Memórias Póstumas escrita por yin-yang


Capítulo 8
Capítulo Oitavo: Memórias Póstumas, Parte II


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Perdão a demora para a atualização da fanfic. Estava ocupada em vários projetos e, por isso, acabei atrasando a produção desse capítulo. Maaaaas, graças ao bom Deus, cá estou a postá-lo! Espero que gostem.

Att,
yin-yang.



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Agora eu avançava alguns anos à frente. Se antes eu estava na mansão, agora estava nas ruas de Konoha, longe do território Hyuuga; tampouco era dia— era a primeira lembrança a qual eu vivia, naquele momento, à noite. A cidade estava decorada com várias luminárias tradicionais, tornando o período noturno bem claro e agradável. Crianças passeavam com seus pais, felizes, enquanto seguravam papéis com barbantes das mais diversas cores: azul, amarelo, vermelho, rosa, laranja, lilás, verde, branco. O céu, mais do que nunca, estava estrelado. Não sabia quantos anos eu tinha naquela época, mas eu pude reconhecer a data festiva— 7 de julho, dia de Tanabata. [1]

Vagava pelo local enquanto acompanhava o fluxo de pessoas, até que cheguei à Praça Memorial, quase na saída da vila. Lá estava tendo um grande festival de verão; tendas de comida, bebida, diversão, tudo. As crianças permaneciam a brincar, contentes. Esbocei um confortante sorriso, um tanto quanto nostálgica. No centro do evento, próximo à Pedra dos Heróis, havia sido colocado grandes ramos de bambu, onde a população pudesse pendurar suas tanzakus [2], nas quais estariam escrito seus desejos.

– N- Naruto-kun... – Ouvi uma voz familiar logo atrás de mim. Ao me virar, observei que era ela, minha antiga “eu”. Diante dela estava ele pequeno. Agora, eu me lembrava de quando era aquela memória. Eu tinha nove anos.

– Quem é você? – Disse o loiro, espontâneo. Embora estivéssemos na mesma classe, eu não conseguia fazê-lo se lembrar de mim.

– S-Sou H-Hinata... – Ela gaguejava, totalmente sem jeito. – E-Estudamos juntos...

­– Hum... – Respondeu ele, ainda um tanto quanto confuso. Independentemente se se lembrava de mim ou não, ele sorriu, travesso. – Yo!

– O-Oi... – Falou de volta a pequena, trêmula. Retribuiu o sorriso, embora acanhado. – A-Ahn... V-Você já colocou seu pedido na árvore...?

– Ainda não. – Disse o Uzumaki, retirando seu cartão do bolso. Em seguida, estendia-o de frente para a garota, de modo que ela pudesse ler o que ali estava escrito. – Aqui está meu maravilhoso pedido!

Recuava um pouco introvertida e, lentamente, ela lia as palavras ali escritas. Em seguida, olhou para ele, sorrindo.

– N-Naruto-kun quer ser um Hokage...?

– Não só como quero, mas um dia eu serei! – Respondeu firme ele, determinado. Aquelas palavras nunca foram tão certas quanto são hoje para mim. Ele, no tempo em que eu vivo, fora dessas lembranças, de fato havia se tornado o grande Rokudaime[3] Hokage.

Com a declaração convincente dele, a menina corou, sorridente. Cegamente, eu sempre acreditei nas palavras dele. Depois daquela conversa, ele ia até os ramos de bambu, onde pendurou seu papel alaranjado. Feito isso, ele estufava o peito numa pose majestosa, enquanto admirava seu pedido ali. Sorriu uma vez mais em seu jeito travesso.

– Pronto. – Disse orgulhoso de si. Voltava a olhar para a garota. – E qual é o seu desejo?

Ao ouvir a pergunta alheia, ela ficou sem reação. Estava ruborizada. Tentou responder, mas, quanto mais pensava, mais acanhada ficava. Sendo assim, ao não conseguir se expressar, ela saía correndo, deixando o outro um tanto quanto confuso.

– Menina estranha. – Comentou ele para si, dando de ombros.

A águia alva aparecia à minha frente, fitando-me. Antes que eu pudesse dar um passo para se aproximar da mesma, eu reparava que, ao lado dela, estava Neji nii-san, segurando sua tanzaku cor esverdeada. Ele olhava fixamente para um pedido específico, escrito num cartão lilás. Eu me aproximei da cena para entendê-la melhor. Olhei para o mesmo papel que aquele Hyuuga observava naquelas lembranças. Os olhos perolados do garoto estavam úmidos, embora deixassem cair uma lágrima sequer. Sua expressão era de dor e raiva ao mesmo tempo. Eu li o desejo e, no mesmo instante, pude identificar de quem era— meu.

Que eu possa sempre estar ao lado de Naruto-kun.

Hyuuga Hinata

Esse era claramente meu desejo e, até então, era o que, até hoje, eu vinha pedindo aos céus, mas que, nos dias atuais, eu sei— não passava de um amor platônico. Eu voltava minha atenção para o nii-san, que amassava o cartão verde e o jogava, com raiva. Irritado, agora com uma lágrima a escorrer dos olhos, murmurava.

–... iguais. Os soukes são todos iguais... – Sussurrou para si, cerrando seus punhos e com sua cabeça para baixo. – Hinata-sama... Você se esqueceu da nossa promessa...? – Indagou ele, como se, mais uma vez ele pudesse me ver.

Aquela era a segunda vez em que eu tinha a sensação de que aquelas lembranças eram mais que simples memórias— ou pelo menos parte delas. Ele assim saía, correndo, profundamente magoado. Acompanhei-o com os olhos, sendo incapaz de poder ajudá-lo. Suspirei, sentindo-me um pouco mal por aquilo. Desviei meu olhar para o chão, quando então vi a tanzaku amassada dele. Catei-a delicadamente e assim a abri.

Que a nossa promessa se realize para todo o sempre.

Hyuuga Neji

Eu voltava a olhar para onde o rapaz havia corrido, mas ele já não estava mais à vista. Suspirei, um tanto quanto compreensível para com o sentimento de frustração do outro. Mesmo que sem querer, eu havia traído única confiança que ele tinha. Agora, inclusive, coisas do meu passado começavam a fazer todo o sentido. A nossa promessa era a única coisa que ainda o fazia ter esperanças, de que o destino, por mais que determinasse se alguém era fracassado ou não, nunca determinaria o caráter. A partir de então ele havia mudado comigo— e minha vida dentro clã também. Desde que nós nos tornamos mais distantes um do outro, seu coração havia se tornado impenetrável; sem ele para me levantar, por mais que Naruto-kun fosse minha fonte inspiradora, cada vez mais eu me sentia diminuída, tornando-me realmente fraca. Meu pai já não confiava mais em minhas habilidades; aliás, havia deixado bem claro que, por mais que eu fosse a primeira herdeira do clã, minhas habilidades eram ordinárias e que até a Hanabi era mais habilidosa que eu.

Olhei para a ave, tentando compreender aquela viagem temporal a qual eu estava submetida. A águia, reciprocamente, me fitava e assim permaneceu por um tempo, até que, novamente, grasnava e levantava voo.

– O que mais você tem para me revelar, águia branca das lembranças ocultas? – Disse eu ao respirar fundo. Em meu bolso, assim, eu guardava a tanzaku esverdeada em meu bolso.

Como o esperado, o cenário se transformava novamente. Quando eu reconhecia o local, senti meu coração bater mais forte e meu corpo todo gelar. Aquela lembrança, em especial, era uma das que eu jamais esqueceria— aquele tinha sido o dia em que eu havia me declarado para o Naruto-kun. Ali eu me via agora cometendo uma loucura: à minha frente, eu me via com dezesseis anos, caída, machucada, fraca e à beira da morte, no chão. Provavelmente, dali alguns minutos, Sakura-chan estaria lá para me curar, com todos à minha volta. De longe, eu ouvia passos rápidos até desesperados. Sem muita delonga, ali chegava o time Gai. À frente, estava Neji nii-san. Olhei para o mesmo, observando o que havia acontecido enquanto eu estava desacordada. Eu podia ver o desespero nos olhos dele que, por mais que não derramassem lágrimas, estavam úmidos e aflitos.

Hinata! – Gritou ele, com sua voz um tanto quanto fraquejada. Ele se agachava e segurava o meu corpo ali estendido. Era a primeira vez em toda a história que ele me chamava assim.

Seguidamente, Tenten chagava mais próximo para auxiliá-lo, já que parecia estar num estado de surto. Ela verificava a pulsação, um pouco tensa ao analisar os machucados.

–... Os ferimentos dela são letais, mas ela ainda está viva, Neji.

Agoniado, Neji estava com seu Byakugan ativo, enquanto desesperadamente olhava para os lados ao forçar ao máximo seu desempenho. Abraçava a garota com mais força, um pouco trêmulo.

– Estou procurando algum ninja médico! – Disse ele, com um iminente medo em sua voz.

Seus companheiros de missão o olhavam, preocupados, com receio de que o Hyuuga entrasse em algum tipo de surto.

O nosso relacionamento desde o Chuunin Shiken[4] havia melhorado; o ódio que consumia o coração do meu primo havia desaparecido. Desde então, ele havia voltado a ser o antigo Neji nii-san, protetor e guardião, embora sempre entristecido. Sempre estava ao meu lado, independentemente da situação, como se quisesse recuperar o tempo perdido entre nós, apesar de sempre parecer resguardado ou estar escondendo algo. Eu, porém, nunca havia dado muita importância. Aliás, pouco reparava. Minha maior atenção sempre foi o Naruto-kun. Sempre. Tudo o que eu fazia era pensando nele, somente nele. Eu não queria de fato ser forte por mim e, sim, para o Naruto. Eu vivi em função do Naruto ao querer ser reconhecida por ele e por ele ser amada, sendo que, ao meu lado, desde pequena, eu tinha alguém que sempre estava comigo, zelava por mim e se preocupava comigo. Não que Naruto-kun não tenha me notado, mas não da forma como eu sempre esperei.

Assim que Sakura chegava, Neji a deixava nas mãos da ninja médica. Estava trêmulo, inconformado. Seus olhos não escondiam seus sentimentos.

– Hinata... Por que se arriscar tanto desse jeito por ele...? – Sussurrava ele ao pensar alto.

Ao ouvir tais palavras proferidas pelo mesmo, senti meu coração pesar, como se me sufocasse. Apesar de nunca o ter notado, ele estava sempre ali. Passei a me sentir culpada, indigna. Embora salvar o Naruto-kun tivesse sido uma atitude nobre, havia sido estupidez – ou ainda uma atitude egoísta – ao tentar concretizá-la sozinha. Para Neji nii-san, ver-me naquele estado, talvez, fosse a mesma para mim ao ver Naruto-kun em perigo. Meus olhos perolados se encheram de lágrimas.

Sobre o corpo ferido estendido no chão, a águia alva pousava enquanto me observava. Crocitou como de costume. O cenário daquela lembrança se esvaía para a escuridão, restando apenas eu e o pássaro, frente. A ave, então, parecia sorrir— impossível, mas essa era a sensação. Gradativamente, sua imagem desaparecia, até que ficava apenas eu e aquela imensidão negra. Talvez fosse aqui que minha jornada terminasse. Talvez eu, realmente, tivesse morrido. Fechava lentamente meus olhos, deixando com que, aos poucos, bem como a águia, eu também desaparecesse.

xxx

Repentinamente, meus olhos se abriam num rápido reflexo. Eu enxergava um teto luxuoso, com vários ornamentos sagrados. Assustada, levantei-me apressada, de modo que a ferida em meu abdome enfaixado ardesse. Grunhi ao sentir esse incômodo— eu estava viva! Olhei para os lados, tentando me localizar. Procurei pela equipe, porém sem resultado eficaz, uma vez que meus olhos estavam cansados e incapazes de serem ativados por ora.

– Até que enfim acordaste, tu. – Disse uma voz feminina, porém rouca. Olhei rapidamente para a direção de onde vinha a fala. Recostada em um dos pilares do templo, estava uma bela jovem, cujos longos cabelos eram negros e seus olhos eram rubros, que combinavam com a cor de sua veste inferior. Sobre a cabeça usava uma coroa dourada tradicional religiosa, bem como seu leque que carregava em mãos, enquanto sua veste superior era branca, tipicamente sagrada. – Hyuuga Hinata.

Surpreendi-me ao ter meu nome completo chamado.

– Q-Quem é você? – Perguntei e ela, receosa.

Inexpressiva, ela se aproximava do futon[5] ao qual eu estava deitada. Parava frente a mim e, com o leque aberto à vanguarda do rosto, me fitava fixamente.

– Sou Mikono Mikaru, a Sacerdotisa de Takigakure.


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Notas finais do capítulo

[1] Comemoração de origem japonesa que ocorre na sétima noite do sétimo mês do ano, conhecida também como "Festival das Estrelas" ou, ainda, "Festival dos Desejos".
[2] Pequenos pedaços de papel onde as pessoas colocam seus pedidos, são pendurados em ramos de bambus.
[3] Sexto.
[4] Exame Chunin.
[5] Tipo de colchão usado na tradicional cama japonesa.