Que droga, que droga! Não acredito que o Pedro deixou um chupão no meu pescoço, que idiota, e ele ainda queria que ninguém soubesse o que aconteceu entre nós, mas agora será meio difícil!

—Me pegou de jeito? Como assim? Está bebendo logo de manhã, Duda?

—Não tenta me enganar, Lola.-Ela dizia divertida.

—Mas Duda, isso não é nada de mais, eu apenas bati meu pescoço na prateleira do quarto quando me abaixei para pegar um livro, só isso, aliás, nem tinha visto que ficara com um hematoma...

—Hematoma? Você é uma péssima mentirosa, Dona Lola.

—Maria Eduarda, por que não acredita? Fiquei o dia todo na sua casa, não havia como ter acontecido algo! E como eu disse, apenas bati o pescoço.

—Bateu o pescoço, ok, vou fingir que acredito.-Ela disse e se virou para o irmão.-Nossa Pedro, está tão quieto hoje, ontem conversou tanto com a Lola, hoje nem vão se dar bom dia?

Está forçando as coisas Duda...

—Você é uma chata, sabia? -Ele disse para a irmã e veio até mim, deu um beijinho na bochecha e sussurrou um bom dia.

—Vocês dois...Muito bem, podemos ir agora!

Durante o caminho, conversei o máximo que pude com a Duda para não dar oportunidade dele falar, quando chegamos na escola grudei na Sophia para não ficar um minuto sozinha com o Pedro, e claro, tampei aquela droga de chupão com o cabelo, pois caso a Sô visse seria muito complicado achar uma desculpa que a convencesse. Por sorte tivemos aulas legais, os professores pareciam estar cansados e acabaram deixando-nos conversar, estava com tanta vontade de contar tudo a Sô, estava quase explodindo! Não podia simplesmente ignorar tudo que havia acontecido noite passada, tinha sido algo grandioso afinal, e além do mais, eu faria prometer que não contaria a ninguém.

—Amiga, eu preciso te contar uma coisa...

—Não acredito Lola, você não estava ouvindo nada que eu disse? Mas, o que foi? O que é tão importante que te fez viajar e parar de escutar o que eu dizia?

—É muito complicado.

—Meu Deus! Me conta logo, mulher!

—Eu o Pedro nos beij...-Minha voz foi sumindo, deixando a última palavra por completar.

—Você e o Pedro o que?

—Nós beijamos! Nós nos beijamos!

A expressão dela mudou instantaneamente, não sei dizer como ficou, acho que bastante surpresa, ficou ali, de boca aberta, me encarando...

—Fala alguma coisa Sophia! Eu sei que é muito difícil de acreditar, mas é a verdade amiga, aconteceu ontem a noite, ele apareceu na minha casa para levar um par de brincos que eu havia esquecido, e estava tão lindo, você sabe como eu fico quando estou sozinha com um menino, não é mesmo? E eu não aguentei! Ele pulou para cima de mim e me beijou, foi a ponta do iceberg, ficamos um tempão nos beijamos, e depois, ele falou.- Tomei fôlego. -Falou que não queria que ninguém soubesse, mas eu não estava suportando esconder isso de você, é minha melhor...

—Cala a boca Lola! Me deixa falar!

Ela estava brava comigo? Como assim? Eu estava confiando um segredo à ela e é assim que me trata?

—Poxa vida, não achei que ficaria brava!

—Só queria um tempo para digerir tanta informação. Me diz, com calma, exatamente o que aconteceu.

Respirei fundo e contei tudo, desde a parte que nos vimos na sacada, ele entrando em casa, pulando para cima de mim, do beijo, da maldita corrente elétrica, TUDO! A Sô escutou atentamente cada palavra minha, interrompendo apenas para fazer algumas perguntinhas breves.

—E foi isso. Exatamente como aconteceu.

—Estou chocada, não consigo entender. Juro. Jamais pensaria que algo assim pudesse acontecer, claro, vi seus olhares para ele, ainda mais depois que o Pedro te salvou, mas não achei que isso aconteceria. Nossa, nem sei o que dizer. Hmm foi bom pra você?

Começamos a rir imediatante com a pergunta dela, o que me deixou mais aliviada, no meu interior eu havia achado que a Sô tinha uma queda pelo Pedro, mas acho que me enganei, ela estava feliz por mim, embora assustada com a situação, seria horrível um menino separar minha amizade com ela, não gosto nem de imaginar.

—Mas agora que já te contei, vamos deixar para lá, afinal, como ele mesmo disse, é algo que tem que ser esquecido. O que estava me dizendo antes de eu me perder nos pensamentos?

—Ah, esqueça, não é nada de mais, não importa.

—Tem certeza?

—Sim, tudo bem.

Então o professor entrou na sala, e finalmente, tivemos uma aula. O tempo passou incrivelmente rápido, acho que por ter contado a Sô toda a história fiquei mais calma, e acabei relaxando. Mas eu não estava totalmente controlada, o Pedro, sentado ao meu lado, com o mesmo perfume, aquele perfume, juro que estava tentando me concentrar, mas aquele cabelo preto, todo enroladinho, aqueles olhos escuros, ombros largos, bochechas fofas e a pele queimadinha de sol ainda me arrancava suspiros... Queria entender por que ele disse aquilo, que ninguém deveria saber, qual era a dele afinal? Ficar com alguém e simplesmente esquecer? Desculpa, mas não sou assim, tenho esses sentimentos idiotas. Me deixa mal o fato de não saber como ele realmente é, não sou de ficar beijando qualquer um, e não gostaria que ele fosse um babaca para que eu me arrependesse... se bem que com aquele beijo, dificilmente alguém se arrependeria!

Voltamos para casa, juntos, eu não havia trocado nenhuma palavra com o Pedro, até que, em frente a casa dele, a Duda entrou correndo pois queria me emprestar um CD, e ficamos ali, sozinhos.

—Ta tudo bem?

Lógico que não, seu idiota! Que tipo de garoto te beija maravilhosamente bem e com muita vontade, sim, com vontade, eu percebi, e depois não diz mais nada sobre isso? Fica te olhando mil vezes durante a aula e não tem coragem de conversar sobre o acontecido? É uma péssima forma de agir! Que foi? Me beijou, matou a vontade e pronto, é isso aí? Que droga Pedro!

—Sim.

—Não parece. -Ele se aproximou bem pertinho, o peito encostando em mim. -Você mente muito mal.

Já chega desse joguinho de sedução, acha que pode ir tocando assim em mim, sussurrando e me deixando arrepiada? Isso acaba agora, vamos esclarecer algumas coisas!

—Eu não te entendo.

—Como assim? O que eu fiz?

—Me diz que você está só agindo feito bobo.

—Olha Lola, sobre ontem à noite...

—É exatamente isso. Por que pulou em cima de mim e me beijou? Sei que eu pedi para você não parar, mas você tomou a iniciativa, quero saber o motivo. E agora está sem falar comigo, qual é a sua garoto? Vir para uma cidade nova, beijar alguém e deixar por isso mesmo? E ah, claro, em segredo.

Ufa! Agora eu respirei.

—Nossa garota, como você fala. Se acalma, ta bom? Não é legal ficar julgando sem conhecer a pessoa direito.

—Me responde logo, Pedro!

—É que eu não queria te assustar.

—Como assim me assustar? Não estou assustada, estou é muito nervosa!

—Não ficaria assustada se eu dissesse que te beijei porque gostei mesmo de você? Que quando te vi pela primeira vez não consegui te tirar da cabeça? Que se eu não te beijasse acabaria tendo um ataque? Que é tão linda que eu simplesmente não consigo parar de olhar você, nem durante a aula, nem mesmo quando aparece na sacada e fica dançando com o vento? Não ficaria assustada ao saber que não vejo a hora de ir para escola apenas para ficar do seu lado? Ou que o seu perfume ficou nas minhas roupas e foi a melhor coisa que aconteceu? Que seu beijo me deixou louco? Tudo bem, se isso não te deixa assustada, eu conto.

Ok, agora estou sem palavras, mesmo. O Pedro, o meu Pedro, acabara de dizer tudo que eu queria ouvir. Podia sentir o peito dele arfar com rapidez enquanto retomava o ar, as bochechas vermelhas e os olhos buscando uma resposta.

—Agora estou realmente assustada.

E feliz.