The Surviver escrita por NDeggau


Capítulo 6
Capítulo 5 — Defendendo




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Defendendo

TUDO FOI RÁPIDO DEMAIS. Eu saltei sobre a garota morena, as mãos seguraram os braços dela atrás das costas. Ela se debateu. Era forte, quase conseguiu se soltar. Senti uma mão me puxar para trás. Olhei para meus braços, eram mãos douradas do sol. Soltei minhas pernas e cai sentada no chão, rapidamente, e joguei meu corpo para trás, passando por dentro das pernas dele. Ele cambaleou para frente, segurando-se na picape para não cair. Senti mãos menores tentarem me segurar pelos ombros, mas agarrei-as e as apertei, me livrando delas. Eu não tinha muita consciência do que estava fazendo, apenas pensava numa coisa.

Sobreviver. Sobreviver. Sobreviver.

Talvez fosse assim que o instinto animal funcionava. A mente desliga e o corpo reage.

Uma mão dourada agarrou meus dois braços atrás das costas, e outra apertou meu pescoço como se fosse de aço. Arquejei desesperada por ar.

Ouvi Lola rosnar para o homem que me segurava. Olhei para ela e esperei que ela lesse meus pensamentos de não atacar.

—Jared, espere. —Disse uma voz masculina suave.

Ergui meus olhos. Bruma arquejou.

Um homem alto de cabelos negros cheios estava vindo em minha direção. Ele segurou o ombro do homem dourado que me segurava ­– Jared Howe –, que largou meu pescoço. Arfei feliz pelo oxigênio.

—Ela quase derrubou Melanie.

Hum, o nome da garota era Melanie então.

—Não seja exagerado. Ela quase derrubou você, isso sim. —Zombou ele.

—Talvez seja uma Buscadora. —Disse a garota, Melanie.

—Vamos leva­-la para Doc. —Disse Jared.

Bruma estremeceu.

Esse Jared é mau. O outro homem é bom. A garota Melanie é... Não sei.

Sei, sei.

—Deixe-me falar com ela. —Disse a voz suave do homem que eu ainda não sabia o nome.

As mãos de Jared Howe me soltaram. Foram substituídas por mãos pálidas menos rígidas e mais gentis, que me puxaram para longe de Howe e Melanie. O homem me soltou, e eu levantei os olhos e o encarei friamente. Tinha olhos azul-cobalto, e fez Bruma arquejar novamente.

Olhos que queimam com as cores da noite e da neve, ela resmungou, em mais um surto poético. São gentis e calmos, os tipos de olhos que acalentam. Assim como o dono desses olhos.

Bruma, por favor, fique quieta. Ele pode ser nosso carrasco.

—Sou Ian O’Shea. —Disse o homem de olhos cobaltos. —Quem é você?

Olhei desconfiada para ele e para suas mãos estendidas na minha frente. Ele as baixou.

—Está tudo bem. Você é Buscadora?

Neguei com força com a cabeça.

Ele ergueu as sobrancelhas negras.

—Certo, certo. Então se não é uma Buscadora, o que é?

Uma criatura apavorada e acanhada, resmungou Bruma.

—Humana. —Grunhi.

Ele deu uma risada.

—Certo. Isso deve ser mesmo verdade.

Pisquei confusa. Eu tinha acabado de atacar a garota Melanie e Howe, provando que eu não era uma Alma. Ian continuou olhando nos meus olhos, e levantou as sobrancelhas negras com expectativa.

Ah. O reflexo. Maldito reflexo, pensei.

—Venha comigo. —Disse Ian, segurando meu braço dentro de sua mão grande e seus dedos longos.

—O que vai fazer comigo? —Perguntei, arrancando meu braço de dentro do aperto dele. Ele segurou meu pulso, gentilmente.

—Vou te levar até um amigo meu, o Doc. Ele ajudará você.

Ian me puxou para frente dele, bloqueando minha fuga. De repente, o óbvio de atingiu.

—Ele vai tirar minha Alma, não vai?

Ian hesitou. Na minha frente, Howe e a garota se entreolharam. Ninguém disse nada. Na minha mente, Bruma soluçou.

Não se preocupe, Bruma. Ninguém vai tocar em você.

Baixei meus olhos, fingindo estar triste, e segui o caminho corajosamente em direção ao casal. Jared Howe segurava a garota Melanie pela cintura. A mão de Ian estava frouxa em volta do meu pulso. Levantei os olhos para o rosto de Jared. Um soco ali o desarmaria e distrairia Melanie. Eu correria de Ian. Assim que eu estava próxima o suficiente de Jared, soquei seu rosto.

Foi rápido. Nenhum dos três esperava isso. Melanie segurou o corpo de Jared que quase caiu para trás. Ian precisou de um segundo para raciocinar. Eu não. Impulsionei meu cotovelo para trás, acertando o estômago de Ian. Ele arfou. Corri o mais rápido que pude, quase sem conseguir assoviar para Lola. Ela me seguiu, correndo fielmente ao meu lado.

O problema era que eu corria em direção a um túnel escuro. Provavelmente era o esconderijo deles.

Eles vão nos pegar, Ashley. Irão me tirar. Eles expulsarão desse planeta meu frágil corpo.

Não, eles não vão fazer isso. Eu não vou deixar. Você é minha Alma, Bruma. E ninguém mexe com você.

Obrigada, Ashley.

Pode me chamar de Ash.

Bruma ficou contente, mesmo com a situação em que nos encontrávamos.

—Pare! —Berrou Ian.

Não dei ouvidos. Continuei correndo, aprofundando no túnel escuro, descendo. Estávamos aprofundando na terra, se perdendo no subsolo.

Até que trombei com alguma coisa. Alguém.

Droga.

Essa não. Eles nos pegarão Ash.

Deixe­-me pensar, Bruma.

Olhei zangada para quem me deteve. Era um homem velho, e pude ver uma longa barba branca no escuro. Também senti uma coisa fria contra minha pele e ouvi um estralo. Clique clique.

Droga. É uma arma.

Ele vai atirar. Nós vamos morrer! Choramingou Bruma.

Apenas o fitei. A arma fitava certeira para minha cabeça.

Alguém chegou por trás de mim e segurou meus braços atrás das costas. Uma cabeça se aproximou da minha e sussurrou no meu ouvido.

—Você é bem briguenta, garota. —Era Ian. Bruma arqueja com a proximidade dele.

O que é isso, Bruma? Está tendo uma queda pelo cara que quer nos matar?

Bruma ficou em silêncio.

—Quem é essa? —O homem velho apontou para mim com a arma. Bruma gemeu de medo.

—Estava escondida na picape. —Respondeu Ian, seu rosto ainda grudado na minha cabeça. Bruma deixava meus pensamentos confusos.

—Garota corajosa. Nunca vi Almas fazerem isso. —Disse o velho.

—Eu não sou uma Alma. —Rosnei.

Tentei me soltar das mãos de Ian, mas ele me segurou com mais forte contra seu corpo, passando um dos braços em volta do meu pescoço e me prendendo. Bruma entrecortava minha respiração. Mesmo que eu tenha conseguido tomar controle do meu corpo, Bruma ainda era uma influência grande sobre mim.

Bruma controle-se, por favor.

Desculpe Ash.

—Eu acho melhor ir vermos Doc, certo? Ele é um bom homem que não machucará você. —Disse o velho.

—Ele vai tirar minha Alma, sei que vai. Não vou deixar isso acontecer.

Eu quase não conseguia falar com o antebraço de Ian pressionado contra meu pescoço.

O homem velho se aproximou de mim e pude ver melhor seu rosto. Sobrancelhas largas e brancas projetavam sombra sobre seus olhos azuis que parecia jeans. Ele tinha rugas e um belo bronzeado.

Invejosa.

Sua Alma? —Indagou o velho.

Atrás de mim, ouvi um ruído de uma língua estalando. Tsc.

—Jeb? —Sussurrou Ian.

O velho levantou os olhos e fitou Ian. Jeb – o velho dos olhos jeans.

—Precisamos ir. —Continuou Ian.

O velho aquiesceu.

—Certo.

Ian continuou me empurrando, e enterrei meus pés sob a areia fina, prendendo minhas pernas e me empurrando para trás. 

—Ora, por favor, garota.

Eu fiquei em silêncio, forçando as pernas para me manter freada no chão. Ouvi passos atrás de mim, acompanhados de um ruído abafado de patas. Lola.

—Lola! —Gritei, minha voz saiu fanha. —Lola, ataque. Ataque.

Esperei ouvir rosnados e sons de mordida, mas estava quieto demais. Esperneei e olhei por cima do corpo de Ian. Uma corda amarrada o focinho de Lola, e outra presa em sua coleira, guiando-a.

—Lola! Solte-a!

—Está tudo bem. —Ian apertou ainda mais meus braços, me deixando com falta de ar. Ele apertou seu queixo quadrado no alto da minha cabeça. —Vamos cuidar da sua cadelinha.

Debati-me contra ele, tentando cotovela-lo novamente. Meus pés chutaram desesperadamente para trás, tentando acertar sua canela, mas eu só estava dando pinotes inúteis do ar.

Ele deu uma risada.

Ele só está tentando ajudar, Ash.

Bruma! Pare de defendê-lo. Ele quer tirar você e está maltratando Lola!

Só... Colabore certo?

Com pesar, soltei minhas pernas presas, quase caindo de joelhos. Ian me segurou. Deixei que ele me levasse para fora do túnel.

—Desistiu? —Ele sussurrou.

—Nunca. —Rosnei e respirei fundo, deixando minha voz mais calma. —Estou só... Sendo racional.

Ele soltou uma risada pelo nariz que me irritou.

Vi o fim do túnel, uma luz amarela e forte para meus olhos desacostumados. Saímos na luz. O lugar era grande e com um teto alto e cheio de espelhos que refletiam uma luz forte. Um solo coberto por gramínea ocupava quase todo o centro, iluminado pela luz refletida. Engenhoso.

Um grupo de humanos que trabalhavam ali logo se aglomerou para nos observar. Para me observar. Um círculo de aproximadamente vinte pessoas se reuniu ao nosso redor. Ian soltou o braço preso no meu pescoço.

 —Não. Corra. —Ele disse devagar. —Por favor.

Sacudi-me para me livrar dele. Ian ainda segurava meus braços atrás das costas.

Olhei em volta. Jared se aproximava carregando Lola na coleira. Melanie estava conversando com uma mulher qualquer. Cerrei meus punhos com mais força sob o olhar das dezenas de pessoas. Ouvi um latido quando Lola correu até mim livre das amarras. Ela armou-se ao meu lado, pronta para atacar se necessária.

—Tudo bem Lola. Tudo bem.

Estou com medo, Ash.

Eu também.

—Quem é essa?

A voz masculina menos grave chamou atenção nas minhas costas. Virei-me e vi um garoto mais ou menos da minha idade alguns passos na frente da garota Melanie. Ele era alto e tinha cabelos negros compridos sobre os olhos escuros como café.

Os olhos dele são cremosos. Como chocolate, disse Bruma.

Certo. Olhos de chocolate. É mesmo muito sensato dar características culinárias para as pessoas que querem te matar.

Pare de ser sarcástica e se concentre.

—Cuidado. —Disse Ian. —Ela não é tão dócil quanto parece.

O garoto da minha idade sorriu e deu alguns passos na minha direção.

—Acho que já pode solta-la agora, Ian. Ela não tem para onde correr.

Olhei em volta e vi um circulo menor se fechando a minha volta. Bufei de raiva. Ian soltou as minhas mãos, mas ainda se manteve por perto, ás minhas costas.

O garoto tocou meu braço e dei uma guinada para trás. Ele se afastou.

—Oi. —disse ele, a um metro de mim. —Sou Jamie. Como se chama?

Não falei nada.

Ele sorriu para mim, tentando me amaciar, mas não funcionou. Estiquei minha mão para que Lola se aproximasse. Jamie percebeu.

 —Sua cachorra?

Fechei meus dedos sobre a cabeça de Lola, enrolando as pontas em seus pelos.

Jamie se abaixou e esticou a mão para acariciar Lola, que rosnou. Ele se afastou.

Todos os outros humanos olhavam para mim.

—Tem uma pessoa que talvez você goste de conversar. —Disse Jamie. —Ela vai te entender e te ajudar, pode ser?

Encarei seus olhos escuros – de chocolate – e assenti.

—Certo. Ela está ali, com Ian. O nome dela é Peg. Peregrina, na realidade. Mas pode chama-la de Peg. Ela vai ajudar. Sempre ajuda. Não precisa sair correndo, nem socar alguém, certo?

Assenti novamente. Jamie se afastou um pouco de mim. Olhei para Ian. Atrás dele, um borrão de cabelos loiros e um corpo frágil apareceu. Ela – que deve ser Peg – estava na sombra. Devagar, o corpo miúdo saiu de trás de Ian e começou a se aproximar. Olhei para meus pés. Em seguida para os dela.

Meus olhos continuaram o caminho. As pernas dela estavam cobertas por uma calça de moletom gasta. Ela magra, pequena e fina, parecia quebrável demais. Como um palito de dentes. Cintura finíssima e braços delicados com sardas pálidas. Pele clara. Cabelos loiros cacheados compridos. Pescoço fino e com traços delicados. Queixo com covinhas. Lábios cheios. Sardas iguais aos dos braços. Olhos cinza-prateados.

Pisquei confusa. Olhei novamente. A luz dos espelhos refletiu em seus olhos. Prateados. Um reflexo prateado me fitava delicado.

Só percebi o que estava fazendo quando já estava com as mãos em direção a ela.


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