– Sabe o que eu fiz? – seu olhar incrédulo para a garota tentava disfarçar o medo que surgia em sua barriga.

– Sim. Você tentou matar meu pai. – Hanabi estava em pé e coçava a cabeça de Akamaru com uma das mãos. O tom que usou para dizer aquela frase não era o esperado.

Kiba atentou-se a palavra “tentou”. Ele sabia que tinha conseguido. Por mais que convivesse com aquela dor, ele sabia que tinha matado Hiashi.

– E-eu... – ele começou, pensando numa maneira de dizer que ela estava louca, que ele não havia feito nada, mas ela o cortou.

– Mas devo dizer que você chegou alguns segundos atrasado. – ela possuía uma postura firma e dura. Um olhar frio e indiferente. – Sabe... Eu estava em casa naquele dia. No infeliz dia no qual meu querido pai morreu. Devia estar na floresta treinando para os exames. Mas estava lá. Hinata tinha acabado de sair e eu conseguia ver o sofrimento dela. Ela não poderia ficar junto ao amor de sua vida. Mas essa parte você já sabe, não é mesmo? – ela se sentou na grama verde e curta e Kiba fez o mesmo, a fim de ouvir toda a história. Suas pernas agradeceram o descanso. – Não aguentava ver minha irmã daquele jeito. Antes sempre sorrindo, ajudando os outros, sempre doce, estava triste, amarga, chorando pelos cantos da casa como se tivesse cavado a própria cova. Até que eu me toquei que ela não havia cavado a própria cova. A única pessoa que a impedia de ficar com Naruto era meu pai. O membro mais forte e poderoso do conselho tinha uma opinião certa sobre isso. Hinata se casaria com um membro do próprio clã, para manter a tradição. Mas óbvio que, assim como você, eu pesquisei a fundo. Não iria ajudar minha irmã sem ter certeza de que estava fazendo a coisa certa. Descobri que para Hinata casar-se com Naruto e viver feliz para sempre, duas coisas teriam de acontecer. A primeira seria ela se tornar chefe sem ter se casado com algum idiota Hyuuga. A segunda seria o voto do conselho permitindo que ela se casasse. A primeira solução foi relativamente fácil. Meu pai teria de morrer. A segunda, eu confesso que tive que pesquisar muito, mas cheguei à conclusão de que dos nove membros do conselho, apenas dois deles eram ridiculamente tradicionais e velhos como meu pai. A proporção era boa, então arrisquei. Sei que os outros sete membros não vetariam o casamento dela com o futuro Hokage, mesmo que seja o Naruto. A felicidade da minha irmã era mais importante e acredito que você pensou do mesmo jeito.

Quando acabou de falar, Hanabi olhou nos olhos do garoto e viu muitas coisas passar por seu rosto, mas a principal era a dúvida.

– Não sei se entendi direito, Hanabi-chan, mas... V-você matou...? – ele não conseguia pronunciar as palavras com facilidade. Engoliu seco e viu que ela esperava ansiosamente ele concluir. – Você matou seu pai?

– Sim. Sim, eu matei meu pai. Fugi e chorei como um bebê, mas não me arrependo.

– Mas... Mas e-eu... C-como? – ele estava surpreso demais para conseguir associar os fatos.

Hanabi continuou fazendo carinho e Akamaru, mas revirou os olhos e continuou a explicar.

– Veneno. Eu coloquei veneno no chá dele. Um tipo de veneno que não apareceria na autópsia. Assim que você entrou na sala, ele tinha acabado de tomar e não demoraria mais que trinta segundos para cair morto. – ela parou, respirou fundo e olhou para a floresta de onde tinha vindo. – Você matou alguém que já estava morto, Kiba-kun. Vim aqui lhe tirar o peso das costas, pois sei que não é fácil conviver com uma morte assim. – ela sorriu amarelo e a mão que antes pairava em Akamaru passou para o ombro do moreno.

Kiba chorou como nunca havia chorado antes. Com as duas mãos no rosto ele tentava esconder a vergonha que sentia.

– Eu sei que a ama, Kiba-kun. Eu sei que fez isso para a felicidade dela. Mas agora, você tem que esquecer. Não pode ficar nutrindo esse amor não correspondido. Você tem a vida pela frente, um futuro brilhante como ninja e aposto que existem várias garotas caindo aos seus pés. – Hanabi sorriu e passou a mão pelo braço de Kiba. – Pense bem. É isso que você quer pra sua vida? Você quer viver na sombra de um casal? Viva a sua vida! – Ela apertava os olhos enquanto dizia aquelas palavras. Sentiu seu estômago dar voltas e voltas. Enxugou uma lágrima dele e sorriu timidamente.

– Obrigado. – ele a olhou profundamente e seus pensamentos viajaram para um mundo onde as possibilidades eram inimagináveis, onde o amor podia ser encontrado até nos momentos mais difíceis.

*/*

Os encontros de Hinata e Naruto, após a morte de Hiashi, haviam se tornado menos frequentes e mais complicados. Ela sempre estava ocupada com coisas a fazer e ele estava cada vez mais absorto no final do treinamento da Tsunade.

No dia em que ele foi nomeado o sexto Hokage, Hinata fez de tudo para vê-lo, mas sabia que o mundo estava contra eles.

O desânimo da mulher estava começando a se tornar preocupante quando ela ouviu passos dentro da casa. Colocou-se em posição de ataque e, silenciosamente, ativou seu Byakugan. Viu o poder que emanava de dentro daquela pessoa e relaxou os ombros. Conhecia aquela energia como se fosse sua própria.

– Está tentando me dar um susto? – ela disse antes que ele chegasse até a sala.

– Kuso... Estava. – disse enfezado como se tivesse nove anos. – Ei... Está tudo bem? – perguntou preocupado ao ver que ela estava pálida, sentada no chão.

– Está. – respondeu enquanto se levantava com a mão na testa. – É só que depois da morte do meu pai... – ela deixou as palavras morrerem no ar. – Nunca se sabe.

– Eu estou aqui. – ele disse abraçando-a e afagando seus cabelos escuros e lisos. – Sempre estarei aqui pra você.

O alívio que ela sentiu a fez recuperar a cor nas bochechas. Respirou fundo e retribuiu o abraço reconfortante do homem a sua frente.

– Como foram as coisas com o conselho, Hokage-sama? – perguntou enquanto sorria.

– Uau, você já está sabendo?

– Claro! Sou chefe do clã Hyuuga... Tenho meus contatos. – disse enquanto ria.

A áurea que emanava dos dois representava amor. Eram incapazes de viver se não fosse juntos.

– Hinata, e-eu... – ele parou e a olhou seriamente. – Eu quero... Sente-se aqui, por favor.

– Naruto, você está me deixando com medo desse jeito. – ela sorriu enquanto analisava ele e se sentava.

– Preciso que você me escute agora. E-eu... Eu te amo. Eu quero passar o resto da minha vida com você e agora não temos nenhum impedimento para isso. Você foi a única pessoa que esteve ao meu lado quando eu mais precisei. Você me apoiou em todas as situações, mesmo quando eu te fiz sofrer. Você me amou como eu não achava possível alguém amar. Você é a mulher da minha vida, Hinata! – ele segurou as mãos da garota e a olhou nos olhos com visível expectativa. – Quer casar comigo?

*/*

– Você se lembra? – ela perguntou enquanto ajeitava o cabelo da criança em seus braços.

– Do que você está falando exatamente? – ele perguntou enquanto admirava o bebê.

– De quando você me pediu em casamento. Foi exatamente dois anos atrás, baka.

– Sim! Claro! Como poderia me esquecer do dia em que você me rejeitou! – Naruto deixou a cabeça cair para seu lado esquerdo, fazendo drama.

– Você mereceu! E foi por apenas um minuto. Eu só queria ver sua reação – Ela ria enquanto embalava a criança recém-nascida nos braços. – Nunca imaginei que dois anos depois estaríamos no hospital, recebendo esse presente.

– Ele é lindo...

– Como o pai. – Hinata não podia deixar de chorar. Assim como chorou no dia em que Naruto a pediu em casamento, ela chorou quando viu seu primeiro filho. Somente Kami sabia o quanto ela estava feliz, o quanto a vida, mesmo com seus problemas, era perfeita ao lado dele.

Naruto e Hinata enfrentaram as dificuldades da vida como enfrentaram o conselho Hyuuga quando decidiram se casar. Com o queixo erguido e com amor, eles viveram uma vida cheia de altos e baixos, mas sempre juntos, se ajudando.

Hinata não só tentou, mas como conseguiu consertar o coração de Naruto inúmeras vezes. E ele sempre voltava pra casa.