– Meu... meu pai? – era como se seu sangue tivesse parado de circular por uns instantes e, logo depois, voltasse com rapidez sobre-humana.

– S-sinto muito, Hinata-sama. – o homem abaixou a cabeça e foi embora com a mesma velocidade com que havia chegado.

Naruto não sabia o que dizer, nem o que sentir. Uma parte dele estava triste por ela, pois a dor da garota o atingia. Porém, outra parte dele, a menor e mais obscura, sentia uma ponta de felicidade e esperança por imaginar que o maior dos obstáculos para o casal permanecer junto não existia mais.

Um minuto de silêncio se instalou. Hinata não era capaz de falar ou se mover. Naruto estava começando a ficar aflito, lutando contra seus próprios demônios.

Ele a abraçou e ela enterrou seu rosto do peito dele.

– Você está bem?

– Não sei.

– Eu estou aqui pra você. Sempre estarei. Não importa o que aconteça. – eram palavras que precisavam ser ditas, ele sentia.

Ela, então, começou a chorar.

Alguns minutos se passaram sem que a cena se alterasse. Ele a abraçava, protegendo-a.

– Preciso voltar. – disse, por fim.

– Eu vou com você.

– Não. – ela respirou fundo, afastou-se e passou as costas das mãos pelas bochechas úmidas. – Eu realmente gostaria que você fosse, mas preciso falar com Hanabi a sós.

– Tudo bem. – ele entendeu, mas seu coração diminuía ao passo em que ela se distanciava. Queria poder fazer algo por ela, queria ficar por perto, queria protegê-la de qualquer futura dor, mas sabia que aquele momento pertencia somente a ela.

*/*

A intensidade dos passos ia diminuindo à medida que a Hyuuga chegava a casa. Um calafrio percorreu seu corpo. Sentia como se o lugar transbordasse uma áurea pesada. Triste, sombria.

O portão rangeu quando ela o afastou para que pudesse entrar. Olhou para os pés e respirou fundo. Com um sussurro ativou seu Byakugan. Lentamente, percorreu seu olhar sobre o local e pôde identificar onde o conselho estava reunido.

Olhou em direção ao que antes era o quarto do pai. Vazio. Não captou um sequer movimento, um sequer fio de chakra.

Desativou seus olhos e caminhou até o recinto onde a aguardavam. Corrigiu a postura antes de entrar na sala.

Os olhares que a atingiram foram, talvez, piores do que a notícia em si. Piedade, dó, tristeza e até mesmo compaixão. Ela ignorou a todos.

– Hinata-sama... – começou um dos senhores. – Lamentamos informar que Hiashi foi assassinado.

– Sim. Já estou sabendo. – ela prometeu a si mesma que não iria demonstrar qualquer sentimento. Não ali. Não com eles.

– Precisamos efetuar a transição de cargo imediatamente.

– Não é necessário que eu esteja casada para tal cerimônia?

– Nesse caso, o conselho votou e a resposta é não. Não podemos nos dar ao luxo de ficar sem um chefe apenas por ele não estar casado. Mesmo você sendo mulher.

As palavras rodeavam a mente de Hinata. “Dar ao luxo”, “mesmo você sendo mulher”, “o conselho votou”.

– Tudo bem.

– Preparamos tudo para realizá-la agora. Estamos aguardando apenas a Hokage.

Parecia que somente ele era capaz de falar, dentre todos os presentes. Ela não se importava. Seria melhor que os outros ficassem calados a falarem besteiras.

– Alguém sabe o que aconteceu? – ela merecia saber. – Onde está Hanabi?

– Nós não temos a confirmação do ocorrido. Membros da ANBU investigam a situação. – o homem com cabelos grisalhos e longos fez uma pausa para respirar. Parecia que a próxima frase seria difícil de ser pronunciada e Hinata já se colocou em alerta. Era, com certeza, sobre Hanabi. – Nós não encontramos sua irmã.

– Vocês o que? – ela deu um passo para frente. Sentia uma raiva tremenda. – Tratem de achá-la agora, ou terei que ir eu mesma!

Dois homens saíram da sala assim que ela terminou de pronunciar a última palavra. Talvez já a consideravam chefe. Ou temiam perder ela e ficar mais algum tempo sem uma autoridade do clã.

– Senhor... – um ninja entrou e puxou o porta-voz por alguns instantes, sussurrando algo em seus ouvidos.

– Sim... Mande-o embora. – ele respondeu e voltou o olhar para Hinata.

– Mande quem embora? – ela perguntou, sentindo seus pés formigarem.

– Naruto-kun está no portão exigindo entrar.

– Deixe-o entrar. – a resposta foi seca e ela esperava não ter demonstrado o alívio que sentia ao ouvir o nome do amado.

– Mas Hinata-sama... – ele começou a argumentar, mas ela o cortou.

– Ele é o futuro Hokage da Vila da Folha. Deixe-o entrar. – disse as últimas palavras pausadamente, num tom um tanto quanto ameaçador.

O membro do conselho olhou para o ninja recém-chegado e fez um sinal afirmativo com a cabeça. O ninja saiu do recinto e logo voltou com Naruto.

– Trago notícias de Tsunade-sama. – disse num tom formal. – Ela está em seu caminho.

Murmúrios ecoaram pela sala. Eles estavam impacientes com a demora da mulher.

– Podemos dar início à cerimônia. Só precisamos dela para o final mesmo. – disse um dos membros que estava em silêncio até o momento.

– Não. – Hinata pronunciou decidida. – Vamos esperar.

Sem explicações, expectativas e consolos, Hinata esperou. Olhava para os olhos do amado e eles pareciam se comunicar mentalmente. Ele estava ali para ela.