Aluga-se Um Noivo escrita por Clara de Assis


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo LoL e esse tá uma coisa de louco!



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Mal havíamos terminado o café da manhã e o celular dele tocou, com um toque de telefone antigo, ele franziu o cenho muito sutilmente ao olhar para o visor, pediu licença e se afastou da mesa, ainda que não pudesse ouvi-lo, fiquei observando, mão no bolso da calça, sério, ouvia mais do que falava, vez e outra me olhava e eu sorria de volta, um sorriso simples, seja lá o que estivesse acontecendo o fazia ter uma postura diferente da habitual descontração e desenvoltura.

Voltou, sentou-se e sorriu ao mesmo tempo que suspirava.

— Onde paramos?

— Na sua índole imaculada. — isso o fez rir, e em seguida pegou um iphone do bolso. Nossa ele tinha dois celulares? Ele deve ser muito requisitado.

— Azul... Preto... Rosa... — ele estava escrevendo as cores que havia dito? — Comida e bebida?

— Feijoada e cerveja — ele sorriu e anotou.

— Música?

— Samba e Justin Timberlake. — Agora me olhou de lado, confuso, mas anotou. Théo estava mesmo me entrevistando?

— Que tipo de samba?

— Todos os que tocam em uma feijoada.

— Quais são? — Como assim ele não sabia?

— Arlindo Cruz, Revelação, Fundo de Quintal, meu preferido. Seu Jorge...

— Você sabe sambar?

— Fui passista da Mocidade Independente de Padre Miguel, isso responde sua pergunta?

Théo estava de boca aberta, chocado e divertido.

— Muito interessante. Então você gosta de uma diversão mais popular.

— Popular? Não, eu diria tradicional.

— Do que mais você gosta? — agora era o Théo quem perguntava, não o namorado de aluguel que precisava decorar meus gostos.

— Gosto de cinema, mas só pra ver comédia, não me chame pra filme de terror que eu odeio levar susto, ficar tensa ou chorar pela morte de gente que nem é real. Também gosto dos vídeos da Porta dos Fundos e sou tipo, muito fã mesmo e viciada em Fábio Porchat! Ele é o máximo!

— Melhor que o Adnet?

— Infinitamente melhor! Nossa! Sou fã mesmo número um dele! Porra! E do Luis Lobianco que fez o vídeo... — não consegui concluir a frase porque me deu um ataque de riso só de lembrar, quando dei por mim, Théo estava com o cotovelo apoiado na mesa, e sua mão segurava um rosto sorridente, estava prestando atenção em mim, então tentei ser o mais normal possível e concluir o pensamento — Ai, desculpa, — limpei a lágrima que resolveu aparecer de tanto que eu ri — O vídeo é dos Dez Mandamentos, adoro esse e o do Aniversário também! Ah! Você já viu o vídeo “é pau é pedra”?

— Ainda não. Como é?

— Ah não vou contar não, você tem que ver! É muito bom.

— Você é fã mesmo hein?

— Ai desculpa. — sabe quando cai a ficha da tietagem? Então.

— Que nada, é bom ver você mais solta, saber do que gosta, é importante pra eu ser o mais verdadeiro possível nesse namoro de faz de contas.

— Théo, você já fez isso antes? Quero dizer, fingir ser namorado?

Ele negava com a cabeça lentamente enquanto sorria com malícia.

— Mas isso é ruim pra você? Tipo, sem....

— Sem foder?

— É.

— Adoro esse seu “é”. — de repente ele se pôs sentado corretamente e começou a digitar no iphone enquanto me respondia — Não, Débora, isso não é ruim, pelo menos não com você.

Hã? Estou entendendo certo? Ele disse que não era ruim por ser comigo? Ou eu quem queria interpretar dessa maneira?

— Meus amigos me chamam por apelidos, raramente de Débora. — achei melhor informar.

— Que apelido?

— Apelidos. Debby, Debinha, Debrinha, Debrita, Dé...

— Nossa, muitos apelidos.

— Meu irmão me chama de Abelhinha.

— Abelhinha? Por quê?

— Meu nome significa abelha, meu pai e Junior sempre me chamaram assim.

— E seus pais? Moram longe?

Aham. No céu. — ele ficou desconfortável e lamentou — Tá tudo bem. — amenizei — Faleceram tem um tempo. Eu tinha vinte e três anos.

— Um tempo? Quantos anos tem?

— Quantos acha que tenho?

— Achava que vinte e cinco, mas como disse que tem um tempo, então sei lá uns vinte e sete?!

— Trinta.

— Impossível.

— Muito possível. E você? Tem o que? Trinta e dois?

— Trinta e quatro. — respondeu sem muita convicção.

Não pude evitar sorrir com as coisas que estavam passando pela minha cabeça, então mandei mais um gole de suco de laranja pra dentro, a fim de abafar o sorriso tosco.

Ele percebeu, obviamente, que estava pensando em alguma coisa, mas teve a delicadeza de não perguntar o que era.

Continuamos a conversar, ele anotou as datas dos compromissos, reuniões, ensaios de casamento e aconteceu uma coisa estranha... Quando perguntou aonde seria o casamento, e respondi, ele ficou tenso. Estranhíssimo.

— Vai ser na pousada dos meus tios, em Penedo. — Foi nesse instante que ele meio que travou os músculos do ombro.

— Que lugar de Penedo... Exatamente? — Parecia uma pergunta casual, mas sei lá...

— Na última pousada, seguindo uma estradinha... Bem no pé da montanha, Pousada Lua de Mel.

Théo deu uma relaxada de leve aquiescendo.

— Quer dar uma volta? — Mudou de assunto de repente.

Aceitei o passeio e apesar dele me convidar pra almoçar e eu querer realmente aceitar, precisava arrumar meu apartamento... colocar umas roupas pra lavar, aproveitar o tempo bom, pra ele era fácil passar as manhãs atoa...

* * *

Adoro tirar o sapato pra ficar passando os pés com a meia calça lentamente no piso acarpetado do escritório, um prazer quase sexual. Estava nesse momento quando Carol chegou, atrasadíssima, instalou-se na mesa ao lado da minha, estava pilhada.

 — Bom dia.

— Bom dia, Carol. — ela já foi ligando o computador, tirando uns papéis da bolsa e o celular.

— Que foi?

— Ansiedade, fiz merda. Olha isso.

Era uma mensagem da Luiza, Letícia estava em cólicas querendo saber quem era o homem do bar. Há! Sabia que ela estava se mordendo. Piranha, filha da puta!

Carol foi me mostrando uma sequência de mensagens trocadas com minha cunhada Luiza, onde o ponto máximo parou na palavra “noivos”.

Voltei e li novamente:

Mas como assim ela arrumou uma pessoa de repente? – L

Amor à primeira vista! – C

Letícia disse que deve ser mais um namoro passageiro... – L

Letícia é uma invejosa do caralho! Pode dizer a ela que é mais sério que ela imagina – C

Sério quanto? (Roendo unhas de curiosidade) – L

Estão noivos, morando junto e tudo. – C

Choquei! Ela não contou pra ninguém! – L

Pra Letícia não tentar roubar... – C

Naquele instante, parei um pouco de pensar, acho que parei até de respirar. Levei minha mão à boca, segurando minha incredulidade diante dos fatos.

O plano era apresentar o Théo como namorado e “desmanchar” logo depois do casamento, agora estava no status de noiva? Como sairia dessa merda? Terminar um namoro é uma coisa, mas um noivado é passar atestado real de incompetência matrimonial! Depois do meu histórico de inúmeros namorados após romper com João, isso seria a cereja do sundae! Que merda!

— Que merda, sua filha da puta! — nem sei se falei alto, mas falei.

— Foi mal, amiga! Só fiquei pensando em fazer você se sair bem, eu já estava com umas caipirinhas na ideia... Me perdoa. — Carol estava mais preocupada com ser desculpada do que em como eu resolveria a situação!

— Preciso ligar pro Théo!

Tentei. Telefone fora de área ou desligado, mais uma vez. Pra que ele me dá um número se não consigo falar com ele? Mandei uma mensagem explicando a situação.

Só lá para às duas da tarde que recebi uma mensagem em resposta. Nossa, como esse cara dorme!

“O que você quer?”. Curto e grosso, ou melhor, curto e muito grosseiro!

“Precisamos rever valores. Preciso de um noivo”. Respondi profissionalmente.

“Como é? Você quer alugar um noivo?”. Ele entendeu. Respondi que sim e a mensagem dele veio em seguida.

“Acréscimo de período?”

“Sim, sem agendamento prévio, full time. Isso é possível ou vamos desfazer o negócio?”. Precisava saber logo de uma vez. Carol estava dependurada no meu ombro! Mais nervosa que eu! Claro, fez merda!

— Carolina, quero deixar claro que se ele topar, você vai pagar metade do valor.

— Muito justo! — ela que é tão mão de vaca nem pestanejou.

Dessa vez a resposta dele demorou um pouco mais. Acho que uns dez minutos. Por fim chegou.

“Tá falando sério? São dois meses daqui até o casamento do seu irmão”. Se ele estava preocupado com o valor, eu muito mais! Já estava até me vendo acenando um largo adeus ao meu décimo terceiro.

“Sim. Preciso alugar um noivo, que finja viver comigo.” Pronto, mandei de uma vez e seja lá o que Deus quiser.

A resposta demorou muito mais dessa vez, acho que meia hora.

Fui tomar um cafezinho e quando voltei estava lá o símbolo do envelope na tela.

“Você já fez as contas? Por alto?”. Na verdade não e antes de responder puxei a calculadora do canto esquerdo na tela do computador. Ele disse trezentos por dia, vezes sessenta dias... Minha Nossa Senhora. Afundei na cadeira.

Dona Carolina estava na sala do chefe, sendo pisoteada mais uma vez por nenhuma razão plausível. Não dava pra mostrar a ela a merda que ela me arrumou!

“Você aceita parcelar? Faz desconto por pagamento à vista? Ou crediário?”.

Ele respondeu quase que instantaneamente “Você me mata de rir, Débora! Eu tenho cara de Casas Bahia?”

Foi com essa resposta que me vi dando adeus a minha dignidade diante da família e amigos, porque eu não tinha dezoito mil Reais pra pagar a um garoto de programa!

Carol desabou na cadeira ao meu lado.

— Eu te odeio Carol!

— Ai meu Deus, ele recusou?

— Olha aqui quanto sai trezentos reais por dia, por um mês!

— Caralho! Nove mil por mês? Puta que pariu ele ganha muito mais que a gente!

— Mas são dois meses sua idiota!

— Dezoito... — ela deu uma engasgada — Dezoito mil reais??

— À vista!

Carol parecia pensar seriamente no assunto.

— Pode aceitar! — resolveu de repente, mas sem tirar os olhos da tela do seu computador.

— Tá maluca??

— Tô baixando minha aplicação da poupança... — estiquei os olhos e vi o site do banco! Ela é muito mais louca que imaginei! —  Dá aqui o celular que eu mesma conserto essa merda.

Pegou meu celular e digitou uma mensagem. Ouvi o aparelho apitar e quando tentei pegá-lo ela não deixou! Mandou outra mensagem sorrindo e então se levantou pra ir ao banheiro, mas levou meu aparelho.

E devia estar com dor de barriga! Só voltou quarenta minutos depois. Com uma cara orgulhosa que me fez preocupar de imediato! Levantei com tanta vontade que senti vários pares de olhos em cima de mim.

Depois desabei na cadeira quando comecei a ler as mensagens.

— Carolina, era pra consertar, não pra esmerdar tudo de uma vez, sua puta!

— Não precisa agradecer. Acho que está mesmo precisando, está tão... irritadinha com tudo. E que papo é esse de que você tem um vibrador e nem me contou?

E com isso ela se concentrou nos documentos que estava analisando. Voltei a reler as mensagens, ela não tem mesmo noção de nada nessa vida!

Casas Bahia? Kkk, você me mata de rir. Ok, pago sua mensalidade, uma parte em adiantamento, uma na virada do mês e o restante no dia seguinte ao casamento. - D

Fechado. - T

Só mais uma coisa, se eu quiser sexo, tem acréscimo de valor? Afinal já está bem caro!– D

Você tá falando sério? – T

Sim. Tenho pensado muito em você. – D

Pensando? No que exatamente? – T

Em você dentro de mim, pra ser bem exata. – D

Uau, Dona Débora, que evolução! Pergunto-me no que mais andou pensando...– T

Tenho certeza de que anda se perguntando. Agora me responda, dezoito mil e sexo de vez em quando? Ou ... de vez em sempre... – D

Dezoito mil e o sexo que você quiser quantas vezes quiser. – T

Acho que muito. – D

O que houve com aquele vibrador na sua gaveta? Quebrou? Você está muito diferente da garota de ontem.– T

Você andou mexendo nas minhas coisas? Que xereta! – D

Queria vesti-la, mas quando vi o vibrador, achei melhor não, para não constrangê-la. – T

Juro que não me lembro de nada daquela noite! – D

Peguei suas chaves na bolsa, entramos, coloquei você no chuveiro, depois na cama, nos beijamos e fui embora. – T

Gosto de beijar você, gosto da sua língua na minha boca, acho que vou gostar do seu pau dentro dela também, quero foder com você. – D

Seu desejo é uma ordem. Farei o possível para fodê-la tão gostoso que queira me pagar mais dezoito mil pra isso. – T

Kkkkk, assim espero! Esse noivado tá saindo quase o preço de um casamento! – D

Não chora. Façamos assim: sua satisfação garantida ou seu dinheiro de volta. – T

Agora sim tá com cara de Casas Bahia :) Preciso ir.  Ligo amanhã pra acertarmos, ok? – D

Ok. Tchau, minha noiva – T

Tchau, noivo – D.


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Notas finais do capítulo

E viva a Carolina! LoL!!!