Entre Mentiras E Verdades escrita por DiuDiuk


Capítulo 4
Pravda!


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem o próximo e o tão esperado encontro ente os dois.



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Órion, 31 de março.

Eu deveria saber que isso não daria certo, depois de anos de confusões, maus entendidos, e detenções, eu deveria aprender a lição, mas não como um disco de vinil arranhado eu repito, repito e repito os mesmos erros, a primeira vez que isso me aconteceu eu estava no fundamental tinha doze anos, era aula de história, eu detestava decorar aquelas datas, não que eu não ache história uma matéria interessante, o problema era o Professor Horácio, ele era obcecado por datas e números e achava que todo mundo devia ser como ele, praticamente um computador capaz de decorar milhões de datas.

Então, não foi surpresa quando ele pediu um teste, para a próxima semana, os capítulos desde a primeira guerra mundial até a segunda imagine quantas datas e nomes importantes para eu me lembrar durante uma prova com vinte questões com tempo limite de uma hora e meia, sendo que ele não dá nenhuma dica do que vai cair. É por isso que na época eu entrei em pânico e passei a semana estudando.

Chegou o dia da prova, de tão nervosa me deu um branco daqueles, então eu olhava do papel, para o professor, do professor, para os outros alunos respondendo, dos alunos, para o relógio, tentando lembrar-me das respostas e nada, zero. Até que como uma luz no fim do túnel eu escutei um chamado era da Cecília ela era minha única e melhor amiga, e foi à única que não fugiu nem me desprezou por causa do meu excesso de sinceridade.

Na verdade, quando eu contei, por mais estranho que pareça ela acreditou e até achou um máximo, e curiosa como era começou a fazer tudo que é teste comigo para prova até onde ia a minha capacidade de ser honesta. Primeiro um simples, primeiro me deu uma caneta azul e disse para eu dizer em alto e bom som que era vermelha. Então eu perguntei:

- Por que eu não digo a cor certa da caneta de uma vez?

- Viu, você já tá falando a verdade antes mesmo de começar e nem nota, agora vamos fazer certo desta vez, que cor é a caneta na sua mão? – ela me perguntou, e eu juro eu tentei, mas a única coisa que saiu foi:

- V... Va... Azul, droga viu eu disse. – nisso ela me olhou espantada, ela viu o quanto eu me esforcei e foi inútil.

- Tá então você não consegue falar mentiras, mas e se você escrevesse?

- O que?

- É você nunca tentou escrever uma mentira em uma folha, pra ver se funciona?

- Não, isso nunca me passou pela cabeça.

- Ótimo então bora tentar. – disse ela toda empolgada.

Então foi procurar a bendita folha, estávamos no quarto dela o lugar era amplo, ficava no segundo andar do duplex, com vista para a rua, o quarto era banhado com os raios do sol, tornando o amarelo das paredes como um grande ponto de iluminação, o quarto era simples possuía um grande roupeiro de carvalho que com certeza era herança de família, com camadas de tinta branca que já estavam descascadas por cima da camada de marrom, uma bi cama encostada na parede contrária à rua, um tapete aveludado e extremamente infantil de joaninha, mais uma cadeira de balanço também branca perto da janela e prateleiras e mais prateleiras de bichinhos de pelúcia (sua coleção) e a escrivaninha de carvalho antiga mas bem conservada, onde uma atrapalhada Cecília se perdia em tanta bagunça sem conseguir achar um mísero papel em branco.

Estava tão distraída com o formato das sombras que o sol produzia quando tocava as cortinas de croché feitas com muito amor pela avó aninha, e com o cheiro de lavanda dos incensos da tia Lu, que dei um pulo quando maravilhada por sua façanha Cecília grita:

- Achei! – então me chamou até a escrivaninha, derrubou o monte de parafernália de cima dela, me alcançou a caneta e disse – agora escreve a cor da caneta?

- Então tá – era só isso, é só escrever a cor errada, fácil, eu disse pra mim mesma, agora pegue a caneta e escreva vermelho.

Preparada, e otimista, peguei a caneta coloquei no papel, aí começou os mesmos sintomas nervosismo, suar frio, leve tremedeira, dor de cabeça, ansiedade e pra acabar com essa tortura, posicionei a caneta e de supetão escrevi, nem olhei para o papel, simplesmente saí da cadeira e caminhei até a janela e a abri, o ar me fez sentir melhor e só virei para trás quando ouvi Celina dizer: Nossa!

Quando virei estava ali escrito grande e visível à palavra AZUL.

- Então, é mesmo. Uau! Isso é incrível.

- Incrível, ser 100% sincera não é tão bom como você acha, sempre alguém sai magoado por causa de mim e dessa minha boca grande.

Então, contei para ela toda a história da Maria e a Luíza, embora ela entendesse o que aconteceu, ela realmente não conta afinal, nunca se deu bem com Maria, desde a pré-escola quando Maria pediu a Barbie preferida da Cecília emprestada e devolveu sem a cabeça. Então a resposta dela não vale.

- Hahaha... Queria ter visto a cara da Chiquinha naquela hora... hahaha... Devia estar impagável. Cara, eu sempre perco as melhores partes. – depois de enxugar as lágrimas do riso e ver que pra mim não teve graça, ela se tocou – me desculpa Livi, mais elas bem que mereceram, elas são um pé no saco, não sei como você aturou as dondoquinhas por tanto tempo.

- Eu sei que elas não são flor que se cheire, e elas bem que podem ter merecido, mas nada me dá o direito de ter falado daquela maneira com elas, e se eu faço isso com as outras pessoas? E se eu faço isso com você? – eu realmente estava preocupada se perdesse a amizade da Ceci eu ficaria completamente sozinha. Então de tanto imaginar isso, senti um vazio tão grande, e o meu coração foi se apertando, então dos meus olhos começou a jorrar um choro doloroso, o medo do que eu fiz, e o medo do que eu faria me assombravam de tal forma que eu não consegui cessar as lágrimas.

Cecília veio até mim, e me puxou para um abraço apertado, dando leves tapinhas nas minhas costas até eu me acalmar. Desfez-se do abraço, olhou nos meus olhos e disse:

- Eu nunca vou te abandonar por uma bobagem dessas, somos amigas há um tempão, e além do mais sempre dizem que amizade que dura é a sincera, em tão somos sortudas, seremos as primeiras a levar isso á risca.

- Ninguém melhor do que você pra me animar Ceci, obrigada- ela então sorriu pra mim dizendo.

- Ah que isso, amigos são pra essas coisas, e melhor amiga que eu aposto que tu não vai achar em lugar nenhum.

- Convencida hein? É mais você tem razão, não existe melhor amiga que você. – eu sei que eu tenho muita sorte de ter uma amiga que nem ela, mas isso não me tranquiliza – mas e quanto às outras pessoas? Se eu seguir assim vou ser odiada por todo mundo e acabar sendo linchada em praça pública.

- Não se preocupa, eu vou pensar em algo, em quanto isso eu te ajudo, sempre que alguém te perguntar alguma coisa e você ver que vai dizer alguma coisa ruim, me chama que eu te acoberto.

- Mas, como eu vou ficar te chamando toda hora, as pessoas vão desconfiar.

- Já sei, vamos usar uma palavra-chave.

- Mas qual?

- Que tal truth? É verdade em inglês?

- Esse alguém vai saber. Todo mundo sabe falar nem que seja  um pouco de  inglês.

- Em outro idioma, um que ninguém entenda, deixe me ver? Ah que tal pravda, é verdade em russo, aposto que essa ninguém conhece.

- Desde quando você fala russo?

- Não falo, é que tem um ator tão lindo que é russo e que eu amo, e em um comercial de perfume ele falava pravda, e de tanto que eu assisti acabei decorando.

- Nossa, é bem estranho, mas já que não tem outra opção vamos de pravda mesmo.

Desde então sempre que eu precisava de ajuda, era só soltar o grito “pravda” que ela aparecia correndo para me ajudar.  E embora eu estivesse em uma situação de risco, dessa vez não tinha nada ver com a sinceridade. Ela virou pra mim e sussurrou:

- Quer ajuda – colar era muito arriscado principalmente na aula do Horácio olhos de águia, mas se eu não colasse iria tirar nota vermelha e teria que fazer exame, e o exame com professor Horácio era praticamente impossível de passar.

- Não sei – sussurrei de volta.

Mas bastou só isso, para Maria que sentava duas mesas atrás de mim, gritar:

- Professor Horácio a Lívia tá colando.

Assim que ela terminou de gritar toda turma virou para minha direção, esperando a reação da fera, e para o professor, só o fato de eu estar levemente inclinada na direção da Cecília já me condenava, e bom eu não ajudei também.

- O que, a senhorita estava colando?

- Não, professor ela não estava colando. – Cecília bem que tentou, mas eu consegui me ferrar sozinha, quando disse:

- Não, eu não colei, mas essa era minha intenção. – depois da minha declaração o silêncio se espalhou pela sala, eu consegui calar até o professor.

- Como você disse? – até Cecília estava surpreendida, quando ela viu que eu ia responder, ela bem que tentou me parar, atrás do professor fez sanha com as mãos para eu parar, falando sem fazer som ela dizia “não, não”, mas acha que eu consegui parar, e de brinde consegui e piorar ainda mais a minha situação.

- Bom, eu ainda não tinha decidido se eu ia colar ou não, mas como me deu um branco eu estava muito tentada – todo mundo estava de boca aberta.

- Você acha que eu sou idiota? – o professor começou a se exaltar, e com uma frase eu conseguir fazer o que nenhum aluno teve coragem de fazer até hoje.

- Bom idiota não seria a palavra que eu usaria tá mais pra tirano, é acho que tirano caí bem. – todos segurarão a respiração, ninguém ousava se mover em quanto isso subia uma vermelhidão na face do professor e com o as sobrancelhas franzidas e os lábios crispados ele liberou sua ira.

- Direção, agora!

O que aliviou a minha sentença foi o fato de que eu não colei, mas ofender o professor me resultou em muitas tardes a mais na escola devido à detenção. E é mais uma vez, agora depois de estar sóbria de detenções por um ano, eu caio de novo nesse mal que eu mesmo me trago.

- Como assim o livro foi lamentável, como você não gostou? - dessa vez a minha vítima é a professora Abigail de literatura, eu e ela, temos opiniões bem diferentes sobre livros, só sou salva graças a Cecília, mas no momento ela foi atacada por duas garotas e não percebeu que eu estava aqui gritando:

- Pravda, eu disse pravda! – pensa que ela escutou.

- O que tem a prata? Não mude de assunto, como você pode não ter gostado? – aí não tinha mais jeito, ela não ia me deixar sair sem responder então eu respondi.

- É não gostei, quer dizer que tipo de final foi aquele, você torce o tempo todo para eles ficarem juntos e a Catherine simplesmente casa com outro e deixa o Heathcliff a ver navios, aí ela morre e ele vira um verdadeiro demônio sem coração e fica fantasiando que vê ela, completamente louco e morre também, o que Emily Brontë quis com esse livro? Por que um final tão trágico? Pra falar à verdade o que a senhora viu nesse livro?

- Esse livro é um clássico da literatura, é impossível não gostar, como pode ofender uma obra tão magnífica?

- Senhora, não pode me obrigar a gostar da obra e eu não estou ofendendo só estou falando a minha opinião.

- Ah sua opinião, já que você tem bastante opinião, o que acha da minha aula? – eu poderia ter parado aí, e teria me poupado muita dor de cabeça.

- Bom se for pra ensinar hipocrisia, a senhora está indo em um bom caminho, quer dizer a senhora fala que temos que ser abertos sobre todo tipo de leitura, mas quando alguém apresenta um livro sobre leitura contemporânea, ou livros de autores polêmicos a senhora diz que esses livros são insuficientes, e escritos por gentinha de pouca classe e visão.

- Está me chamando de hipócrita! – viu outra que gritou, mas o que eu falei foi exatamente o que ela disse. Se não for um livro de literatura clássica, ela considera lixo, ela já falou isso também. – a senhorita vai conversar com o diretor imediatamente!

Bom eu já posso até ver o que vai acontecer, a professora e o diretor tem um rolo, ou seja, só resta para  mim a detenção.


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Notas finais do capítulo

Comentem e deixem a autora muito feliz. :p



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