Lord's Princess escrita por Brigadeiro


Capítulo 20
19 - Jesus, Take The Wheel


Notas iniciais do capítulo

Acharam que não ia ter capítulo novo antes do fim do ano, não é?

Ainda é 22h30, então conta como 2018! o/

Pessoal, mais uma vez eu peço desculpas pela demora. Corri contra o tempo para postar esse capítulo antes da virada, já profetizando que vou terminar essa história em 2019! Posso ouvir um amém?

Quase toda a história foi montada enquanto eu ouvia essa música (Jesus, Take The Wheel - Carie Underwood), e eu idealizei esse momento da vida da Bella desde o inicio da história. Espero que gostem.

Ps: tem referência à minha série favorita de novo nesse capítulo, que ninguem acertou no último U.u

Boa leitura!



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EDWARD 

Eu mal tinha conseguido me concentrar no trabalho pelo restante daquele dia. Tudo o que fiz provavelmente teria que ser limpo de novo no dia seguinte, porque por mais que eu forçasse meus pensamentos a se concentrarem na poeira e nas manchas, eles voavam de volta a Bella e Eden a cada instante.

Algo estava errado sobre aquela viagem. Eu podia sentir. Não necessariamente um pressentimento ruim, mas um que me deixava inquieto. Como se algo estivesse prestes a acontecer, mas eu não fazia ideia do que. Eu sabia que se ligasse para Bella ela ficaria ainda mais irritada do que quando nos despedimos, e eu não queria fazer nada que a deixasse menos inclinada a aceitar a minha proposta de registrar Eden como minha filha. Então, não havia nada que eu pudesse fazer sobre meu nervosismo. A não ser orar.

Foi o que fiz. Me refugiei no camarim de Bella, já que eu sabia que ninguém mais entraria ali uma vez que ela se fora, e passei um tempo considerável orando sobre o que estava sentindo e deixando Deus me acalmar sobre aquilo.

— Está de saída, Edward? — Emmett me abordou assim que saí do camarim. Estava com algumas pastas em uma mão e a chave do carro já posicionada em outra.

— Sim — respondi, olhando de relance para o relógio na parede atrás dele, confirmando as horas. — Foi um longo dia.

— Pode apostar que foi — ele passou a mão pelo pescoço, parecia cansado também, e ligeiramente preocupado. — Estou indo para sua casa. Quer carona?

— Claro. Só preciso trocar de roupa.

— Te espero aqui.

Corri até o vestiário para colocar de voltar ao corpo minhas roupas habituais, e voltei até Emmett. Fomos em silencio até a entrada, onde o carro dele foi trazido e entramos em silencio.

— Rosalie disse que está cogitando tirar uma carta — comentei após alguns minutos de silencio dentro do carro, querendo quebrar a tensão. — Foi você que colocou isso na cabeça da minha irmã?

— Não. Eu incentivei quando ela me contou que estava pensando naquilo, mas a ideia partiu dela.

 — Você está devolvendo a confiança dela — bati no ombro dele, satisfeito. — Obrigado por isso.

— Eu não estou fazendo nada.

— Você está fazendo ela se sentir amada — revelei. — Não sabe o quão poderoso isso é.

— Acho que sei, sim — o sorriso dele era constrangido, porém sincero.

— Fico feliz que tenham se encontrado.

— Fico feliz de termos nos encontrado também — disse ele, e me olhou. — E você?

Eu desviei o olhar para a janela, mirando o retrovisor e batendo os dedos no vidro.

— Pode me deixar na mansão, se não se incomodar.

— Não foi isso que eu perguntei — respondeu, mas fez o caminho até a casa de Bella.

Como Emmett estava indo buscar as garotas para sair de novo, eu não queria ir para aquela casa vazia e me sentir sozinho novamente. Eu me sentia mais em casa com os diversos funcionários de Bella do que no imóvel no qual estava morando naquela época.

Emmett fez o que eu pedi e me deixou na entrada da casa da irmã dele antes de rumar para a minha própria em busca da minha irmã. Não havia ninguém na sala quando entrei, os funcionários faziam um bom trabalho em não serem vistos.

Pude sentir o cheiro bom que comida recém-feita assim que andei até a cozinha. Felícia estava lá, mexendo em três panelas ao mesmo tempo enquanto mais algumas tigelas a aguardavam na pia próxima.

— Hmm... Será que cabe mais um na mesa de jantar hoje?

Ela se virou para trás, surpresa ao me ver escorado no batente da entrada.

— Edward! — Felícia abandonou as panelas por uns instante para me abraçar. — Que bom te ver, menino, mas Bella ligou avisando que ela e Eden só voltam amanhã cedo.

Cici me chamando de menino sempre rejuvenescia meu espírito. Roubei um bolinho de arroz da pilha dos que ela estava fazendo e levei um tapa por isso.

— Elas voltam só amanhã? — me coloquei ao lado dela e comecei a cortar os tomates repousados sobre a tábua, feliz por Bella ter aceitado o meu conselho e ter decidido não dirigir a noite. — E, a propósito, ai.

— Se você ficar comendo antes, não rende — relhou comigo, e voltou para suas panelas com naturalidade. — Por que veio pra cá?

Não a olhei para responder. Nem eu mesmo sabia. Não era apenas a sensação estranha de vazio que a casa nova me dava, mas também algo relacionado com a impressão de estar mais perto de Bella dentro da mansão. Era a casa dela, afinal.

— Está reclamando? — brinquei.

Ela bateu com o pano de prato em mim.

— Claro que não, garoto, deixe de ser bobo.

Continuei picando os legumes, calado. Felícia mexia um arroz bem refogado e virava alguns filés na grela ao lado. Trabalhamos em silêncio por algum tempo, com Felícia assoviando uma música levemente familiar.

Ela sabia que eu podia notar seus olhares de esguela para mim.

— Vai falar o que quer ou ficar aí parado só me atrapalhando?

Olhei para ela com cara de ofendido, interpretando a segunda frase de sua sentença.

— Estou cortando legumes perfeitamente simétricos!

— É, e está demorando demais para isso. Me dá aqui — ela tirou a faca das minhas mãos e me empurrou para o lado, tomando o controle e começando a ficar os vegetais tão rápido quanto uma máquina, mal dava pra ver a faca descendo. — Agora, fale.

— Como sabe que...

— Eu vivi o suficiente pra saber quando tem algo incomodando as pessoas, meu querido — ela ofereceu um sorriso bondoso, compreensivo.

Suspirei.

— Estou preocupada com Bella e Eden, Cici — finalmente confessei, nervoso por ela pensar que eu estava louco também. — Essa viagem... Eu não sei. Deve ser coisa da minha cabeça.

— O que acontece dentro da nossa cabeça também é real, mesmo que só para nós. O que está sentindo?

— Não sei exatamente. Estou preocupado, inquieto... Como se algo fosse acontecer.

Um sorrisinho de canto despontou nos lábios de Felícia. Eu ergui uma sobrancelha.

— O que?

— Acho fofo como você se preocupa com ela.

— É a minha filha. Como não me preocuparia?

— Não, não a Eden. Bella.

— Ah — cocei a nuca, um pouco sem graça. — E não deveria? Somos amigos.

Felícia fingiu rir enquanto misturava os legumes já cortados em uma tigela.

— Isabella não tem amigos. Não de verdade, não além da família dela.

— Claro que ela tem. E aquele tal de Jacob?

— Você fala como se o nome não fosse internacionalmente conhecido — ela riu. — Mas, ainda assim, quantas vezes você o viu nessa casa?

— Isso não é parâmetro — argumentei. — Ninguém vem nessa casa.

— Exatamente.

Parei para pensar naquilo. Eu podia contar nos dedos quem eu tinha visto frequentando aquela mansão dentro do tempo em que eu agora conhecida Bella. Fora sua família, apenas Cici, Seth e Leah. E agora, eu e minha irmã e sobrinha. Meses de convívio e eu não tinha visto sequer uma visita de fora por ali.

— Cici... — chamei, fazendo ela me olhar. — Por que ninguém vem aqui?

Ela voltou a mexer a panela, mas fez uma careta, como se estivesse se esforçando para encontrar as palavras certas a usar.

— Esse é o lar dela, Edward — ela começou, me deixando saber que era um assunto sério ao usar o meu nome. — E a Bella não é uma pessoa que confia, você sabe. E esse é o lar dela. Ela expõe a imagem dela ao mundo, mas o mundo dela é fechado pra visitação. E ela leva o espaço pessoal dela muito a sério — ela parou de mexer a panela e limpou as mãos no pano de prato em seu ombro para se virar para mim. — A primeira visita de vocês, quando vieram conhecer a Eden, eu entendi porque ela fez aquilo porque se sentia mais segura aqui, era um passo muito grande, mas ela precisava de um ambiente controlado. Por isso eu fiquei muito surpresa quando vocês continuaram a vir depois daquilo. Sinto que você entrou na vida da minha menina por um motivo.

Eu nunca tinha visto as coisas daquele jeito. Nunca tinha encarado a mansão como a fortaleza de Isabella, mas fazia total sentido. Ali fora onde eu a tinha visto ser mais ela mesma, sempre; onde eu mais a via rir, onde ele era mais suave, e o único lugar onde ela tinha aberto as defesas o suficiente para que acontece aquele... Beijo.

Sua casa era o lugar seguro da Bella, era uma analogia para o interior da própria. Talvez por isso eu me sentisse tão bem ali. Me sentia bem na casa como me sentia bem com Bella.

— Acho que ela me encarou como mais um dos funcionários — dei de ombros.

— Por quê ela te veria como funcionário? — ela me olhou confusa.

Gelei por um segundo, lembrando que Cici não sabia nada sobre o acordo e a grande farsa que tínhamos armado. Às vezes, até eu me esquecia.

— Acho que ela vê o mundo todo como funcionário dela — fui obrigado a dizer aquilo, mesmo que parecesse estar falando mal dela. Quis me bater por aquilo.

— Se vai ficar dizendo idiotices, paramos a conversa por aqui — Cici brigou. — Tem uns quinhentos empregados nessa mansão e ainda assim nenhum deles chega perto dela. Você nunca foi um empregado. E certamente é mais do que um amigo. Ela confia em você, Edward.

Fiz uma careta. Queria que aquilo fosse verdade.

— Duvido muito — foi o que respondi, lembrando-me da discussão daquela manhã.

— Eles nem te anunciam mais quando você chega, os seguranças. Sabe por que? — ela perguntou, e eu sinalizei que não com a cabeça. — Por que ela incluiu você, sua irmã e a sua sobrinha na lista de membros da família na gerencia do condomínio. São as pessoas que tem liberdade para entrar e sair quando quiserem — ela sorriu. — Acho que não preciso dizer que essa lista nunca teve nenhuma inclusão a mais desde que ela comprou a casa.

Fiquei surpreso com aquilo. Bella tinha nos incluído como membros da família para a gerencia do condomínio?

Por que ela faria aquilo quando estávamos tão distantes emocionalmente? Certo, eu tinha afastado ela em primeiro lugar, e talvez o meu pedido tenha sido ousado demais. Não havia nada que Bella amasse mais do que a filha naquele mundo, e se ela era tão superprotetora consigo mesmo, imagine então com Eden. Talvez o “vou pensar” dela já tenha sido uma abertura mais do que eu imaginava.

Eu estava ali, afinal, não estava? Dentro da cozinha dela, quando ela nem mesmo estava em casa. Ás vezes nem percebemos o tipo de liberdade que temos com as pessoas quando nos parece tão natural tê-la, mas cada abertura daquela significava muito. Eu precisava pegar mais leve com Bella, e conhece-la mais. Não sabia nem metade do que deveria saber.

Como Cici tinha voltado a mexer nas panelas, achei que não me diria muito mais, portanto voltei a ajuda-la com as tarefas culinárias, dessa vez apenas passando as coisas j[a prontas para os recipientes que estariam em cima da mesa.

— Alice virá para cá hoje? — perguntei após alguns segundos de silencio.

— Não que eu saiba.

— Pra que tanta comida, então?

— Seth e Leah sempre chegam com fome da aula.

Terminei de arrumar um ramo de salsa no meio do arroz branco na tigela e argui uma sobrancelha.

— Seth e Leah estudam? Pensei que trabalhassem aqui em tempo integral.

— Eles não mora aqui porque trabalham, ou trabalham pra morar aqui. Eles trabalham porque se recusaram a ficar aqui sem fazer nada.

Parei de despejar os bolinhos de arroz na bandeja ao ouvir o que ela disse, subitamente curioso e ligeiramente confuso.

— Por que eles morariam aqui sem fazer nada?

— Porque Bella foi quem os resgatou do orfanato e os abrigou aqui quando não tinham pra onde ir.

— O quê? — perguntei, chocado. — Como assim?

— Longa história, querido.

— Não, não — tomei a colher que ela usava de sua mão, impedindo-a de continuar o trabalho. Ela me encarou brava, com as mãos na cintura. — Me conta isso direito. Toda vez que eu pergunto coisas a eles, fica todo mundo na defensiva.

— Me devolve a colher e eu conto enquanto terminamos isso aqui, ou a comida vai esfriar, garoto! — eu devolvi o objeto a ela, que pegou resmungando algo sobre distrações. — Leah e Seth vivia no mesmo orfanato que a Bella viveu, eram crianças ainda quando ela saiu. Há uns dois anos ela trouxe eles para morarem aqui quando soube que o Seth estava saindo por ter atingido a maior idade, e que não tinha pra onde ir.

— Como ela ficou sabendo disso? — perguntei, pensando se Bella mantinha contato com o orfanato. Quando Esme levara as garotas para visitar um, ela parecia completamente avessa ao lugar.

— Esme. Você que ela fazendo doações e reformas gratuitas a orfanatos — eu assenti, Cici continuou. — Ela voltou lá para fazer umas doações e ficou sabendo. Bella se lembrou dele, e não se aguentou quieta até que eles estivessem aqui. Leah já tinha saído uns anos antes e estava morando nas ruas, pra onde Seth iria, e Bella foi atrás dela também. Ela é cabeça dura, essa menina, demorou pra aceitar a ajuda, mas não queria ver o irmão caçula naquela situação, então fez Bella aceitar em contratá-los como empregados, ao invés de apenas hóspedes, para não parecer caridade — Felícia riu, perdidas nas lembranças, mas com um sorriso amoroso no rosto. — E Bella concordou coma condição, mas impôs uma outra: que eles estudassem, e não só trabalhassem. Ela custeia os estudos dos dois, e o trabalho é quase um estágio pra eles, já que Leah está fazendo Pedagogia e Seth, Paisagismo...

Ela continuou falando, mas eu já não estava ouvindo, surpreso demais com a descoberta. Eu não deveria estar tão surpreso. Quer dizer, eu sabia que Bella era uma pessoa boa, mas aquilo deixava claro que sua essência estava bem menos enterrada do que eu pensei que estivesse.

Então, no dia da praia, quando Bella estava preocupada com as ‘tarefas deles’, ela estava falando dos trabalhos acadêmicos, e não do trabalho doméstico. Ela estava sendo responsável, e não cruel. E eu fui um idiota julgando suas ações sem saber de nada do que realmente acontecia ali.

Evitei tocar no assunto quando Seth e Leah finalmente chegaram das aulas, já tarde da noite. E nenhum dos dois comentou o fato de eu estar ali, sozinho, naquele horário, o que claramente significava que eu dormiria ali, mesmo sem Bella ou Eden presentes. Leah certamente tinha notado, mas sabia ser discreta. E Seth estava tão faminto que não ligou para mais nada além da comida, distraído demais com ela. Felícia também não rompeu meu silencio reflexivo, concentrando-se em alimentar aqueles a quem se dedicava em cuidar. E eu fiquei ali, participando com eles da cena que, de certa forma, representava um lado de Bella que ela mantinha escondida, mas que queria dizer muito.

Eden me ligou antes de dormir, para me desejar boa noite e dizer que já estava com saudades, mas sua mãe não quis falar comigo, o que talvez tenha sido uma boa coisa, porque eu não me aguentaria se falasse com ela me sentindo como estava. De madrugada, pensei tanto em tudo o que eu tinha escutado e visto, em tudo o que poderia significar. Pensei tanto sobre ela que mal pude dormir, lembrando do seu sorriso, repassando nossas conversas... Era tão estranho. Ela não estava ali, mas parecia mais presente do que nunca.

Quando finalmente dormi, sonhei que a beijava novamente.

Eu estava um trapo de sono pela manhã, porém sorrindo.

— Por que parece que alguém te deu uma marretada na cabeça, mas você ficou feliz com isso? — Seth perguntou quando me apresentei na cozinha na manhã seguinte.

Eles já estavam tomando café, Seth, Leah, Felícia e Emmett, que eu não tinha visto na noite anterior ante de me recolher. Todos relaxados, uma vez que a ausência de pessoas os deixava sem muito o que fazer. Me sentei ao lado de Leah e peguei um pãozinho.

— Talvez ele tenha tido bons sonhos — Leah insinuou com malicia na voz.

— Calados — eu disse, mas ri junto com eles.

— Se está na defensiva é porque é verdade — Emmett ajudou na provocação.

Eu olhei pra ele por cima do meu pãozinho, desconfiado. Se ele tivesse dormido na casa dele, não se daria o trabalho de dirigir até aqui só para tomar café.

— Você dormiu na minha casa? — fiz a pergunta de uma maneira menos direta do que o que eu realmente queria perguntar, tentando soar despreocupado.

— Não — a maneira como respondeu me deixou claro que ele tinha entendido a pergunta real. — Chegamos bem tarde, mas eu deixei Rose e Nick em casa e depois vim pra cá.

Não respondi, mas aprovei a atitude com um gesto de cabeça. Emmett provava a cada dia mais que era a pessoa a quem eu finalmente poderia confiar a minha irmã, e relaxar sobre isso. Por muito anos eu tive que ficar atento a qualquer homem que se aproximava dela, e ainda era um pouco inseguro sobre qualquer um deles perto da minha irmã.

Meu celular tocou em cima da mesa, e a foto de Bella apareceu no visor. Demorei um pouco para entender, observando a foto. Não era uma das imagens genéricas que apareciam quando você digitava o nome dela no google; era uma foto autêntica, que tirei quando ela estava distraída em um dos dias no estúdio. A qualidade não era muito boa, já que a câmera do meu aparelho não era das melhores, mas não diminuía em nada a beleza dela.

— Argh, atende logo isso — rosnou Leah, irritava pelo barulho. — E vê se muda esse toque de zé mané.

— Você é tão delicada — ironizei e peguei o aparelho, deslizando o círculo verde para cima. — Oi, princesa.

— Essa é nova — a voz de Bella foi quem me respondeu do outro lado, me surpreendendo.

— Desculpe, pensei que era a Eden — eu ri sem graça pela confusão. — Está tudo bem?

— Sim, ela está dormindo no banco de trás. Ainda estamos na estrada, mas já perto da entrada da cidade.

— Eu não perguntei só dela — respondi, notando como a voz dela parecia estranha, um pouco embargada. — Você está bem?

Ela pigarreou antes de me responder.

— Estou.

— Não mente — pedi. — O que aconteceu? Por que me ligou?

— Tem coisa demais na minha mente agora — ela admitiu, soando como se tivesse desistindo de tentar parecer outra coisa. — Eu queria ouvir a sua voz.

Eu não soube o que responder. Ela parecia estar prestes a chorar no telefone, e eu queria na verdade poder estar no carro com ela para abraçá-la. Talvez dizer que eu tinha sonhado com ela. Ou talvez apenas aproveitar sua companhia em silêncio para não tornar o desconforto entre nós maior ainda. Ou não. Ela tinha me ligado de dentro do carro durante o percurso, então talvez também tivesse pensado em mim durante a noite. Ou pelo menos era o que eu gostaria que tivesse acontecido.

— Esquece, Edward — ela interpretou o silencio da maneira errada. — Eu não devia ter lig...

Um barulho horrivelmente cortante de pneus derrapando a interrompeu.

— Bella?! — me levantei da mesa, aflito, sentindo a mesma sensação do dia anterior tomando conta de mim.

Buzinas altas cobriram qualquer outro som que tentasse ser emitido, porém ainda assim pude ouvir ela gritar, e então a ligação caiu.

Bella! — gritei para o telefone mudou, sentindo um desespero crescente.

— Edward, o que foi? — Emmett me questionou, já de pé.

— Eu acho — passei a mão pelo cabelo, perdido e com o coração afundando no peito. — Acho que Bella e Eden sofreram um acidente.

{...}

BELLA

Eu tinha ido poucas vezes até aquele lugar, uma vez que grande parte das gravações eram feitas nos estúdios localizado em por Los Angeles mesmo. Mas a sede da J.J. Records ficava em San Diego, grande centro comercial onde Jenks estava agora e para onde estava me fazendo ir.

— Eu acho bom ser importante — entrei na sala de Jenks sem ser anunciada, arrastando Edeline pela mão e extremamente irritada.

Ela se desvencilhou de mim rapidamente, já acostumada com aquele tipo de coisa, e se empoleirou no sofá com um tablete na mão, concentrada em um desenho. Encarei meu produtor do outro lado da mesa com os braços cruzados. Me encarando de volta, sentado à frente dele, estava a presença detestável de Mike Newton.

— Isa!

— Se abrir a boca pra fingir que tem intimidade comigo, pode ir parando por ai.

— Pode ser civilizados, por favor? Essa briguinha de você é a causa desta reunião — Jenks apontou para a cadeira ao lado do Newton. — Sente-se, por gentileza.

Bufando, arrumei a bolsa no braço e me sentei irritada. Dirigir por duas horas só para ver a cara de Mike Newton não era bem o que eu planejava para aquele dia

— Não vou fazer você perder seu precioso tempo, Isa. Vocês dois — ele gesticulou para mim e Mike. — Estão me fazendo perder dinheiro. Isso tem que acabar. Agora.

Argui uma sobrancelha, cética. Não gostei nada do tom de voz dele.

— Como, exatamente?

— Essa briguinha de vocês. Isabella, você negou para uma entrevista ao vivo qualquer tipo de envolvimento com o Mike!

— É porque não existe nenhum tipo de envolvimento!

— Mas os fãs não sabem disso! — Jenks exclamou. — As fantasias que eles alimentam fazem parte do negócio, é o que mais movimenta o mercado. Vocês acham que a parceria na música é só enfeite? Isso atrai o grupo de fãs dele a comprar um algum seu, também. Eu gastei muito dinheiro em divulgação nesse álbum, muito mesmo, e não vou aceitar perder nenhum centavo da margem de lucro esperada para o lançamento.

— O que isso significa? — perguntei, com medo da resposta.

— Vocês precisam acalmar os fãs, está tudo um caos e até mesmo so seus seguidores estão começando a te questionar, Isa! Não pode ter esse tipo de atenção para sua vida pessoal.

— Não posso ter uma vida pessoal, é o que está dizendo?

— Em público, não.

A minha vontade foi responder “Jenks, com todo respeito, vá a merda” e levantar e sair dali. E era o que eu deveria ter feito, era mesmo. Mas me lembrei da emaça que tinha feito no telefone e então, ao invés disso, eu disse:

— E o que sugere que façamos?

— Que bom que perguntou. Mike deu uma solução muito boa para o problema. Mike?

— Vamos dizer que você estava brava no dia da entrevista e que tínhamos tido uma briga, e quase terminamos. Enquanto isso, assumimos um namoro publicamente — o idiota sorria ao dizer aquilo, como se fosse acontecer.

— Você só pode estar delirando — eu ri em deboche, e olhei para o nosso produtor. — E você, Jenks, se acha que é uma possibilidade.

— É uma possibilidade que vai acontecer — ele afirmou, categórico. — É o único modo de reverter o que você fez, Isabella. Ou assumem um namoro para a mídia, ou eu cancelo esse lançamento. Não vou ficar no prejuízo.

— Se cancelar esse álbum vai ter que me pagar uma grana alto por quebra de contrato — ameacei.

— Se eu lançar com a mídia do jeito que está, não teremos vendas suficientes e eu, além de toda divulgação, terei o enorme prejuízo da turnê que viria a seguir. E você, fica sem álbum e sem produtora. A escolha é sua.

Gelei ao perceber que ele tinha razão. Todo álbum era um investimento a longo prazo, cujos frutos e retornos só eram colhidos depois das vendas. Haviam contratos assinados sobre aquela turnê após o lançamento, cuja quebra de contrato daria prejuízos menores do que pagar toda estrutura da turnê e não ter retorno sobre ela. E ficar sem produtora significaria uma dor de cabeça enorme e uma pausa na minha carreira musical, e eu não queria aquilo.

Mas, um namoro falso? E com Mike Newton? Meu estômago enjoava só de pensar e minha cabeça começou a doer. Por algum motivo, a voz de Edward soou na minha mente me dizendo o quanto aquilo parecia errado.

— Eu preciso pensar.

— Não temos tempo para pensar — Jenks me pressionou. — O álbum sai em uma semana, quero a resposta agora.

— Jenks, você me fez sair às pressas de casa pra chegar aqui e me dar um ultimato para o qual eu absolutamente não estava preparada! — me levantei da mesa brava, apontando um dedo para ele. — Se eu estou dizendo que eu vou pensar, é porque eu vou pensar. Amanhã eu te dou uma resposta.

Chamei Eden, que rapidamente pulou do sofá, e saímos.

Mike ficou lá enquanto eu saía, sentado na poltrona à frente da mesa de Jenks, rindo como um babaca como se tivesse ganhado algum tipo de apostas. Ainda teve coragem de me dar ‘tchauzinho’ com os dedos.

Graças a Edward eu tinha desistido de voltar naquele mesmo dia, já tinha escurecido e talvez fosse mais responsável não pegar estrada a noite com a cabeça quente e uma criança no banco de trás, então nos hospedamos em um hotel.

Dispensei Felix e Dimitri, uma vez que eu não os tinha avisado sobre a noite fora. Eles tinham vidas, e eu podia cuidar de mim mesma por uma noite, de forma que eles voltaram para a cidade. Apressei em dar um banho na minha criança e colocar ela na cama de casal que dividiríamos o mais rápido possível. Pretendia sair bem cedo no dia seguinte.

— Mamãe disse que amanhã — Eden estava pendurada no telefone com o pai quando eu sai do banho, secando o cabelo e já me aprontando para deitar — Eu também te amo. Espera — ela estendeu o telefone pra mim. — Ele quer falar com você.

Gemi de frustração. Minha cabeça ainda doía e meu humor estava péssimo. Eu não queria ser grossa com ele, ainda mais na frente de Eden, de novo.

— Diz que eu falo com ele amanhã.

— Ela disse que fala com você amanhã.

Terminei de me arrumar enquanto ela continuava falando com ele. Edward e toda a bagagem emocional e moral que ele trazia consigo próprio ainda me deixavam em pane, sem saber o que fazer ou como agir. Cortei meus pensamentos antes que tomassem um rumo perigoso, mas não tive sucesso. Edward tinha se tornado tão constante na minha vida que sua imagem não me abandonava nem mesmo naqueles momentos de decisão, quando eu tinha que pensar. Eu só ficava me pergunta o que ele faria se estivesse no meu ligar, porque eu sabia que isso seria o certo. Mas isso me levou a questionar o que ele estaria fazendo naquele momento, e depois a o que eu diria para a pergunta que ele tinha me feito, e disso a minha mente saltou sobre o que eu faria sobre tudo.

A noite foi extenuantemente longa, comigo não conseguindo pregar os olhos nem por um segundo. A dor de cabeça não me abandonou, e eu tive que me acostumar com ela conforme a noite esmaecia para dar as boas-vindas à luz do dia, quando eu me apressei em acordar Eden, agasalha-la e afivelá-la dentro do carro, em sua cadeirinha. A pobrezinha mal abriu os olhos durante todo o processo, cansada pela correria, em constou a cabeça na lateral da cadeira ao ser colocada ali e continuou dormindo. Talvez Edward estivesse certo, e fosse uma boa ideia começar a deixa-la com ele durante aqueles tipos de viagens exaustivas. Eu odiava como ele estava sempre certo.

She was driving last Friday on her way to Cincinnati on a snow white Christmas Eve
Going home to see her mama and her daddy with the baby in the backseat

Uma chuva torrencial caía quando adentrei na estrada para fazer o caminho de volta. Eu ainda precisava dar uma resposta a Jenks, mas não podia fazer aquilo sozinha. Eu precisava falar com Emmett, precisava falar com meus pais. Precisava falar com Edward.

Mas eu não queria falar com Edward. Eu não queria responder à pergunta que ele tinha me feito quanto à guarda de Eden. Eu não queria querer dizer sim como eu estava querendo, simplesmente porque eu sabia que aquele desejo vinha de um sentimento não racional, baseado em todo furação que o meu coração iniciava sempre que eu começava a pensar naquele homem.

O que ele pensaria de mim se eu aceitasse aquele ultimato absurdo de namoro falso? O que faria com o nosso relacionamento se eu tivesse que assumir Mike para o mundo? Aliás, que relacionamento? Não havia nada entre nós, ele tinha deixado aquilo claro. E, sendo assim, eu deveria abrir mão da guarda única da minha filha?

Fifty miles to go, and she was running low on faith and gasoline
It'd been a long hard year

Como a minha vida tinha chegado naquele ponto? Como eu fiz uma confusão tão grande com tudo? Com a minha carreira, com a minha família, com a vida da minha filha, com os meus próprios sentimentos? Além de uma possível quebra de contrato e turbulência com os meus fãs, das decisões impossíveis que estava me obrigando a tomar sobre a guarda da minha filha e a um namoro de fachada, um possível bandido perigoso atrás da minha cunhada e tudo o mais, eu ainda não esquecia que estava mentindo para os meus pais e para a minha filha. As pessoas que eu mais amava no mundo.

E mesmo assim com tudo isso, com toda aquela confusão, meu peito subia e descia com peso ao sequer cogitar pensar em aceitar as condições de Jenks. De ceder a Mike e salvar a minha carreira. Por que? Porque a voz de Edward continuava martelando na minha cabeça dizendo que seria errado. Que Deus não ia ficar feliz com aquilo.

Sim, porque aparentemente agora eu ligava para o que Deus pensava. E algo dentro de mim não queria desapontá-Lo. Edward continuava repetindo que Ele me queria mesmo sendo quem sou, fazendo o quis já fiz. Que eu ainda tinha uma chance. A bíblia que ele tinha me dado dizia a mesma coisa, e eu estava começando a acreditar. Eu não estava pronta para aquela chance e eu não queria aceita-la, mas no fundo era bom saber que ela estava ali. Me envolver em uma mentira tão grande não poderia extinguir aquela chance?

She had a lot on her mind, and she didn't pay attention
She was going way too fast

Droga, não era com nada daquilo que eu deveria estar preocupada!

Antes que eu me desse conta, estava discando o número de Edward no celular? As ruas estavam vazias e eu mantinha o carro sob controle mesmo com a pista molhada. Lancei um olhar a Edeline, ainda dormindo no banco de trás, enquanto o telefone chamava algumas vezes.

Eu estava prestes a desligar quando ele finalmente atendeu.

— Oi, princesa.

A voz dele trouxe uma avalanche de emoções após uma noite inteira pensando nele, e subitamente me encontrei tendo de conter a umidade nos olhos para poder falar.

— Essa é nova — eu me forcei a ser casual, mesmo sabendo que ele tinha atendido pensando ser Eden ligando.

— Desculpe, pensei que era a Eden — ele riu. — Está tudo bem?

Olhei mais uma vez para a garotinha adormecida, parecendo um anjo ressonando. Tão parecida com ele que por um segundo duvidei que não tivessem o mesmo sangue.

— Sim, ela está dormindo no banco de trás. Ainda estamos na estrada, mas já perto da entrada da cidade.

Tentei soar despreocupada, não querendo preocupa-lo. Torci para que ele não me desse um sermão enorme por estar dirigindo enquanto falava ao celular.

— Eu não perguntei só dela — ele respondeu, fazendo meu coração disparar. — Você está bem?

Tive que pigarrear para responde-lo depois que um nó se formou em minha garganta.

— Estou.

Eu não sabia o que estava acontecendo, mas as minhas mãos tremiam no volante e o meu coração estava disparado no peito. Minha pele se arrepiou de repente, como que se preparando para algo e eu engoli seco.

— Não mente — pediu. — O que aconteceu? Por que me ligou?

Por que eu estou desesperada e preciso de conselhos. Porque eu preciso de você. E preciso que me diga o que fazer. Preciso que me fale mais sobre Deus e que me faça te entender. E porque eu precisava ouvir a sua voz.

— Tem coisa demais na minha mente agora — eu admiti, escolhendo dizer apenas parte da verdade. — Eu queria ouvir a sua voz.

Ele não respondeu, embora eu pudesse ouvir sua voz no telefone. Eu estava prestes a chorar e não queria deixa-lo saber daquilo. O nó na garganta estava aumentando, parecendo me sufocar, e tive que fechar os olhos por um segundo para conter o impulso de gritar.

Before she knew it she was spinning on a thin black sheet of glass
She saw both their lives flash before her eyes
She didn't even have time to cry
She was so scared
She threw her hands up in the air

— Esquece, Edward — ela interpretou o silencio da maneira errada. — Eu não devia ter lig...

Eu nunca pude completar a minha frase. Um segundo de olhos fechados foi o suficiente para eu não notar um guaxinim que se aproximava da pista e eu gritei ao girar o volante para o outro lado com toda a força, fazendo o pneu derrapar na pista molhada fazendo um barulho horrível.

Enquanto as imagens borradas que o carro girando na pista produziam na minha visão, me lembrei vagamente da voz de Edward dizendo que talvez fosse mais seguro manter Eden em Los Angeles. Eu deveria tê-lo ouvido.

Não dizem que a sua vida passa como um filme em uma experiência de quase-morte? Não é verdade. Você não vê tudo. Apenas as coisas que você ama. E tão rápido quanto um flash, naquele segundo, eu vi a imagem da minha filha correndo na minha direção sorrindo, eu vi os meus irmãos me jogando para o alto em uma festa, eu vi meus pais abraçados na minha frente dizendo que eu iria com eles para casa, e eu vi Edward. Vi Edward em todas as maneiras possíveis, e em cada memória, agora embaçada pela adrenalina e medo sufocante que tomava conta de mim, havia um brilho, uma luz.

A luz me chamou, e eu ouvi.

— Jesus! — eu gritei, sentindo o medo fechar as mãos em torno da minha garganta, quase me impedindo de falar. O carro ainda girava, tudo em câmera lenta enquanto eu pensava em Eden ao sentir todas as minhas defesas caindo ao implorar: — Toma esse volante e me salve dessa estrada!

Foi quando o flash de luz me cegou, me calando.

Jesus, take the wheel
Take it from my hands
'Cause I can't do this on my own
I'm letting go
So give me one more chance
And save me from this road I'm on
Jesus, take the wheel


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Notas finais do capítulo

Eu não consegui editar, então desculpem qualquer erro. Se encontrarem algum, avisem que eu corrijo.
Por causa da correria, também não consegui deixá-lo exatamente como eu queria, mas eu precisava (e devia) um capítulo a vocês.

Meus amores, obrigada por todo apoio, animação, cobranças e suporte em 2018. Espero que o ano de vocês tenha sido bom, e desejo que Deus abençoe o 2019 de vocês. Esse será um ano de sonhos, de conquistas, de produtividade, de cumprimento de promessas, e de terminar essa fanfic e começar outras, em nome de Jesus!

Lembrem-se: se você pode sonhar, Deus pode realizar!

Feliz ano novo!

B ♥


Tradução da letra no capítulo:

Ela estava dirigindo sexta passada pra Cincinnati
Numa noite branca de véspera de natal
Indo pra casa ver sua mãe seu pai, com seu bebê no banco de trás
50 milhas ainda faltando e ela estava com pouca esperança e gasolina
Teria sido um longo e difícil ano

Ela tinha muita coisa na mente e não prestou atenção
Que estava indo muito depressa
Antes que se desse conta ela estava girando num fino lençol preto de vidro

Ela viu suas duas vidas ante de seus olhos
Ela nem teve tempo pra chorar
Ela estava tão apavorada
Que ela jogou suas mão pro céu

Jesus, tome a direção
Tire de minhas mãos
Porque não posso fazer isso sozinha
Estou me entregando
Então me dê outra chance
De me salvar dessa estrada em que estou
Jesus, tome a direção