Memórias Póstumas escrita por yin-yang


Capítulo 4
Capítulo Quarto: Recaída.


Notas iniciais do capítulo

Após delongas, finalmente aqui está o quarto capítulo dessa ilustre história. Desculpe pela demora na postagem. Capítulo revisado. Ademais, uma boa leitura.

Att,
yin-yang.



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Tínhamos cinco exatos dias para concluirmos a missão dada. Embora de elevado ranking, quase nada se sabia a respeito da mesma, uma vez que esta era de assunto sigiloso a relações governamentais. Entretanto, não havia como começar se não soubéssemos acerca do motivo pelo qual sequestrariam a tal sacerdotisa. Aliás, sequer sabíamos quem e como ela era. Como, afinal, vamos procurar alguém nem temos conhecimento? Portanto, naquele momento, estávamos a caminho de Takigakure, onde buscaríamos mais informações – ou, pelo menos, tentaríamos.

Pulávamos de galho em galho, um atrás do outro, à medida que passávamos pela quase interminável floresta. Eu estava atrás de Lee e à frente de Tenten, com a liderança de Gai-sensei. Estávamos há algumas horas distante de Konoha. Eu olhava para o céu que, desde que partimos da Vila, havia se tornado cinza, devido àquelas nuvens sobrecarregadas que lhe cobriam toda sua imensidão.

– Vamos conseguir chegar ainda hoje, Gai-sensei? – Indagou o discípulo, logo atrás do mais velho.

– Creio que não, Lee. – Começou o professor. – Se levássemos a noite toda ininterruptamente, quem sabe, poderíamos chegar até lá ao amanhecer. Mas, em compensação, estaríamos esgotados. – Respondeu-lhe à pergunta e brevemente olhava para trás.

– Tem toda a razão! – Concordou confiante com as palavras do mestre. Rock Lee, pois, assentia com a cabeça. Virava-se para trás, olhando para mim e para Tenten. Esboçou um largo sorriso para a última ao fazer, como de costume, sinal de positivo com sua mão. Ela, então, sorriu de volta para o mesmo.

A sensação que eu tinha era de que eu os atrapalhava naquela troca de olhares que, para mim, parecia ter algo a mais que simples companheirismo. Para todos, as coisas pareciam acontecer como deveriam ser. Eu pensava, a cada minuto, se era apenas comigo que o percurso da vida amaldiçoava a felicidade. Eu começava a duvidar, em verdade, sobre o livre arbítrio. Será que realmente o destino era algo certo e que, por mais que tentássemos quebrá-lo, era inabalável? A nossa existência – a felicidade –, então, é predeterminada? Esse tempo todo quis acreditar que isso estava errado. Entretanto, ultimamente, as coisas têm se mostrado justamente ao inverso. O ideal, de fato, seria aceitar então e fim?

Em meio aos meus confusos pensamentos e reflexões, a kunoichi mais velha, já ao meu lado, tocava meus ombros, como se me trouxesse de volta à realidade. Ela me observava no fundo dos meus olho. Nada disse. Permaneceu daquela maneira por um considerável tempo, até que, por fim, sorria.

– Byakugan. – Indicou Tenten, paciente, ao mostrar com seu dedo o olho, para que eu os ativasse.

– C-Claro, perdão! – Desculpei-me, desajeitada. Como eu pude me esquecer de algo tão importante em missão?

Assim, eu fiz como me foi sugerido. Afinal, devido ao tempo fechado, o ambiente já começava a escurecer. Analisei todo o local com a maior cautela, para averiguar se não havia perigo algum. Estávamos em uma missão de alto nível; todo cuidado era pouco.

Eu tinha uma tênue sensação de que havia alguém nos observando, mas, por ora, nada encontrei. Talvez já estivesse na hora de pousarmos para passar a longa noite que viria. Avançamos mais alguns – vários – quilômetros, até que, por fim, o líder parou e descia das árvores horas depois. Analisava o local rapidamente e, assim, virava-se para nós enquanto sorria radiante.

– Acho que podemos acampar por aqui. – Comentou ele. – Não me parece ser um lugar ruim.

Lee e Tenten assentiram, bem como eu o fiz logo em seguida. Assim, tratamos de arrumar as coisas, como juntar alguns gravetos para acendermos uma pequena fogueira e ajeitar o saco para dormir, bem como os demais pertences. Eu olhava para o céu, já escuro e anoitecido, e averiguava se havia alguma estrela, porém tudo o que eu avistava eram nuvens que escondiam a tamanha beleza da noite. A lua não se fazia presente naquela noite. Sinceramente, a natureza parecia traduzir meu mundo, meus sentimentos. Ainda que não chovesse estava nublado; por mais que eu já tivesse aceitado o inevitável e tentasse seguir em frente, as coisas não estavam totalmente esclarecidas para mim.

Eu terminava de deixar as minhas coisas em ordem e então me deparava com os demais, já em volta da fogueira, a preparar uma leve refeição. Conversavam descontraidamente; gargalhavam, não só como companheiros, mas como uma família. Esbocei um leve sorriso ao permanecer observando-os, quando Tenten direcionava o olhar para mim e, assim, se levantava do local e vinha até mim. A kunoichi sorria gentilmente, ao passo me puxava para próximo de todos. Os dois shinobis que nos aguardavam nos acompanhavam com os olhos, ternamente.

– Sinta-se à vontade, Hinata. – Disse a ninja, ao meu lado, dando um leve tapa em minhas costas.

– Isso mesmo, Hinata-san. – Reafirmou Lee enquanto vinha até mim com seu punho fechado à frente de seu corpo, animado. – Não precisa se sentir tímida. Somos todos companheiros!

O professor nada disse, apenas fez o sinal de positivo com a mão e esboçava aquele brilhante e branco sorriso. Confesso que era difícil se sentir à vontade em um grupo ao qual não pertencia, mas ali, com eles, eu sentia ternura e carinho. Assenti, ainda que sem jeito, para eles.

Não demorou muito para que a refeição ficasse pronta. Com aquele aroma típico, o curry estava no ponto. O ninja aprendiz olhava fixamente para a comida, com seus olhos saltados e brilhantes. Ao que parecia, era a comida favorita dele. Tenten então retirou de sua bolsa, que estava ao chão, os pratos fundos de madeira, os quais distribuiu para todos – inclusive para mim. Lee foi o primeiro a se servir ao colocar uma enorme porção para si. Gai-sensei, então, sem perder para o outro, pegava uma porção ainda maior e sorria, confiante de que havia ganhado aquela disputa de comida.

– Lee, não acha que você colocou muita comida não? – Indagou o professor, olhando para o prato alheio. – Você pode passar mal.

– Ah, não se preocupe. Eu ainda tenho o poder da juventude comigo. – Respondeu Rock Lee ao esconder seu prato do outro. Olhava para a mão dele, reparando igualmente na refeição alheia. – E você, Gai-sensei? Isso pode te fazer mal.

– Está me chamando de velho mesmo? – Retrucou o mais velho ao encará-lo.

– Eu apenas disse que eu ainda tenho o poder da juventude, sensei. – Respondeu-lhe ao retribuir aquele mesmo olhar intimidador.

– Pois bem. Então vamos ver quem come mais rápido. – Disse aquele sensei, ao se deixar levar na provocação alheia.

– É pra já. – Concordou o mais novo.

Desse modo, ambos passavam a comer compulsivamente, um mais rápido que o outro. Tenten ria com a atitude de ambos enquanto se servia e, logo em seguida, pegava meu prato e nele colocava o curry. Eu, sinceramente, estava preocupada se com aquela competição ambos não passariam mal.

– Hai, aqui sua janta. – Disse ela ao me devolver o prato e então sorria para mim.

– Arigatou, Tenten-san. – Agradeci, ao passo que o pegava de volta e retribuía o sorriso gentil. Desviava a minha atenção para o professor e o aluno que, cada vez mais, comiam depressa. – Mas, Tenten-san, os dois...

– Ah – Riu brevemente ao me ouvir referir aos dois –, não se preocupe. Esses dois não passam mal com isso não. – Completou ela. Ela se virava para os companheiros e os observava. O olhar dela então se fixava no mais novo e as bochechas se tornavam rosadas. – Vai lá, Lee!

Com a torcida dela, Rock Lee olhava de volta para ela e, com a boca cheia e lambuzada, sorria juntamente com o sinal de positivo com a mão. Assim, sem perder tempo, ele finalizava a refeição antes do mestre que, naquele momento, já parecia cheio.

– Eu venci! – Gritou o discípulo, levantando-se, ao mesmo tempo que se vangloriava.

– Eu... Eu... – Disse Gai, como se estivesse em choque. Ao contrário do que se esperava, ele se levantou sorriu, contente, quase a ponto de chorar de tamanha alegria. – Você me superou. Estou orgulhoso, Lee!

Contentes, eles começavam a cantar juntos e igualmente a dançar. No ritmo, ao meu lado, Tenten batia palmas, como se acrescentasse musicalidade ao momento; ria, como se não estivesse em missão. A espontaneidade daquela equipe era contagiante. Tanto, que, quando me dei por si, eu já estava rindo junto a eles. Eu passava a conhecer melhor os amigos de meu falecido primo.

Os dois ninjas dançantes agora se aproximavam de nós duas. Sentavam-se próximos, de modo que Lee ficasse ao lado de Tenten e Gai-sensei ao lado do aluno. A kunoichi ainda jantava, bem como eu. O ninja aprendiz olhava fixamente para a comida da companheira, aparentemente com vontade. A jovem, pois, levava o curry à boca do mesmo, que, contente, aceitava. Ela sorria para o outro e desviava logo em seguida seu olhar para a brasa. O outro, também, pôs-se a fazer o mesmo. Eles pareciam calados, com um olhar distante a manter um singelo sorriso no rosto, perdidos em seus próprios pensamentos. O professor, entretanto, estava com suas mãos na barriga, como se tentasse diminui-la após ter comido tanto. O casal ali começava a rir entre eles, como se estivesse pensando nas mesmas coisas.

– Há muito tempo atrás, quando ainda éramos Genin, fomos a uma missão em que comemos o curry mais picante que alguém podia experimentar. – Começou Tenten ao me fitar.

– Aquela missão, apesar de um pouco penosa na época, foi demais. – Completou ele. Assim como a outra, ele direcionava o olhar para mim.

– Ah – A kunoichi olhava apara o outro, esboçando um leve sorriso –, você se lembra de que, no último curry, eles colocaram saquê por acidente? – Disse ela, passando a rir discretamente. – Você ficou mais bêbado do que tudo!

– É verdade. – Concordou o jovem Lee ao fitar rapidamente para a outra. Em seguida, ambos voltaram a me olhar. – E o Neji então? Coitado, já era fraco para comida picante. Com álcool então.

Ao tocar no nome do Neji nii-san, o clima ali parecia ter mudado completamente. O silêncio havia dominado e, naquele momento, sequer eu mesma sabia o que fazer. A expressão de ambos, inclusive a do professor que estava fora do assunto, havia se tornado saudoso, porém um singelo sorriso no semblante de todos era possível de se notar – algo que, de fato, havia me surpreendido.

– Bom – Proferiu o professor ao quebrar o silêncio local. Levantava-se e nos observava, com as mãos sobre a cintura –, acho melhor irmos dormir. Amanhã acordaremos cedo e daremos continuidade à missão. Afinal, estamos com o tempo mais do que contado.

Assenti, bem como os outros o fizeram. Assim que todos já estavam deitados, prestes a dormir, observei o professor apagar o fogo e, por fim, a escuridão da noite reinava sobre o local. Na calada da noite, quando todos já dormiam, apenas os ruídos da floresta se faziam presentes. Sem me dar conta, eu havia adormecido ao tempo que prestava atenção àqueles sons naturais.

Em meu sonho, eu estava lá em uma encruzilhada. Cada caminho parecia igual. Olhei para trás – queria verificar por onde eu passei até chegar aonde estava – entretanto, tudo o que eu conseguia enxergar era a escuridão. Nada mais que isso. Voltei a olhar para frente, confusa. Sequer eu sabia o que eu fazia ali ou como havia chegado. Todavia, eu precisava prosseguir. Era como se a escuridão pudesse me consumir caso eu permanecesse sem tomar uma decisão. Nisso, eu avistei uma águia alva pousada sobre a árvore, a qual se encontrava próxima ao caminho de minha esquerda. Ela me fitava, como se me encarasse e, repentinamente, abria suas asas. Com ostentação, guinchava antes de sobrevoar o local e seguir adiante o caminho. Tive a leve sensação de que aquela ave tentava me ajudar ou, talvez, eu estivesse à beira da loucura. Pensei em dar meu primeiro passo atrás dela, quando então sentia uma mão sobre meu ombro.

– Por aqui, Hinata.

Aquela voz familiar soava em meus ouvidos. Olhei para o lado e então o visualizei, o qual sorria para mim.

– Naruto-kun! – Exclamei, surpresa.

– Vamos, Hinata. Não temos tempo. – Alertou ele que, ao começar a correr, segurou-me pela mão.

Ruborizei-me com o contato das mãos e, ao compreender a situação, assenti. Corri junto a ele, sem parar, e olhei para trás. A escuridão apenas parecia crescer cada vez mais.

– Falta pouco! Estamos chegando à luz. – Anunciou ele, contente.

Com as palavras dele, passei a esboçar um sorriso em meu rosto e resolvi olhar de volta para frente. Mas, diferentemente dele, a única coisa que eu enxergava era as trevas. Meu sorriso se fechava e apenas o pavor me consumia.

– Naruto-kun, eu não vejo luz alguma... – Indaguei, receosa. – O que tem é somente escuridão, o vazio!

Cada vez mais, eu ia de encontro com aquele negrume crescente. Ele corria confiante e radiante para a vanguarda, sem sequer olhar para trás. Eu tentava o acompanhar, mas isso já começava a ficar gradativamente mais difícil. As trevas finalmente haviam me alcançado. A minha mão que segurava a dele fora solta e eu era puxada para trás, ao passo que elas passavam a a me envolver.

– Naruto-kun!! – Gritei pelo nome dele desesperadamente, vendo-o se distanciar cada vez mais. Ele parecia não me ouvir. Agora, quase completamente fundida com a obscuridade, eu via a luz. Porém, ela se tornava mais e mais distante gradualmente. Eu o via adentrar a ela e, agora, não sozinho. Ao lado, estava mais uma vez Sakura-chan.

– Naruto-kun... Tasukete¹... – Implorei, contudo em vão.

Agora, como uma vez já estive, eu voltava àquele abismo da desolação. Não havia saída. Sequer um ponto de claridade. Tudo o que podia se notar ali eram sussurros e fantasmas do passado. Toda a minha trajetória até ali se tornava presente naquela dimensão – se é que eu posso chamar assim – e espaço. Embora tudo aquilo fosse óbvio, doía-me só de relembrar ou refletir acerca. Minha vida foi de total dedicação a ele. Se um dia eu quis ficar forte, não foi por mim mesma e sim porque ele havia me dado coragem. Se um dia eu encarei o perigo, é porque ele havia me dado forças. Se um dia eu quase morri, foi para salvá-lo. O fato de que todo o meu esforço havia sido em vão voltada à tona para mim, sem nenhuma piedade. A minha razão de viver havia parado de fazer sentido.

Corri, gritei – fiz de tudo – para que tudo aquilo desaparecesse. Eu não queria me lembrar de nada daquilo! O que eu queria era apenas ser feliz. Já que minha felicidade plena não é mais possível, queria recomeçar sem pesos. Aqueles fantasmas e sussurros não me deixavam esquecer, tornando o meu coração ainda mais doente. Joguei-me no chão, contorcendo-me, enquanto segurava minha cabeça com as mãos, aflita. Com meus olhos cheios de lágrimas, olhei para frente e avisto aquela mesma águia. Ela estava machucada, ensanguentada, mas, mesmo assim, lentamente se aproximava de mim. Novamente, ela me encarava, porém com uma expressão triste. Parecia tentar se comunicar comigo. Grasnava fraco, como se já não tivesse muita força. Coçava sua cabeça lentamente em minha bochecha, num gesto similar a de um afeto. Em seus últimos muitos de vida, a ave abriu novamente suas alvas asas. Dessa vez, entretanto, ela não alçou voo. Ela desaparecia e, como mágica, a escuridão aos poucos se desfaziam.

Eu acordava no meio da noite com os olhos cheios de lágrimas e minha mente cheia de dúvidas. Eu ofegava ao acabar de sair de um pesadelo. Sentava-me tentando recuperar o fôlego. Olhei à minha volta; exceto a mim, todos pareciam dormir tranquilamente. Suspirei. Silenciosamente, eu me levantava para que ninguém acordasse com seus barulhos. Eu precisava pensar.

Minha cabeça estava cheia. Por mais que tivesse sido apenas um sonho, aquilo tinha uma carga considerável de verdades. Não podia afirmar que nada do que havia sonhado era real, porque, em verdade, era. Passava por entre as árvores, como se desviasse de obstáculos involuntariamente. Aqueles mesmos sussurros de culpa do pesadelo ecoavam em minha mente e por nada queriam me deixar em paz. Eu chegava a uma área vasta, com poucas áreas, próximo a um precipício. Olhei para o céu e reparei que as nuvens haviam se desfeito e as estrelas brilhavam com intensidade, bem como a lua quase completamente cheia. Uma gentil brisa soprava do penhasco em minha direção, fazendo meus cabelos balançarem. Andei mais alguns passos e, então, ficava à beira daquele abismo. Abaixei meu olhar para ele e assim passei a observar a altura na qual me encontrava. Minhas lágrimas caíam. Continuar vivendo, talvez, fosse perpetuar o sofrimento. No fim das contas, tirá-la desse mundo podia ser a melhor alternativa.

Eu retirava uma kunai do bolso da minha calça e a posicionava contra o meu pescoço. Trêmula, eu criava coragem de perfurá-lo. Minhas lágrimas saíam espontânea e desesperadamente. Em meio àquelas reações do corpo, eu sorri, embora melancólica.

– Sayonara².

No momento em que passei a investir totalmente em meu golpe contra mim e fechei os olhos, apenas ouvi o barulho metálico de minha kunai ao colidir com outra igual, vindo de trás. Ambas as ferramentas caíam na profundeza à minha frente.

– Hinata!

Virei o meu corpo, para ver quem estava ali. Era Tenten. Ela corria até mim e, ao ficar frente a frente comigo, ela me encarava, tensa, e me segurava nos ombros.

– O que você estava tentando fazer, Hinata?! – Disse ela, preocupada, quase aflita. Desviava o olhar dela para baixo e, logo após, voltava a me olhar no fundo os olhos, indignada. – Para que fazer isso? Eu disse que se precisasse de alguma coisa era só falar! Nós estamos aí para te ajudar!

Eu apenas ouvi as palavras proferidas pela outra. Com meus olhos cheios de lágrimas, desviei meu olhar para o lado. Sentia-me cada vez pior. Ela, por sua vez, continuava a me fitar fixamente, séria.

– Minha vida... – Comecei, com minha voz trêmula e baixa. – Ela não tem valor... Nunca teve sentido... E.. por isso...

Antes que eu pudesse terminar minha fala, a kunoichi me dava um tapa no rosto. Eu a olhei, assustada, ao notar a expressão brava e seus olhos cheios de lágrimas.

– T-Tenten...san...?

– Cale a boca! – Gritou comigo, notavelmente irritada. Aquelas lágrimas passavam a escorrer durante sua fala. Ela ofegava, como se quisesse conter a raiva. – Se sua vida... Se sua vida não tem merda de valor alguma... Então me diz, Hinata... Qual foi o sentido de o Neji ter morrido por você?!

Arregalei meus olhos ao ouvir as últimas palavras da mesma. O silêncio permaneceu entre nós por um tempo considerável. Ela me encarava, perplexa.

– Ele... – Retomou ela o discurso, com sua voz falhada e receosa. – Ele largou... Ele largou tudo o que tinha... Tudo, inclusive o que ele tinha de mais importante: a vida. Sabe para que, Hinata? – Perguntou-me, agora com seu olhar triste. Ela abaixava a cabeça e cerrava seus punhos, como se tentasse se segurar para que o pranto não se excedesse. Ela então readquiria a coragem e fôlego e voltava a me fitar. – Para que você vivesse e fosse feliz.

Aquelas palavras cortavam meu coração a cada vez que eram ditas. Mas aquilo não podia ser verdade. Não. Neji nii-san havia se sacrificado por todos naquela infeliz guerra, para que nós pudéssemos prosseguir.

– Mas... Tenten-san, o Neji nii-s—

– Você ainda não percebeu, Hinata? – Disse ela, com um olhar de decepção. – O Neji... – Fez ela uma pausa, como se hesitasse em continuar.

Antes mesmo que ela terminasse, ela desviava o foco da atenção. Sua expressão se tornava séria e desconfiada. Ela me puxou para o seu lado enquanto continuava a observar ao redor.

– Hinata, ative o Byakugan. – Disse ela, apreensiva, com sua voz firme. – Acho que tem alguém pelas redondezas.

Assim que ela me pedia, eu ativava meu doujutsu. Analisei todo o local atentamente, em busca de alguma irregularidade. Estava escuro, o que, de fato, dificultava a visão. Estava prestes a me convencer de que não havia nada de errando, quando observei a presença de chakras, bem como vultos passando de árvore em ávore. Forcei o Byakugan para aproximar mais a visão. Eram 5 ninjas de Kusagakure e, um deles, carregava uma jovem, trajada de um kimono, aparentemente desmaiada. Tudo indicava que aquela era a sacerdotisa.

– Tenten-san, é a sacerdotisa sendo levada pelos shinobis de Kusagakure! – Exclamei, séria.

Com a minha resposta, ela levou as mãos novamente aos meus olhos, enquanto me encarava.

– Qual a direção deles? – Perguntou-me acerca dos sequestradores.

– Ao sul. – Respondi, direta. – Eles ainda não estão tão longes.

– Certo. – Concordou ela. Verificava seus pergaminhos e, feito isso, ela voltava a me olhar. – Hinata, quero que você volte para o acampamento e acorde os demais. Eu vou atrás deles.

– Mas, Tenten-san... – Questionei, antes que ela se fosse. Afinal, ela estaria em tamanha desvantagem numérica.

Ela apenas sorriu para mim e, bem como o Lee e o Gai-sensei, ela fez sinal de positivo com a mão e, por fim, partiu. Eu a observei desaparecer ao horizonte e, sem mais delongas, voltei para onde os outros estavam. O rumo da jornada começava a mudar.


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Notas finais do capítulo

[1] Socorro, em japonês.
[2] Adeus, em japonês.