Lord's Princess escrita por Brigadeiro


Capítulo 19
18 - Eu sei bem aqui dentro que você não Me esqueceu


Notas iniciais do capítulo

Caso você esteja se perguntando, não, isso não é miragem. Eu tô postando mesmo. Nem sou um fantasma, também.

A boa noticia é que eu não morri, e se vocês me perdoarem posso continuar viva pra escrever mais capítulos enormes como esse pra vocês.

Nos vemos lá embaixo,

B ♥



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"Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo. Tudo isso é feito por Deus, o qual, por meio de Cristo, nos transforma de inimigos em amigos dEle. E Deus nos deu a tarefa de fazer com que os outros também sejam amigos dEle. A nossa mensagem é esta: Deus não leva em conta os pecados dos seres humanos e, por meio de Cristo, Ele está fazendo com que eles sejam seus amigos. E Deus nos mandou entregar a mensagem que fala da maneira como Ele faz com que eles se tornem seus amigos. Portanto, estamos aqui falando em nome de Cristo, como se o próprio Deus estivesse pedindo por meio de nós. Em nome de Cristo nós pedimos a vocês que deixem que Deus os transforme de inimigos em amigos dEle. Em Cristo não havia pecado. Mas Deus colocou sobre Cristo a culpa dos nossos pecados para que nós, em união com Ele, vivamos de acordo com a vontade de Deus."

— 2Coríntios 5:17-21

 

Eu queria não ser tão curiosa.

Apesar de toda a frustração e confusão na minha mente e sentimentos, minha crescente curiosidade aliada com uma forte teimosia, me fizeram ler várias páginas da Bíblia que Edward me dera. Bem, talvez o fato de ter sido ele a me dá-la tivesse ajudado também.

Grifei aquela parte da Bíblia bufando após ler aquela passagem, na terça-feira pela manhã. Passei a mão pela cabeça, já irritada pela dor de cabeça que ameaçava dar as caras logo pela manhã. Eu estava na parte de trás da casa, no jardim, tomando um suco de café da manhã, lendo e tentando entender aquela passagem confusa.

Eu tinha me questionado incessantemente sobre como Deus, que eu já estava quase decidida de que realmente existia, podia querer ou sequer gostar de alguém orgulhosa, rebelde, teimosa, preconceituosa e grosseira. Eu tinha ciência de que a criança pobre e maltratada que um dia eu fui não era a mesma mulher que os Cullen criaram. Eu tinha me tornado aquilo, conscientemente e por escolha própria, ao prometer a mim mesma que nunca mais alguém faria eu me sentir indesejada, rejeitada, fracassada ou inútil como meus pais tinham feito eu me sentir na infância. Que nunca mais eu perderia o controle da minha vida, e que tudo a partir do momento em que eu cheguei à casa dos Cullen, daria certo. Eu determinei aquilo no meu coração e havia sim deixado o orgulho e a arrogância tomar conta quando consegui. Eu tinha o controle da minha vida, da minha carreira, da minha casa, da minha filha. Tudo andava conforme eu queria que andasse e eu gostava daquilo. Amava o poder. Amava ser amada por outros milhões de pessoas. Amava que todos me obedecessem e até que alguns tivessem medo de mim.

Por toda a minha vida eu tinha feito de Deus um inimigo. Culpando-O inconscientemente por cada coisa errada que acontecia, mas nunca reconhecendo-O pelas coisas boas. E me negando a pensar na existência dele.

Mas, apesar de todos esse fatos, Deus me indicava a cada vez mais que Ele me queria. Como? E por quê? Talvez porque eu tinha muito dinheiro e assim poderia fazer mais coisas para Ele. Talvez pela influencia que a minha imagem tinha. Eu não sabia dizer. Ou, a minha razão não conseguia aceitar um motivo lógico. Aquele livro em minhas mãos, porém, me dizia com palavras claras que Ele queria me transformar de inimiga em amiga. Eu tinha uma extensa lista de pecados de estimação, Ele sabia com certeza de cada um, e estava escrito ali que Ele não estava levando nenhum deles em conta ao me querer como amiga. Ele estava pedindo por isso.

A última linha fervia na minha mente. Cristo, que diziam ser o filho de Deus, tinha levado a culpa pelas coisas que eu havia feito?! Por que Ele faria algo assim? Parecia irracionalmente injusto, tanto que aquilo gritava dentro de mim. Mas o próprio texto respondia: “... para que nós, em união com Ele, vivamos de acordo com a vontade de Deus”.

Viver a vontade de Deus. O que raios era a vontade de Deus afinal?

— Bella? — a voz de Felicity me despertou dos meus pensamentos. — Posso retirar?

Ela olhava para a bandeja na mesinha ao meu lado, com um prato onde restavam apenas farelos de pão e um copo com um restinho de suco no fundo. Fechei a Bíblia, cansada, e guardei-a dentro da bolsa já posicionada no chão.

— Pode sim, Cici. Obrigada — eu estava usando muito aquela palavra ultimamente, percebi.

Ela pegou a bandeja da mesinha, mas sem nunca tirar os olhos de mim.

— Você está bem, Bella? Parece cansada, querida.

Sorri para Cici, a única empregada daquela casa que tinha não só a minha consideração como o meu respeito também. Porque eu ainda a mantinha em serviço? Porque eu não pagava férias prolongadas para ela por todo o cuidado que ela já tinha tido comigo e com a minha família? Ela bem que merecia.

— Só com um pouco de dor de cabeça, obrigada por se preocupar.

— Você estava lendo-a? — ela lançou um olhar para a bolsa, eu tinha acabado de guardar a Bíblia.

— Estava — admiti.

— Isso é bom — ela sacudiu a cabeça. — Mantenha o coração e a mente aberta, sim? Você vai ver que a vontade d’Ele é só o melhor para você.

Ela passou a mão carinhosamente pela minha bochecha e deixou o jardim, me deixando de boca aberta. Parecia como um jogo de perguntas, cada vez que uma delas se infiltrava em minha mente, a resposta surgia rapidamente por algo ou alguém sem que eu precisasse expressar em voz alta. Muitas vezes insatisfatoriamente e até de maneira confusa, mas apareciam.

Sacudi a cabeça para tentar limpar a mente, logo fazendo uma careta pela dor que se alastrou. Eu estava estressada demais para o meu próprio bem.

Peguei a bolsa e atravessei a mansão em direção à saída, para ir até o estúdio. A casa estava quieta demais aquele dia. Os empregados eram discretos como sempre, Alice tinha decidido voltar para sua casa por alguns dias para ter mais privacidade sem mamãe em cima dela a todo instante, Emmett estava com Rosalie e minha filha tinha ido dormir na casa de Edward na última noite. Desde que tinha descoberto que Emmett levaria Nick para passear ontem pela manhã, ela insistiu em ter um dia com o próprio pai também e acabou dormindo por lá. Eu não impedi, afinal era para momentos como aquele que tínhamos feito Rosalie e Edward se mudarem para uma casa nova. Eu ainda me sentia sozinha sem tê-la por perto, mas ela estava segura. Eu a encontraria no estúdio em alguns minutos, Edward a levaria até lá.

— Bom dia, Srta. Cullen — disse Dimitri, ao abrir a porta do carro para mim. Edward tinha me feito parar de chama-los de Coisa 1 e Coisa 2, ou até mesmo Tico e Teco. Nada além de seus próprios nomes era aceitável agora.

— Bom dia, Dimitri — respondi automaticamente. Entre no banco do motorista e Dimitri fechou a porta, indo para o seu próprio carro que seguiria o meu. Felix estava com Eden, é claro.

Liguei o ar condicionado do carro em uma temperatura fria, para tentar me deixar mais alerta. Eu não tinha conseguido dormir direito por aquela noite. Nem pelas duas noites anteriores.

Todos aqueles questionamentos permaneceram na minha mente e, quando eu estava a sós, não conseguia evita-los. Por aquele motivo, me esforcei para ter o que fazer na maior parte do meu tempo daqueles últimos dias, me ocupando com toda a burocracia da Charm que eu tinha deixado acumular a meses, imprensa me cobrando por mais entrevistas, imprevistos relacionados ao meu novo álbum, cenas do filme que precisaram ser gravadas e um possível contrato para uma série de TV. Acabei descobrindo que quando eu não queria pensar em alguma coisa, eu acabava sendo bem produtiva em relação a minha carreira.

Mas eu também tinha que me preocupar com Edeline agora, que nunca tinha sido um problema para mim antes. Agora, entretanto, ela estava sendo bem teimosa com relação a um casamento entre mim e Edward, e sempre querendo absolutamente tudo que fosse comprado ou feito com Dominique também. Elas continuavam unidas como boas primas, mas o ciúmes de Eden era um companheiro constante agora. Eu não sabia como ser uma mãe rígida, eu só sabia ser a mãe que dava tudo o que ela queria e isso estava deixando cada vez mais evidente o estrago no caráter dela. Considerei matriculá-la em uma escola, mas ainda era apenas uma ideia.

Estacionei o carro na frente do estúdio e dei a chave ao manobrista, entrando logo em seguida. Eu estava ansiosa para ver Eden.

— Bella! — meu pai me interceptou assim que me viu. Ele estava com uma pilha de papéis nas mãos e parecia agitado. — Querida, que bom que chegou. Esse lugar está um caos hoje.

Assenti, observando um grande número de atores já com figurino pronto, alguns assistentes de palco correndo e carrinhos sendo empurrados pelos cantos. Fora o remake de Orgulho e Preconceito, a Cullen Production’s tinha mais nove filmes já em fase de gravação, três prestes a serem lançados, uns sete ou oito em período de projeto e mais algumas séries em andamento. Carlisle era o diretor de sete desses filmes, os outros estavam nas mãos também competentes de outros quatro diretores que trabalhavam no estúdio. As séries tinham seus próprios diretores e atores. Como eu estava tentando dar mais atenção a minha carreira musical naquele momento, o único filme em que eu estava no elenco era OP, que já estava quase encerrando as gravações, ou minha agenda ficaria sobrecarregada.

— Estou vendo — respondi, já pegando meu celular vibrando na bolsa. — Tenho duas cenas hoje, certo?

— Apenas uma. Kate cancelou a gravação com ela hoje, por assuntos pessoais, remarcaremos essa semana ainda.

— Vou deixar espaço livre na agenda — informei, já olhando para a tela do celular.

“Bella, onde você está? Estou no estúdio, no escritório do papai. Me encontre aqui o mais rápido possível,

— Emm.”

— Ah, seu irmão está no meu escritório te esperando e temos uma reunião de equipe na hora do almoço.

— Sim, ele acabou de me mandar uma mensagem — fiz uma careta ao saber que não poderia almoçar direito. A Equipe, ou Equipe Isa, consistia em mim, Emmett, Alice e Carlisle. Minha família toda organizada a cuidar da minha carreira, eu não confiaria em ninguém mais para isso. Suspirei, guardei o celular e dei um beijo na bochecha de Carlisle. — Vou ver o que Emmett quer. Bom dia, pai.

— Bom dia, filha. Nos vemos mais tarde.

Fui apressadamente até o escritório de Carlisle, nos fundos do estúdio. Por todo o caminho fui olhando ao redor para ver se via Edward ou Edeline por aí, mas não tive sorte. Ao chegar na grossa e elegante porta de mogno, entrei sem nem bater.

Meu irmão estava sentado na cadeira do nosso pai, olhando freneticamente para a tela do computador. Ele parecia muito preocupado. Joguei a minha bolsa no sofá audivelmente, deixando Emmett saber que eu estava ali e em seguida fui até a geladeira me servir com um copo de água. Eu já estava prevendo a confusão que seria aquele dia, mas nem sequer fazia ideia da dimensão.

— O que está havendo, Emm?

— Olha isso — ele apontou para alguns papéis na impressora, que eu prontamente peguei. Eram três reportagens que ele mandara imprimir.

A primeira dizia respeito a mim e Mike. Havia uma foto no topo, ilustrando uma foto minha com Mike sendo rasgada ao meio, e em seguida uma de Edward sorrindo na entrevista do GS.

“NOVO PARTIDO ARRUINA NOIVADO. SERÁ?

Isa Marie negou qualquer envolvimento com Mike Newton, deixando multidões de fãs insatisfeitos. Ao mesmo tempo, o jovem Edward Masen assume paternidade da criança mais amada da América. Hum... Será que Edeline foi mesmo uma produção independente? Há quanto tempo o Sr. Masen tem estado na vida de Isa Marie? Os fãs estão irados, os curiosos estão atentos, qual a verdade sobre o que anda acontecendo na vida da Isa?”

Me sentei na cadeira a sua frente e joguei o primeiro papel de lado. A matéria era datada de apenas um dia depois da entrevista, há mais de duas semanas atrás. Eu já sabia de como os fãs estavam alterados e inquietos com as ultimas noticias. Emmett tinha estado concentrado em Dominique nesse período, de forma que ele ainda não sabia de todo esse alvoroço.  Eu precisava atualizá-lo sobre o que andava acontecendo na minha carreira agora que as coisas se acalmaram. Ainda mais porque eu me recusei a dizer qualquer palavra a mais, assim como todos da minha família ou da família de Edward. Estávamos nos mantendo no escuro de proposito para ver se as coisas se acalmavam.

Passei para o próximo artigo, cuja data era de ontem. Arregalei meus olhos ao ver a foto estampada na matéria. Era Edward, brincando com Edeline na água da praia, erguendo-a para cima e rindo, ao lado dele Emmett tinha Dominique nos braços.

“O PAPAI DA AMÉRICA

Não faz muito tempo que descobrimos que a nossa princesinha Edeline Cullen tem um pai presente. E ele é gato! Todos ficaram curiosos ao saber da novidade, porém temerosos. Já outros, ficaram bravos pelo novo papai do pedaço ter possivelmente sido o motivo do rompimento de Isa com Mike. Mas parece que não precisávamos nos preocupar. Olha só as fotos que vazaram hoje da pequena Edeline brincando com seu pai. Fontes afirmam que a foto foi tirada na praia de Santa Monica, localizada logo atrás da mansão onde a cantora Isa Marie mora com a filha. Não é a primeira vez que flagramos o bom moço no local. Sorte para Eden! E talvez, para Isa também, será?

Abaixo, vejam mais fotos da nova família feliz na praia”.

Haviam várias fotos anexadas. Fotos recentes do nosso dia na praia. Fotos particulares. Tiradas um local particular. Sem o meu conhecimento ou autorização.

— Mas o que é isso?! — exclamei, já vermelha. — Emmett, isso são fotos particulares.

— Eu sei.

— Como conseguiram isso?

Apertei a ponte do nariz, irritada. Ninguém tinha registrado nada naquele dia, com exceção das poucas fotos que eu mesma tirei no meu celular pessoal. As fotos na matéria tinham a qualidade de uma câmera profissional. Ou algum paparazzi tinha invadido a minha propriedade, e se daria muito mal se fosse o caso, ou algum funcionário do condomínio violou a confiança dos moradores. Eu sabia que não tinha sido ninguém da minha própria casa, eu os conhecia bem.

— Emmett isso é muito sério. São fotos particulares rodando pela mídia, não deveriam ter sido divulgadas. Precisamos descobrir quem foi que tirou essas fotos.

Eu bufei. Eu não podia acreditar que já haviam fotos de Edward sem camisa circulando pela rede. Aquilo sim seria assunto para todos os programas de fofoca discutirem.

— Você acha que eu não sei? — meu irmão questionou. Ele parecia ainda mais nervoso do que eu. — Olha a próxima matéria.

Com medo do que vi no seu olhar, peguei a última folha para ler.

“COBIÇADO SOLTEIRO DE HOLLYWOOD É FINALMENTE FISGADO

Emmett Cullen, famoso progênito e herdeiro do império da família Cullen, era até pouco tempo um dos solteiros mais cobiçados nas pesquisas, liderando o ranking há quatro anos consecutivos. Com todo o rebuliço que tem acontecido na vida de sua irmã ultimamente, pouco sobra espaço para se falar do jovem Cullen, cuja vida pode ser tão movimentada quanto a de Isa. Com 28 anos recém feitos, um corpo de tirar o fôlego e uma carisma inegável, o garanhão tem estado solteiro desde seu último relacionamento conhecido, que culminou na morte de sua pequena filha. Desde então, o Cullen não tem sido visto com mais ninguém e todo o país tem torcido e esperado para ver quem poderia finalmente conquistar o coração desse bom moço. Até agora.

Caso tenham perdido a última entrevista do Global Secrets, essa bela loira na foto é nada menos do que Rosalie Masen, a jovem irmã de Edward Masen, identificado recentemente como o pai da Princesinha da América Edeline Cullen. Isa Marie, que se pronunciou na entrevista do GS, tem tido relações estreitas com os Masen nos últimos tempos, que estão muito próximos da família mais famosa do país, como mostram as fotos abaixo.

Teria mesmo Rosalie Masen conquistado o coração do primogênito Cullen? Ou seria apenas um caso de fim de verão? Com 5 anos a menos do que o nosso garotão, Rosalie Masen vem dos becos escuros de South L.A., embora tenha se mudado recentemente para um bairro no centro. Entretanto, se inferior na posição social, ela compensa com um corpo e uma beleza de tirar o fôlego de qualquer marmanjo por ai. Sorte a dela, não? Para alguém que nasceu com esses dotes, não é difícil garantir um bom futuro ao lado de um herdeiro como nosso garoto Cullen. E não só o dela, mas também o da pequena filha que a loira trás na bagagem. Ih, será que Emmett Cullen vai mesmo cair no segundo golpe da barriga, agora com uma criança que nem é dele? Quão rendido um homem pode se tornar sob as curva do corpo certo? Os diversos casos de alpinismo social nos dizem que muito. Abaixo, fotos do herdeiro com sua nova conquista de tirar o fôlego.”

Embaixo da matéria, inúmeras fotos de Emmett e Rosalie juntos na praia, no mesmo dia das fotos da outra matéria, dessa vez com destaque a uma em que Emmett envolvia os ombros de Rosalie e ela o beijava, sorrindo.

Perdi o ar ao ler aquilo. Era por isso que Emmett parecia tão assustado e nervoso.

— Rosalie já viu isso? — perguntei, cautelosa. Eu sabia o quanto ele e Rose estavam lutando para mantê-la longe da mídia e principalmente para nenhuma informação sobre o paradeiro atual dela se tornasse conhecimento publico. Eu não entendia o porquê daquilo na época, mas tinha feito o possível para ajudar.

Quando a minha agora cunhada batesse os olhos naquilo, provavelmente ficaria tão nervosa a ponto de ter um ataque de nervos. Eu não sabia ainda o que Rosalie temia naquela época, mas sabia que deveria ser algo sério pelo modo como ela era cautelosa com o assunto. Se eu soubesse tudo o que aquilo acarretaria, teria me esforçado bem mais para mantê-la segura.

Mas não era só com a suposta ameaça misteriosa que eu estava preocupada. A matéria sensacionalista chamava Rosalie de alpinista social e sugeria que ela só estava com Emmett pela posição dele. Eu já a conhecia bem o suficiente para saber que ela estava apaixonada pelo meu irmão, mas eu sabia que a sua alto estima frágil e seu orgulho faria ela se sentir mal com aquilo. E, se revistas e sites de fofoca estavam propagando aquele conteúdo, com certeza o assunto já estava sendo discutido em programas de fofoca também. Como eu detestava aqueles apresentadores fofoqueiros que não encontravam nada de útil para fazer com suas vidas!

— Não — Emmett respondeu minha pergunta anterior. — Estou com medo da reação dela. Isso está saindo do meu controle!

Ele passou a mão no rosto. Parecia cansado. Joguei a matéria de lado junto com as outras e bufei.

— Vamos descobrir como eles tiveram acessos a essas fotos e alguém vai pagar as consequências — garanti.

— De que adianta agora que tudo isso já está circulando não só no país, mas no mundo? Precisamos parar a circulação e interromper a autorização para a imagem.

 — Emmett, você sabe tão bem quanto eu que uma vez na internet, impossível de ser refreado. Nem a entrevista nós conseguimos barrar totalmente.

— A internet é o de menos, eu não quero isso sendo discutido é nos programas de TV — ele passou as mãos na cabeça, nervoso. — Eu vou ligar para o Alec.

— Alec? — exclamei, surpresa.

Alec era nosso primo de consideração distante, um bem sucedido advogado criminal, e quando ele não estava do outro lado do país, estava do outro lado do mundo. Fazia mais de um ano que não o víamos e nem tão poucos tínhamos muito contato com ele e se Emmett estava pensando em incomodá-lo, não seria por coisa pouca. E tampouco nosso primo tratava de casos que não envolvessem crimes ou perigo iminente de um.

— Emmett — chamei-o, com medo. — Do que é que vocês estão se escondendo? Não chamaria Alec por uma exposição de imagem. Está começando a me assustar.

— Apenas esqueça, Bella — ele desconversou. — Deixe que eu vou cuidar disso. Apenas me ajude a descobrir quem divulgou as fotos, por favor. Você está atrasada para gravar, tem muito o que fazer hoje.

Ele começou a puxar os papeis com as matérias de cima da mesa, mas eu o refreei.

— Emmett Cullen, quem é que está atrás da Rosalie? — perguntei. Ele abriu a boca para negar, mas eu não ia dar espaço para que ele mentisse. — Nem tente negar, está mais do que óbvio, mas eu pensei que pudesse ser algum caso de alguém que divulgou coisas comprometedoras sobre ela na adolescência e causou confusão, existem milhões de casos de jovens que passaram por constrangimento envolvendo imagens na internet e ficaram traumatizados, ou algo do tipo. Não pensei que pudesse ser algo realmente perigoso. Se minha filha está correndo perigo eu preciso saber!

— Não é Edeline quem está correndo perigo, Bella! Esqueça o assunto.

Levantei da cadeira, irritada. Eu não me importava com qualquer tipo de segredo ou promessa que Emmett tenha feito sobre não contar o que está acontecendo. Edeline estava passando cada vez mais o seu tempo na casa de Edward, onde Rosalie também morava, e se tinha alguém perigoso atrás dela consequentemente a minha filha estava na reta também. Sem falar que eu também me preocupava com os Masen, todos eles.

— Não está atrás de Eden, mas está de Rosalie, não está? — pressionei. Emmett não sairia daquela sala sem me dar respostas. — Emm, confie em mim. Sei que Rosalie deve ter te pedido para não falar nada, mas eu preciso saber com o que estamos lidando para poder ajudar. Conversarei com ela depois.

Ele levantou-se também, sua expressão torturada denunciava a angustia que ele estava sentindo.

— Existe um homem perigoso atrás da Rose, e ela estava segura enquanto morava em South L.A., ela era protegida lá. Estou tentando refrear todas as informações sobre o novo endereço dela, não queremos que chegue até ele. Mas com tantos paparazzi ao redor e toda a explosão da identidade de Edward, o assunto não para de surgir por todos os lados — ele suspirou. — Não estou conseguindo vencer a quantidade de informação divulgada. Sei que Alec não ia ajudar em nada, já que nem sabemos onde ele está e o que está fazendo, mas eu preciso fazer alguma coisa a respeito ou vou enlouquecer.

Ele estava acelerado, andando de um lado para o outro. Percebi ali que a coisa era realmente séria.

— Esse homem, que está atrás da Rose, o que ele quer?

— Na verdade nem temos certeza se ele realmente está atrás dela neste momento, mas não queremos arriscar.

— Ele é um criminoso? O que ele é dela?

— Sim — a palavra foi pronunciada com ódio. — Ele é um criminoso e não é nada delas, nem de Rose e nem de Dominique.

Avaliei as palavras dele e minha boca foi se abrindo lentamente, em choque com a ideia se formando em minha mente. O desespero de Rosalie, a preocupação de Emmett e o ódio em sua voz ao falar do homem misterioso... Antes que eu perguntasse, o olhar de Emmett o denunciou.

— Emmett... Esse homem é o pai da Dominique?

Ele ficou vermelho.

— Eu sou o pai dela.

Assenti. Aquilo foi confirmação o suficiente.

— Ok, ele é o homem de quem Dominique tem o sangue — reformulei a frase, sabendo que Emmett ficara ofendido com a frase anterior. Eu sabia bem o quanto laços sanguíneos não eram nada comparados a laços de amor. Eu também ficava ofendida se alguém dizia que Carlisle não era o meu pai. — Então Rosalie esta escondendo a filha dele? Emmett, isso é bem errad...

— Não termine essa frase, Bella! — ele exclamou, nervoso e me interrompeu. — Rosalie não está fazendo nada de errado. Esse homem é perigoso. Ele não tem qualquer direito sobre Dominique ou sobre qualquer coisa que seja.

Respirei fundo. Tudo bem, eu precisava ficar calma para que minha mente pudesse trabalhar na resolução do problema. Rosalie tinha se envolvido com um criminoso na adolescência, que a abandonou e agora ele pode ou não estar atrás das duas. Eu conseguia pensar melhor agora que sabia que minha filha não corria perigo, e pude me concentrar na preocupação com Rose e Nick. Eu ajudaria a proteger minha cunhada e sobrinha. Não só por Emmett, que jamais se recuperaria se algo acontece com as duas, mas porque eu também as amava.

— Se acalma, irmão — chamei-o, fazendo parar de andar pela sala. Eu jamais poderia deixar Emmett sozinho nessa, enlouquecendo da maneira como estava. Ele era um excelente produtor e publicitário, mas perdia o controle quando envolvia suas emoções. — Eu vou te ajudar. Deixe Alec em paz, ele já tem estado muito ocupado e não ia conseguir ajudar de qualquer maneira. Nós vamos ligar para Tanya, é isso que vamos fazer. Ela está dentro da imprensa, pode barrar qualquer foto ou noticia nos veículos de mídia oficiais.

Tanya também era nossa prima, filha da irmã de Carlisle. Ela felizmente trabalhava como assessora de imprensa após sua carreira de repórter ter se expandido para o lado do estrelato, agora trabalha em um jornal televisivo e na assessoria de uma emissora.

— E quanto a internet? — ele perguntou. De fato, Tanya poderia frear a divulgação nos jornais, revistas de fofoca e sites regulamentados, mas não teria muito podem em blogs de fãs, redes sociais e locais onde a divulgação era feita pelo próprio internauta.

Tentei pensar em uma solução rápida.

— Um minuto — pedi a Emmett. Fui até a minha bolsa, pegando meu celular e discando rapidamente o numero do telefone na mesa da Ângela.

— Bom dia, Srta. Cullen — ela atendeu no primeiro toque. Sua voz estava acelerada, parecia ter estado correndo.

— Ângela eu quero que contrate alguém que entenda de internet e de sistema, vou lhe enviar uma matéria e algumas fotos e quero que essa pessoa denuncie e apague todo conteúdo referente a isso que ele encontrar. Facebook, blogs, twitter, tudo. Quero uma pessoa 24 horas por dia fazendo isso, entendido? Pague o quanto precisar.

— Sim, senhora. Quando, senhora?

— Para ontem, Ângela!

Eu sabia que estava exigindo dela mais do que o cargo que ela ocupava descrevia. Ela era minha secretária apenas no que se referia à Charm, mas eu acaba usando ela como secretária particular também. Porém, mesmo que ela permanecesse todos os dias na agência, recebia muito mais do que o salario normal de sua posição.

— Sim, senhorita.

Ela desligou e eu joguei o celular de volta na bolsa, satisfeita. Virei-me para Emmett, que me encarava com surpresa e gratidão no olhar.

— Você é incrível — ele sorriu.

— Pode respirar tranquilo agora, vou ligar para Tanya ainda hoje e teremos alguém fazendo todo esse trabalho estressante que tem feito você se desgastar tanto — sorri de volta para ele, vitoriosa. — Você não consegue pensar direito quando está frenético assim, fez bem em ter me contado. Fique tranquilo, não vou comentar nada com Rose ou com quem quer que seja. E ninguém perigoso vai chegar perto da nossa família, Emm. Eu prometo.

Ele me surpreendeu com um abraço, seus braços me envolvendo quase que completamente.

— Obrigada, irmã — ele sussurrou no meu ouvido. — Pela ajuda, e por considera-las família também.

— Você me considerou como família primeiro, antes que eu fosse de fato — respondi, já com lagrimas nos olhos. Me soltei dele — Chega de sentimentalismo, parecemos dois bobões. Agora que está mais calmo e menos atarefado, será que posso ter meu empresário de volta?

Emmett não se ocupava com os assuntos da minha carreira desde que Dominique fora internada, o que era um tempo razoável. Eu também estava enlouquecendo sem ele, tendo que conciliar as gravações e contratos da produtora com a organização dos shows da turnê, e-mails pedindo entrevistas e fãs com toda a confusão sobre o falso noivado. Eu precisava de Emmett de volta a ativa.

— O Trio Cullen está de volta, baby!

Ele esticou a mão e, sorrindo, bati na mão dele em um perfeito high five.

~.~

Passei uma boa parte da manhã com Emmett no escritório de Carlisle, tentando resolver o batalhão de coisas que tinha ficado para trás referente a Isa Marie. Os e-mails e entrevistas foram fáceis de resolver, a parte difícil foi com a gravadora e o problema que Mike tinha me arranjado referente a minha imagem. Tínhamos urgentemente que começar a planejar os passos da turnê do novo CD, mas antes eu precisaria conversar com Jenks sobre sua ameaça em quebrar o contrato e cancelar o CD.

Depois de deixar Emmett, mal tive tempo de respirar, porque Alice chegou e me sequestrou para cabelo, maquiagem e figuro e então fui despachada para o set, onde uma das cenas finais do filme tinha que ser gravada. Não tive tempo de ligar para Tanya ou sequer ver a minha filha e eu estava morrendo de saudades dela. Nem Edward eu tinha visto até então.

A gravação da cena durou até depois do horário de almoço, que eu não tive. Era bom gravar cenas com Jacob, ele era muito profissional e por sermos amigos tínhamos uma boa química no set. Eu gostava de estar estralando a regravação de Orgulho e Preconceito, porque era um romance inteligente, onde eu não tinha que beijar ou ter intimidade com ninguém. Eu já tinha feito outros filmes com Jacob, onde tivemos que nos beijar, e tinha sido bem constrangedor. Jacob é meu amigo de faculdade, cursamos a Juilliard na mesma turma e temos trabalhado juntos desde então.

— Corta! — Carlisle gritou, denunciando o final da cena.

Soltei a minha mão da de Jacob, que estavam unidas por conta da cena, e sentei no sofá do cenário, imediatamente afrouxando os laços do vestido pesado.

— Ufa! Só mais duas cenas e teremos mais um filme no currículo — comentei.

Jacob sentou-se no braço do sofá ao meu lado. Uma vez fora de seu personagem, ele parecia abatido e cansado.

— É, mal vejo a hora de terminar com isso.

— Jake? Está tudo bem? — perguntei, preocupada.

Fazia tanto tempo que não parávamos para conversar. Eu estava com tanta coisa na cabeça, e havia tanto acontecendo, que eu mal tive tempo para o meu amigo. Eu o estava negligenciando.

— É a Jéssica — ele contou, pronunciando o nome dela com raiva. A ex-mulher de Jacob vinha sendo a fonte constante de problemas dele e isso já duravam uns três anos. Ela era completamente intransigente e gostava de dificultar a vida dele. — Ela quer levar Cameron para St. Cloud.

Franzi o cenho.

— Onde raios fica isso?

— É uma cidade pequena em Minnessota.

— Minnessota?! — exclamei, surpresa. O que Jessica tinha na cabeça? — Isso é do outro lado do país, Jake.

— Eu sei — ele suspirou pesadamente. — Eu mal vejo Cameron, uma vez que só posso pegá-lo nos fins de semana por causa da escola. Agora ela está dizendo que não quer mais que ele tenha a vida agitada que tem aqui em Los Angeles, e que ele precisa crescer numa cidade tranquila.

Xinguei Jessica mentalmente. Ela vinha fazendo da vida de Jacob um inferno restringindo o tempo de Cameron com o pai, como se a pensão enorme que ela recebe pelo divórcio não fosse o suficiente. Jacob tem muitos negócios em Los Angeles além dos filmes, ele não teria como ficar viajando para Minnessota. Ele só conseguiria ver o filho umas duas vezes por ano e se tivesse sorte.

Sem falar que Edeline ficaria extremamente chateada quando soubesse disso.

— Ela está fazendo isso por pura maldade! Você é um bom pai, Jacob, ama Cameron e o menino tem tudo do bom e do melhor aqui em Los Angeles. Ela não tem porquê leva-lo para longe de você.

— Eu não consigo imaginar não poder ver meu filho regularmente — ele suspirou. Parecia realmente chateado. — Você tem sorte de ser mãe solteira, Bella.

Foi exatamente por aquele motivo que eu tinha escolhido ter Eden sozinha, mas aquilo não era mais verdade.

— Não, mais. Agora Edeline tem Edward.

— Ah sim, é verdade. Mas como doador ele não tem nenhum poder para tirá-la de você se quiser.

— Isso é verdade — concordei, e então uma ideia me veio na cabeça. — Jacob? Por que você não faz isso?

— Fazer o quê?

— Tirar Cameron dela. Peça a guarda dele.

Ele me olhou como se eu estivesse brincando.

— Acha que eu já não pensei nisso? — questionou. — Jéssica é a mãe. Nenhum juiz tira a guarda de uma mãe para deixar com o pai.

— Tira, se o pai for Jacob Black — insisti. — Pare de arrumar desculpas, Jake. Você consegue ficar com Cam se quiser. Você está com medo, isso sim.

— Mas é claro que eu estou com medo! Você sabe como é a minha vida, Bella. A exposição, os compromissos, Cameron não teria uma infância saudável assim. Eu quero ele perto de mim, mas não sei se agir por egoísmo é a melhor decisão. Tenho que pensar nele.

Jacob se levantou do braço do sofá, saindo do set e indo até o bebedouro mais próximo. Eu o segui, disposta a insistir com ele. Era ridículo o modo como a insegurança podia impedir as pessoas de fazer o que precisava ser feito.

— Edeline me acompanha na carreira desde que nasceu e tem uma infância muito saudável, obrigada — resmunguei, embora não estivesse completamente certa daquilo. — Crianças não entendem sobre compromissos e correria. Ele não vai entender que o pai dele ficou longe para que ele tivesse uma vida tranquila. Ele não vai entender sobre só te ver em natais, porque você tem que ganhar o dinheiro que vai sustenta-lo do outro lado do país. Sabe o que crianças entendem? Presença. Elas amam seus pais se eles não tiverem dinheiro, mas tiverem amor a oferecer. Elas amam se você as carrega para todo o lugar porque tem muitos compromissos, mas quer estar com elas. Se você não estiver presente, vai fazer muito mais mal à infância dele do que a agitação da sua carreira. Todos nós cometemos erros, Jake. Mas o maior erro é desistir de tentar.

Eu sabia bem do que eu estava falando. Eu vivi os dois lados. Eu já tinha sido a criança com pais ausentes, e depois fui a jovem com pais ocupados, porém amorosos. E hoje, eu via e sentia o amor da minha filha por mim, mesmo com a loucura para a qual eu a arrastava todos os dias. Talvez eu não fosse a melhor mãe ou a mais correta, mas eu jamais abriria mão de Edeline por nada. E não deixaria meu amigo abrir mão do filho dele. O melhor para os filhos é ter pais presentes e amorosos.

Jacob, que ainda, segurava o copo de agua, colocou-o de lado e me abraçou.

— Obrigada, Bella — ele disse ao meu ouvido. — Eu vou lutar pelo meu filho. Você é uma grande amiga.

— Pode contar comigo, bobinho — sorri para ele. — Para apoio emocional, judicial ou para dar uns tapas na cara da Jessica se quiser.

— Vou me lembrar disso.

— BELLA!

Eu reagi à voz instantaneamente, e eu e Jacob nos viramos juntos em direção ao grito. Meu coração saltou no peito ao avistar Edward, a quem eu estivera procurando a manhã inteira, vir na minha direção. Ele estava usando seu habitual macacão azul de trabalho, ao qual eu já tinha me acostumado e que não tinha o poder de tirar a beleza dele.

— Bom dia, Edward — eu sorri animada, já procurando Edeline em volta dele também.  Ela não estava lá.

Ele não sorriu de volta. Apenas jogou alguns papéis que ele carregava em minhas mãos. A animação em vê-lo não tinha me deixado perceber que ele parecia irritado.

— Pode me explicar o que significa isso? — ele perguntou, incisivo.

— Ãn, eu preciso ir — Jacob anunciou, captando a tensão. — Falo com você mais tarde, Bella.

Eu assenti, ainda com meus olhos em Edward, e deixei Jacob ir.

— O que está havendo? — perguntei.

— Por que mandou mudar o meu salario?!

— O quê?!

Ele apontou para as folhas. Olhei, e aquilo parecia ser o holerite do mês de Edward. O valor que constava ali era baixo, mas acredito que não tão baixo para o cargo de faxineiro que ele ocupava no estúdio. Entretanto, eu nem sequer sabia quanto exatamente ele recebia e nem tinha o poder de mudar seu salario.

— O valor está errado? — questionei, tentando entender. — Posso mandar o RH corrigir e depositar o que faltou...

— Veio o dobro, Bella! — ele exclamou, ainda irritado. — Estou recebendo o dobro do combinado no contrato.

— Então do que você está reclamando?

Edward era doido, por acaso?

— De ter privilégios aqui dentro por ser pai da Eden ou o que quer que seja. Não vou receber mais só por ser próximo da sua família. A menos que o salario de todos os outros faxineiros tenha aumentado também, não quero receber a mais. Sei que você pode achar que é muito pouco, ou que não é o suficiente para o pai da sua filha ter, mas quando eu entrei aqui, antes de toda essa maluquice se iniciar, eu era apenas um faxineiro e com o salario de um. Eu continuo sendo essa pessoa. Portanto, quero receber o salario de acordo.

Ele não parecia só irritado, mas sim envergonhado. Me senti mal, porque eu nem sequer sabia o valor do salario dele. Eu não me importava com o quanto ele ganhava ou deixava de ganhar.

Mas ao mesmo tempo, eu agora o admirava ainda mais. Que pessoa reclama de ter recebido dinheiro a mais?

— Edward, não fui eu — respondi com a maior firmeza possível, para que ele acreditasse em mim, tentando desesperadamente tirar aquele olhar do rosto dele. — Eu nem sabia o valor do seu salario aqui. Acredite em mim.

Ele soltou o ar preso e passou as mãos pela cabeça, em nervosismo.

— Então quem foi?

— Fui eu — a voz do meu pai surgiu de trás de nós. Ele se aproximou, impassível. — Eu mandei que aumentassem o seu salario, Edward. Desculpem a interrupção, mas deu para captar o conteúdo da discussão de longe.

Olhei em volta, percebendo que algumas pessoas realmente tinham parado para nos observar.

— Por que fez isso, Carlisle? — Edward perguntou, um pouco menos autoritário daquela vez. Era impossível não ser educado com meu pai, ele exercia respeito automático.

— Porque eu observo tudo dentro deste estúdio, Edward. Desde os atores e diretores até os faxineiros. Quando você foi contratado aqui, foi para ocupar o lugar da Natalie, e a Natalie apesar de ter no contrato o cargo de faxineira, não cuidava da limpeza. Cuidava da Eden. E recebia o salario normal dos faxineiros por isso — Carlisle explicou, calmamente. — Você, por outro lado, tem cuidado da Eden e feito toda a limpeza também. Eu tenho visto você se esforçando para fazer ambas as coisas ao mesmo tempo. Você está trabalhando em dobro, então é justo que receba o dobro também.

Eu não sabia o que dizer. Eu também não sabia que Edward estava limpando o estúdio enquanto cuidava da Eden.

— Como consegue? — perguntei. — Eden é um pequeno furacãozinho, se tivesse dito antes eu teria contratado uma babá para não te sobrecarregar.

Ele me olhou como se eu tivesse dito a maior besteira da minha vida.

— Cuidar da nossa filha não é nenhum trabalho, Bella. Eu faço porque gosto. E também não aceito receber dinheiro por isso.

Nossa filha.

Fixei meus olhos nele. Edward tinha usado a palavra nossa ao se referir a Eden. Tão fácil como respirar. Tão simples quanto caminhar. Foi a primeira vez em que eu ouvi ele se referindo a ela daquela maneira.

— Bom, então sou eu quem peço desculpas — Carlisle se adiantou. — Não deveria ter feito sem o seu consentimento. Vou arrumar, se for da sua vontade.

— Eu agradeço, Sr. Cullen.

— Achei que já tínhamos passado dessa fase, Edward — meu pai sorriu. — Eu admiro a sua honestidade.

Carlisle apertou a mão de Edward e se retirou, prometendo que iria arrumar o valor no holerite. Eu ainda estava emocionada pelo que eu tinha ouvido dele. Eu já tinha passado horas ouvindo Emmett falar daquele jeito, com o mesmo amor na voz, sobre Dominique, e ficara me perguntando se Edward sentia o mesmo pela minha filha. Uma coisa é você desconfiar, outra é você ouvir. E ouvir aquilo para mim foi como tirar um peso enorme das minhas costas. Ou meio peso. E ainda havia uma coisa que eu precisava fazer para ter certeza, ou eu nunca teria paz de espírito.

Aparentemente Edward não estava fazendo aquilo pelo dinheiro, nem pelo contrato, mas havia um jeito de ter certeza. Certeza de que ele tinha realmente se tornado o pai dela, sem fingimentos, e que nunca iria magoá-la. Ele amava Edeline, e já a considerava como sua, isso estava cada vez mais claro. Se fosse com qualquer outra pessoa, eu consideraria aquilo assustador e perigoso, mas não com Edward. Ele era único.

Mas meu coração ainda estava incomodado com aquela questão. Eu precisava ter certeza, porque aquilo influenciaria nas minhas decisões futuras.

— Edward, eu preciso falar com você.

Sem dizer nada, eu caminhei até o meu camarim, deixando Edward me seguir até lá. Era contrastante a diferença entre o dia em que o conheci e naquele momento, tempos depois. O lugar era exatamente o mesmo. Edward, também. Parecia que tinha sido a uma vida atrás que entrei naquele mesmo camarim, preocupada, e dei de cara com ele. Tão lindo, tão esforçado e tão correto.

Era eu quem não era mais a mesma. Eu não me reconhecia mais como a Bella de antes. Meu coração, de fato, não era o mesmo.

O que teria acontecido se eu não tivesse dado de cara com ele naquele dia?

Meu coração estaria tão agitado e ansioso como estava naquele instante?

— Me desculpe ter gritado com você — Edward quebrou o silencio. Eu sabia que ele me pediria desculpas. Sempre tão educado.

Fui até a geladeira e coloquei um pouco de suco de amora em dois copos em proporções iguais. Peguei os dois e fui em direção ao sofá, sentando-me logo em seguida, e estendei um copo para Edward. Ele ainda me encarava de pé, próximo a porta.

— Feche a porta, por favor.

Ele inclinou levemente a cabeça, provavelmente tentando avaliar as minhas palavras, e fez o que pedi. Depois que a porta estava seguramente fechada, ele se aproximou mais dois passos para frente, ainda com aquela expressão fofa de confusão em seu rosto.

— O que foi?

— Quero conversar com você — dei batidinhas no assento ao meu lado, chamando-o para se sentar.

Ele olhou de mim para a porta, ainda com um olhar cauteloso em evidência.

— Não acredito. — eu ri levemente. — Você está com medo de mim?

— Eu não deveria ter?

— Sério, Edward? — ergui uma sobrancelha. — Depois de tudo, você ainda tem medo de mim? Isso deveria ter ido embora a muito tempo, depois de tantas discussões, uma adoção, nossos irmãos juntos, e até mesmo depois do...

Beijo. Era o que eu ia dizer. Mas pela vermelhidão que se espalhou elo rosto dele – e pelo meu também, devo admitir – aquele era um assunto totalmente não discutível.

Mas ainda assim, depois de termos até nos beijado aquela altura, como era possível que ainda tivesse medo de mim?  Bem, talvez ele estivesse com medo de que eu o atacasse dentro do camarote fechado. Aquilo sim era plausível.

— Não tenho medo de você — ele resmungou, desviando o olhar. — Só do que você... Espera, sobre o que é esta conversa?

Eu suspirei e voltei a apontar para o sofá, esperando ele me obedecer e sentar na droga do sofá. Ele revirou os olhos, mas finalmente o fez. Eu precisava estar a mesma altura que ele para aquilo, precisava olhar em seus olhos.

— Eden — finalmente respondi a sua pergunta.

— Ela está bem, Bella — ele garantiu, em um tom ligeiramente alarmado que me deixou alerta. — Ela veio comigo de manhã, deixei-a com Emmett faz poucos minutos, para ir procurar você e...

— E me xingar sobre o holerite? — chutei, ele confirmou. Sorri. — O que aconteceu com a Eden?

— Você ainda não a viu?

— Não. Por quê?

— Nada — ele respondeu rápido demais. Estreitei os olhos. — Ela está perfeitamente bem com Emmett. Palavra de escoteiro.

— E você foi escoteiro, por algum acaso?

— Não — ele fez uma careta. — Ok, justo. Palavra de ovelhinha, então?

A expressão que meu rosto produziu ao ouvir aquilo deve ter sido muito engraçada, porque Edward começou a rir na hora, aliviando a tensão.

— Você foi uma... Ovelhinha? — arrisquei perguntar, por mais absurdo que fosse aquilo. Ele confirmou. — O que raios significa ser uma ovelhinha?

— É quase como ser escoteiro, mas não exatamente — e lá estava de novo, a ligeira inclinada com a cabeça que o deixava tão fofo. — Um dia te explico.

— Certo — murmurei, ainda hipnotizada olhando-o.

— E então?

— E então...?

— Você disse que precisava falar comigo. Sobre a Eden.

— Ah, claro — sacudi a cabeça, tentando desentulhar os pensamentos. Automaticamente, ao lembrar do assunto, o frio no pé da barriga de nervosismo voltou e eu apertei minhas mãos uma na outra, torcendo os dedos. — Bem, eu...

Pausei a frase, subitamente sem coragem para continuar. Eu sabia que precisava falar ou aquilo continuaria me assombrando para sempre, e ele tinha o direito de saber. E eu também acreditava que aquilo não o faria voltar atrás, não depois de tudo o que eu vi, de tudo o que ele já disse e fez... Mas minha mente insistia em jogar aquele “e se” de voltar aos meus pensamentos atuais a cada segundo. E se ele descobrisse depois e ficasse bravo? E se os laços que ele criou com Edeline estavam condicionado ao fato de pensar que tinha que os ter, por conta do contrato? A mente humana é capaz de projetar quase todo tipo de coisa, com as ligações certas. Edward pode ter se apegado a Eden como uma obrigação para salvação da sobrinha dele, e por isso tê-la amado. Uma vez livre de toda obrigação judicial, como ele se sentiria, e como agiria? E o mais importante, ele ficaria?

Eram questões demais que podiam ser resolvidas com uma simples informação. Um único detalhe capaz de mudar tudo. Que já tinha mudado tudo uma vez, e podia mudar de novo. Apenas um contrato, algumas linhas em uma folha, que podia mudar destinos. E que Edward precisava saber que estava desfeito.

— Bella? — fui arrancada do centro do meu pânico pela sensação da mão de Edward cobrindo a minha. Ele a tinha tocado levemente para chamar a minha atenção. Tive vontade de apertar a sua mão de volta, mas aquilo não ajudaria em nada ali.

— Estou bem.

— Não parece. É tão sério assim? — perguntou. Assenti. — Pode falar o que quiser comigo. Estou aqui.

Acenei, sabendo que ele podia não estar em alguns minutos.

— Eu preciso te contar algo... Que talvez influencie na sua relação com Eden — comecei, meio sem jeito, sem saber que palavras usar. Ele se mexeu no assento, subitamente atento. Aquilo era péssimo. — E preciso que saiba que não tem nenhum obrigação moral, e é livre para ir se...

— O que está tentando me dizer?

— Emmett me pediu parar passar toda a responsabilidade das contas médicas da Nick e todo o resto para ele, e eu cedi — soltei, por fim, da forma mais direta que eu encontrei. Coloquei os dois copos de suco que ainda repousavam na minha mão no chão, porque elas estavam tremendo. — Isso quebra totalmente o contrato, o que significa que você tão tem mais nenhuma responsabilidade legal sobre a Eden.

Por alguns segundos aquela informação ficou pairando sobre nós, sorrateira, aumentando a tensão de todas as possibilidades que aquilo trazia. Edward umedeceu os lábios e se afastou um pouco de mim no sofá, mas ainda me olhava diretamente.

A minha vontade era de gritar para que ele falasse logo alguma coisa, mas eu mesmo tempo um nó sufocante me impedia de fazê-lo.

— O que isso significa? — ele por fim quebrou o silencio. Estava sério de uma maneira que nunca vi antes.

— Você não precisa mais fingir se não quiser. O contrato especificava que você atuaria como pai da Eden pra ela e pro mundo, e em troca eu cuidaria de tudo o que sua sobrinha precisasse. Eu não vou mais cumprir a minha parte, o que significa que você está livre da sua — eu odiei cada uma das palavras que saíram da minha boca, mas precisava deixar claro para Edward que não restava mais obrigação nenhuma, ou eu nunca me sentiria segura sobre aquilo. — Você inclusive tem direito a uma indenização bem grande por quebra de contrato que...

Edward se levantou de repente, me assustando. Suas mãos iam e vinham de seus cabelos freneticamente, enquanto ele dava passos para frente e parar trás sem nunca chegar a lugar nenhum. Deixei-o pensar e processar aquilo. Alguns segundo depois, ele voltou-se novamente para mim.

— Você tinha dito que era um contrato vitalício! Vitalício significa para a vida inteira, Bella! — ele não estava gritando, não de verdade, mas sua voz estava bastante alterada. Me levantei também, querendo acalmá-lo mas sem saber como. — Eu não teria aceitado essa droga toda se soubesse que você iria simplesmente anular tudo de uma hora para outra. Não pode fazer isso. Não pode me afastar dela desse jeito. Sei que não tenho direitos, mas, droga, eu me tornei o pai dela. Para ela e para mim, é isso o que eu sou. Você me tornou isso! E agora acha que isso pode simplesmente ser desfeito, assim, tão fácil? Eden vai ficar arrasada. Eu vou ficar arrasado. Que porcaria, Bella, você não pode fazer isso.

Um impulso familiar de orgulho em mim queria dizer a ele que eu podia fazer o que eu quisesse, ainda mais se tratando da minha filha. Mas uma parte bem maior estava muito surpresa, e comovida, com o discurso dele e com a conclusão na qual ele chegou.

Ele pensou que eu queria afastá-lo da Eden, quando na verdade o que eu queria era que ele escolhesse ficar.

— Você quer continuar? — perguntei, tão baixo quanto um sussurro, com a minha voz prestes a se quebrar a qualquer momento. Me aproximei devagar dele, e puxei suas mãos do alto da cabeça para segurá-las. Isso o desarmou, abafando um pouco do fogo em seus olhos. — Mesmo sem nenhum contrato, nenhuma obrigação e sem receber nada em troca, quer continuar sendo o pai da Edeline?

Seus olhos estavam úmidos ali, assim como os meus. Apertamos as mãos um do outro, como um escape para impedir que aquela umidade fosse mais longe.

— Sim — sua voz saiu tão baixa quanto a minha, controlada. — Ela já é minha filha. Não há mais volta para isso.

Sem conseguir me conter, joguei meus braços ao redor dele, envolvendo-o em um abraço. Hesitante, ele também passou os braços pelas minhas costas e me apertou contra si.

— É tão bom ouvir isso — murmurei entre a curva de seu pescoço.  Sua pele era tão suave e quente, e em poucos segundos eu tive certeza de que nunca estive tão acolhida antes.

— Espera — ele me afastou gentilmente, fazendo-me lamentar a distancia. — Você não quer que eu me afaste?

— Não! — exclamei. — Eu te contei porque eu precisava saber se você ficaria, mesmo sem o contrato. E você quer.

— Pelo amor que as abelhas tem ao mel, é claro que eu quero, Bella! — ele se jogou de volta no sofá, agora muito mais relaxado. — O que te fez pensar que abandonaria Eden, e você?

Dei de ombros, envergonhada.

— Eu não acreditava mesmo que você faria isso. Eu só precisava ter certeza.

Ele esperou, enquanto nossas respirações se acalmassem. Meus olhos estavam perdidos em algum lugar entre o tapete e meus sapatos, mas os levantei novamente quando senti seu joelho tocar o meu. Ele tinha se aproximado novamente.

— Eu nunca vou abandonar vocês suas — eu prendi a respiração quando sua mão direita se levantou até a minha bochecha, afagando o local. Fechei os olhos, aproveitando o carinho, e sentindo meu estomago se revirar dentro de mim se como se estivesse no looping de uma montanha russa. — Não é um acordo, mas uma promessa, e é para a vida toda.

Eu pensei que ele ia me beijar novamente. Ah, como eu pensei que ele ia! Mas ele não o fez. Abri os meus olhos, e, parecendo reunir toda a sua força de vontade, ele deixou a mão que estava em meu rosto cair de volta ao seu colo.

— Obrigada — respondi, porque não consegui dizer mais nada.

Ele assentiu, e respirou fundo, passando a mão pelo rosto.

— Você não é uma pessoa que confia muito, é? — me questionou, com interesse na voz.

Pressionei os lábios, com os olhos semicerrados, indicando a hesitação.

— Hum... Não. Nem um pouco.

— Você ainda tem muito a aprender, pequeno gafanhoto — ele disse, e bateu com a mão na minha cabeça de leve.

Fiz a minha maior cara de indignação, e coloquei as mãos na cintura.

— Você acabou de me chamar de gafanhoto?

— Sim — respondeu sorrindo.

Eu o acompanhei no sorriso, e, agora também relaxada, peguei um dos copos de suco que ainda esperavam no chão e me recostei no sofá. Edward pegou o outro.

— Ok, você me assustou pra caramba agora — ele bufou e tomou um gole do copo. — Vou precisar de uma garantia.

— Garantia do que?

— De que você nunca mais vai fazer o que achei que ia fazer agora.

Revirei os olhos.

— Eu nunca vou te forçar a se afastar da Eden, Edward. Enquanto ela te quiser por perto, você é livre para estar com ela.

— Isso não é o bastante.

— Tudo bem — acenei, pedindo para ele prosseguir. — O que você quer?

Ele hesitou.

— Quero que me deixe reconhecer a Edeline como minha filha no cartório.

O quê?!

— O quê?! — minha voz ecoou meus pensamentos, que pareciam ter parado de funcionar momentaneamente. Edward queria o quê?!

— Eu já disse que Eden já é a minha filha, aqui dentro — ele bateu sua mão no peito, onde seu coração estava. — Só quero tornar isso legal.

Pela maneira como ele passava as mãos incessantemente pelo cabelo, ele sabia tanto quanto eu que aquele não era um pedido simples, embora sua voz tentasse fazer parecer que era. Era um passo grande demais.

— Edward... Isso... Você basicamente esta me pedindo para dividir a minha filha...

Nossa filha — ele corrigiu.

Minha filha, eu quis dizer. Edeline sempre foi só minha, só eu tomava as decisões sobre ela. Respirei fundo, com os olhos fechados, tentando me acalmar. Embora meu primeiro impulso fosse rebater aquilo, os meus sentimentos estavam confusos. Eu tinha amado ouvir Edward chamando-a de nossa em um primeiro momento, mas agora o que aquilo significava estava começando a me assustar.

— Você acabou de dizer que quer que eu permaneça na vida dela, não disse? — ele prosseguiu, eu confirmei. — Então me deixa fazer isso do jeito certo. Preciso dessa garantia.

— E se um dia discordarmos quanto a algo importante? E você quiser tirar de mim o direito de decidir o que é melhor para ela? O que eu faria, então? — disparei a fazer perguntas, com medo. Era poder demais sobre a vida dela para conceder a Edward.

Ele bufou.

— Eu jamais faria isso — ele afirmou. — Mas essa é uma boa pergunta. E se brigássemos e você simplesmente decidisse que eu não poderia mais vê-la? Se ficar brava e me quiser longe? Não haveria nada que te impedisse de me banir da vida dela.

— Exceto ela própria! — argumentei, Edeline jamais me deixaria fazer aquilo, ela ficaria arrasada. — Eu jamais faria isso.

— Se você não acredita na minha palavra, porque eu tenho que acreditar na sua?!

Suspirei, já sentindo a dor de cabeça começar novamente.

— Tudo bem, Edward, vamos fazer assim... Eu vou pensar, tudo bem? Me dê um tempo e eu vou pensar sobre isso.

Ele assentiu, também insatisfeito.

— Tudo bem, o tempo que quiser. Eu preciso voltar para o trabalho — ele me estendeu seu copo vazio de suco e eu o segurei automaticamente, vendo-o deixar o camarim a passos rápidos.

Deixei os dois copos de lado e joguei meu corpo sobre o sofá, suspirando. Eu não podia acreditar que tinha mesmo acabado de ter uma discussão de mãe e pai sobre Edeline com Edward. O quão surreal tinha sido isso? Eu não tinha previsto aquilo, Edward me pegara desprevenida. Claro que eu queria ele por perto, ele era um pai perfeito para Eden e era tarde demais para afastá-los agora. Mas ceder a ele todos os direitos de um pai sobre ela? Isso era completamente diferente. E aterrorizante.

Me lembrei novamente da sensação de ouvi-lo chama-la de nossa. Parecia tão certo. O que me impedia de tomar a decisão?

— Argh! — chiei quando meu celular começou a tocar alto, vindo da minha bolsa da bancada próxima ao espelho. Eu a tinha deixado lá antes da filmagem, depois de me arrumar. Resmungando, levantei e fui até ele, identificando o numero de Jenks na tela. — Alô.

— Isa! — a voz de Jenks soou impaciente do outro lado. Ele não estava num bom dia. — Onde você se meteu? Essa é a quinta vez que eu ligo!

— Eu estava filmando, tenho uma agenda ocupada, sabia? — revirei os olhos. Meu metódico produtor era conhecido por seus impulsos ao exagero.

— Então trate de desocupá-la. Quero você aqui antes de o sol se pôr — decretou.

Demorei a assimilar a ordem, questionando-me internamente se Jenks tinha algum problema na cabeça.

— Acho que você ligou pra pessoa errada — debochei. — Não pode estar falando sério se me ligou pra pedir que eu ignore a minha agenda e faça uma viagem de duas horas de última hora.

— Eu não fui especifico o suficiente? Desculpe. Vamos ver se assim melhora: ou você vem até aqui ainda hoje, ou considere o lançamento do CD cancelado.

Parei de respirar. O novo CD tinha me dado um trabalhão, estávamos trabalhando nele há mais de um ano e todos os fãs estavam enlouquecidos com a espera. Já estava tudo gravado. Uma turnê já tinha sido agendada e divulgada. Ele não podia fazer isso, não de verdade.

— Está blefando.

— Me provoca pra ver — ele ameaçou. — É exatamente sobre essa decisão a reunião que marquei, e para a qual você já está atrasada. Suas declarações sobre Mike estão causando muitos problemas.

— Como posso estar atrasada pra algo do qual só fiquei sabendo agora?

— Se tivesse atendido as minhas ligações, teria sabido antes!

Bufei.

— Jenks, eu não posso simplesmente...

— Você tem duas horas pra chegar aqui, Isa — me interrompeu, dando sua palavra final. — O que significa que você tem que sair dai agora.

Ele desligou, sem me deixar responder a altura. Joguei o celular no sofá, irritada. Eu odiava receber ordens daquela maneira. E o pior é que eu sabia que ele cumpriria sua palavra. Tínhamos um contrato, mas ele era obcecado com a imagem de sua preciosa gravadora. Ele não se importaria em pagar o valor da quebra se achasse que isso pouparia o nome da gravadora de escândalos.

Maldito seja Mike Newton. A culpa de uma boa porcentagem dos meus problemas estava vindo dele como fonte.

Irritada com Mike, Jenks, a situação e todo o restante do mundo, me arrastei até o guarda-roupas procurando uma muda de roupas que prestassem, afinal eu ainda estava com aquele vestido de época ridículo e desconfortável do set. Uma vez pronta, peguei minha bolsa e marchei em direção a sala de Emmett, em busca da minha filha. Ao entrar na sala, encontrei-a sentada em cima da mesa do meu irmão, rabiscando alguma coisa em uma prancheta enquanto ele digitava algo em seu notebook.

Meus olhos se demoraram apenas um segundo em seu doce rosto antes de serem atraídos até o seu joelho, onde um curativo estava visível graças ao vestido rodado que ela usava. Seu olhar se desviou do papel para mim ao ouvir o barulho da porta.

— Mãe!

— Cuidado!

Ela pulou de uma vez de cima da mesa, felizmente caindo em pé, e correu na minha direção. Me abaixei para recebe-la, retribuindo o abraço, mas imediatamente checando o ferimento.

— Não pule das coisas assim! — adverti, e toquei o curativo. — O que aconteceu?

— Edward disse que ela caiu pulando da cama ou algo assim — Emmett se levantou da mesa, vindo em nossa direção. — Não surta, foi só um arranhão. E, bem...

— OLHA!

Eden interrompeu o tio para me mostrar sua nova conquista traumática. Com a boca aberta e emitindo sons ovais, ela cutucou de leve um dente que estava visivelmente mole.

— Eden, o seu dente de leite! — segurei seu rostinho com cuidado, mirando o movimento do dente que pendia frouxo. — Não está doendo?

Ela negou, sorridente. Ótimo, agora ela pensava que perder dentes em acidentes eram coisas boas.

— Ela já está na idade de começar a perder os dentes de leite — Emmett interveio.

— Que devem cair sozinhos, não com ela se estatelando no chão.

Frustrada, me levantei do chão suspirando e com ela em meu colo. Estava exercitando o auto controle pessoal sobre aquele fato, já que não adiantaria dar um show naquele momento. Fiz uma nota mental sobre precisar levá-la no dentista.

— Eu não tenho tempo para me preocupar com isso agora. Eu e Eden estamos indo para San Diego. Pode reagendar o restante da minha agenda do dia?

— O quê? San Diego?

— Jenks — foi o só o que respondi, enquanto terminava de pegar a minha bolsa e a blusa de frio da Eden que estava jogada em cima do sofá.

— Filho da mãe. Passei um bom tempo respondendo e-mails nada educados dele.

— Ele está ameaçando quebrar o contrato e cancelar o lançamento.

— Ele não pode fazer isso! — Emmett arregalou os olhos. No fundo ele sabia, tanto quanto eu, que Jenks podia sim fazer o que achasse melhor para a gravadora dele. — Vou com vocês.

— Não — parei-o com o olhar. — Eu vou lá rapidamente, resolvo isso em dois segundos. Fique com Rosalie e Dominique.

Ele suspirou, mas concordou. Com as bombas que tinham sido lançadas na mídia naquele dia, Rosalie precisaria dele para não surtar. Sem falar que eu não aguentaria a ansiedade de separação de Emmett por todo o longo caminho até lá.

Sem tempo, apenas passei mais algumas orientações rápidas ao meu irmãos e saí, confiando a bagunça que a minha agenda ficaria a ele. Eu sabia que ele faria um ótimo trabalho.

Com Eden no colo, me dirigi direto até a saída, sem me preocupar em avisar a mais ninguém. Emmett faria aquilo por mim também. Eu chegarmos na porta, coloquei a minha filha no chão e a fiz colocar a blusa de frio ao sentir o ar gelado que o fim da tarde estava trazendo.

— Pronto, querida — ao terminar de fechar o último botão do casaquinho, passei a mão de leve por sua bochecha, deixando um beijo em sua testa.

Então me levantei e tomei sua mão na minha.

— Bella!

Me virei automaticamente ao ouvir a voz de Edward me chamando antes que tivesse a chance de sair. Ele vinha correndo até nós, um pouco ofegante.

— O que houve? — preocupada.

— Fui buscar a Eden e Emmett me disse que... Você a está levando pra San Diego? — a afirmação saiu em forma de pergunta conforme ele pareceu perder um pouco da coragem de me enfrentar por aquele fato.

Cruzei meu braços, na defensiva.

— Sim, Edward. Fui chamada pra uma reunião de emergência e a minha filha vai comigo até lá. Algum problema?

— Nenhum. Apenas, eu... — ele olhou de mim para Eden, parecendo tomar coragem. — Ela poderia ficar comigo, você sabe. Parece ser uma viagem cansativa.

— Ela está acostumada a me acompanhar em viagens de trabalho. Ela gosta.

— Se ela ficar aqui não vai atrapalhar a reuni...

— Minha filha nunca atrapalha nada na minha vida — o interrompi. Eu odiava com todas as minhas forças quando alguém insinuava que Edeline atrapalhava a minha carreira de alguma forma. Pelo contrário, era a minha carreira quem muitas vezes atrapalhava a infância da minha filha, ela sempre viria primeiro.

— Eu sei, me desculpe — ele passou a mão na cabeça, nervoso. Pude ver que ele não quis realmente dizer aquilo, mas seis olhos estavam inquietos.

Olhei para Eden, ela ainda estava do meu lado, parada, nos olhando. Absorvendo cada palavra. Tentei me acalmar.

— Você acabou de passar dois dias praticamente com ela, já não está bom?

— Não é isso... Estou com uma sensação estranha sobre essa viagem. Talvez seja mais seguro se ela ficar aqui. Comigo.

Ergui uma sobrancelha. Ele estava mesmo insinuando que a minha filha não estava segura comigo? Eu sabia que aquele tipo de discussão sobre ela acabaria acontecendo com frequência se eu cedesse ao pedido de Edward, e não estava gostando nada da prévia. Aquilo não acabaria bem, não com o meu gênio.

— Edward, eu prometi pensar no seu pedido, mas você não está ajudando nesse momento — avisei, com a voz séria. — Não força a barra.

— Eu apenas...

— Quer falar de segurança quando na primeira noite com você ela volta machucada? O que exatamente aconteceu?

— Ah, eu sabia que você ia fazer uma tempestade em copo d’água.

— Ela quase quebrou um dente! — exclamei. — Por que a deixou pular na cama?

— Ela disse que o colchão novo estava duro e precisava ficar mais macio. Eu estava de olho, ela só pisou em falso.

— Tão de olho que ela caiu!

Ele levantou ambas as mãos.

— Tudo bem, tudo bem! Eu não vou mesmo discutir isso agora, e você está começando a ficar irracional. Apenas, tomem cuidado, ok?

Bufei. Ele estava com sorte que eu estava com pressa, então deixaria aquela passar.

— Prometo olhar para os dois lados da rua ao atravessar.

Ele me ignorou, abaixando-se na frente de Eden.

— Se comporte, obedeça a mamãe, e se lembre de que eu te amo.

Revirei os olhos. Porque ele tinha que ser tão melodramático? Parecia que estávamos nos mudando de pais, quando amanhã mesmo ele a veria novamente, que saco.

— Vocês vão dormir por lá?

— Não se depender de mim — respondi. — Pretendo resolver as coisas e voltar ainda hoje.

— Vão pegar a estrada a noite?

— Edward, para. Está me irritando — peguei a mão de Eden novamente, puxando-a em direção à rua. — Até mais.

— Tchau, papai.

— Até logo, princesa.

Saímos do estúdio deixando um Edward frustrado para trás. Lancei um último olhar para ele, que acenou. Não respondi.

Como sempre, Dimitri e Felix estavam nos esperando do lado de fora. Não falei com eles, indo direto para o meu carro e acomodando Eden em sua cadeirinha. Ela estava quieta demais, provavelmente assimilando a quase briga que tinha presenciado, ela nunca tinha nos visto discutir antes.

Eu não estava com cabeça para explicar aquilo a ela naquele momento, por isso tratei de colocar um dos filmes de desenho favoritos dela na tela acoplada atrás do meu banco e deixei-a se distrair com a aventura enquanto eu me acomodava no banco do motorista,  dando a partida imersa em pensamentos.

Tentei me concentrar apenas na estrada, me recusando a deixar a minha mente voar para Edward, Emmett e suas preocupações, para Mike Newton e os problemas que ele estava me causando, Jenks ou sequer para Deus e minhas recentes crises de identidade. Eu precisava pelo menos tentar chegar na reunião em paz ou aquilo não daria certo. Explodir com Jenks nunca era a melhor saída, o cara era extremamente metódico.

Após virar algumas ruas e cair na rodovia, eu ainda não tinha nem um décimo da paz que pretendia adquirir naquelas duas horas de viagens. Dominique estava quieta, concentrada no filme, mas a minha cabeça tinha começado a doer, dando voltas e mais voltas em todos os assuntos que me preocupavam naquele momento, se recusando a me deixar em paz.

— Amorzinho, pôe o fone de ouvido, por favor? — pedi, vendo-a me obedecer prontamente ao pegar os fones que ficavam numa caixinha acoplada na cadeirinha e conectando-o à tela, depois ao ouvido.

Frustrada, estiquei a mão até o rádio, ligando-o sem me preocupar com qual estação estaria sintonizada. Eu só precisava me distrair. Uma melodia começou a tocar imediatamente. Não reconheci.

— Tudo bem ai, querida? — chequei Eden pelo retrovisor, aumentando a voz para que ela ouvisse. Ela me olhou, acenando com a cabeça. Seus olhos estavam pesados, Edward com certeza deve tê-la cansado com brincadeiras na noite anterior.

A estrada estava calma para se dirigir naquele fim de tarde, felizmente. Nada de transito intenso ou som de buzinas. O tempo, entretanto, parecia estar se fechando. Algumas nuvens começavam a tampar o sol que ainda se punha, na cor cinzenta, indicando uma possível chuva. Acelerei um pouco a velocidade, não querendo pegar estradas molhadas antes de chegar em San Diego.

“Pra que tanta evolução

Se o crescimento sempre fica para trás

E o mundo me diz não

Mas ainda existe alguém oferecendo paz”

Olhei para o rádio, finalmente ouvindo a estranha letra. Mas que porcaria de rádio era aquela?

“E esse alguém sou Eu, não me diga adeus

Eu sei bem aqui dentro que você não Me esqueceu

Então abra os seus olhos e olha para Mim

Eu morri numa cruz, por você ressurgi

Abri mão de mim mesmo, siga-me”

Olhei para o número da rádio, não acreditando naquilo. Edward devia ter sintonizado em alguma rádio cristã da última vez que esteve no carro.

“E esse alguém sou eu, não direi adeus

Eu sei bem aqui dentro que o Senhor não me esqueceu

Então abre os meus olhos pra que eu possa ver

Quero ver teu amor refletido em mim

Abro mão de mim mesmo, guia-me”

Me senti estranha ouvindo a letra. Era uma sensação diferente, como se aquilo não fossem apenas palavras. Como se carregassem algo a mais com elas, um peso que causava uma comoção no ambiente ao meu redor, mesmo dentro de um carro. Eu sabia que uma hora teria que parar de ignorar tudo, todos aqueles sinais e mensagens repetidas chegando a mim, porém aquela possibilidade me assustava infinitamente.

Eu já tinha entendido que Ele não me deixaria em paz até que eu entendesse que Ele não iria me esquecer. Mas, de qualquer forma, aquela não era a hora ou o lugar para pensar naquilo, pensar nEle e em suas diversas tentativas de repetir a mensagem para mim.

Desliguei então o rádio com o foco em prestar atenção na estrada e desanuviar os pensamento, portanto mantive a minha cabeça erguida enquanto dirigia rumo à viagem que mudaria a minha vida para sempre.

Porque, sem saber, eu estava dirigindo em alta velocidade na estrada onde a minha vida terminaria.


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Notas finais do capítulo

Eu realmente lamento a quantidade de tempo longe. Parece que tem alguma força me mantendo longe, eu escrevo de tudo menos aqui. Eu não vou mais fazer promessas porque eu estou cansada de quebrá-las, mas posso continuar garantindo que nunca vou desistir da história e que um dia eu termino. A menos que eu morra. Mas já tenho pessoas encarregadas de avisar vocês caso isso aconteça, não se preocupem.

Pelo menos eu compensei com um capitulo enorme, não? Personagens novos, Beward se aproximando e um final que eu sei que foi sacanagem deixar assim, desculpem haha

Em algum lugar deste capitulo tem uma referência à minha série favorita. Pra deixar mais divertida a espera do próximo, vamos brincar assim: quem adivinhar qual é a referência, eu mando um spoiler do proximo por MP!

Musica do nome: Guia-me - Daniela Araújo

Obrigada por ainda estar aqui (se você esta lendo, esta aqui), me perdoa e não desiste de mim!

B♥



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