Capítulo 8

Bem, eu era Draco Malfoy, mas a verdade é que eu não tinha ideia do que fazer. Então passei as próximas duas semanas sem fazer muita coisa. Eu ia pras minhas aulas normais, ia pras aulas extras com Hermione e aos fins de semana ela revezava entre o sábado e o domingo pra irmos estudar na biblioteca. E tinha que ser assim pois segundo ela, abrir mão de passar pelo menos um dia do fim de semana com o ocludo e o cabeça de fósforo era sacrifício demais.

O clima entre nós não era mais pesado, só quando eu acabava xingando um dos amiguinhos dela. Nas aulas normais quando Sonserina e Grifinória se juntavam nós agíamos como se ainda fossemos inimigos, mas quando saíamos de lá muitas vezes íamos juntos pras aulas extras. Não houve mais nenhum incidente durante esse tempo em que nós ficássemos próximos demais, o que pra mim era um tanto ruim, já que na maior parte do tempo a minha vontade era de encostar ela em uma parede e beijá-la ali mesmo. Mas eu me controlava porque sabia que isso tinha que vir dela. Eu tentei jogar um charme algumas vezes mas ela ficava desconfiada e o clima mudava entre a gente. Eu já estava ficando meio desesperado, hoje era sexta, só faltava um mês até a primeira visita a Hogsmead e eu queria que ela já gostasse de mim quando esse dia chegasse. Eu estava pensando nessas coisas e não vi a aula acabar.

- Sr. Malfoy a aula já acabou. O que ainda faz sentado aí?

- Ah, desculpe professor Snape, eu só estava... bom deixa pra lá. Já estou saindo.

Peguei meus cadernos e a mochila e saí da sala. Pra minha surpresa Hermione me esperava do lado de fora.

- O que ainda faz aqui?

- Esperando você ué. Temos aulas de Aritimancia agora, ou você já esqueceu?

- Putz tem razão.

- Porque demorou tanto a sair da sala?

- Eu estava pensando em algumas coisas e me distraí. Nem vi quando a aula acabou.

- Malfoy pensando? HAHAHA que engraçado.

- Que se dane, pode rir Hermione.

- Que? – Ela parou no corredor e me olhou incrédula. Putz, eu nunca chamava ela de Hermione. Que merda deu em mim? O papo tava tão descontraído que saiu sem querer. Droga.

- Que o quê? - Fingi não perceber.

- Você me chamou pelo nome Malfoy. O que deu em você?

- Eu fiz isso? Ah bem. Sei lá. Acho que já estou me acostumando a ter você por perto. Essa trégua está me deixando mole.

- Sei. Ah quer saber? Que se dane. Nessa altura do campeonato não faz diferença você me chamar pelo nome ou não. Afinal nem me xingar você me xinga mais não é?

- Pensei que se eu te xingasse nossa trégua ia pro espaço. – disse rindo.

- Ainda bem que você sabe Malfoy. – ela riu também

- Ué, não vai me chamar de Draco?

- Vai sonhando.

- Ué porque não? Você mesma disse, nessa altura do campeonato... – dei de ombros – É só não me chamar de Draquinho, odeio quando a Pansy faz isso.

Ela riu com vontade. Deu gargalhadas mesmo. E me vi rindo com ela. Estávamos quase chorando de tanto rir quando ouvimos vozes. Paramos de rir e olhamos um pro outro.

- Droga. E agora? – Ela me encarou, parecia assustada.

- Não podem nos ver, se descobrem que a gente virou amigos isso vai acabar dando merda. – Peguei ela pelo braço e corri pro lado oposto de onde vinham as vozes. Entrei na primeira sala vazia que encontrei. Empurrei ela pra dentro, fechei a porta e virei de frente pra onde ela estava. Me encostei na porta mesmo e respirei pra pegar ar, ela estava apoiada com as mãos nos joelhos. Assim que conseguimos respirar direito ela me olhou com uma cara estranha.

- Quer dizer que agora somos amigos Malfoy?

- E o que mais seríamos Granger? – disse o sobrenome dela com um pouco mais de entonação.

- Sabe, eu realmente não sei. Mas definitivamente não somos amigos.

- E porque não? Hermione a gente não se trata mal há semanas, você consegue conversar e rir comigo. O que droga é isto então? – levantei os braços questionando.

- Eu... Eu não sei tá legal? Eu sei que nós não somos mais inimigos, mas não sinto que posso confiar em você. – Baixei a cabeça derrotado. Sabia que não iria ser fácil mas eu não pensei que fosse tão difícil. Conquistar Hermione era quase uma missão impossível.

Ela se aproximou de mim e colocou a mão no meu rosto. Levantei a cabeça devagar e olhei nos olhos dela. Ela parecia tão confusa, aquilo me deixou mal. Ela deve ter percebido o quão triste eu estava e me abraçou. No começo eu fiquei sem ação, mas depois aos poucos eu abracei ela também. Coloquei meu queixo em cima da cabeça dela e ficamos ali, quietos não sei bem por quanto tempo. Eu estava triste, mas ao mesmo tempo estava feliz porque ela estava nos meus braços. De repente, ouvi ela dizer meu nome, bem baixinho, quase que sussurrando. Me afastei um pouco, o suficiente pra olhar o rosto dela.

- Draco. – Ela disse de novo, dessa vez mais alto – Eu não sei se podemos ser amigos. Eu sinto muito. – Vi uma lágrima se formando nos olhos dela.

- Shhhhh, Hermione. Não chora. – sequei os olhos dela e a abracei de novo – Não precisa se preocupar com isso tá legal? As coisas entre a gente nunca foram fáceis não é? Então pronto. Não se preocupa. Não somos amigos nem inimigos. Um dia a gente define isso. Não precisa ser agora.

- Não é isso. – Ela começou a chorar.

- E o que é então? Porque você tá chorando?

- Eu não sei – ela disse entre soluços chorando mais ainda – eu tô muito confusa com essa história toda.

- Tá bem tá bem. Só não chora. Não gosto de ver você chorando. Por favor, não chora.

- O que deu na gente afinal? Era tão mais fácil quando eu só odiava você e você me chamava de sangue-ruim.

- Para com isso. Eu nunca mais vou te chamar assim. E poxa, acha que pra mim é fácil por acaso? Você não sabe nem da metade.

Ela se afastou do meu abraço e secou os olhos. Continuei olhando pra ela e ela pra mim. E então do nada, aconteceu. Ela veio se aproximando de mim e eu ouvi ela sussurrar “Que se dane” e então ela me beijou. Foi um beijo terno a princípio, os lábios dela eram tão doces, tão macios, eu sentia que aquilo era o paraíso pra mim. Finalmente eu podia fazer o que vinha me matando durante semanas. Aprofundei o beijo e ela correspondeu, puxei ela pra mais perto, colei nossos corpos e ela ofegou, aquilo me incentivou ainda mais e então eu levei as mãos ao cabelo dela, hoje eles estavam presos num coque e eu puxei o pequeno palito que os prendia soltando a massa castanha pra que eu pudesse passar os dedos. Senti as mãos dela que estavam na minha cintura subirem pro meu peito e mais além. Uma das mãos parou na nuca me puxando e deixando o beijo mais quente, a outra foi pros meus cabelos. Parei o beijo e olhei pra Hermione. Ela era tão linda. Quando ia puxar ela pra mais um beijo ela se afastou e então tudo mudou.

Ela parecia ainda mais confusa que antes. Olhou pra mim e balançou a cabeça. Pegou o vira-tempo que estava pendurado no pescoço e começou a girar.

- Hermione espera. – Mas era tarde demais. Ela tinha sumido.

POV Hermione Granger

O que tinha sido aquilo? O que diabos deu em mim? Eu tinha beijado Draco Malfoy, a maldita doninha quicante, verme asqueroso, barata nojenta, o ser mais desprezível de toda Hogwarts.

Ele ultimamente estava sendo tão legal que nem parecia o mesmo Draco Malfoy que conheci. Se bem que pensando direito ele estava sendo o Draco Malfoy que eu conheci afinal. Ele estava sendo amigável e gentil como o garoto que conheci na sorveteria naquele dia no Beco Diagonal. Mas aquele não era Draco Malfoy, ou era?

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAA. Que droga. – Gritei dentro da sala vazia, onde há poucos segundos eu estivera beijando Malfoy.

Me dirigi para a torre da Grifinória eu precisava pensar. E acima de tudo precisava ficar longe de Draco Malfoy. Minha nossa, eu disse o nome dele mais de 3 vezes em menos de cinco minutos. Eu realmente não estava bem. Cheguei até o quadro da Mulher Gorda e disse a senha. Estava indo em direção as escadas pra seguir na direção do dormitório feminino quando ouvi Neville me chamar.

- Você tá bem Hermione?

- Ah, oi Neville. Não tinha visto você. Desculpe.

- Tudo bem. Mas o que é que você tem?

- Nada, só uma dor de cabeça. Resolvi vir deitar um pouco. E você?

- Vim trocar as vestes. Derramei a poção na aula do Snape você não lembra?

- Ah sim. É verdade, a aula de Poções. – Parecia que tinha passado uma eternidade entre a aula do Snape e agora. – Neville pode me fazer um favor? Diga ao Rony e ao Harry que eu não me senti bem e que vou ficar por aqui o resto do dia. Mas que eles não precisam ficar preocupados ok?

- Pode deixar eu digo sim. Melhoras.

- Obrigado. – Dei as costas pra Neville e fui subindo pro dormitório. Abri a porta e fui direto pra minha cama, fechei as cortinas e fiquei olhando para o dossel acabei adormecendo e sonhando com o beijo que eu havia dado em Draco Malfoy.

POV Draco Malfoy

Porque ela havia fugido? Eu estava tão feliz com aquele beijo e então ela resolve ir embora. O que será que deu nela? Porque ela me beijou? Ela nunca pareceu querer nada comigo, sempre achei que meus esforços não estavam dando os resultados que eu esperava. Então porque aquele beijo? Porque ir embora? E o mais importante, o que aconteceria agora? Eu precisava falar com Blás. Mas precisava ir pra aula de Aritimancia. Droga. Falaria com ele depois das aulas.

Peguei meu vira-tempo e fui pra aula de Aritimancia na esperança de ver Hermione por ali, mas era bem óbvio que ela não viria. Menti a professora Vector que ela não havia se sentido muito bem e por isso não foi à aula e fiquei esperando o tempo passar. Quase não me concentrei em nenhuma das aulas durante o restante do dia e o Blás havia notado isso.

Quando as aulas acabaram fomos jantar no salão principal. Me sentei à mesa da Sonserina com Blás ao meu lado numa posição em que eu pudesse ver a mesa da Grifinória. Zabini estava obviamente preocupado comigo.

- O que aconteceu Draco?

- Aqui não Blás.

Ele entendeu e ficou quieto, começamos a comer o jantar, eu praticamente não havia comido nada porque não sentia vontade de comer coisa alguma. Fiquei olhando pra entrada do salão esperando que ela aparecesse. Já estava quase desistindo e indo embora quando ela entrou. Me arrumei no banco e parei de comer, ela olhou diretamente pra mim, virou o rosto e então seguiu pra mesa da Grifinória onde os dois patetas já esperavam por ela. Eles também pareciam preocupados. Quando o quatro-olhos puxou ela pra perto e colocou um braço em volta dos seus ombros eu senti meu sangue ferver. Levantei da mesa quase que imediatamente e saí do salão principal batendo pé e soltando fogo pela boca.

POV Hermione Granger

Eu não ia descer pra jantar, mas Gina me obrigou. Disse que o irmão e Harry estavam preocupados comigo e só não haviam vindo me procurar porque o recado do Neville dizia que eu estava bem e no castelo. Disse a Gina que eu iria descer mas que primeiro ia tomar um banho quente. Pedi pra que ela descesse na frente e fui pro chuveiro. Saí do banho, me troquei e desci pra jantar.

Assim que entrei no salão senti o olhar do Draco em cima de mim. Olhei pra ele e não aguentei, virei o rosto e segui pra onde Harry, Rony e Gina estavam sentados. Sentei ao lado de Harry, de frente pra mesa da Sonserina.

- Hermione você tá bem? – Harry colocou o braço nos meus ombros me puxando pra um meio abraço. Vi de canto de olho Draco se levantar da mesa da Sonserina e sair com raiva. Zabini levantou logo em seguida, olhou pra mim, olhou pra porta, fez uma cara de confuso e seguiu Malfoy pra fora do salão.

- Tô sim Harry. Era só um mal estar, já estou bem.

- Ficamos preocupados com você. Você não é de perder as aulas. Quando vimos que você não chegava eu e o Harry nos preparamos pra ir te procurar, mas aí o Neville chegou e disse que você tinha se recolhido no dormitório das meninas. – disse o Ron com uma cara meio preocupada segurando uma coxa de frango a meio metro da boca.

- Sim. E como você não descia pra jantar mandamos a Gina ir buscar você. Não é Gina?

- Sim. Eu também fiquei preocupada. Parvati disse que você tava deitada na sua cama com as cortinas fechadas e que ouviu você chorando quando ela foi lá pra trocar de roupa pro jantar.

Vi Ron e Harry se olharem preocupados quando ela disse que eu estivera chorando.

- Eu não estava chorando. De onde Parvati tirou essa ideia? – tentei dar um sorriso, falhei.

- Hermione, se você estava chorando porque não quer contar pra gente?

- Não foi nada meninos. Já passou eu juro. Agora vamos comer? Eu estou realmente faminta.

Enquanto nós jantávamos eu não tirava da cabeça nem o beijo daquela tarde e nem a reação do Malfoy quando desci pra jantar. Será que afinal eu deveria mesmo ir encontrar com ele na biblioteca amanhã?