhar de cima da tela do aparelho.

Ela não ia gostar da resposta. South L.A. era uma região conhecida por ser perigosa e mal cuidada. De fato a maior parte do lugar era preenchida por residências e uma comunidade de baixa renda, mas a criminalidade era mais alta ali do que em qualquer outra região da Califórnia.

— South L.A.

Ela arregalou os olhos.

— Você mora em South Los Angeles? É a região mais perigosa da cidade!

— Nem todos tem o mesmo dinheiro que você, sabia? — respondi irritado. Eu não gostava de morar por ali mais do que as outras pessoas. Mas ficava perto do centro de Los Angeles e há apenas quarenta minutos de Hollywood, onde eu trabalhava agora.

— Você terá que se mudar. Rápido.

— O quê?

— Acha que vou deixar minha filha visitar uma casa por aqueles arredores? Não mesmo. Edeline não chega perto de lá. Fique tranquilo, minha irmã irá hoje mesmo atrás de um bom imóvel que seja perto da minha casa...

— Não vou morar em Hollywood! Não tenho condições para morar em um lugar assim —protestei. Eu definitivamente não me mudaria.

— Eu não moro em Hollywood, moro em Santa Monica. Mas tudo bem, algum lugar mais simples, então. Que tal no centro? Existem algumas comunidades residenciais de classe média que são aceitáveis por lá.

— Senhorita, não vou me mudar.

— Pare de me chamar de senhorita, que coisa irritante! E você vai se mudar — eu ia protestar novamente quando ela levantou a mão. — Por favor, Edward, não negue. Sei que será mais confortável para você também. Não se preocupe, eu vou me responsabilizar pela casa. Sua sobrinha mora com você?

— Sim, minha sobrinha e minha irmã — eu respondi no automático, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Ótimo, casa com quatro quartos no mínimo, então.

Ela continuou falando e falando... Eu estava atordoado demais com a avalanche de ordens para prestar a devida atenção. Depois de algum tempo o grandão, Emmett, apareceu e quando Bella (ela insistiu veementemente que eu a chamasse assim) lhe contou tudo ele me fez um monte de perguntas também. Contei quase toda a minha vida e ele me explicou melhor todo o esquema. Pelo jeito só Bella, Emmett e Alice, seu dois irmãos, saberiam que eu não era o pai biológico de Edeline. A história contada ao mundo seria a que Edeline queria conhecer o pai e Bella contratou um investigador particular para me achar.

Tudo parecia muito surreal, mas era o que realmente estava acontecendo. Meu Deus, em que confusão eu me meti?


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Notas finais do capítulo

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