Cento e doze. Um número tão aleatório quanto sua noção sobre o amor. Cento e doze dias. Para um recém-nascido, cento e doze dias era a promessa de uma vida longa ainda por vir. Cento e doze dias. Para um senhor com uma doença terminal, cento e doze dias era a chance de aproveitar o pouco que lhe restava de vida. Cento e doze dias. Para Hinata, cento e doze dias era o tempo que teria para ficar com Naruto.

– Oneechan... Você está com aquele olhar de novo. – Hanabi encostou a cabeça na porta do quarto de Hinata. Suas sobrancelhas arqueadas demonstravam preocupação.

– Está tudo bem, Hanabi. – respondeu enquanto, rapidamente, se levantava da cama e puxava delicadamente os cabelos para trás.

– Faltam menos de quatro meses pra você virar a chefe do clã. – ela disse com um sorriso no rosto. Estava orgulhosa da irmã, mas foi tarde demais quando percebeu seu erro. – Oh, me desculpa, oneechan. Eu não queria lhe magoar.

Antes que a irmã pudesse chegar perto, Hinata já havia secado as lágrimas.

– Cento e doze dias, Hanabi. – disse com uma voz firma e fria.

– Você soou como o papai agora. – abaixou a cabeça e deu um passo para trás.

– Ei... – Hinata olhou para a menina e viu medo. Um medo que jurou para si mesma não deixar Hanabi sentir. Um medo que sentiu por toda sua vida. – Eu não vou mudar. Vou continuar sendo sua irmã mais velha. - e ela sorriu. Um sorriso verdadeiro e motivador, que fez com que a pequena se sentisse bem melhor.

– Você tem que conversar com ele.

– O que você espere que eu diga, Hanabi? – ela sabia que mesmo sem dizer quem era o sujeito da frase, Hinata sabia que a irmã se referia ao dono de seu coração. – Dentro de alguns dias meu pai vai fazer com que eu me case com alguém do clã?

– Eu não sei! Mas não falar pra ele está te deixando mal.

– Um dia. – virou de frente ao espelho e encarou sua face cansada. A menina tinha razão e ela sabia.

– Oneechan, não deixe pra depois!

Hinata levou as mãos até os cabelos morenos da garota e a olhou ternamente.

– Confie em mim.

*/*

Os boatos se espalhavam na vila como água pelo rio. Kiba sentia o cheiro da oportunidade no ar. Faltavam menos de quatro meses para Hinata assumir o clã. O único empecilho era loiro de olhos azuis. Mas trataria logo de resolver esse problema,

Enquanto caminhava pela estrada do clã Hyuuga, pensava em como ela era linda. Uma beleza tão única que o deixava sem chão. Uma voz tão doce...

– Kiba-kun?

–Hi-hinata-chan? – pego de surpresa, rapidamente se recompôs e olhou para frente. E lá estava ela. Perfeita.

– Está tudo bem? – parecia preocupada com ele.

– Sim, sim. Porque não estaria?

– Você estava indo para minha casa? – a preocupação ainda permanecia, mas agora ele via dúvida e talvez um pouco de... Seria alegria?

– S-sim... E-eu... – respirou fundo e se amaldiçoou por estar gaguejando numa hora como aquela. – Eu estava indo fazer uma visita. Faz um tempo que você não aparece na cidade.

– Ah... Eu tenho estudado e treinado muito. Você sabe... Faltam...

– Cento e doze dias. – os dois disseram juntos, em uníssono.

– Você... – disse com os olhos claros vidrados no garoto a sua frente. – Você está contando?

– Claro! Vai ser o dia mais importante da sua vida, eu acho. Quero estar presente. – respondeu e sorriu abertamente. As marcas do clã em sua bochecha se espremiam enquanto o garoto se mostrava simpático.

– O dia mais importante da minha vida. – ela repetiu e olhou para o chão.

– Ei... – estava ali mais uma chance. Kiba se aproximou de Hinata e colocou seus dedos no queixo da garota, levantando levemente seu rosto a fim de admirá-lo e estudá-lo. – Está tudo bem?

– Sim, está. E-eu só... – ela começou e olhou para o lado. Lembrou-se da noite do domingo passado e sentiu-se um pouco envergonhada. Havia aberto seu coração com ele. E as consequências não foram tão positivas.

A garota deu um passo para trás, a fim de manter uma distância segura de Kiba. Não queria arranjar mais confusões com Naruto.

Ele sentiu o movimento e, ao mesmo tempo em que ela se afastava, o coração dele ia diminuindo, como se buscasse um refúgio ou abrigo da rejeição.

– Eu estou bem. – disse terminando a frase com um sorriso falso no rosto. Tentava ser convincente, mas sabia que o garoto conseguia perceber quando algo estava errado. – Na verdade, tenho que ir até o centro comprar algumas coisas. A gente se vê depois. – Disse enquanto se afastava vagarosamente.

– Tudo bem. – ele conseguiu responder antes que ela não conseguisse mais ouvir. Talvez Hinata não fosse seu destino.

Kiba continuou andando, sem destino. Não sabia o que fazer ou para onde ir. Sua esperança de conquistar a garota estava, cada vez mais, se distanciando.

*/*

– Não.

– Ora... – disse a loira enquanto bufava andando em círculos pela sala. – Você não tem o direito de dizer “não”.

– Claro que tenho. Estou dizendo agora. – Naruto estava incrivelmente calmo. Concentrava-se ao máximo na sua respiração, uma técnica ensinada por Hinata para que ele conseguisse não explodir em certos momentos e situações.

– Eu sou a Hokage! Você tem que me obedecer! – Tsunade parou repentinamente de andar e encarou o menino com visível raiva.

– Eu não fazer essa prova ridícula só pra mostrar para o conselho que eu sou capaz de me tornar Hokage. Você sabe muito bem que eu sou qualificado.

– Você sabe como aqueles velhos são. Se você não fizer essa prova, vai colocar tudo em risco. – Ela havia se sentado perto dele e parecia mais calma, porém ainda angustiada. Não conseguia imaginar todo o trabalho que teve sendo colocado por água a baixo.

– Obaa-san... Eu não vou dar esse gostinho a eles. – ele tinha o cenho franzido e os olhos semicerrados.

– Tudo bem. Faça como quiser.

*/*

Ela caminhava tranquilamente pelo centro da vila quando ele a viu. Usava vestes azuis claras com detalhes em azul escuro. O cabelo solto balançava com a leve brisa. No braço, uma cesta com algumas coisas. Era realmente uma visão e tanto, decidiu. Com certeza a amava.

Foi chegando perto de Hinata com o intuito de surpreendê-la. Estava apenas alguns passos de distância de puxá-la pela cintura e beijá-la.

– Consigo sentir seu perfume.

– Kuso...

Ela se virou com um sorriso sincero e orgulhoso.

– Você nem ao menos me deixa surpreendê-la. – ele estava visivelmente frustrado, mas sorria também.

Ela lançou os braços pelo pescoço dele. A cesta ficou no chão. E com toda a angústia que sentia, com todo o medo de perdê-lo, ela o beijou.

– Uau. Está tudo bem? – ele se afastou a fim de conseguir enxergar o rosto da garota.

Ela já segurava as lágrimas. Não queria conversar sobre isso com ele, mas, como Hanabi havia dito, uma hora ou outra seria obrigada.

Passou as pequenas e delicadas mãos pelos cabelos dourados e macios dele. Uma sensação boa percorreu seu corpo. Aquilo sim parecia ser o certo. Ficar com ele era o certo. A imagem de seu pai lhe dando uma caixinha surgiu em sua mente. Seus olhos começaram a ficar pesados e sua visão embaçada.

– Ei... Hinata-chan... O que houve? – ele estava preocupado e tentava enxugar as lágrimas com os nós dos dedos.

– Eu te amo. – ela disse e o abraçou.

Naruto estava confuso, mas retribuiu o abraço da garota a fim de lhe proporcionar conforto.

– Eu não vou a lugar algum. – ele disse em seus ouvidos.

– Eu sei... – ela se afastou e sua expressão mudou. Ele percebeu que ela fazia de tudo para se manter firme. – Mas eu vou.

– Como assim? O que quer dizer com isso? – ele segurava os braços da menina com firmeza.

– Eu vou casar com um Hyuuga. Somente assim poderei completar meu treinamento para virar chefe.