Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 9
Turbulência – Parte I




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/393069/chapter/9

Quase duas semanas depois da partida da Guarda Volturi para a missão em que Maximilian ficara encarregado de liderar, Jane ouve passos apressados aproximarem-se de seu quarto. Pela forma de andar, certamente tratava-se de Renata, que bateu três vezes na porta para chamar sua atenção.

— Jane, eles retornaram! O mestre aguarda sua presença no grande salão – anuncia Renata, saindo logo em seguida.

Jane deposita seu exemplar de “O Bebê de Rosemary” sobre a escrivaninha e se levanta da cadeira com um salto, sentindo uma estranha euforia em seu interior. Ser separada de seu gêmeo tinha sido a sensação mais estranha que a vampira havia experimentado desde que se transformara, e por dias ela vagou pelo castelo a procura de algo que não sabia o que era, pois sentia um estranho vazio em seu peito. E agora que tinha certeza do retorno de Alec, sentia aquela euforia esquisita, a impulsionando pelos corredores do castelo com certa urgência e a levando novamente para perto do irmão.

Ela já tinha ouvido falar que irmãos gêmeos costumam ter um tipo diferente de ligação, entretanto, o que sentia naquele instante parecia algo maior do que um elo de irmandade, algo que ela não sentira desde que se tornara imortal e que, por isso, sequer sabia se tratar de “saudade”.

A vampira adentra o salão e se posiciona ao lado dos três tronos como sempre fazia, tentando não aparentar raiva por ter sido deixada para trás. Seus olhos vasculham o ambiente com velocidade, passando de rosto em rosto rapidamente até encontrar o de Alec, finalmente constatando que ele estava bem. Ele sorri para a gêmea assim que o contato visual é estabelecido, correndo para o seu lado com uma empolgação diferente cintilando no olhar.

Alec estava “feliz”, mas Jane não estava acostumada com aquilo. Seus olhos vermelhos averíguam o irmão atentamente, dos pés à cabeça, procurando algum indício de ferimento ou de membro faltando, acalmando-se logo em seguida ao constatar que o seu gêmeo estava inteiro e bem.

Ao sentir a euforia em seu interior se acalmar, seus olhos se voltam inconscientemente para o camaleão, o objeto de sua ira, que não havia olhado para ela em nenhum momento. Jane sustenta o seu olhar em cima dele por alguns segundos, porém, não sendo correspondida, tendo a impressão de que Maximilian a ignorava de propósito, fazendo de conta que ela não estava ali, como se não fosse digna de sua atenção.

Jane sente o corpo amortecer de repente. Maximilian havia inutilizado o seu poder, roubado a liderança da Guarda, tomado o favoritismo de Aro, a descartado do time, e agora a estava ignorando como se ela não valesse mais nada. Uma onda de raiva a invade repentinamente, fazendo seus punhos se fecharem e seu desejo de matá-lo atingir novos patamares na escala vampírica.

Se sua intenção era não aparentar estar zangada, a vampira sabia que estava falhando miseravelmente.

Aro elogia os vampiros envolvidos na missão, ouvindo atentamente os relatos que lhe eram apresentados e já planejando um grande banquete para àquele fim de tarde, visto que fazia certo tempo desde a última refeição. E após um pequeno discurso, ele dispensa a todos, permitindo que Maximilian caminhasse apressadamente para o próprio quarto, ansioso por um retirar a poeira de seu corpo e trocar de roupa, depois da longa viagem.

Jane se retira do grande salão logo em seguida, refazendo os passos de Maximilian e invadindo o quarto do vampiro cerca de dois minutos depois dele ter entrado.

— O que pretende ao fazer tudo isso? – lança ela assim que abre a porta, fechando-a atrás de si, mas parando subitamente ao perceber que ele estava terminando de retirar a camisa.

Maximilian passa a camisa pela cabeça pacientemente, bagunçando seus cabelos no processo, jogando-a sobre a cama na sequência e a encarando sem dizer uma só palavra, fazendo uma rápida nota mental de que ela ficava bonita até mesmo quando estava irada.

— Não vai responder minha pergunta? – questiona Jane novamente, depois de passado o choque inicial. Porém, o camaleão não fez nada além de cruzar os braços sobre o peito nu. – O que pretende ao fazer tudo isso?

— Disse-me para não lhe dirigir mais a palavra – lembra ele, virando as costas logo em seguida, fazendo Jane rosnar de raiva.

Com o impulso de sua fúria, a vampira se coloca rapidamente à frente dele, fazendo seu manto esvoaçar ao seu redor como se uma corrente de ar passasse por ali. E com um golpe duro ela o empurra para trás, fazendo-o cambalear até a cadeira de sua escrivaninha e encará-la com uma carranca.

— Não dê as costas pra mim, camaleão! – esbraveja Jane, espalmando a mão direita sobre o peito do vampiro, para impedi-lo de fugir.

— O que você quer, Jane?

— Por que está aqui? Por que está fazendo isso tudo?

— Você não responde a nenhuma de minhas perguntas, por que deveria responder as suas?

— Responda! – ordena, com os caninos a mostra.

— Por que eu amo você! – confessa Maximilian, colocando sua mão sobre a de Jane na tentativa de alcançar seu coração, mas percebendo que a vampira não se abalara nenhum pouco com suas palavras ou com o seu gesto.

— Besteira! O amor é uma tolice! – rebate com desdém.

— Você ama o seu irmão! – devolve rapidamente, fazendo-a trincar os dentes. – Acha que não percebi a forma com que o procurou e averiguou seu estado quando retornamos? Você sentiu tanta falta dele, quanto ele sentiu a sua!

— Do que está falando?

— Estou falando que o amor não é uma tolice, Jane. Seja lá o que tenha acontecido a você e ao Alec, isso a fez pensar que precisava ser superior e mais forte do que todos, e que sentimentos bons são sinais de fraqueza. Mas deixe-me te contar uma novidade: eu sinto amor e agora sou melhor do que você!

Maledetto! – xinga Jane, agarrando o pescoço de Maximilian com a real intenção de machucá-lo, mas fazendo-o esboçar um irritante sorriso de escárnio.

— Eu sou o favorito agora – provoca ele tentando desestabilizá-la, sentindo-a fincar a ponta de suas unhas sobre sua pele. Porém, não se intimidando, Maximilian se coloca de pé lentamente, sustentando o olhar furioso da vampira enquanto falava. – Arranquei você do seu pedestal, roubei a sua glória e a sua liderança propositalmente, para que você percebesse que eu sou tão bom e tão forte quanto você!

Enquanto falava, Maximilian avançava em direção a ela, obrigando-a a recuar para não perder o aperto que tinha em seu pescoço. Contudo, quando recuar se tornou impossível, Jane chocou-se contra a parede e sentiu-se encurralada por ele.

— Jane Volturi estava tão intocada em sua posição de poder que não via a ninguém além dos mestres e do próprio irmão! Agora você não tem mais o controle, não possui mais privilégios, e se quiser sair em missão novamente, terá que me tratar com um pouco mais de cortesia!

— Está tentando me chantagear?

— Não. Só estou pedindo que olhe para mim e me enxergue como um igual!

— Eu vou matar você! – rosna Jane, não entendendo o que ele queria dizer e reagindo com raiva, como um animalzinho que se torna violento pelo simples fato de estar acuado.

— Você pode tentar! – desafia, esboçando outro de seus sorrisos sarcásticos. – Mas até isso acontecer, eu estarei no topo do pedestal e você não...

Fez-se silêncio de repente.

— Por que você está fazendo tudo isso? – questiona a vampira novamente, sentindo parte de sua ira dar lugar à confusão, porque nada daquilo fazia sentido.

— Porque eu a amo, essa é a única resposta que terá por hora! – declara, contendo a própria língua para não dizer a ela o quanto a desejava, o quando ansiava que ela se lembrasse dele e o amasse de volta.

Lentamente, Maximilian coloca sua mão sobre a de Jane, fazendo o rosto da vampira se tornar ainda mais confuso. Não houve resistência quando ele retirou a mão feminina de seu pescoço e nenhuma ofensa quando ele recuou dois longos passos para permitir que ela saísse de seu quarto.

Jane não sabia o que pensar ou o que sentir depois de tudo, pois havia permanecido no topo por tanto tempo, que não sabia o que fazer agora que sua situação dentro do clã estava fugindo de seu controle. A vampira se retira do cômodo sem olhar para trás, dirigindo-se ao próprio quarto onde, provavelmente, Alec a esperava para contar as novidades de sua missão sem ela.

Em contrapartida, quando encontrou-se só, Maximilian fechou a porta do quarto e recostou-se sobre ela, colocando a mão em seu peito e fechando os olhos, lembrando-se da deliciosa sensação que sentira quando Jane o tocou ali.

Bater de frente com a vampira não tinha sido fácil, afinal, sua vontade era a de se aproximar dela e não confrontá-la. Contudo, agora que o mundo perfeito de poder e controle dela estava ruindo, ele investiria tudo o que tinha naquele amor e tinha esperanças de que seria bem-sucedido, apesar de Aro torcer por sua derrota.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coração Gelado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.