—Novas vizinhas?

—Deixe-me nos apresentar.-Disse o homem alto de terno preto.- Essa é Susana, minha esposa, e eu sou Roberto, acabamos de chegar o sul.

—Sejam bem-vindos à cidade!-Ah como minha mãe é falsa...- Eu sou Clarice, e essa é Lola, minha filha. Você tem filhos?

Olhei para o carro e pude ver duas silhuetas dentro, os filhos, provavelmente. Será que são tão metido que nem puderam vir até aqui dar um oi? Que ótimo!

—Sim, temos um casal. Meu menino deve ter a sua idade Lola, e a minha filha é um pouco mais nova. Eles estão dormindo no carro, foi uma viagem tão longa! 

—Imagino.-Disse, para não ficar à toa na conversa.

—Lola, você estuda por aqui?

—Sim, minha escola não é muito longe, vou de ônibus ou bicicleta todos os dias.

—Ótimo! Devemos estar falando da mesma escola. Se não for muito incomodo, poderia passar aqui para vocês irem juntos? Meu marido e eu não teremos tempo de acompanhá-los.

Fiquei pasma, isso lá é favor que se peça para alguém que acabou de conhecer? Minha mãe falou as mãos nas minhas costas me dando um leve beliscão, e eu percebi que tinha que ser gentil com essas pessoas:

—Claaaaro.

—Maravilha! Depois vou contar a eles! Bom, agora precisamos entrar, ver se podemos descarregar o caminhão. Foi um prazer.

—Igualmente.

(...)

—Meu Deus, filha! Não tinha como você mostrar um pouquinho mais de interesse? Temos que dar uma boa impressão para essas pessoas! Eles são novos na cidade, precisam saber que podem se apoiar em nós. Olha Lola, eu sei que você faz um pouco dessa pose de rebelde sem causa, mas você tem que ser mais simpática!

Minha mãe despejou tudo isso sobre mim assim que entramos em casa. Não aguentei ouvi-la falando aquelas coisas para mim, ela nunca tinha sido tão grossa! Corri em direção as escadas e me tranquei no quarto, tomando o "cuidado" de bater bem a porta do quarto... mal me joguei na cama as lágrimas vieram. Quando finalmente consegui me acalmar comecei a pensar nas coisas que ela tinha me dito, será que eu tinha sido antipática? Poxa, eu tinha acabado de conhecer aquelas pessoas, e além do mais não consigo ser assim encantadora... A parte de ser rebelde sem causa era uma pouco verdade, mas eu não diria que querer andar contra a corrente ignorando o que as outras pessoas consideram o máximo, ser algo "sem causa", eu gostava de ser assim!

Nesse momento o sol estava se pondo, era uma das minhas partes preferidas do dia, quando, devido a posição da janela, alguns raios acabavam entrando e deixando o tapete aquecido, eu deitava aqui, colocava alguns discos (Sim, discos, a maioria pertencia ao meu pai, mas eu gostava de tê-los no meu quarto!) dos Beatles para tocar e ficava ali, até que as estrelas surgiam no céu. Era o que fazia meu dia valer à pena e me dava animação para as aulas do dia seguinte. Tenho tanta coisa para contar para a Sophia, é incrível como em apenas um dia várias coisas mudam!

TOC TOC TOC...

Era meu pai, nos damos tão bem, então deixei ele entrar. Sentou na minha cama e começou a falar:

—Pois bem Lola, eu soube da pequena discussão que você teve co...

—Não discutimos nada! Ela que é toda exagerada! Não gosta de mim, não gosta do jeito que eu sou!

—Por favor não me interrompa moça! Olha, eu sei que você e sua mãe vivem em pé de guerra, mas eu conversei com ela e acho que tem certa razão no que disse.- Eu já ia dizer para ele que não precisava de mais um sermão, mas ele fez sinal para eu ficar quieta.- Você é uma jovem linda e inteligente, mas tenho que admitir que é muito estressada! Sua mãe estava tentando te ajudar! Eu te conheço e sei que você com certeza não deve ter sido uma pessoa muito encantadora com os vizinhos, mas agora não precisamos mais tocar nisso se você me prometer que fará o possível para ser um boa vizinha à essas pessoas. Posso confiar?

—Farei o possível...

Tenho que dizer que meu pai sempre foi super compreensivo comigo, são raras as vezes que brigamos, e por ser filha única ele sempre me mimou bastante e acho que foi dele que herdei esse lado rebelde, além do mais ele conheceu minha mãe em uma manifestação política! Enquanto ele estava no meio do povo, carregando cartazes, minha mãe estava na sacada da casa da minha avó observando, como ela mesmo diz, aquele rapaz mais que lindo hahaha

—Obrigada pai, eu não sei o que seria de mim sem você. Por favor, diga à mãe que não vou jantar, estou com um pouco de dor de cabeça e já vou dormir, muitas mudanças para um só dia!