– Kiba-kun? – Hinata estava parada ao lado do campo de treinamento e observava o garoto praticar alguns golpes ao lado de Akamaru.

– Hinata-chan! – ele se aproximava enquanto passava o antebraço na testa, a fim de limpar o suor. – Que surpresa adorável.

– Surpresa? Você foi me procurar na minha casa, não foi?

– Sim! É só que... Eu não esperava que você viesse atrás de mim hoje. – ele passou uma das mãos na cabeça peluda de Akamaru, que estava com a língua para fora, demonstrando cansaço.

– O que você queria falar comigo?

– Era que... Bom... Eu só queria pedir desculpas pelo que aconteceu ontem à noite. Sabe... Eu me exaltei um pouco. Não foi certo. – ele estava com um sorriso tímido no rosto.

– Ora... E-eu... Eu também acho que você exagerou, Kiba-kun, mas não é a mim que você tem que pedir desculpas, não é mesmo? – ela estava a alguns metros de distância dele. Estavam separados por um pequeno muro que cercava o terreno onde ele estava treinando.

– Eu sei, eu sei. Mas você também foi afetada e, se eu não tivesse me controlado, acabaria te acertando, quando entrou no meio. Por favor, preciso que me desculpe.

– Tudo bem. Eu te desculpo, Kiba-kun. Mas gostaria que você fosse falar com Naruto-kun também.

– Pode deixar. Eu vou falar com ele. – ela percebeu que um sorriso de satisfação brotava em seu rosto. Uma pequena gota de suor escorreu pela lateral do rosto do garoto.

– Porque está treinando? Nós acabamos de voltar de uma guerra. É bem provável que as missões sejam pequenas e fáceis. – a pergunta finalmente saiu pela sua boca.

– E-eu... – ele olhou em volta e vasculhou o local com os olhos. – Eu só acho que é sempre bom estar preparado, não é mesmo?

Mesmo com aquela explicação, Hinata não estava contente. Sabia que ele treinava somente quando havia necessidade ou quando estava estressado e nesse último caso, sem Akamaru. Algo não estava certo e ela podia sentir.

– Eu vou indo agora. Preciso falar com Ino-chan. – dissa a garota enquanto se afastava lentamente.

– Tudo bem. A gente se vê por aí, Hinata! – ele gritou enquanto saiu correndo em direção ao centro do campo.

*/*

Naruto se revirou na cama e olhou para o teto. Odiava fins de semana. Ele não tinha absolutamente nada para fazer, pois Tsunade o dispensava do treinamento.

– Maldição. – disse para si mesmo.

Talvez se tivesse uma namorada... Sakura veio a sua mente e ele fechou os olhos, a fim de apreciar a visão. Desde o momento em que entrou na Academia, teve seus olhos voltados para ela. Vasculhou a lembrança de seu primeiro dia de aula. Lembrava-se de todos seus amigos. Sua visão lhe mostrava Kiba, Ino, Sakura, Sasuke, Chouji, Hinata. Hinata... Prestou atenção nela. Sempre muito tímida. Mal conseguia falar com ele. Desmaiava quase sempre que tentava.

Antes que ele pudesse perceber, sua mente vasculhava todas as lembranças que tinha da morena. Passou dolorosamente pela luta contra Pain e pensou naquelas palavras. Amor. Uma palavra tão forte. Um sentimento tão inexplicável. Por fim, lembrou-se da noite anterior. Aqueles olhos perolados fixados nos seus. Aquele corpo pequeno e quente o acalentando. As feições femininas e delicadas. Imaginou como teria sido se tivesse a beijado. Muitas perguntas torturavam a mente do garoto. Porque ele queria tanto beijá-la? Porque ela havia fugido? Porque estava pensando nela?

Levantou-se num supetão e balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos dali.

*/*

– B-bom dia, senhora Yamanaka. Eu gostaria de falar com a Ino, por favor. – Hinata estava parada em frente à porta da floricultura.

– Claro! Vou chamá-la. – respondeu a mulher com um sorriso simpático no rosto.

– Hinata-chan! O que faz aqui? – perguntou à loira enquanto se aproximava. Ela não estava animada como sempre.

– E-eu vim conversar. – ela tentou demonstrar compreensão e amizade, pois sabia que Ino precisava muito de uma amiga.

– Vamos até o parque então. – disse e virou-se para dentro da loja. – Mãe, eu vou sair e já volto!

As duas caminhavam lentamente em direção ao parque. Hinata não sabia como começar a falar sobre um assunto tão delicado quanto aquele, mas Ino parecia saber que aquela era a intenção da morena.

– Ino-chan... Eu só queria que você soubesse que eu estou aqui pra você. Você pode contar comigo. – aquelas palavras fizeram a loira abaixar a cabeça.

– Obrigada, Hinata-chan.

– Eu sei que tem sido difícil pra você. Mas esse peso que você carrega nas costas... Sabe... A gente pode dividir. – Hinata forçou um sorriso enquanto olhava para ela e levava uma das mãos nas costas da garota. Elas já estavam no parque e haviam se sentado em um dos bancos.

– E-eu... Dividir o peso? Eu não entendi.

– Sabe... Naruto-kun está sofrendo tanto quanto você. Ele se culpava pelo que tinha acontecido. O peso nas costas dele estava o impedindo de andar. Eu peguei metade e fiz com que ele enxergasse uma luz no final do túnel. Você precisa disso também. Ino... Sakura-chan sempre foi sua melhor amiga e sempre será. Tenho certeza de que ela a amava muito. – Hinata viu os olhos da garota encherem de água.

– Por quê? Porque ela não me escolheu? Porque ela escolheu o Naruto? Porque ela morreu? Ela podia ter ficado aqui. Sasuke não valia a pena. Eu não consigo entender! Eu não entendo nada disso! – ela havia levado as mãos ao rosto e chorava compulsivamente. Hinata a abraçou e sentiu seu corpo tremer.

– Certas coisas a gente não entende, não é mesmo? Porque Neji-nee-san morreu? Podia ter sido eu. Eu estava pronta para tirar minha vida para proteger quem eu amo. Eu também não entendo isso. Mas às vezes a gente não pode entender. Porque não depende de nós. Neji-nee-san escolheu aquilo, assim como Sakura-chan. Temos que nos levantar, juntar os pedaços que sobraram de nós e nos reconstruir. Temos que enfrentar essa situação toda. – Ino havia parado de chorar e a encarava. Os olhos demonstraram compaixão quando ela citou o primo.

– Entendo. Sinto muito por Neji.

– Tudo bem. Só queria lhe mostrar que todos sofrem. Todos perdem alguém um dia. E queria pedir que você pensasse um pouco sobre como tem tratado Naruto-kun. E se fosse você lá? E se você não pudesse fazer nada para salvá-la? Ele não pôde. Ele não teve culpa. – Ino olhou para baixo e afirmou com a cabeça.

– Obrigada, Hinata-chan. – Ino a abraçou e sentiu, pela primeira vez, o peso em suas costas diminuir.

– Hinata-chan! – o garoto loiro dos olhos azuis gritava enquanto se aproximava do parque no qual ela se encontrava.