Memórias Póstumas escrita por yin-yang


Capítulo 9
Capítulo Nono: Consciência.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Depois de quase três meses sem uma atualização, estou finalmente aqui para trazer mais um capítulo de Memórias Póstumas! Estava ansiosa para escrever, mas, como sempre, o tempo parece nunca estar a meu favor, infelizmente. Enfim, espero que gostem.
Uma boa leitura.
Att,
yin-yang.



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Diante dela, tão solene e honorável, sentia-me intimidada. Embora não muito mais alta que eu, o ar de superioridade era iminente; seus olhos rubros e opacos penetravam minh'alma em uma só mirada, gélida e intimidadora. Engoli a seco, talvez um pouco trêmula. Nada dizia, nada manifestava, enquanto ali permanecia à minha frente a ocultar seu inexpressivo semblante com o leque à vanguarda. Incapaz de direcionar uma palavra sequer àquela entidade, volta e meia eu desviava o olhar, com medo de encontrar uma vez mais aquelas íris atemorizadoras de cores sanguinárias. Ela, por sua vez, mantinha seu fitar fixo e firme, inabalável, sobre mim, como se só com os olhos pudesse me fuzilar. Eu não sabia explicar o que acontecia naquele momento; ela parecia me repreender por algo que, infelizmente, nem eu mesma sabia. Era como se ela já me conhecesse.

– Hinata? – Do fundo, uma voz familiar. Sem muito tardar, logo aparecia Tenten, à minha procura. Ao seu lado estava uma desconhecida que cortesmente a acompanhava e o restante da equipe. Ao me notar acordada, a primeira veio ao meu encontro, sorrindo. – Que bom que acordou! Já estava ficando preocupada. Como está se sentindo?

– Acordei só há alguns minutos, Tenten. ­­– Respondi, sorridente, ao concentrar toda atenção naquela; ao menos tive uma desculpa para não continuar a encarar a outra, que me causava certo desconforto. – Faz muito tempo que concluímos a missão?

–Há três dias, na verdade. – Disse a kunoichi.

Com a resposta alheia, refleti. Seria possível que eu tivesse dormido durante esse tempo todo? E, mais uma vez, estava eu sendo um fardo para a equipe, como eu sempre costumava ser. Precisava retornar logo para Konoha, se aquela era a situação.

–... Gomennasai. Por minha culpa, ainda não pudemos voltar a Konoha... – Proferi, com enorme peso de consciência.

– Pare com isso, Hinata. – Disse a shinobi ao direcionar as palavras a mim.

– A missão já foi concluída com êxito. O importante é que você está bem. – Concluiu Lee, ao lado da kunoichi. – Não há com o que se preocupar, Hinata-san!

– Eles estão certos, Hinata-chan. – Disse aquela terceira gentilmente. Seus cabelos negro-azulados eram curtos e seus olhos em tons de âmbar. As vestes da jovem eram similares as da sacerdotisa, porém em tons acinzentados. – Nós, do templo sagrado de Takigakure, inclusive a própria a sacerdotisa, estamos eternamente gratas a você e à sua bravura... Não é mesmo, Mikaru-sama?

Com a indagação alheia, olhei rapidamente para a entidade. Ela, porém, ainda parecia me encarar com frieza, quando, assim, fechava seu leque dourado com a outra mão e deixava seu rosto inteiramente visível. Suspirou ela no momento da ação, fechando vagarosamente aqueles olhos tão imponentes que, logo em seguida, eram reabertos a me encarar.

– Não fizeste mais que tua obrigação, kunoichi de Konoha. – Respondeu ela, ríspida. – Lembra-te disto.

Se as palavras dos demais tentavam me erguer de volta, com certeza aquelas proferidas pela sacerdotisa me derrubava à fria realidade, sem idealismo e romantismo.

– Mikaru-sama! – Advertiu sua auxiliar ao lado de Tenten, ao nitidamente reprovar aquela conduta da superior.

– Retirar-me-ei. Não me perturbeis.

Sem dar sequer importância às reivindicações alheias, ela dava as costas para os demais presentes, inclusive a mim, por quem parecia, por alguma razão, nutrir uma desavença pessoal. Frente ao pilar de saída, ela parou, ainda a vislumbrar a frente.

– Primogênita dos Hyuugas, futura matriarca de tua legião. – Iniciou a mulher sagrada, direcionando-se a mim deliberadamente. Aquilo, por um segundo, me fez tremer. – Hoje, ao início do crepúsculo, iniciar-se-á o Memorial Festival do Eclipse Lunar em nossas terras. Estás tu em condições de partir para tua terra oriunda; o veneno que corria por todo teu corpo já retirado fora. Todavia, como já estendido o convite para teus companheiros de missão, se quiseres permanecer para nosso honorável evento, fica a teu critério. Possuis minha permissão e bênção para deter-te.

Após seu longo discurso, ela finalmente deixava o local. Mikaru, eis uma personalidade indecifrável. Não conseguia compreendê-la muito bem. Talvez apenas possuísse uma personalidade petulante e irrefutável— ou tivesse, de fato, algo contra mim.

– Perdoe pela indelicadeza de nossa sacerdotisa, Hinata-chan. Às vezes, ela costuma ser um pouco rude nas palavras. – Disse a mulher dos olhos de âmbar com um gentil sorriso em seu semblante.

Eu sorri de volta.

– Não se preocupe, ahn... – Direcionei a conversa para a moça, porém, logo me lembrava de um fator importante: eu não sabia o nome dela.

– Ah! Quanta estupidez a minha! – Disse ela a si mesma. Fazia uma pequena reverência para mim, educada. – Deixa eu me apresentar... Chamo-me Tsubame, Aozora Tsubame. Sou auxiliar da Sacerdotisa de Takigakure. Estou honrada em conhecê-la, Hinata-chan.

– Prazer, Tsubame-san. Hyuuga Hinata, como já deve me conhecer. – Disse eu, em tom esportivo. – Mas... Do que se trata exatamente esse festival?

– O Memorial Festival do Eclipse Lunar é uma festa tradicional daqui de Takigakure, comemorado na excepcionalidade. Diz uma lenda muito antiga, anterior à criação do mundo shinobi, que foi aqui que aconteceu a reconciliação dos Três Deuses Irmãos — Amaterasu, Tsukuyomi e Susanoo — por intermédio de um homem chamado Subaru. Admirados pelo feito humano, Izanagi e Izanami, invocados pela concórdia entre seus filhos e, consequentemente, pela restauração da paz, para demonstrar sua eterna gratidão ao jovem e destemido andarilho, concedeu a ele o direito a realizar o desejo mais oculto e profundo de sua alma. Desde então, diz-se que, em memória ao herói, os deuses da criação, juntamente com seus filhos, concedem a um humano, cujo coração seja puro e valente, o desejo mais estimável, na data de aniversário de morte de Subaru que seja acompanhada de um eclipse lunar, por intermédio de uma sacerdotisa.

– E, no caso, esse dia é hoje. – Concluiu Gai, atento à explicação alheia. – E por isso a missão era de extrema urgência.

– Exato! – Exclamou a auxiliar de Mikaru. – A população de Takigakure espera há séculos por esse dia e seria uma falta de respeito e gratidão para com os deuses de nossa parte se não celebrássemos essa data tão importante por conflitos políticos entre Takigakure e Kusagakure! Isso seria... Simplesmente... Inaceitável! – Declarou ela, fervorosa. – E vocês, ninjas de Konoha, salvaram a nossa vila! Graças a vocês é que vamos poder realizar esse grande e tão esperado evento. Por isso... – Começou ela, agora a pegar em nossa mão, com seus olhos brilhantes, cheios de ansiedade e expectativas. –... Por favor, fazemos questão de que fiquem para a celebração!

Com aquele pedido tão caloroso, era quase impossível se negar permanecer ali só por mais um dia – ou noite. Precisava, contudo, entregar o relatório para o Sexto Hokage o quanto antes, já que eu havia atrasado todo aquele processo.

– Entendi, Tsubame-san! – Exclamou de volta Lee em resposta a outra. Seu olhar era tão intenso quanto o da primeira. – Ficaremos para o festival, sim, não se preocupe! Não é mesmo, Gai-sensei, Tenten, Hinata-san?

– É isso mesmo, senhorita Tsubame! – Respondeu Gai logo em seguida. – Pela força da juventude, respondemos que sim, ficaremos!

– Acho que o nosso Hokage poderá esperar. – Disse Tenten, um tanto quanto pensativa, quando então Lee colocava a mão sobre o ombro da mesma enquanto esboçava um leve sorriso em seu semblante. Assim, ela sorriu de volta, como se somente com aqueles olhares eles se pudessem se comunicar. – Acho que vale a pena ficar. Não acha, Hinata?

Diante àquela unanimidade, quem seria eu para contrariar? Embora minha consciência me cobrasse e me culpassem pelo atraso da missão, eles pareciam sequer se importar com o infortúnio. Muito pelo contrário. Aquilo, querendo ou não, trazia-me certo alívio. Sorri inesperadamente, quase que involuntário.

– É claro que sim, Tsubame-chan. – Respondi diretamente para a jovem Aozora. – Será uma honra muito grande.

– Então está decidido! – Disse a jovem anfitriã, toda contente. – Ficamos imaculadamente agradecidos e esperamos que gostem, de verdade, de nosso precioso evento!

Repentinamente, passava a ouvir uma música, bem ao longe, tocada por uma ocarina. Embora muito semelhante ao som de uma flauta, eu sabia que se tratava de uma ocarina. E de onde será que vinha tal melodia? Era tão serena, tão bela e tão nostálgica... Quase que hipnotizada, eu me pus paulatinamente a me levantar, pronta para correr atrás daquele som.

– Hinata? – Indagou Tenten, ao estranhar meu súbito comportamento.

Eu a fitei, quando tive meu nome chamado.

– Essa música... Vocês estão ouvindo? – Perguntei, ainda atenta à musicalidade.

–... Música? – Questionou Lee, um tanto quanto confuso. Fechou os olhos e, num silêncio absoluto, tentou captar algo, bem como os demais. Nada. – Infelizmente, não ouvi nada, Hinata-san. Não teria sido impressão sua?

– Impressão...? – Não. Eu definitivamente estava ouvindo aquelas notas musicais sendo tocadas.

– Eu também não consigo ouvir nada. – Concluiu Tenten, frustrada.

– Igualmente. – Gai também em seguida falou.

Por que ninguém senão eu conseguia escutar? Era impossível ser apenas uma impressão. Era real. Será que, após três dias em estado de sonolência, meus sentidos haviam ficado tão desabilitados a ponto de não conseguir discernir o que é real e o que é ilusório? Não podia ser. Da entrada do templo, visualizei aquela águia alva guia de meus sonhos a crocitar, o que me fez arregalar os olhos. Sem sombra de dúvidas, era aquela mesma ave. Ela era real.

Sem hesitação, saí em disparada atrás daquele animal voador. Sabia que ele não estaria ali por acaso. Tinha algum motivo para tal. À medida que eu corria atrás do paradeiro do pássaro, o som da ocarina se tornava cada vez mais nítido e audível. Respostas era tudo o que eu queria. Do que? Tampouco eu sabia. Meu coração começava a pesar; dúvidas que, um dia, eu havia escondido e, consequentemente, esquecido voltavam à tona. O que exatamente estava acontecendo comigo? Tudo o que eu conseguia pensar naquele momento era no Neji nii-san e no seu nostálgico semblante. Ó, céus! Havia dez anos que já não podia vê-lo. Aquele singelo zelo e carinho que recebia dele, de repente, me faziam falta. Por que raios meus pensamentos procuravam por ele? Por que isso agora?

A ave finalmente repousava e era no ombro de uma jovem que ali ele permanecia enquanto me encarava. Desacelerei meus passos para analisá-lo, bem como a pessoa que ali estava sentada sobre a rocha próxima à cachoeira enquanto, de olhos fechados tocava aquele tão pequeno e belo instrumento. Aquela moça era a sacerdotisa que, tão serena, executava a música com suavidade e sensibilidade. Estática, as emoções difusas da minha alma começavam a fluir com naturalidade, como água nascente em sua fonte. Novamente, aquele aperto no coração.

Antes que pensamentos me tomassem a mente, a melodia era encerrada pela entidade que, vagarosamente, passava a abrir os olhos em tons de rubra.

– O que queres, descendente do fogo? – Disse ela, inexpressiva, quando então seus olhos penetravam os meus. Embora apenas sacra simbolicamente, ela realmente parecia uma divindade.

– N-Nada! E-Eu... – Gaguejei perante aquelas íris carmesim. Sua mirada parecia invadir todo o meu pensamento. – Eu só vim atrás do som da ocarina e então eu...

– És capaz de ouvir o soar das notas? – Indagou Mikaru, ainda a manter aquela expressão neutra.

Eu, particularmente, não sabia o que responder. O medo em meus olhos era notório. Ela suspirou, como se conseguisse decifrar cada movimento ocular meu.

– Estás perdida. – Proferiu ela ao direcionar aquelas palavras a mim. – Somente os corações confusos e transtornados ouvem a Melopeia de Subaru.

– Corações... Confusos? – Repeti, receosa. A maneira como ela era certeira, de fato, me assustava.

– Uma pessoa não pode esconder para sempre suas inseguranças. – Disse a sacerdotisa, agora a acariciar a ave sobre seu ombro. – Enquanto seu coração e alma não estiverem libertos de suas próprias prisões, nada poderá avançar, nada poderá retroceder. O que teu coração tanto teme a esclarecer? – Fez-se uma pausa. – O que tanto receias enxergar, Hyuuga Hinata?

Com a indagação, senti meu corpo gelar. A forma como ela expusera aquelas perguntas parecia que já conhecia alguma verdade sobre mim. Algo íntimo, inerente à minha pessoa. Em meu peito eu sentia uma dor não física, mas sim espiritual, mas por quê? Será Naruto-kun ainda o motivo de tanta agonia? Eu queria acreditar que sim, pois assim as coisas já teriam nome e as dúvidas desapareceriam, mas não. Não era ele mais a minha tormenta. A dor da derrota já me era comum, portanto, ineficaz, sem efeito. Havia uma lacuna irreparável em meu coração, a qual eu sempre havia ignorado e que, hoje, tanto se tornava visível e palpável. Eu não queria enxergar. Eu não queria entender. Não, eu tinha medo.

– Até quando continuarás a fugir de ti mesma? – Repreendeu-me a sacerdotisa com seu olhar voraz e audacioso.

Tremulei ao fraquejar. Fechei os olhos e vedei meus ouvidos, como se aquilo fosse suficiente para acalmar minhas perturbações interiores. Contudo, tudo o que eu havia feito foi, cada vez mais, adentrar mais a fundo nelas. Na imensa escuridão, que era aquele local de treva, tudo o que eu conseguia pensar era, uma vez mais, em Neji nii-san, aquele já havia partido há anos. À minha frente, assim, passei a ver uma imagem minha, caminhando ao lado do mesmo. Com isso, todas aquelas lembranças trilhadas em meu último sonho vinham à tona, uma por uma, quando, então, eu via aquele último sorriso ensanguentado dado por ele para mim na Guerra Ninja— o momento em que ele, definitivamente, se foi. Sua réplica, que andava ao lado da minha, gradualmente desaparecia na negridão daquele abismo das perturbações, deixando a outra na completa ignorância do destino. Ela, assim que ele completamente se desintegrava, parava seus passos e de seus olhos perolados, algumas lágrimas passavam a cair.

Eu sentia, uma vez mais, meu coração apertar. Por mais egoísta que eu fosse, ele sempre estava ao meu lado, para me proteger, me defender, me ensinar, me compreender, me confortar, me fortalecer. Sempre. E eu, o que eu fiz por ele? Nada. Somente agora, uma década se passado de sua ausência, é que eu fui entender a diferença que ele fazia em minha vida. Como a lua zela por aqueles que dormem, ele zelava pela minha felicidade. Isso que eu não queria enxergar, porque a verdade dói. Dói saber que, mesmo agora, sabendo de tudo, não tenho mais como voltar.

– Hinata! – Uma voz feminina ecoava ao longe, incapaz de em tirar de meus próprios pensamentos. – Hinata!

Repentinamente, eu sentia uma mão sobre meu ombro, o que me fazia sair do transe e voltar à realidade. Ali, Mikaru já não mais estava.

– Hinata, o que houve com você? – Começou Tenten, que ali me virava e assim me encarava, preocupada. – Você saiu correndo do quarto tem dizer nada e... Hinata? – Surpreendeu-se ela.

De meus olhos, leves lágrimas caíam e um doloso sorriso era esboçado em meu semblante. Tudo o que agora eu sentia era vergonha.

– Tenten... – Chamei a kunoichi que ali me fitava, preocupada. –... Será que Neji nii-san um dia vai me perdoar?

Antes que ela pudesse responder, desabei ao chão, de joelhos. O forçado sorriso que eu esboçava, lentamente, se desfazia, enquanto as lágrimas rolavam sem qualquer autorização prévia. Queria revê-lo... Queria poder, ao menos, me desculpar.

Queria ter a oportunidade de tê-lo, uma vez mais, ao meu lado.


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