Depois de um dia exaustivo de treinamento, Naruto voltou para casa. Jogou-se no sofá e olhou para a janela. Não pôde deixar de pensar em Sakura. O pôr do sol tinha uma coloração rosada, o que fazia com que ele se lembrasse de seus cabelos. Agora que ele não carregava o sentimento de culpa, o que havia restado era a lembrança. A lembrança daquele momento terrível. Lembrança daquelas palavras. Queria poder esquecer que tudo aquilo havia acontecido. Mesmo se sentindo lisonjeado por ter sido escolhido por ela para enfrentar aquele momento, ele se sentia assombrado. Por vezes desejava não tê-la acompanhado naquele final de tarde.

Fazia três semanas desde o ocorrido, mas ainda havia algumas noites nas quais Naruto não conseguia dormir. Acordava no meio da noite com pesadelos. Durante o dia, trabalhava com Tsunade, fato que o mantinha ocupado tanto de corpo como de mente. Mas o final do dia era algo sufocante para ele. Era o momento no qual ele voltava para casa, não tinha nada para fazer e sentia-se sozinho, perdido.

O garoto foi arrancado de seus pensamentos pelas batidas em sua porta. Ele não recebia muitas visitas, a não ser de Tsunade e ela geralmente entrava sem bater. Levantou-se preguiçosamente do sofá e caminhou em direção à porta. Congelou ao ver a garota de cabelos escuros e olhos claros.

– Hi-hinata-chan? – ele estava surpreso e percebeu que ela estava com as bochechas levemente coradas.

– E-eu... Eu só vim porque a-achei que talvez... – ela estava gaguejando mais que o normal e se martirizava por isso. – Achei que talvez você precisasse de companhia. Afinal, amanhã é sábado.

Ele havia sido pego totalmente de surpresa com aquele convite. Depois do escândalo com Ino, seus amigos haviam se afastado. Mas ela estava ali. Parada em sua porta, querendo sua companhia. Mesmo depois de tê-la rejeitado. Mesmo depois de ter dito que não a amava. Nunca esperaria por aquilo e se pegou sorrindo por isso.

– Claro! Você gostaria de entrar? – perguntou enquanto abria mais a porta e se afastava, dando passagem para a garota entrar.

O garoto fechou a porta rapidamente e saiu em disparada tentando arrumar o pequeno apartamento. Hinata percebeu que havia roupas espalhadas pelo recinto, assim como havia móveis fora do lugar. Ela gostou de ver o garoto preocupado com sua opinião e sorriu. Por Kami, como era bom estar ao lado dele.

– É... Desculpe-me pela bagunça. Eu realmente não estava esperando ninguém. – disse meio acanhado enquanto sorria.

– Tudo bem.

Um silêncio constrangedor se instalou, o que fez com que Hinata olhasse para as mãos e apertasse os lábios. Naruto não sabia o que fazer e não sabia como a tratar. Sabia que ela havia sofrido com a rejeição. Não bastasse isso, da última vez que se encontraram ele a ignorou completamente. Kami... Ele havia sido um completo idiota e lá estava ela, falando com ele novamente, como se nada tivesse acontecido.

– Hinata-chan... Você gostaria de beber alguma coisa? – perguntou enquanto se encaminhava para a pequena cozinha.

– Talvez um copo de água, por favor.

– Sente-se. – disse enquanto puxava uma cadeira para a garota. A cozinha era separada da sala apenas por um balcão.

– Naruto-kun... Eu só queria dizer que sinto muito. Eu sei que está sendo difícil para você, mais do que para todos nós. Eu considerava Sakura-chan uma grande amiga. – Naruto parou ao ouvir aquelas palavras. – Queria que você soubesse que os outros estão lhe culpando, mas eu sei que você não teve culpa. Ninguém sabe o que aconteceu exatamente naquela ponte e eu acredito que você a salvaria se pudesse. Talvez ela realmente não quisesse ser salva.

– Não precisa... – ele começou mais foi interrompido pela garota.

– Precisa sim! Eles estão errados, mas você precisa entender que é mais fácil quando se tem alguém para culpar. É mais fácil quando se direciona a raiva e a tristeza. E eles direcionaram a você. – ela estava com o cenho franzido e olhava nos profundos olhos azuis do loiro.

– Eu sei. Eu me culpava também, mas percebi que ninguém teve culpa. – seus olhos foram direcionados para baixo numa tentativa de não demonstrar a dor que sentia.

Ela se levantou e deu a volta no balcão, se aproximando dele.

– Ninguém teve culpa. – ela repetiu enquanto levantava seu rosto.

Seus corpos estavam a poucos centímetros de distância e Naruto tremeu com a repentina aproximação.

– Obrigada, Hinata-chan. É bom saber que posso contar com você. – disse enquanto lançava seus braços em volta da garota num abraço forte. Ele não sabia se era apropriado ter aquele tipo de contato com ela. Mas precisava daqulo.

Ela arregalou os olhos e arqueou as sobrancelhas demonstrando surpresa. Seu rosto atingia a altura do peito de Naruto e ele apoiava sua cabeça na dela. Arrepiou-se ao sentir aquele corpo quente envolvendo-a. Fechou os olhos e levou as mãos até as costas do garoto.

– Você sempre pode contar comigo. – as palavras saíram naturalmente e Naruto sentiu-se protegido, algo que não sentia há muito anos. Ela lhe transmitia segurança, conforto e era natural estar ao lado dela, mesmo que seu corpo não estivesse acostumado com tal contato.

Hinata se desvencilhou dos braços do loiro e o olhou nos olhos. Estava dolorida. Por mais que quisesse aquele contato, por mais que desejasse estar ao lado dele, ela ainda não havia se recuperado totalmente do fora que havia levado.

– Hinata-chan... Precisamos conversar. E-eu... – as mãos de Naruto seguravam os braços da garota, a fim de não deixá-la escapar.

– Não. Não diga nada. - ela havia levado uma de suas mãos até os lábios do garoto e sorria. – Nós já conversamos sobre isso. Está tudo bem. Eu entendi a situação, não precisa explicar mais nada. Eu estou aqui como uma amiga.

Aquela havia sido uma das coisas mais difíceis que ela já havia feito. Fingir que estava tudo bem. Fingir que não se importava. Ela havia sofrido muito, mas estava se recuperando e tinha medo de voltar a se machucar. Tinha medo de sofrer mais, dele iludi-la, mesmo que inconscientemente.

Mas apesar de tudo aquilo, não conseguia se afastar. Não conseguia abandoná-lo, principalmente naquele momento em que ele mais precisava.

– O que você acha de darmos uma volta? – disse o garoto enquanto sorria.

Hinata sentiu-se ansiosa. Aquele sorriso, definitivamente, ainda mexia com ela.