Garotas Mágicas: Renascimento! escrita por RTM


Capítulo 1
Morte e Renascimento - Parte I




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Ainda abalada pelo choque, Lina esfregou os olhos e tateou o chão procurando por sua varinha. Ela ignorou a dor aguda no topo da cabeça, cuspiu o gosto metálico para fora da boca e tentou se lembrar do que havia acabado de acontecer. Ao encontrar a varinha, apoiou-a no chão para se erguer. Um zumbido agudo em seus ouvidos a impedia de 0ouvir qualquer outro som, inclusive a sua própria voz. Ela se esforçou para abrir os olhos e se sentiu desorientada. O parque que ela costumava freqüentar todos os dias depois das aulas estava irreconhecível. Em meio aos destroços do que havia sido um quiosque de lanches naturais, Sarah e Miki estavam recobrando a consciência. Lina olhou para baixo e viu uma fina linha escarlate refletindo a luz do sol. Ela ergueu a cabeça e conseguiu fixar seu olhar em um ponto mais à frente, onde as raízes de uma grande árvore estavam expostas. Enroscado nas raízes havia algo que sua mente não teve tempo de registrar, pois o zumbido foi imediatamente substituído pelos sons das sirenes de carros da polícia e ambulâncias e os gritos de agonia e desespero das pessoas que haviam sobrevivido ao ataque.

Lina se ajoelhou no chão, e cobriu o rosto com as mãos. Ela não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Aquele deveria ter sido o Seu dia, o dia perfeito, o primeiro como líder das Guardiãs de Tokyo. Como tudo pôde ter dado errado? Ela se lembrou das palavras da antiga líder do grupo e sua melhor amiga, Mai: "Não se preocupe, essa missão vai ser tão fácil que você nem vai perceber quando ela terminar.". As garotas estavam alegres e já tinham combinado aonde iriam comemorar depois da missão. Aquela sorveteria nova que abriu no centro da cidade e, depois disso, uma festa na casa da Sarah. Aquela era a última missão de Mai e elas fariam uma festa surpresa de despedida inesquecível.

Um puxão no braço direito trouxe Lina de volta à realidade. Era Sarah, que havia caminhado até ali. Ela trazia Miki apoiada em seu ombro direito e parecia estar dizendo alguma coisa, mas a atenção de Lina subitamente se voltou para outra coisa. Ela se ergueu em um pulo e correu até a árvore caída, ignorando os chamados de Miki e Sarah. Lá ela encontrou Karin encostada contra o tronco de uma árvore que havia sobrado de pé. Seu rosto estava pálido e seus olhos desfocados estavam arregalados em terror. Todo o corpo dela tremia incontrolavelmente. Lina segurou Karin pelos ombros e sacudiu levemente, tentando despertá-la do estado de choque.

- Karin! Ei, você pode me ouvir? Está tudo bem, Karin?

Lina chamou duas, três vezes, mas não obteve nenhuma resposta. Foi então que lhe ocorreu que Karin estava olhando na direção das raízes expostas da grande árvore caída. Ela sentiu um arrepio correr por sua nuca e se virou lentamente para olhar. Subitamente sentiu suas pernas perderem a força e cambaleou, caindo sentada no chão. Ela sentiu um enjôo ácido, forte e desagradável tomar conta do estômago e seu peito foi comprimido por uma pressão esmagadora. Então Lina olhou para baixo e viu uma poça líquida se formar na sua frente. Não demorou muito para adivinhar que aquilo era seu próprio vômito. No momento seguinte ela ouviu gritos e soluços. Lina olhou para cima e viu Sarah e Miki paradas de pé ao seu lado, com os rostos estampados de terror. Antes que se desse conta do que realmente estava acontecendo, uma luz morna e verde a envolveu. Ela sentiu seu corpo ficar mais leve e a sensação de enjôo desapareceu, restando apenas a sensação de vazio e tristeza. Sarah e Miki também estavam envolvidas na mesma espiral de luz verde e pareciam igualmente surpresas. Uma esfera se formou ao redor delas e então explodiu silenciosamente com um brilho cegante. Quando Lina finalmente conseguiu abriu os olhos, se viu sentada sobre uma cama, dentro de um quarto de paredes rosas.

Com as costas das mãos, Lina afastou as lágrimas que escorriam insistentemente pelo seu rosto. Ela estava confusa demais para imaginar o porquê de estar chorando. Ela lutou para manter a consciência, respirou fundo e olhou ao redor. O quarto em que estava lhe era familiar. Era o quarto dos fundos da casa de Sarah. Há três meses atrás as garotas haviam decidido usá-lo como "base de operações". Elas levaram dias limpando o quarto, pintando as paredes e o teto e arrumando os móveis. Além da pequena cama de solteiro, havia uma estante, uma mesa e várias cadeiras. Alguns papéis e jornais ainda estavam espalhados sobre a mesa. Lina olhou para o lado e viu Sarah e Miki sentadas sobre a cama. Um chiado abafado atrás delas indicou a presença de mais alguém. Elas se viraram para olhar e encontraram Karin de pé, encostada em uma parede. Sua mão esquerda ainda segurava a varinha, para onde a espiral de luz verde havia acabado de retornar. Ela estava ofegante e parecia bastante cansada. Em seu ombro direito estava apoiada uma figura tingida de vermelho vivo.

- Por que estão paradas? - perguntou Karin, cambaleando para frente.

Lina foi a primeira a reconhecer a figura que estava apoiada em Karin. Rapidamente ela saltou da cama e foi ao encontro dela. Sarah e Miki também se levantaram para ajudar Lina e juntas depositaram o corpo sobre a cama. Do uniforme restavam alguns poucos pedaços rasgados e manchados. O corpo estava quase irreconhecível com todos os cortes e fraturas. Lina se ajoelhou ao lado da cama e afastou os cabelos emaranhados e sujos de sangue do rosto de sua amiga.

- Mai! - Lina chamou, com a voz embargada. - Por favor, não morra, Mai!

Sarah se posicionou ao lado de Lina, apontou sua varinha para Mai e fechou os olhos, se concentrando. Um feixe de luz dourada escapou da ponta da varinha e cobriu toda a cama. Miki entendeu o recado, correu para o outro lado da cama e fez o mesmo. Lina se ergueu e tentou ajudá-las, mas da ponta de sua varinha saíram apenas algumas faíscas, o que significava que toda a sua magia havia sido esgotada durante a batalha.

- Karin , por favor, nos ajude aqui. - Sarah disse, olhando para Karin, que observava a tudo calada. - Foi você que fez a magia de transporte, não foi? Então ainda tem algum poder pra usar uma magia de cura, não é?

Lina olhou para o casulo dourado brilhante em que a cama havia se transformado e abaixou a cabeça, olhando para sua varinha. Instintivamente ela sabia que não adiantaria muito, pois a magia de cura que elas haviam conheciam servia apenas para cortes e arranhões. Mesmo assim, havia uma chance remota de dar certo, ainda havia esperança. Ela puxou Karin até o pé da cama e olhou firmemente em seus olhos. Elas não trocaram nenhuma palavra, mas não era necessário, pois seus olhares continham todo o significado necessário. Karin estava preocupada com o que aconteceria em seguida. Elas precisariam de magia para se defender caso o inimigo conseguisse rastreá-las até ali. Em alguns instantes, que pareceram horas, Karin se decidiu e então afastou Lina com um gesto gentil.

O terceiro feixe dourado atingiu a cama. Durante vários minutos o casulo dourado cresceu e brilhou como se fosse o próprio sol. A magia era tão forte que a temperatura o quarto parecia mais quente e confortável e o ar tinha adquirido uma consistência oleosa perfumada. Porém, as varinhas estavam alcançando o limite. A primeira a falhar foi a de Miki, acompanhada logo em seguida pelo de Karin. Quando a magia de Sarah finalmente se esgotou, o casulo voltou a ser uma cama e o quarto voltou a ser frio e triste.

Lina se sentou do lado do corpo inerte de Mai. Não havia mais nenhum arranhão, corte, ou fratura. O uniforme estava inteiro e limpo e não havia mais nenhum vestígio de sangue, nem mesmo no lençol branco da cama. Lina olhou para o rosto de sua melhor amiga. Por ser um ano mais velha que as demais, Mai fora escolhida como líder do grupo. Durante meses elas se divertiram juntas em suas missões, mas em breve Mai teria se que mudar de cidade e por isso deixaria a equipe. Ela era otimista e sempre dizia 'Vai dar tudo certo.'. Mas no final, deu tudo errado. O corpo de Mai estava frio como gelo. As Guardiãs de Tóquio enfrentavam a sua primeira grande perda.

Karin pôs as mãos sobre os ombros de Lina, mas foi afastada por um gesto violento, mas silencioso. Sarah se sentou em uma cadeira e escondeu o rosto com as mãos. Lina deu alguns passos para trás, encostou as costas na parede e deslizou até o chão. Elas haviam falhado. Primeiro falharam durante a missão, que era para ser algo trivial, mas virou uma catástrofe. Depois falharam com Mai, que deu a vida tentando salvá-las. Lina sentiu uma onda de raiva e desespero invadir seu peito. Se ela tivesse sido uma líder melhor, isso não teria acontecido. Se ela tivesse pensado mais rápido, Mai não precisaria ter se sacrificado. Ela olhou com raiva para sua varinha e a segurou com as duas mãos, uma em cada ponta.

- Lina! Que loucura está fazendo? - gritou Sarah, se apressando em sua direção.

- Me deixe! - respondeu Lina, entortando a varinha. - É tudo culpa minha!

As duas começaram a rolar no chão. Lina tentava empurrar Sarah para longe enquanto esta puxava seus braços para impedir que a varinha fosse quebrada. Faíscas amarelas escapavam dos dois extremos da varinha e tingiam a pele das duas com pequenos pontos brilhantes. Miki estava parada, observando-as, decidindo se aquilo que estava presenciando era real. Karin também não havia saído do lugar, pois estava abalada demais para perceber a luta que acontecia no chão.

- Nada disso é culpa sua! - Sarah gritou. - Ninguém estava preparado pro que aconteceu!

- Mas... se Mai não tivesse confiado em mim... ela ainda estaria viva!

- Não diga isso! Mai sempre se importou mais com os outros do que consigo mesma! Ela teria pulado na frente de qualquer jeito! - Sarah retrucou, segurando Lina pelos ombros.

Subitamente um feixe de luz azul cortou o ar e uma explosão surda jogou as duas longe, tirando o ar de seus pulmões. Lina levou a mão à cabeça, sentindo-se zonza e olhou para a Sarah, que também estava desnorteada. Miki estava de pé no meio do quarto, com uma expressão fria nos olhos. Karin apenas a observava, assustada.

- Miki, - Lina a chamou, reconhecendo a varinha que pertencera à Mai - o que você pensa que está fazendo? Largue essa varin...

- Cale-se! - interrompeu Miki, gritando. Sua voz que sempre foi doce e meiga agora tinha um tom amargo e grave. - E daí que nós perdemos essa batalha?

- Calma, Miki. - disse Sarah. - Pare para pensar direito no que está fazendo...

- Não, não preciso de calma. - Miki respondeu. - Eu sei muito bem o que estou fazendo e sei muito bem o que nós todas vamos fazer.

Lina se levantou e olhou para Sarah e para Karin com preocupação. O ar dentro da sala voltou a ficar oleoso e perfumado. Miki se aproveitou da indecisão de suas colegas, pulou para cima da mesa e continuou:

- Vamos ter uma mudança de planos.

- Como assim? - perguntou Lina, recuperando-se do choque de ver sua amiga tão mudada. - Em que você está pensando?

Os olhos de Miki cintilavam com as faíscas azuis que escapavam da ponta da varinha. Dando um largo sorriso, Miki respondeu:

- Vingança.


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