POV: KATNISS.

Eu me agachei no chão e estiquei as pernas. Olhei ao redor e não tinha absolutamente ninguém nos fundos da padaria. Afinal, esse lugar cheirava á queimado, além do cheiro dos pães frescos e açucar. Mas eu não estava muito preocupada com o cheiro que tinha aqui fora, minha maior preocupação eram as lágrimas que não cessavam. Não importa quantas vezes eu diga que não amo o Peeta, minhas lágrimas falam o contrário. Já vai fazer quase uma semana desde que eu descobri um sentimento por ele, e só cresce á cada dia. Porém, eu sinto que deixará de ser recíproco. Peeta me viu beijar o Gale, e meu Deus, eu nunca o vi tão bravo. Ele não estava bravo pelo beijo, ele estava bravo pela minha indiferença perante á ele, e por todo o carinho que dava á Gale. E meu Deus, eu também estou brava! Quero socar Gale até a morte. Ele me usou! Sim, usou. Me chamou até a floresta só para me beijar, era seu intuito desde o começo, eu sei. Como ele foi sujo! Cadê a nobreza? Peeta pode ser nobre, Gale não.

Balancei a cabeça e as lágrimas foram para a minha bochecha. Ouvi gritos dentro da casa de Peeta. Eles falavam mal do Peeta. Eu balancei a cabeça. Não vou ficar ouvindo ele ser tão maltratado pela mãe. Limpei o rosto e me levantei. Eu tinha deixado a caça na floresta. Levantei o queixo e voltei. Um pouco antes de passar pela cerca eu vi Gale saindo de lá com toda a caça. Meu queixo ficou mais erguido. Eu não iria falar com ele. Foi muito imundo, não merecia minhas palavras.

– Não vai agradecer?- Perguntou, depois que eu peguei a caça e me virei para ir ao Prego. Eu respirei fundo antes de me virar para ele. Tinha um sorriso sarcástico e podre no rosto. Eu sei que prometi que não ia falar, mas eu não me aguentava.

– Agradecer pelo quê? Por você ter sido tão idiota? Por você ter acabado de estragar um sentimento que o Peeta sentia por mim? Por você ter afastado-o de mim? Por ele estar mal agora? Ou sei lá, talvez por estar me fazendo sentir a pessoa mais imunda de todo o distrito 12, até acima de você.- Eu disse muito irritada. Meu rosto queimava, eu estava com muita raiva. E ele ainda ria!

– Eu não acredito nisso, Catnip! Não te disse que ele era um menino mimado? Pois ele é. Desiste muito facil ele! Eu te vi beijando-o e não desisti. Olha eu aqui! Acha mesmo que ele merece isso tudo?- Ele perguntou com uma sobrancelha erguida. Eu bufei.

– Babaca! Você de fez de propósito! Você o viu lá, por isso me beijou. Jogo sujo, Gale!- Eu disse, batendo no peito dele.

– Eu nunca disse que jogaria limpo. Deixe que ele seja o nobre e eu seja apenas eu, sim?- Ele disse, colocando a mão no meu rosto.- Katniss, eu sei que você está achando que de alguma forma eu a usei, mas não foi isso, eu realmente precisava daquilo. E não, eu não o vi lá. Eu não sou tão imundo quanto você imagina.

– Não é? Então porque não mostra que não é? Porque fez questão de abrir esse seu sorriso sarcástico sabendo que agora, nesse exato momento, tem alguém sofrendo. É tão hipócrita! Fala mal da capital por rir do sofrimento alheio, mas olha você!- Agora eu o deixei irritado. Mas que se dane, eu também estava brava!

– Não me compare á capital. Eu não estou levando o Mellark á morte, eu não estou tirando dele a esperança de ter uma vida. Eu não estou! Ele não tem aquela grande amiga, com quem não se desgruda? Porque não fica com ela?

– Eu não vou discutir isso com você, Gale. Já passei tempo demais com você. Porque não vai na sede da justiça e escreve seu nome nas minas? Porque não aproveita e tenta ir para o distrito 2, o lugar onde você mais quis morar por toda a vida? Vá na fé. E faça o favor de esquecer o que aconteceu na floresta, porque eu esquecerei.

Eu menti. Eu sei que nunca vou conseguir esquecer esse beijo, que eu espero que seja o último. Eu sei que eu amo o Gale e tudo mais, só que o beijo dele não causou em mim o que os beijos de Peeta causaram. Eu sentia um calor diferente nos lábios de Peeta. Um calor que eu não senti nos de Gale. Talvez fosse só porque eu já conhecia o Gale, porque ele sempre foi o meu amigo e Peeta era um "desconhecido" completo. Mas Peeta tinha algo mais. Algo mais que eu nunca vou descobrir o que é, já que agora eventualmente, ele me detesta.

Quando me aproximei da padaria vi Delly sair de lá. Ela estava de cabeça baixa, mas levantou para me olhar e fui eu quem abaixei a cabeça dessa vez. Eu estava com vergonha. Ela esteve com Peeta e ele provavelmente lhe contou tudo, e ela iria me dar um sermão semelhante ao de logo cedo, e eu não queria ouvir. Tentei andar mais rápido.

– Pode fugir de mim, mas não da sua consciência. Eu não vou te dar bronca, só quero saber se agora está feliz. Porque você deve saber que acaba de ganhar a indiferença de Peeta para sempre.- Ela disse se aproximando e segurando o meu braço. Eu olhei para ela. Eu já sabia disso, mas eu não queria ouvir, eu preferia acreditar que ele não tinha se magoado por saber da minha confusão. Eu não a deixei clara?

– Eu estou muito confusa pra pensar nessas coisas, Delly.- Eu disse, puxando o braço. Ela riu irônica.

– Pouco importa pra mim se você está confusa, e você já teve tempo suficiente para resolver sua confusão, não se faça de idiota pois nós duas sabemos o quanto é esperta quando quer.- Ela disse, jogando os cabelos loiros para trás. Foi quando me lembrei de que ela não vinha sorrindo ultimamente. Seus olhos eram raivosos agora.

– Você devia estar feliz.

– Pelo meu melhor amigo estar sofrendo? Acho que não Katniss.- Ela disse, balançando a cabeça e cruzando os braços.

– Por ele não me amar mais, é bom pra você.- Eu disse. Ela revirou os olhos.

– Ele não deixou de amar você, Katniss. Ele não conseguiu ser "indiferente" por tanto tempo? Não vai ser tão diferente agora. Só que agora ele está bravo, irritado, magoado... Bom pra mim? Porque seria bom pra mim? Você ainda nutre aquela ideia maluca de que eu sou apaixonada por ele, não é?

– Não parece tão maluca assim.- Eu dei de ombros. Ela balançou a cabeça.

– Só queria te dizer isso mesmo. Só quero saber se está feliz agora, com o Gale.- Ela disse. Seus olhos brilharam. E ela quer dizer pra mim que não ama o Peeta? Tá certo.

– Eu não estou com o Gale e eu não estou feliz. Agora porque não me dá licença? Eu preciso...

– Você precisa abrir um pouco a sua mente, pensar um pouco nas suas atitudes, no efeito que elas vão causar. Só pensa um pouco...

– Já percebeu que você está sempre pedindo pra eu pensar? Tá sempre me dizendo o que fazer? Tá sempre me dizendo que as minhas palavras causam danos.... E as suas? Acha mesmo que as suas palavras não causam danos? Eu fico maluquinha com as coisas que você diz. Não é nada facil pra mim ouvir as pessoas me criticando como se soubessem o que se passa na minha vida!- Eu disse, agora me irritando.

– Talvez porque eu não me importo. Me importa o Peeta. Eu ouvi ele falar de você sua vida toda! Você vai ficar com o Gale, vai ser feliz, mas e o Peeta?

– Do jeito que fala eu pareço uma egoísta desalmada.

– É porque é desse jeito que eu te vejo.- Ela disse e se virou. Eu estou cansada de ela falar o que quer, se virar e ir embora.

– Sabe, Delly, você devia ouvir um pouco... E procurar não ficar perturbada.- Eu disse, puxando o braço dela.

– Eu não fico perturbada. Sei que as coisas que escuto são merecidas, Katniss. Mas eu sei exatamente o que eu estou fazendo, e não estou confusa sobre se devo magoar á todos ou me magoar. Porque entre isso, eu prefiro me magoar.- Ela disse sorrindo.

– Eu não quero magoar ninguém.

– O que você quer é impossivel, Katniss. Você vai estar sempre magoando alguém. Faz parte de uma lei louca da vida. Só precisa saber quem é a pessoa que não merecia de jeito nenhum, ser magoado de forma tão bruta. Não sei, só pensa.

– Eu penso o tempo todo.

– Mas não raciocina. Vai vender coelhos... E ah, o Sr. Mellark vai querer esses esquilos. E está ficando tarde. Até amanhã, Katniss.- Ela disse. Sorriu, acenou e foi embora.

Delly, seria sempre Delly.