Depois de deixarem a Ilha de Coriakin, os tripulantes do Peregrino da Alvorada navegaram por mais duas semanas sem encontrarem terra. Kalene e Lúcia passavam a maior parte do tempo tomando conta de Gael, enquanto Edmundo estava passando seu tempo com Caspian, para verificar as direções que o navio estava tomando.

Em um dia chuvoso, Eustáquio havia se isolado para escrever em seu diário, com medo de que Kalene o visse outra vez. Falando nela, estava com Lúcia no antigo camarote de Caspian, penteando os cabelos de Gael. Ela estava fazendo uma trança na garotinha, enquanto Lúcia colocava alguns enfeites de cabelo.

–Ela está ficando linda, não acha, Lúcia? - Perguntou Kalene.

–Está mesmo. - Respondeu Lúcia.

–Eu amei o penteado, Princesa Kanes! - Disse Gael.

–Pode me chamar só de Kanes. - Disse Kalene, amigavelmente.

Era a primeira vez que ambas lidavam com uma garotinha mais nova. Mas pelo visto, ambas estavam se saindo bem. Principalmente porque Gael não era problemática. Mas desde que começou a chover parece que todos os outros tripulantes ficaram chatos e emburrados. Menos Ripchip, é claro.

Naquela noite, Lúcia acordou, intrigada com o feitiço que havia pego escondida. Verificou se Kalene e Gael estavam dormindo mesmo, pegou a página e leu o feitiço. Em poucos minutos, parecia com Susana novamente. E teve o pior dos pesadelos. Sonhou com sua casa, e que ela mesma não existia. Nem Nárnia existia. Arrependida, voltou a cabine e viu Aslam, que deu mais um de seus belos conselhos à garota. E então, Lúcia acordou de vez e jogou a página no fogo.

Kalene, por si só, sonhava com a Nárnia gelada de seus primeiros 100 anos de idade. Ela sonhou que a Feiticeira Branca a esfaqueava e que Aslam lhe dizia estar desapontado (é uma parte da tentação, não é o Aslam verdadeiro). Sonhou com Nárnia sendo destruída, e todos os narnianos morrendo, exceto ela. Os versos de sua maldição vieram em sua cabeça. Foi quando ela acordou e viu Lúcia acordada do lado dela.

–Você sonhou com... - Lúcia estava prestes a perguntar, mas foi interrompida.

–Sonhei. - Respondeu Kalene. - Foi horrível.

–É, eu sei. Eu também tive um sonho. Vamos ver se Ed e Caspian também estão tendo sonhos. - Disse Lúcia, se levantando e sendo seguida por Kalene.

As duas desceram até o compartimento onde os tripulantes dormiam e encontraram Edmundo e Caspian sonhando também. Caspian delirava algo sobre seu pai e Edmundo estava vendo a Feiticeira Branca. Em um ato de fúria, ele empunhou a espada, revelando ser só um sonho. Quem estava ali, de fato, eram Kalene e Lúcia.

–Edmundo. - Chamaram Lúcia e Kalene, ao mesmo tempo.

–Lúcia. Lennie. - Disse Edmundo, aliviado.

–Perdemos o sono. - Disse Kalene, enquanto Caspian acordava assustado.

–Nós tivemos... - Novamente, Lúcia foi interrompida.

–Já até sei. São pesadelos. Ou estamos enlouquecendo, ou estão brincando com nossas mentes. - Disse Edmundo.

Lúcia e Kalene se acalmaram um pouco e resolveram voltar para a cabine delas. Edmundo disse que se Kalene quisesse dormir com ele era só deitar, mas ela se recusou. Aquele era um espaço muito apertado, e por mais que fosse romântico, estava cheio de gente em volta, além de ser desconfortável para os dois. Eddie entendeu e concordou, voltando a dormir em seguida.

Na manhã seguinte, chegaram a uma estranha ilha. Era uma ilha vulcânica, novamente, desabitada. Mais uma vez, embarcaram em botes para explorar a ilha.

–Os Fidalgos não pararam aqui, alteza (se referindo a Caspian, não à Kalene). Não tem o menor sinal de vida. - Disse Ripchip.

–Tem razão. Assim que formos à praia, leve seus homens em busca de água e comida. - Disse Caspian. - Nós quatro vamos procurar pistas.

–Não quis dizer "nós cinco"? - Perguntou Eustáquio. - Eu prefiro ir com ela em vez de ficar com aquele rato.

–Exagerado. - Ironizou Kalene (Lê-se: Exageraaaaaaado...)

–Eu ouvi isso, rapaz! - Protestou Ripchip.

–Orelhudo. - Sussurrou Eustáquio.

–Continuo ouvindo. - Disse Ripchip, fazendo Kalene, Caspian, Lúcia e Edmundo rirem.

Assim que chegaram na praia, Eustáquio se escondeu de todos. Ele preferiu ficar sozinho a ter que ficar com Ripchip ou com Kalene. Ele só precisava pedir desculpas para Kalene, mas era orgulhoso demais para fazer isso. Embora ninguém tenha sentido sua falta.

Caspian, Kalene, Edmundo e Lúcia saíram, explorando a ilha e acharam um buraco que levava até uma caverna subterrânea. E melhor ainda, acharam uma corda que descia até lá.

–Vejam! Não somos os primeiros nessa ilha. - Disse Caspian.

–Os Fidalgos? - Perguntou Edmundo.

–Pode ser. - Respondeu Caspian. - O que será que tem lá embaixo? - Ele jogou uma pedra no buraco.

–Vamos descobrir. - Disse Edmundo.

–Eu vou primeiro, me deem cobertura. - Disse Kalene, já se agarrando na corda.

–Nem pensar! Tire a mão dessa corda! - Protestou Edmundo, fazendo-a soltar a corda. - Eu vou primeiro.

Kalene acabou de descobrir as teimosias de Edmundo e não gostou nadinha. Ela tentou impedir, mas quando viu, ele já estava lá embaixo. Só para provocá-lo, ela desceu em seguida. Depois veio Caspian, e por último, Lúcia.

Lá, eles se depararam com um lago cheio de coisas feitas de ouro. Tinham pedras, um escudo e um homem. A princípio, acharam que fossem só estátuas de ouro.

–O que é aquilo? - Perguntou Caspian.

–Eu não sei. - Respondeu Edmundo - Parece que é uma estátua de ouro.

–Essa estátua é tão perfeita que parece que jogaram ouro em cima do homem. - Comentou Kalene. (N/A: Kalene Mãe Diná kkkkkk)

–É mesmo. - Concordou Lúcia.

Eddie pegou uma raiz e tentou cutucar a estátua, mas em segundos, a raiz se transformou em ouro, machucando a mão de Ed, que teve que largar a raiz na água.

–Você está bem? - Perguntou Kalene, se aproximando e pegando a mão dele.

Ele assentiu e se soltou dela.

–Deve ter caído lá dentro. - Disse Caspian. - Kanes estava certa, não tinha como ser assim tão real.

–Pobre homem. - Disse Lúcia.

–Tá mais pra "pobre lorde". - Disse Edmundo, notando o escudo.

–O brasão de Lorde Restimar. - Disse Caspian.

–E a espada dele! - Disse Edmundo, apontando para a espada.

–Precisamos dela. - Disse Caspian.

–Tome cuidado. - Disse Lúcia, quando o irmão tirava a espada da água com a outra espada mágica. - As espadas não viraram ouro...

–Ambas espadas são mágicas. - Disse Caspian, enquanto Eddie lhe passava a espada.

–Ele nem deve ter se dado conta do que aconteceu. - Disse Lúcia.

–Provavelmente ele nem sabia sobre a água, Lu. - Disse Kalene.

–Pode ser. Mas, quem sabe ele foi tentar alguma coisa. - Disse Edmundo, pegando uma concha e a colocando na água.

Em poucos segundos, a concha virou ouro. Edmundo olhava para aquilo como se fosse a solução de seus problemas. Ele olhava tão concentrado que Lúcia teve que chamar sua atenção.

–O que você está olhando? - Perguntou Lúcia, fazendo o irmão se voltar para ela.

–Quem tiver acesso a esta fonte, pode ser a pessoa mais poderosa do mundo. - Disse Edmundo, fazendo Caspian o olhar com um pouco de raiva.

Kalene começou a ficar agoniada com aquele lugar, mas mantinha sua preocupação com o comportamento de Ed.

–Lúcia, ficaríamos tão ricos que ninguém poderia nos dizer o que fazer ou com quem viver. - Disse Edmundo, com uma expressão obcecada.

–Você não pode levar nada de Nárnia, Edmundo. - Disse Caspian.

–Quem disse? - Perguntou Edmundo, ainda olhando para a concha.

–Eu disse. - Respondeu Caspian, fazendo Edmundo olhá-lo com ódio.

Edmundo pegou a espada e andou em direção a Caspian.

–Eu não sou seu súdito! - Exclamou Edmundo.

–Ficou esperando, não foi? Pra me desafiar! Duvida da minha liderança? - Perguntou Caspian, com tanto ódio no olhar quanto Edmundo.

–Você duvida de si mesmo! - Exclamou Edmundo.

–Você é uma criança! - Retrucou Caspian.

–Caspian! - Gritou Kalene, tentando chamar a atenção de Caspian.

–E você é um covarde sem fundo! - Rebateu Edmundo.

–Edmundo! - Chamou Lúcia, pegando no braço de Ed, mas foi arremessada para trás. Por sorte, Kalene a segurou, impedindo-a de cair na água.

–Estou farto de ficar em segundo plano! Primeiro com o Pedro, e agora com você! Sabe que sou mais corajoso que vocês dois! - Gritava Edmundo, encarando Caspian.

–Pare, Edmundo! Você nunca esteve em segundo plano! - Exclamou Kalene, mas Edmundo nem dava ouvidos a ela.

–Por que ficou com a espada do Pedro? Eu mereço um reino só meu! Eu mereço governar! E mereço uma rainha como a Kalene ao meu lado! - Disse Edmundo, ainda encarando Caspian.

–É óbvio que alguém tão baixo como você não a merece! Você nunca esteve ao lado dela! - Exclamou Caspian.

–Parem com isso! - Gritou Kalene, contendo as lágrimas.

–Mas se estivesse, eu a protegeria em vez de deixá-la me proteger! Você não tem coragem para salvar a si mesmo! Como governa um reino?! - Perguntou Edmundo, ainda naquele tom de raiva.

–Se você se acha tão corajoso, prove! - Disse Caspian, empunhando a espada.

Ed empunhou a espada também e os dois começaram a brigar, até que Lúcia os separasse. Kalene não tinha forças para olhar para aquilo. Ela também não era a menina mais santa do mundo, mas nunca brigou com um amigo por um motivo desses. Tudo bem que Ed também se sentia inferior, mas e ela? Ela se achava mais inferior ainda, só que ninguém sabia disso. Pois, na frente de todos, ela estava completamente satisfeita. Mas, lá dentro, ela gritava. Tinha que conter as lágrimas e fingir sorrisos para ninguém ficar sabendo o que se passava em seu coração.

Lúcia conseguiu fazer os dois pararem de brigar e voltarem para cima. Ela os explicou que aquela era a tentação que Coriakin havia mencionado. Por mais que Kalene tentasse esconder a tristeza do olhar, Lúcia notou e foi falar com ela.

–Tudo bem? - Perguntou Lúcia.

–Claro. Por que não estaria? - Respondeu Kalene, dando um sorrisinho.

–Porque eu vi você tentando não chorar. Não precisa esconder nada de mim, pode me contar. - Disse Lúcia, oferecendo um ombro amigo.

Enquanto Caspian e Edmundo andavam na frente, de volta para os botes, Kalene e Lúcia andavam mais atrás, conversando. Kalene contou para Lúcia o que realmente estava sentindo e porque quase chorou dentro da caverna.

–Me desculpe, Kanes. Eu não sabia que você se sentia assim. - Disse Lúcia.

–Ninguém sabe. Eu me esforço o máximo possível para ninguém saber. Há 1.303 anos, venho repetindo para mim mesma: Não sinta, não deixe que saibam, sempre seja uma boa menina. Mas parece que agora já era. - Disse Kalene. (Falas em itálico adaptadas de "Frozen")

–Não esconda seus sentimentos. Procure falar com alguém, sempre ajuda. - Disse Lúcia, abraçando a amiga. - Mas agora, eu vou puxar a orelha do meu irmão. Ele também te deve desculpas.

Kalene ficou ali, enquanto Lúcia foi até Edmundo e literalmente puxou a orelha dele.

–Vai pedir desculpas pra ela agora! - Disse Lúcia. - Ela ainda tá se recuperando do seu fiasco na caverna.

–Ela está triste? - Perguntou Edmundo.

–E você ainda pergunta! Vai de uma vez! - Disse Lúcia, empurrando o irmão na direção de Kanes.

Ela ficou parada, esperando que ele chegasse. As bochechas dela estavam meio rosadas, e seus cabelos ao vento estavam dando uma impressão de garotinha inocente nela. Ela não parava de olhá-lo. Ele pegou nas mãos dela, meio envergonhado com o que fez.

–Me desculpe por o que eu fiz na caverna. - Disse Edmundo. - Eu fui um idiota. Não quis te magoar.

–Tudo bem. Não é a primeira vez que fazem isso. - Respondeu Kalene.

Eddie beijou Kanes suavemente. Uma coisa que já estavam sem fazer a um tempinho, pois quase não se viam no navio, naquela tempestade. Ficaram ali por mais um tempo, até que Lúcia deu por falta de Eustáquio e tiveram que ir procurá-lo.

Eustáquio, durante todo aquele tempo, havia ido parar no meio de uma vala com um tesouro enorme. Lá, ele encheu os bolsos com tudo o que pôde. Em seu braço, ele colocou um bracelete de ouro. Ele estava feliz, pelo menos, até vir o nevoeiro e acontecer uma tragédia com ele.

Quando a tripulação voltou ao navio, com a comida que encontrou na ilha, Edmundo e Caspian resolveram ficar ali para procurar Eustáquio. Kanes e Lúcia voltaram para o navio. Caspian e Eddie chegaram na vala onde Eustáquio havia caído e encontraram a espada de Lorde Octasiano, junto com o esqueleto dele. Também encontraram as roupas queimadas e o diário de Eustáquio.

Assim que Caspian e Edmundo retornaram à praia, do navio, as meninas e Drinian viram alguma coisa queimando em uma parte da ilha. Gael perguntou se poderia ser um vulcão, mas na verdade era outra coisa. Um dragão gigante apareceu voando, em direção ao navio. Vários besteiros atiravam nele, pois havia pousado no mastro, que estava prestes a quebrar. Ripchip chegou a acertá-lo na pata. O dragão, então, voltou até a praia e pegou Edmundo, levando-o para a parte queimada da ilha. Lá, em letras gigantes e vermelhas estava escrito:

"EU SOU EUSTÁQUIO"


Continua