Após algum tempo refletindo, Naruto finalmente decidiu que não poderia viver o resto da sua vida dentro de casa. Pegou a dor que sentia e transformou em determinação, como sempre fazia. Ele se tornaria Hokage e protegeria todos os seus amigos e toda a vila.

– Naruto! – gritou a garota loira dos olhos azuis enquanto corria para alcançá-lo.

– Ino! Fazia tempo que eu não te via. Tá tudo bem? – perguntou sorrindo e levando uma das mãos atrás da cabeça.

– Seu idiota! Porque você não a salvou? Por quê? Você salvou a vila toda, você lutou na guerra e não foi capaz de salvar uma amiga de um simples suicídio? Por Kami! – ela gritava e o socava no peito e no braço.

Ele se encolheu, tentando desviar das palavras e não dos socos. Ino demonstrava raiva e ele a compreendia. Foi por compreendê-la que não a impediu de continuar a agredi-lo.

– Ino! Pare com isso! – gritou Chouji que correu para segurá-la pelos braços.

– Solte-me! Esse garoto precisa de uma lição! – ela gritava e esperneava tentando se soltar. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e Naruto não soube identificar se eram de raiva ou tristeza.

– Não dá pra resolver com violência. – disse Shikamaru enquanto chegava lentamente no local. – Acalme-se, Ino.

– Ele a matou! Ele a deixou morrer! Merece pagar! – ela estava completamente fora de si. As pessoas que estavam ali começaram a deixar o local e, logo, outros ninjas começaram a aparecer, devido ao escândalo.

– Ino. Acalme-se agora. – Shikamaru estava em frente a ela e a olhava nos olhos. A garota se acalmou, virou as costas e foi embora. Ela precisava sair dali. Precisava tentar esquecer.

– Desculpe por isso, Naruto. Ela ainda está abalada com o que aconteceu. Todos nós estamos. – disse Shikamaru enquanto virava e seguia na mesma direção da garota.

Aos poucos todos foram embora, deixando Naruto sozinho. Ele não deixou de notar que, além do pedido de desculpas feito por Shikamaru, ninguém havia o defendido. Ninguém disse nada a seu favor. Ele sentiu que todos o culpavam, de diferentes jeitos. Alguns demonstravam mais, como Ino. Outros não demonstravam nada. Mas ele sabia que o fato de que estava com Sakura naquele determinado momento, não iria passar despercebido pra ninguém.

– Cheguei, vovó. - disse Naruto ao entrar na sala da Hokage. Ele olhou para frente e se deparou com Hinata parada em frente à mesa de Tsunade. Ele percebeu que ela corou ao vê-lo. Achou melhor ignorá-la, pois sabia que ela teria a mesma reação dos outros. Além do mais, não sabia o que dizer depois do que havia acontecido entre eles.

– Finalmente! – disse a mulher enquanto pegava uma pilha de papéis em cima de sua mesa e levantava em direção a Naruto. – Você pode começar lendo esses aqui.

– Ah, vovó... Mais papéis? – ele perguntou injuriado enquanto se encaminhava para uma pequena cadeira ao lado de Tsunade.

– Mais papéis? Você ficou fora por uma semana e meia, seu idiota. Acabou de chegar e já está reclamando. Você deve estar bem melhor, Naruto.

– Ora... – ele bufou e fechou a cara. Por mais que desejasse mais que tudo se tornar Hokage, sabia que era algo difícil, que necessitava muita responsabilidade. Mas lidar com papéis nunca fora seu forte.

– Hinata, você está dispensada. Nós conversaremos sobre aquele assunto mais tarde.

– S-sim. – respondeu a garota enquanto saía da sala.

Naruto se sentia mal por ter ignorando a garota. Ela sempre esteve ao seu lado. Lembrou-se das palavras que ela havia dito na luta contra Pain. Lembrou-se do jeito como havia a rejeitado. Tentou ao máximo não magoá-la, mas sabia que ter um amor não correspondido era doloroso demais.

– Não acha que foi um pouco cruel não ter falado com Hinata? – disse Tsunade enquanto olhava para um pergaminho.

– Ela teria a mesma reação que os outros.

– Mesma reação que os outros? – disse a mulher enquanto se virava para ele.

– Sim. Todos me culpam pelo que aconteceu. – ele respondeu enquanto dirigia os olhos para as mãos. – Talvez eu seja mesmo culpado.

– Naruto! Não repita algo do tipo nunca mais. – ela se levantou e deu um soco na mesa, fazendo-a pular. O garoto se assustou com a repentina mudança de humor da Hokage.

– Mas eu estava lá. Eu poderia ter feito algo para impedir! – ele também estava exaltado e sabia disso. Suas mãos tremiam e ele não pôde controlar a raiva. – Eu deveria ter feito algo para impedir.

– Não. Não poderia. – ela suspirou e abriu uma das gavetas da mesa. Retirou de lá um pergaminho e o entregou.

– Não quero mais papéis para analisar. Nem terminei esses aqui. – disse enquanto apontava para os papéis em sua frente.

– Não quero que você analise. É uma carta que Sakura deixou para mim naquele mesmo dia. – disse olhando para o lado e estendendo a mão com o pergaminho para ele.

O choque percorreu as veias do garoto, que agarrou o papel e começou a lê-lo sem hesitar.

“Tsunade-sama,

Antes de tudo, eu quero que me perdoe pelo que vou fazer. Eu sei que deixarei o cargo de aprendiz, mas Shizune pode substituí-lo.

Tenho meus motivos particulares para fazer isso e espero que todos, inclusive você, entendam. Escolhi Naruto-kun para ser a última pessoa que verei, pois ele merece a explicação. Ele merece saber o motivo e merece uma despedida.

Por favor, não tente me impedir. Mesmo que Naruto-kun tente, eu não permitirei. Foi o destino que eu escolhi para mim.

Adeus.

Haruno Sakura.”

– Você percebe agora que mesmo que tentasse, não iria conseguir mudar nada?

– E-eu...

– Sabe... Quando eu achei essa carta, li e reli diversas vezes. Não queria entender, não queria acreditar. Mas a verdade estava ali. Sakura escolheu seu próprio destino e não havia nada que eu, você ou ninguém pudesse fazer para mudá-lo.

 O garoto não pôde deixar de sentir um alívio. Aquelas palavras não mudavam a situação, mas o deixavam mais leve. Talvez ele realmente não tivesse culpa. Sentiu-se emocionado por ter sido escolhido, fato que o assombrou durante todos aqueles dias.

– Eu não fazia ideia. – ele disse ao analisar o pergaminho em suas mãos mais uma vez.

– Não se deixe abater pelo que os outros pensam de você. Continue sendo aquele garoto que eu conheci há tantos anos. Ele ignorava a opinião alheia e lutava pelo que acreditava. Um dia, todos vão perceber e entender o que realmente aconteceu.

*/*

Mas que burrice. Porque não disse olá? Porque não falou com ele? Sabia que ele estava sofrendo, mas tinha medo. Tinha medo, pois se lembrava a todo instante das palavras que havia dito na luta contra Pain. E lembrava-se, principalmente, da resposta do garoto.

– Hinata-chan! Você está bem? Parece abalada. – disse Kiba enquanto se aproximava da garota que caminhava pela vila.

– Oh... Estou bem Kiba-kun. Só estou preocupada com o andamento das coisas no meu clã.

– Ah... Entendo. É... Falando nisso... Eu nem tive a oportunidade de dizer que sinto muito. – disse enquanto olhava para o chão.

– Sente muito? Pelo quê?

– Por Neji. Ele era um ninja extraordinário.

– T-tudo bem. – respondeu baixinho enquanto voltava a caminhar. Ele caminhava ao lado dela.

– Então... Você ficou sabendo o que aconteceu com Naruto hoje?

– Na-naruto-kun? – ela parou de andar ao ouvir aquele nome.

– Sim. Parece que houve um escândalo envolvendo Ino-chan. Ela brigou com ele pelo que aconteceu a Sakura. Foi uma briga bem feita. Ele devia tê-la salvado.

Kiba se assustou com a reação que Hinata teve. Ela era, na maioria das vezes, uma garota calma e quase nunca utilizava a violência. Ele levou as mãos ao rosto, no lugar onde tinha sido atingido pela pequena mão.

– D-deculpe-me Kiba-kun. – estava arrependida por ter dado aquele tapa, mas não pôde impedir que acontecesse. Respirou fundo e voltou a falar, dessa vez tentando não gaguejar. – Desculpe-me Kiba-kun, mas você não deve falar desse jeito. Naruto-kun se importava com Sakura-chan e tenho certeza de que ele a salvaria se pudesse. Ninguém além dele sabe o que realmente aconteceu naquela ponte, aquele dia. Não diga besteiras, por favor.

Dizendo isso a garota voltou a andar, dessa vez mais rápido, deixando Kiba parado. Ele sabia que a garota nutria sentimentos pelo Naruto, mas não imaginava que ela era capaz de defendê-lo a todo custo.