Memórias Póstumas escrita por yin-yang


Capítulo 12
Capítulo Décimo Segundo: Promessa.


Notas iniciais do capítulo

Aqui fica uma playlist recomendada para ouvir durante a leitura. Espero que gostem:

https://www.youtube.com/watch?v=O1LQNzmnw1s&list=PLqKGYPagmdf-h6ikNxeZPdQfEo_qPPe1b

Boa leitura.
Att,
yin-yang.



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Diante dos inimigos, estava Neji nii-san a me proteger, com o Byakugan devidamente ativo. Meus braços estavam trêmulos, bem como meus olhos confusos. Ele estava de fato ali, bem à minha frente. Eu estava em choque. Como ele poderia estar ali, depois de longos anos após sua morte?

– Consegue se levantar, Hinata-sama? – Perguntou ele, sem desviar sua atenção do líder oponente.

Aquela voz nostálgica era realmente ouvida. Aquilo não era um genjutsu. Era real. Eu não conseguia entender.

– Como isso é possível? Eu... Eu não entendo! – Eu disse, olhando para ele. Eu acabava por ignorar a pergunta dele, mas eu precisava saber.

Ele suspirou. Ao notar que o oponente atingido havia realmente falecido naquele único golpe, rapidamente ele virava o rosto para mim. Gentilmente, ele sorriu para mim, sincero. O branco do seu olho estava negro, evidenciando apenas o Byakugan.

– Não se preocupe, Hinata-sama. Estou do seu lado.

Com as palavras do mesmo, fitei-o diretamente nos olhos, que pareciam ser efeito de um Edo Tensei, mas ele tinha consciência. Não me parecia ser controlado.

– Consegue se levantar, Hinata-sama? ­– Ele repetiu a pergunta, agora me estendendo a mão.

– Hai. – Assenti, aceitando a mão do mesmo para assim me erguer de volta e me posicionar para a batalha.

Ele guardava minhas costas, bem como eu guardava as dele. Aquela situação parecia uma quando ainda na Guerra Ninja, contra os Zetsus brancos. Agora, sem o selo daquele clã oponente, eu conseguia ter uma luta decente. Em número estávamos em desvantagem, mas juntos já havíamos dado conta de inúmeros inimigos; não seria diferente dessa vez. Nossos olhos se cruzavam e, daquela forma, sabíamos o que tínhamos que fazer.

– Hakke Kuushou! – Anunciamos juntos, golpeando todos aqueles que vinham ao nosso encontro.

Os ataques eram lançados em ritmos quase dançarinos, harmônicos. Meu corpo, ainda que um pouco cansado, aguentaria aquela luta que estava prestes a se findar.

– Quem te trouxe de volta com o Edo Tensei, Neji nii-san? – Perguntei meio à batalha enquanto desviava das kunais em minha direção.

Eu estava feliz em poder revê-lo, naturalmente, mas aquilo também me entristecia, pois significava que o espírito dele estava preso em um jutsu. Eu não queria vê-lo sofrer, mesmo que teoricamente já estivesse morto.

– Junsui Tensei [1], Hinata-sama. – Explicou-me ao me corrigir com relação ao jutsu utilizado. – Meu espírito foi invocado, sim, mas por livre e espontânea vontade, com consciência; sem amarras ou controle. Mikaru-dono foi quem me possibilitou voltar.

– Mikaru? – Repeti surpresa.

Ele me confirmou, assentindo com a cabeça enquanto golpeava-os certeiro com suas shurikens. Confesso, eu jurava que ela me detestava.

– Em contrapartida, porém, eu não poderei ficar aqui por muito tempo. Diferentemente do Edo Tensei, o jutsu não dura enquanto o usuário deste mantê-lo ativo. Ele é limitado pelo tempo.

Assim que ele terminou sua explicação, eu olhei para ele.

– Queria poder ter tempo o suficiente para matar a saudade, mas creio que meu tempo só vá durar até o término dessa luta. – Disse ele sincero. – Ou talvez um pouco mais, mas não tão obstante que isso.

Meus olhos se enchiam de lágrimas uma vez mais. Aquilo estava errado! O que raio estava acontecendo em minha vida? Aquilo estava definitivamente muito errado! Por que ele tinha que ir embora, sendo que logo agora eu o havia de fato reencontrado? Isso era muito injusto!

Assim que nós finalmente os derrotávamos, eu ofeguei, fitando para todos aqueles cadáveres forrados no chão. Eu me recusava a acreditar que Neji nii-san logo se dissiparia e desapareceria para sempre. Eu me encolhi, escondendo meu rosto. Não queria vê-lo partir.

– Eu ainda estou aqui. – Disse ele, suspirando.

Assim que eu o olhava, ele sorria discretamente, já que, como de costume, não era bom em fazê-lo. Desse modo, eu também acabei fazendo o mesmo. Sem nada dizer, eu o abracei fortemente, como se nunca mais o quisesse soltar e, de fato, eu não queria. Ele parecia não compreender muito bem por que eu havia feito aquilo — não o culpo, mesmo porque, quando ele morreu, eu só tinha olhos para o Naruto-kun. Olhei de volta para o mesmo com aquele singelo sorriso, porém verdadeiro, enquanto se distanciava vagarosamente dele.

– Vamos caminhar um pouco, já que, pelo que vejo, temos mais um tempinho. – Disse eu para o mesmo.

Ele, com aquela vestimenta de guerra que usou pela última vez, sorriu de volta.

– Claro que sim. – Disse-me ele.

Dessa maneira, dei meus primeiros passos. Queria ao menos sair daquela floresta, aproveitar o tempo que eu ainda tinha com ele.

– Bom – Começou o shinobi ao passo que caminhava ao meu lado enquanto lentamente saíamos da mata e andávamos rumo à ponte –, penso que alguns anos já se passaram desde o fim da guerra. Fico realmente aliviado de ver que esteja viva acima de tudo, Hinata-sama. – Concluiu o mesmo.

Eu sorri.

– Dez anos. – Respondi. ­– Dez anos se passaram desde então. Vivemos uma época de uma aparente paz. As aldeias entre elas se reconciliaram e não existe rivalidade declarada. Acontece um caso ou outro isolado de conflitos, como foi essa nossa última missão, mas é basicamente isso.

– Compreendo. – Respondeu-me compreensivo, ouvinte.

Apesar de nada falar, eu queria lhe contar tudo o que ele deixou de viver; eu queria mostrar o mundo para ele.

– Ademais, todos estão bem. Eu voltei a ser a sucessora do Clã. – Continuei. – Creio que um romance entre Kiba-kun e Hanabi esteja florescendo. – Dei uma leve risadinha. – Lee-san e Tenten-san também.

Por um momento eu o fitei, podendo perceber um sorriso satisfeito de canto ao ouvir aquela notícia.

– Naruto-kun conseguiu alcançar o objetivo dele de se tornar Hokage e se casou com a Sakura-chan. – Eu disse com um leve sorriso no rosto. Apesar de ter sido difícil, eu havia compreendido e desejava realmente que eles fossem felizes.

Observava aquela bela lua cheia, que agora estava visível, já que finalmente saíamos da floresta. Neji nii-san me ouvia atentamente, passando a me olhar, zeloso e protetor, como sempre o fez. Ele parecia preocupado comigo. Afinal, ele sabia o quanto um dia já amei o Naruto-kun, o quanto eu já havia me esforçado.

– Mas não tem problema, Neji nii-san. – Eu disse a tranquilizá-lo, embora ele nada tivesse dito. Eu o conhecia bem, agora mais do que nunca. – Finalmente, eu consegui me encontrar e pude compreender melhor as coisas.

– Hinata-sama...

Dito essas palavras, eu parava meio à ponte e assim me escorava no corrimão, próximo ao meu primo.

– Neji nii-san... – Iniciei, agora abaixando o olhar. Eu estava meio nervosa, apreensiva de encará-lo nos olhos. Ao tomar coragem, finalmente eu o fitava. – Qual era a promessa que fizemos juntos quando ainda éramos pequenos, debaixo da árvore? – Perguntei. Eu precisava saber.

Lentamente ele parecia digerir meus dizeres. Ele me fitava de volta, com sinceridade e veracidade. Em seus olhos, um brilho nostálgico, uma sombra de saudades.

– Por que isso de repente? – Perguntou ele, analisando-me, como se tentasse me entender.

– Muitas coisas aconteceram desde a sua partida, Neji nii-san. – Comecei. – E, meio a esse tempo, eu me recordei de cada momento que passei na sua companhia... Eu me recordei de quando nos encontramos pela primeira vez, de nossa promessa há tanto tempo havíamos feito debaixo daquela árvore, de quando o destino nos separou... De quando eu me esqueci da nossa promessa e te deixei só, quando mais precisava de mim. Das vezes que eu o preocupei e você sempre zelou por mim... Até de quando você deu sua vida... Por mim. Para que eu vivesse e fosse feliz, porque acima de tudo você confiava em mim. – Disse, com meus olhos marejados. Minha voz tremulava e meu olhar encontrava o dele novamente.

– Hinata-sama... – Ele me fitava com o olhar melancólico, como se soubesse e conhecesse minha dolorida tristeza.

– Eu percebi nesses dez anos que você me fazia muita falta. – Falei, mesmo que minha voz estivesse chorosa e falha. Eu o encarei seriamente e com convicção. Eu precisava transmitir, pois, do contrário, não teria outra oportunidade. Nunca mais. – Eu sei que é tarde demais para dizer isso e que nada mais pode ser mudado, mas... Neji nii-san, eu amo você, do fundo do meu coração!

Finalmente eu me declarei. As lágrimas escorriam por conta própria, gota por gota. Eu tentava esboçar um sorriso, ainda que forçado, mas tudo isso em vão, pois aquele nó na garganta logo me dominava e aquela dor da perda me consumia. Nos olhos dele, também, pude verificar lágrimas retidas, uma agonia discreta, reprimida por ele.

Minhas pernas ameaçavam fraquejar e meu corpo atentava a desmoronar diante meu frágil emocional. Por que as coisas não podiam ser mais fáceis? Antes que os soluços viessem e tomassem conta de mim, eu o abracei fortemente uma segunda vez naquela noite, escondendo meu rosto no peitoral dele.

– Eu não queria que você partisse. – Proferi, trêmula. – Logo agora que tudo percebi, que tudo eu notei e quero reparar... Eu não vou poder sequer ter a oportunidade de consertar meus erros de todo esse tempo, de correr atrás do que vale a pena! Isso é injusto!

Com o término das minhas palavras, ele me retribuía o abraço, aconchegando-me melhor em seus braços ao me apertar contra si fortemente, igualmente meio trêmulo. Sobre meu ombro, eu senti uma lágrima sua cair.

– Não diga mais nada, Hinata-sama. Por favor. – Sua voz firme e imponente naquele momento havia fraquejado, nem que fosse apenas um pouco. – Não precisa dizer mais nada.

Eu podia sentir o calor daquele envolvente abraço. Do peito dele, porém, eu não conseguia ouvir os batimentos cardíacos. É claro que não, ele já havia morrido fazia anos! O que estava ali, porém, era apenas o espírito dele com forma adquirida por jutsu. Apertei-o ainda mais forte, de modo a não me esquecer jamais daquele momento. Mas não, não queria que ele desaparecesse!

– Por isso, Neji nii-san, já que nunca mais vou poder vê-lo, pelo menos me deixe conhecer a promessa que um dia eu fiz com você.

Dito, ergui meus olhos para o mesmo, fitando-o. Ele sorriu triste, ou pelo menos tentando fazê-lo. Suavemente, ele passava a acariciar meu rosto, quando eu notei algo de muito errado. A mão dele já parecia se dissipar lentamente. Arregalei meus olhos, não querendo acreditar que o tempo dele comigo estava chegando ao fim.

– Não... ­– Disse aos murmúrios. Aquilo não podia estar acontecendo!

– Acho que meu tempo está se esgotando... – Ele comentou em tom sem jeito. – Sinto que minha consciência aos poucos se esvair e ficar cada vez mais distante. – Fez-se uma pausa.

Ele secava minhas lágrimas e sorriu novamente. Meu primo singelamente encostava sua testa na minha e assim fechou os olhos, deixando suas delicadas e discretas lágrimas caírem. Eu confesso, era a primeira vez, depois de tantos anos, que eu o vi chorar de volta. Depois, ele voltou a me encarar no fundo do meu olhar, até que ia até meu ouvido e ali sussurrou. Meus olhos se arregalaram uma segunda vez e as lágrimas voltaram a escorrer. Por um momento, um flash. Era como se a última peça do quebra-cabeça fosse realmente encontrada.

• • •

Sentados estávamos nós dois, tão pequeninos, um do lado do outro, naquele campo verde que medrava com a brisa, debaixo daquela árvore tão cúmplice de nossa realidade. O céu era azul de modo tão belo, tão magnífico, que chegava a ser invejável. Olhávamos para os pássaros, que tão livremente sobrevoavam o local.

– Hinata-sama, – Chamou-me o menino mais velho. Eu logo o fitei. – qual seu sonho para o futuro?

–Sonho? – Perguntei pensativa. Eu sempre estive sempre tão ocupada treinando para suceder o clã que nunca havia me permitido sonhar. – O Neji nii-san também tem um sonho para o futuro?

– Uhum! – Respondeu meu primo, com certo encanto e brilho nos olhos. – Eu quero ser forte! Ser alguém do qual meu pai possa se orgulhar. – Segredou-me.

Sorri com a resposta dele. Aquela convicção e admiração que ele tinha pelo pai dele era muito bonita. Eu gostava daquilo, de verdade. Encolhi-me e abracei minhas próprias pernas, a esboçar um leve sorriso. Enrubesci, perdida em meus pensamentos.

– Eu queria ser noiva. – Confessei, bem feminina. Aquilo poderia parecer insignificante para ele, mas eu estava sendo sincera.– Um dia, eu quero ser uma linda noiva.

Neji nii-san observava-me enquanto eu proferia minhas palavras, ainda que vagarosa e timidamente expressas. Pensei que ele me julgaria—pois sempre fui pelos demais—, mas me surpreendi. Ele então se aproximou mais de mim enquanto me olhava, sentado ao meu lado. Assim ele sorriu, verdadeiro.

– Então está decidido: eu vou me tornar forte e a Hinata-sama será minha noiva, a quem vou proteger, para sempre. E isso é uma promessa de vida! – Afirmou o menino, convicto.

Aquelas palavras de Neji nii-san soaram como melodia para mim. Eu estava feliz, Muito feliz. Ele não só não tinha me julgado, mas estava disposto a brigar e realizar aquilo... Por mim.

– Mesmo? –Perguntei, virando-me de frente para o mesmo enquanto o olhava.

– Mesmo. – Ele me disse, devolvendo-me aquele olhar sincero. – Eu vou provar para você!

Sem muito tempo para raciocinar, ele se aproximava do meu rosto e, em minha bochecha, ele deixava um selinho rápido e envergonhado. Ele tinha suas maçãs do rosto um pouco coradas. Eu sorri, tímida e contente ao mesmo tempo. De muitas delongas, eu mostrei meu dedo mindinho para ele, em um gesto simples e delicado.

– Promete? – Perguntei singela.

– Prometo. – Respondeu-me, a mostrar igualmente o mesmo dedo. Assim ele o entrelaçava ao meu, sorrindo gentilmente.

Yubikiri genman, uso tsuitara hari senbon nomasu.

Yubi kitta.

– É uma promessa. – Completou e assim eu sorri de volta, contente.

• •

“Desculpa” foi o que ele sussurrou em meu ouvido naquele momento. “Eu não pude cumprir a promessa.” Eu havia me recordado. Com todas as palavras. Desesperada, eu olhei para ele, que lentamente desaparecia logo à minha frente.

– Sayounara. – Disse-me ele pela última vez. – Ore mo aishiteru [1].

Assim, ele desaparecia por completo da minha frente, tornando-se aquela ave alva da Sacerdotisa, que ao infinito parecia voar.

– NÃO! – Gritei, tentando agarrá-lo antes que se desintegrasse por completo e o espírito dele se perdesse para sempre novamente. Ao fracassar nessa tentativa, eu desmoronei, caindo de joelhos no chão. – Não... NÃO!

Gritei aos prantos. Aquilo não podia ser real, não podia! Agarrei meus próprios braços e chorei, mais do que eu havia chorado em toda minha vida. Encolhi-me, trêmula. Eu me sentia terrivelmente culpada. Como eu podia ter me esquecido daquela promessa? Durante todos esses anos, eu vivi minha vida em torno do Naruto-kun cegamente. Mesmo assim, depois de a raiva dele ter passado e ter motivos para tal, Neji nii-san continuou a zelar por mim, levando essa promessa para o túmulo, só pela minha felicidade. E eu achando que a vida era injusta comigo. Não, eu fui injusta com ele! E agora, mesmo querendo ajeitar as coisas, mesmo querendo cumprir a promessa só nossa, nada eu posso fazer! Nada mais. Estava me corroendo, me destruindo por dentro. Eu não conseguia me recompor. O peso do mundo estava sobre mim.

– NÃO! – Gritei novamente, inconformada com tudo aquilo. Ele não pode ter simplesmente partido, não pode!

Eu chorava. Era inegável.

Em minha direção, ouvi alguns passos se aproximando. De repente, a alguns metros de distância, o som se sessava.

– Até quando tu pretendes negar tudo, Hyuuga Hinata? – Disse uma voz intimidadora e destemida. – Ou melhor a dizer... Izanami-no-Mikoto [2]! – Enfatizou, a alterar o timbre e o tom de sua voz.

Ao erguer meus olhos, eu via Mikaru em seu traje sacerdotal cerimonial. Seus olhos rubros e opacos pressionavam os meus, de maneira totalmente dominadora, inquisitiva. Ela não parecia me julgar de fato. Ela parecia me assolar apenas com aquela mirada temerosa e voraz. Ali parecia refletir não raiva, mas sim uma mágoa secular.


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Notas finais do capítulo

[1] - Tradução literal: "Adeus. Eu também te amo."
[2] - Na Mitologia Japonesa, Izanami (Jイザナミ significando "Ela que convida") é uma deusa tanto da criação como da morte, e também esposa e irmã de Izanagi, com encargos de criar os deuses inferiores e o homem. O nascimento do deus Fogo causou-lhe a morte. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Izanami)