Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 8
Roubando o Lugar de Confiança




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Maximilian caminhava solitariamente em direção a biblioteca, que havia descoberto existir há uma semana, quando explorava os corredores do castelo, e que imaginava ser a origem dos exemplares que tinham sido levados ao seu quarto.

Nos dias que se seguiram à missão da criança imortal, a Guarda Volturi permaneceu enclausurada dentro do castelo, retornando à sua rotina sem graça, já que eles não faziam nada fora do castelo a não ser que os mestres ordenassem. Feliz era Alec, que, como prometido por Maximilian, vinha sendo doutrinado na arte das batalhas e da luta corpo a corpo. Ele nunca havia sido treinado daquela forma antes, afinal, quando se tem um dom como o dele, qualquer tipo de esforço físico torna-se obsoleto, mas estava adorando a nova experiência e sentia ficar mais forte do que nunca.

O treinamento ocorria durante todas as tardes e um mundo novo se abriu para o gêmeo Volturi, que descobriu ter mais habilidades do que apenas o seu poder especial. Com uma memória privilegiada e um corpo que nunca se cansava, Alec percebeu que conseguia oferecer ainda mais ao seu clã, aprendendo todos os movimentos de Maximilian com rapidez e eficiência, e querendo sempre mais.

Com isso, o camaleão percebeu que, apesar de serem gêmeos, a imortalidade havia se desenvolvido de forma diferente em cada um dos irmãos. Enquanto Alec se mostrava acessível ao contato e era um vampiro fácil de se aproximar, Jane levantava um muro entre eles, impedindo-o de obter qualquer avanço, apesar de morarem no mesmo lugar e de se verem todos os dias.

Quando não estava treinando, Maximilian aproveitava o seu tempo para estudar cada um dos vampiros daquele lugar, descobrindo algumas coisas interessantes sobre alguns deles: (1) Demetri passava seu tempo ocioso jogando xadrez com qualquer um que aceitasse o desafio; (2) Felix usava o tempo livre para reclamar que não tinha nada para fazer ou para implicar com Santiago; (3) Heidi estava começando a demonstrar interesse por ele; (4) Renata era discreta e gostava de ler romances melosos; (5) alguns vampiros de menor escalão saíam durante a noite, para brincar com os humanos e satisfazer suas luxúrias, mas a Guarda não podia sair sem a permissão dos mestres; (6) Alec passava a maior parte do tempo na companhia da irmã, e, depois que começou a treinar, estava fascinado pelo assunto e não falava de outra coisa a não ser lutas e golpes; (7) Jane só dialogava de verdade com o irmão; (8) Jane não jogava xadrez, nem damas, nem qualquer outro jogo; (9) Jane gostava de ler apenas livros de terror; (10) Jane odiava a cor verde; (11) Jane nunca deixava o cabelo solto; (12) Jane não tinha um companheiro vampiro; (13) Jane odiava vê-lo conversando com Alec; (14) Jane nunca pronunciava o nome dele; (15) Jane odiava quando seus caminhos se cruzavam.

Maximilian para diante da porta da biblioteca, percebendo que, de todas as observações que fizera dos Volturis, a maioria delas era sobre Jane.

Ele empurra a porta de madeira e adentra a enorme biblioteca de Volterra, que possuía exemplares tão antigos que já eram considerados raros e desaparecidos no mundo humano. Seus olhos encontraram Jane com facilidade, pois era exatamente por ela que estava ali, contudo, foi Alec o primeiro a se aproximar, largando um livro sobre a cadeira em que estava e correndo em direção ao camaleão.

— Posso testar uma coisa?

— Pode, eu acho – concorda ele, pouco antes de Alec agarrar o seu braço, girar o corpo e o lançar por cima do ombro, fazendo-o cair de costas no chão e automaticamente chamar a atenção de Jane. – O que foi isso? – questiona perplexo.

— Acabei de ver em um livro. Acha que posso usar esse movimento? – pergunta orgulhoso, dando um sorriso irônico ao olhá-lo de cima.

— Com certeza. Isso será muito útil.

Alec sorri com evidente satisfação e retorna para o seu assento, ignorando o fato de que Maximilian permanecia ao chão. O camaleão senta-se rapidamente, a tempo de ver o vampiro apanhar o seu livro sobre movimentos de luta e sentar-se, e de perceber que Jane desviava os olhos dele com um sorriso torto nos lábios.

Ele se levanta e caminha em direção a ela, percebendo que, como sempre, Jane estava na sessão de livros de terror:

— Está satisfeita por Alec ter aprendido um movimento incrível somente por vê-lo em um livro, ou por eu ter me esborrachado no chão? – questiona, tentando puxar assunto, caminhando ao redor dela com as mãos para trás.

— Por Alec, é claro – responde sem interesse, não desgrudando os olhos das lombadas dos livros que estavam sobre a estante.

— Eu posso te ensinar a lutar, se quiser.

— Não quero.

O assunto morre. Ali estava o muro novamente, tornando difícil manter um diálogo com Jane, visto que ela não o queria por perto e sempre lhe dava respostas curtas para que fosse embora logo.

— Já notei que gosta de livros de terror, qual o seu favorito? – pergunta ele, não se intimidando com suas poucas palavras.

— Ela não tem favorito, porque os vilões nunca vencem – comenta Alec de onde estava, respondendo pela irmã. – Jane sempre torce pelos monstros e assassinos.

— Tipo “It, a Coisa”? Você torceu para o palhaço? – lança o camaleão para a vampira, tentando fazê-la falar.

— Até a última página – responde Alec novamente.

— Isso é mórbido. Já pensou em ler algo um pouco mais altruísta, só pra variar?

— Altruísmo é bobagem – responde Jane finalmente, puxando um livro antigo da estante para ver do que se tratava e fazendo o irmão soltar uma risada nasalada.

A vampira se agrada com o livro que escolhera e gira os calcanhares em direção à porta, fazendo menção de sair da biblioteca. Contudo, ansioso por permanecer mais alguns segundos na presença dela, Maximilian avança alguns passos e segura o seu braço com firmeza, impedindo-a de prosseguir.

Como se algo tivesse sido ligado em sua mente, Jane travou o corpo e viu o cenário enevoado de seu passado, viu o fogo crepitando sobre a lenha, lembrou-se do cheiro de carne humana sendo queimada, ouviu as vozes que os condenavam à bruxaria. Recordou-se da forma com que eles a arrastaram para a fogueira, num aperto muito parecido com o que Maximilian efetuava em seu braço e lembrou-se da dor...

Seu rosto tornou-se furioso de repente, pois, de toda a sua vida humana, a memória de seus agressores e do dia em que foi transformada era a única que permanecia em sua mente, tamanho era o ódio que sentia por aquelas pessoas e por todo o sofrimento que a fizeram passar.

Jane se vira para Maximilian com agressividade, agarrando-lhe o pulso e ordenando que a soltasse, fazendo o camaleão se arrepiar com a cena que acontecia diante de seus olhos, pois a fúria da vampira era demais para a situação e seus olhos estavam repletos do mais puro ódio. E como se suas lembranças estivessem conectadas e acontecendo ao mesmo tempo, Alec se colocou de pé, jogando o seu livro para o lado e correndo para afastá-lo de sua irmã, identificando que aquele semblante era o mesmo que ela esboçara naquele terrível dia.

Maximilian não sabia de sua história, desconhecia seu furor ou os fatos que o originaram, mas largou Jane imediatamente, reconhecendo que algo muito ruim havia acontecido aos irmãos, e desejando, mais do que nunca, saber o que era.

— Nunca mais me toque! Nunca mais me persiga ou me dirija a palavra!

— Não posso fazer isso, eu...

— Eu não lhe fiz promessa alguma e tampouco me lembro de seu rosto. Não me interessa os motivos que você acha que possui, fique longe de mim e de Alec! – ordena Jane furiosamente, deixando seus caninos expostos a cada palavra.

Ela se retira com rapidez da biblioteca, caminhando apressadamente em direção ao seu quarto, deixando Alec e Maximilian para trás, em uma atmosfera pesada de conflito e confusão.

— Por que está insistindo tanto? – pergunta Alec depois de um breve silêncio.

— Porque quero me aproximar dela.

— Ela não o quer por perto, já deveria ter notado! – exclama Alec, novamente o acertando em cheio, como se suas palavras fossem tão afiadas quanto um punhal. – Você disse que nos conheceu no passado, mas, como o próprio nome diz, isso é passado!

— Não é passado pra mim, tudo o que sentia quando humano me acompanhou para minha nova vida. Eu a amo e tenho grande consideração por você, como se fosse meu próprio irmão.

— É mesmo? – rosna Alec, com um misto de ironia e maldade na voz. – Então onde você estava quando fizeram aquilo conosco? Onde estava o seu amor e a sua consideração quando aquelas pessoas nos fizeram mal?

— Do que está falando, Alec? O que aconteceu?

— Você sequer sabe. Quer nos convencer de coisas passadas, sendo que sequer estava lá quando precisamos – corta Alec rapidamente, mais como uma decepção do que como um motivo de ódio, dando as costas para o camaleão e saindo da biblioteca atrás da irmã, sem levar livro algum consigo.

Maximilian fica algum tempo ali, parado, pensando em tudo o que acontecera e no estranho comportamento dos gêmeos. Ele compreendia, até certo ponto, que ela não se lembrasse da promessa que lhe fez, mas assusta-o o fato de que a vampira também não se lembrasse do seu rosto ou de seu nome, e acreditava que, seja lá o que fosse que tivesse acontecido a eles, era o principal causador do bloqueio de sua memória.

Semanas se passaram depois do estranho conflito na biblioteca de Volterra e o camaleão não forçou qualquer tipo de aproximação com os gêmeos, concentrando-se unicamente em roubar o posto de favorito dos mestres, que até então pertencia a Jane. Como ele esperava, a missão com a criança imortal fora apenas o princípio de sua vida no clã, porque, nos três meses que se seguiram, muitas outras missões foram realizadas pela Guarda Volturi, todas completadas com maestria e tendo uma participação ativa dele.

Para Maximilian, toda aquela encenação de membro do clã não era nada mais do uma meta, que deveria ser cumprida para que pudesse alcançar um objetivo maior. Tudo na atual vida do camaleão girava em torno de Jane, e, mesmo que apreciasse lutar e que tivesse estabelecido novamente uma certa amizade com Alec, ninguém inundava mais o seu coração e mente, do que a vampira loira, pequena e letal.

O vampiro também havia conquistado certo respeito entre seus companheiros de clã, não a ponto de chamá-los de “família”, mas suficiente para ser ainda mais requisitado nas missões. Apesar de Aro conhecer suas verdadeiras intenções, o mestre não pareceu se importar com o fato do vampiro se empenhar mais em cumprir suas missões do que em conquistar Jane. Ela, porém, tentava não se sentir incomodada com a rotineira presença de Maximilian, que irritantemente parecia estar em todos os lugares em que ela pretendia ir.

Entretanto, a vampira não tinha como ignorar o fato de que ele havia se tornado o vampiro mais falado do castelo. Missão após missão, comentário após comentário, o assunto “camaleão” se espalhou por todas as bocas do clã até que o vampiro se tornasse o novo preferido dos três mestres, devido às suas habilidades de camuflagem e bom desempenho em batalha, enquanto ela nada mais podia oferecer, já que o seu poder continuava bloqueado.

Porém, ela não imaginava que o pior ainda estava para lhe acontecer:

— Preciso de uma visita ao Canadá, meus caros. Há boatos de que a família Allen Scottish anda crescendo perigosamente e precisamos averiguar – explica Aro pacientemente, encarando a todos os membros de sua Guarda como se lhes desse uma palestra. – Ninguém daquela família carrega algo que me seja valioso, por isso, ao menor sinal de irregularidade em seu modo de vida, reduzam o número deles sem pestanejar!

— Isso será bem divertido – sussurra Demetri, fazendo Maximilian e Felix sorrirem em confirmação. Havia tempo que eles não lutavam e, como aquele encargo tinha grande probabilidade de terminar em um conflito, os vampiros ficaram ansiosos por partir.

— Maximilian liderará a missão – revela Aro sem grandes rodeios, fazendo todos os vampiros do salão arregalarem os olhos, incluindo Jane. – Sua camuflagem é o nosso maior trunfo neste caso, mas sugiro que escolha bem a sua equipe, pois o seu sucesso dependerá dela.

— Mestre... – chama Jane suavemente, tentando trazer o líder à razão e argumentar que a inexperiência do vampiro poderia colocar tudo a perder.

— Agora não, Jane, querida, preciso que Maximilian escolha seus companheiros de missão... – Volta-se para o camaleão. – Quem gostaria de levar?

— Demetri, Felix, Santiago e Alec, somente estes! – lista ele, fazendo os dentes de Jane trincarem e a atmosfera do salão se tornar hostil.

— Isso é deveras interessante – comenta Caius –, por que Alec e não Jane?

— Por que é seguro liberar o poder de Alec, mestre, e seu dom será de grande valia para a missão. Em contrapartida, Jane me causaria grande dado se eu a liberasse de meu bloqueio. Não é seguro.

— De certo que não – concorda Aro deslumbrado, fazendo a raiva de Jane crescer ainda mais. – E com o seu dom bloqueado, Jane torna-se inadequada para a tarefa... – conclui, dando uma curta e histérica risada de empolgação.

A cada dia que passava, sem que Maximilian conseguisse se aproximar de Jane Volturi, Aro se tornava ainda mais confiante de seu fracasso em retirá-la do clã. E naquele momento, quando tão claramente ele a descartou, o vampiro pôde experimentar o sabor da vitória com bastante antecipação, já esperando que tal afronta incitasse o ódio da vampira por ele.

Tirá-la da liderança da Guarda havia sido uma jogada estratégica dos três mestres, afinal, com os poderes bloqueados a vampira realmente não tinha serventia nenhuma nas missões e o clã precisava ser temido. Contudo, eles acreditavam que a morte final do camaleão era apenas uma questão de tempo, e, quando ela chegasse, Jane recuperaria seu dom e seria novamente a vampira mais forte da Guarda Volturi. Tudo voltaria a ser como antes, como se existência de Maximilian não fosse mais do que uma poeira na história do clã...

Na sala dos três tronos, Alec se remexe em seu lugar, não sabendo se ficava contente por ter sido escolhido por Maximilian ou desolado por separar-se da irmã. Em contrapartida, Jane estava evidentemente furiosa, esperando até chegar à privacidade de seu quarto para soltar o seu repertório de xingos, em todas as línguas que conseguia falar.

Não ter sido colocada na liderança da missão havia sido um golpe e tanto para o seu ego, afinal, ela sempre fora a preferida de Aro. Porém, não ter sido escolhida para compor o time do camaleão tinha sido bem pior, uma apunhalada sangrenta à sua reputação de cruel e perigosa, afinal, ser rejeitada era um claro sinal de que a consideravam inútil sem o seu dom.

Em sua mente a solução era simples, bastava excluir Maximilian do grupo e, quando se afastasse o bastante dele, seus poderes sairiam de sua zona de proteção e voltariam à ativa. Entretanto, estava mais do que claro que Aro apreciava suas habilidades e o estava colocando numa posição de destaque no clã, preferindo escolhê-lo, em vez dela.

Isso significava que ele não iria mais embora.

— O que ele pensa que está fazendo, afinal? – retruca possessa, depositando sobre ele todo o seu furor, disposta a confrontá-lo diretamente, mesmo que o tivesse mandado ficar longe, somente para descobrir o que ele estava pretendendo com tudo aquilo.


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Notas finais do capítulo

PRIMEIRAMENTE, peço perdão pelo enorme sumiço e por deixa-los na mão com essa fanfic. Nunca tive a intenção de abandona-la, mas os percalços da vida me afastaram da escrita por muito tempo. Estou retornando agora a escrever e estou comprometida a levar Coração Gelado até o fim, já adiantei vários capítulos da história e a inspiração está a mil aqui.
Perdoem-me pela falha, sei que muitos leitores ficaram esperando ansiosos pela atualização. Espero que possam dar mais uma chance para a história de Jane Volturi, porque estou cheia de ideias para esse romance.


SOBRE ESSE CAPÍTULO
Não sei se vocês repararam, mas minha forma de escrever deu uma pequena mudada. Bem, eu acredito que tenha mudado para melhor, rsrsrs, mas acho que só vocês poderão avaliar isso.
Dei um pequeno salto no tempo da história, para não perdermos tempo com coisas desinteressantes. O acontecimento desse capítulo é crucial para o enredo, porque vai acarretar muitas coisas "interessantes", então, espero de coração que tenham gostado do capítulo.

Até a próxima atualização pessoal, que será breve, muito breve.
Tenham uma ótima leitura!



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