Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 34
Que Vença a Melhor Vampira




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Naquele momento, depois de repeli-lo, Jane se afastou de Maximilian sem olhar para trás.

— Minha lealdade é com o clã! Minha lealdade é com clã! Minha lealdade é com o clã! – repetia mentalmente, tentando acreditar que estava fazendo o certo em toda aquela bagunça que se formava em sua segunda vida.

Pelos céus! Quando as coisas tinham se complicado daquela maneira?

Maximilian a amava e ela o estava amando de volta. Contudo, ele estava jurado de morte pelo clã e não poderia mais voltar para Volterra, diferente dela, que jurara lealdade aos Volturis e tinha que honrar sua palavra e voltar para os braços de seu mestre. Se o camaleão soubesse tudo o que se passou com ela, se ele tomasse ciência das memórias recuperadas e do sentimento que agora sentia, não a deixaria partir…

Ela não podia ficar, era uma questão de honra.

E ele não poderia segui-la, era uma questão de amor.

Foi por isso que ela o afastou, impedindo que suas esperanças voltassem a crescer. Jane acreditava fortemente que aquilo daria certo, que ele seguiria o seu caminho se ela o repelisse definitivamente. E com relação ao próprio sentimento, que a vampira acabara de descobrir e ainda não o explorara em sua totalidade, o que seria a dor da distância comparado a dor de ser queimada viva?

Contanto que Maximilian permanecesse vivo e livre de Andrômeda, Jane conseguiria sobreviver. Sua lealdade estava com o seu clã, no fim das contas, e ela não poderia simplesmente quebrar o seu juramento. Ela levava a sua lealdade muito a sério.

— E se esse não fosse o meu real juramento? – pergunta para si mesma, parando de caminhar ao se dar conta do que a própria mente tentava sugerir a ela.

Maximilian havia falado sobre uma promessa, dizendo firmemente que ela havia prometido algo a ele, exigindo que a pendência fosse cumprida. Jane Volturi nunca quebrou sua palavra em toda a sua segunda vida, e, se ela tinha mesmo feito uma promessa ao camaleão...

— Então, talvez, o meu juramento com o clã não valha de nada — sussurra para o vento, experimentando a verdade daquelas palavras como se provasse a melhor iguaria culinária de sua vida, com os olhos cintilando em esperança.

A vampira fecha os olhos com força, voltando a caminhar enquanto pensava numa forma de se lembrar daquele fragmento específico de seu passado. Como ela poderia acessá-lo? Como poderia induzir uma lembrança, depois de tanto tempo ignorando-a e a reprimindo?

Jane traz à memória as recordações que tivera até aquele momento, pensando no fragmento e na situação que o desencadeou, encontrando certo padrão naquela loucura toda. O primeiro flash aconteceu quando Alec se recusou a falar com ela, desencadeando uma lembrança bastante parecida com aquilo. Depois foi o momento em que Maximilian tocou os seus cabelos, ainda em Volterra; depois quando devolveu o relicário que agora ela trazia pendurado no pescoço; e depois quando Andrômeda citou a palavra “mar”.

Todas as suas recordações tiveram gatilhos específicos e que correspondiam perfeitamente com a memória. Tudo o que precisava fazer agora, era encontrar o gatilho certo.

Ela para de caminhar novamente, mantendo-se de olhos fechados e pensando em tudo o que conseguia para ativar a parte adormecida de sua mente. A promessa deve ter sido feita em um momento importante, pois Maximilian a levou consigo para sua segunda vida, porém, ele foi embora quando ainda eram crianças… Sim, ele foi embora! Ele disse que a amava e depois partiu.

— Provavelmente houve uma despedida. Despedidas são sempre ruins e dolorosas. Deve ter sido um momento importante, e rodeado de tristeza, e de lágrimas – cogitava sem parar, forçando suas memórias adormecidas a retornarem. – Eu o amava e certamente não queria que fosse embora. Devo ter prometido algo neste momento, tem que ser neste momento – repete, apertando as têmporas com força.

E então aconteceu.

Um leve formigamento surgiu na base do seu crânio e se espalhou por toda a sua cabeça, enevoando seus olhos vermelhos e a sugando para a hora e o momento que mais desejava se lembrar. Jane não levou mais que um segundo para reconhecer os três pequenos vultos que conversavam.

A versão infantil de Alec desfazia o abraço em seu amigo Max, e a vampira sentiu a tristeza antes que as palavras deixassem os lábios da pequena Jane:

Por que você tem que ir embora? – questiona com voz chorosa, esfregando os braços no rosto para enxugar as lágrimas que já começavam a cair. Ela já havia entregado o relicário a ele e o abraçado, mas não se conformava com sua ida.

Ele não tem escolha, Jane, o pai dele é que manda – diz o pequeno Alec com voz doce, tentando amenizar a situação e ajudá-la a não sentir sua partida.

Desculpe, Jane. – Agora era Max, que parecia tão ferido quanto ela.

Maximilian, vamos logo!!! – ordena a voz grave de um homem adulto, alguém que a vampira julgou ser o pai dele, devido ao tom autoritário.

Você disse que gostava de mim… – lança a pequena Jane, e a vampira sentiu toda a extensão do seu amor infantil e de sua tristeza por vê-lo partir, uma mistura de sensações que comprimiu o seu peito.

E eu gosto, Jane… Gosto muito!

Maximilian, entre na carruagem agora!!! – manda a versão enevoada de seu patriarca, aproximando-se do filho para obrigá-lo a partir, como se já estivessem bastante atrasados.

Me espere, Jane! – pede Max subitamente, tocando no rosto dela uma última vez, antes de ter seu braço esquerdo agarrado por seu progenitor.

Está bem – responde ela já em prantos.

Eu volto pra buscar você, eu prometo que volto! – grita o pequeno Max, sendo arrastado em direção à carruagem sem que pudesse lhe dar ao menos um beijo de despedida, levando consigo apenas o relicário pendurado em seu pescoço.

Está bem – grita entre soluços, enquanto Alec segurava a sua mão e tentava lhe dar força. – E quando voltar, eu prometo que irei embora com você. Prometo que ficaremos juntos para sempre!!!

A névoa escurece de repente, trazendo a vampira de volta para o mundo real enquanto a última palavra de sua lembrança ecoava por sua mente. Jane agarra sua blusa na altura do coração antes mesmo que sua visão se tornasse clara novamente, sentindo uma profunda tristeza se instalar ali, ao mesmo tempo em que seu rosto se contorcia em lamento.

Aquilo tinha sido triste e intenso. Como ela pudera se esquecer de algo como aquilo? Como pudera apagar completamente os vestígios daquela história de amor? Como ela pôde permitir que o ódio pelas pessoas de seu vilarejo sobrepujasse tudo o que sentiu por Maximilian? Ele prometeu que voltaria e voltou. Ele pode não ter consigo voltar quando humano, mas voltou quando se transformou num imortal, e a vampira não conseguia se perdoar por tê-lo esquecido.

Entretanto, ela estava certa!

— Meu juramento com o clã não é válido – sussurra para si mesma, pois dedicara a sua lealdade a Maximilian muitos anos antes dos Volturis e não poderia ter feito isso para mais ninguém. Jane Volturi nunca voltava atrás com sua palavra, e, diante de tal fato, um peso imenso pareceu cair de seus ombros.

Ela não precisaria mais se separar dele, não necessitaria mais retornar ao clã para honrar seu juramento porque ele não era legítimo, e não tinha mais que esconder tudo o que vinha lhe acontecendo com a intenção de repelir Maximilian porque o seu lugar era realmente ao lado dele, “juntos para sempre”. Agora, Jane poderia simplesmente completar sua missão e ficar ali, com ele e com…

— Alec – pronuncia num resfolegar, lembrando-se subitamente que o irmão ainda permanecia no castelo e que não poderia deixá-lo lá. Por que aquela coisa de amor tinha que ser tão difícil?

Seu irmão era o seu companheiro fiel desde antes da transformação, ficar longe dele era terrivelmente difícil e Jane não via possibilidade de trilhar um caminho sem ele. Não, impossível! Ela teria que buscá-lo!

A vampira olha ao redor, finalmente tentando se localizar, já que andara sem rumo durante bons minutos. Ela não estava tão perdida, no fim das contas, estando bem próxima do local em que conversara com Andrômeda dias antes, o local dos horrorosos bonecos de neve, que, estranhamente, parecia bem diferente da última vez.

Jane se aproxima com passos rápidos, observando todo o cenário para identificar o que havia mudado ali. Sua inimiga ainda apresentava riscos e a vampira sentia seus instintos apitarem em sua cabeça somente por estar ali, como se a “diferença” que estava procurando fosse a chave para entender Andrômeda completamente. Seus instintos nunca a deixaram na mão, e se eles diziam que aquele detalhe era importante, então realmente era.

O boneco feio e pequeno que a representava continuava sem cabeça, do jeito que Andrômeda o deixara; o boneco alto com enfeite no cabelo que representava a nômade continuava com a cabeça partida ao meio, como ela o havia deixado; mas o terceiro boneco, o que representava Maximilian, não estava mais em pé.

Os pedaços do corpo de neve estavam ao chão, em pelotas, como se tivessem sido golpeados inúmeras vezes até que o boneco caísse por completo. Ao lado jazia um galho de árvore grosso o suficiente para fazer aquele tipo de trabalho, e diante da cena que nitidamente representava raiva e desejo de ferir, Jane xingou-se mentalmente por ter sido tão ingênua com relação às intenções de Andrômeda.

— Ela não o queria de volta para levá-lo embora, queria de volta para matá-lo!

Ainda sentindo a tristeza de sua despedida pairando sob sua mente, a vampira girou em seus calcanhares e correu de volta para a casa. Algo havia mudado no interesse de Andrômeda por Maximilian, e um terrível pressentimento de que ele iria partir novamente atingiu a Volturi, mas que, diferente do que aconteceu no passado, ele partiria para sempre.

— Eu não vou perdê-lo de novo! – grita para o vento, sentindo tal ideia reacender a sua costumeira raiva e energizar o seu corpo e a sua vontade de lutar. Andrômeda morreria ainda naquele dia, e nada a impediria de completar este objetivo.

A primeira coisa que Jane captou, assim que a pequena casa retornou ao seu campo de visão, foi o grito angustiado de Maximilian, que arrepiou toda a sua coluna e pele como um terrível mau presságio. Seus olhos localizam ambos os vampiros rapidamente, do lado de fora da construção, e suas pernas deram tudo de si quando o camaleão gritou novamente, numa tonalidade que expressava unicamente dor e desespero.

Seja lá o que Andrômeda o estivesse mostrando, a vampira sabia que era algo extremamente doloroso e que sua inimiga pagaria por cada segundo de tortura que estava depositando sobre ele naquele momento.

Mesmo correndo diretamente para o vampiro e mesmo que ele praticamente estivesse olhando para ela, Jane sabia que Maximilian não a estava enxergando de verdade, já adivinhando que suas pupilas estavam dilatadas em excesso e que sua mente estava presa numa poderosa influência. Com seus olhos experientes ela visualizou a pele retalhada na base de seu pescoço e rapidamente retirou a adaga da bainha em sua cintura, ajeitando a arma na mão direita e atirando contra Andrômeda assim que julgou que a distância estava adequada.

A petulante vampira estava posicionada exatamente atrás dele, com a boca manchada de sangue e olhando diretamente para ela, como se a desafiasse a vencê-la no duelo que sabia que aconteceria. E quando a lâmina afiada foi lançada em sua direção, Andrômeda desviou-se com um movimento desengonçado, fazendo Jane rosnar de raiva e avançar contra ela, chocando os seus corpos e a levando diretamente para o chão.

Ambas as imortais caem sobre a neve, rolando pelo chão gelado até pararem com Jane em posição de vantagem, de caninos expostos e o semblante furioso. Andrômeda rapidamente levanta os braços para se defender das mãos que vieram em seguida, em direção ao seu pescoço.

Jane era pequena e a nômade não encontrou dificuldade em inverter as posições. Com uma pancada no rosto e um puxão no braço direito, ela arrancou a Volturi de cima de seu corpo e a jogou de cara na neve, rolando para o outro lado e avançando em direção a adaga que estava largada a poucos metros de distância.

A vampira se coloca de pé logo em seguida, perseguindo a nômade em seu estranho vestido de festa, que tornou-se subitamente valente ao colocar suas mãos na mesma arma que a Volturi lançara sobre ela momentos antes. Jane pausa por um segundo, assumindo uma posição ofensiva e esperando a investida que sabia que aconteceria.

— Gostava mais de você quando pensava que estava morta, pequena Jane!

— É claro que gostava, porque assim Maximilian não a trocaria por mim! – responde sarcástica, fazendo a vampira rosnar.

Andrômeda avança em sua direção com a lâmina em riste, tão previsível e clichê quanto ela esperava que fosse. Todavia, antes que pudesse alcançá-la, a nômade sentiu uma estranha energia invadir os cantos de sua mente. Seus olhos se cruzam com os de Jane pouco antes da dor começar a acertar o seu corpo, crescendo e se espalhando como se ela tivesse sido jogada na mesma fogueira que fizera Maximilian acreditar existir.

Gritos agudos escaparam dos seus lábios, fazendo-a soltar a adaga e rolar sobre o chão gelado na tentativa de “apagar” aquilo que lhe queimava. E Jane apenas assistiu o seu desespero, esboçando um sorriso maldoso nos lábios enquanto a mente mantinha-se conectada à dela.

— Oh, pobre Andrômeda, isso já está doendo? – pergunta com ironia, mesmo que a oponente não tivesse controle sobre a própria voz para lhe responder. – Estou lhe dando só um pouco do meu poder e você já está berrando como um humano histérico…

Ela cessa seu ataque subitamente, permitindo que a nômade recobrasse um pouco de sua razão e a olhasse com olhos aterrorizados. Aquela era realmente a pequena Jane de quem Maximilian tanto lhe falava? Andrômeda sabia que ela era uma Volturi e conhecia a sua fama, mas nunca tinha estado frente a frente com Jane Volturi até aquele momento, e, por isso, desconhecia o potencial de seu dom.

A vampira se aproxima lentamente, parando próximo ao corpo da nômade e a olhando de cima, apenas para evidenciar quem estava no controle e quem nitidamente venceria aquele ridículo duelo.

— Seu erro foi me subestimar. Deveria ter levado a sério o que dizem sobre mim… Sua tola! Você é, de longe e de perto, a vampira mais burra que já ousou mexer no que me pertence! – declara com raiva, fazendo Andrômeda lançar um olhar rápido para Maximilian. – Eu não olharia para ele, se fosse você! – alerta, infligindo-a com uma nova onda de dor antes que pudesse fazer qualquer outra coisa contra a mente do camaleão.

E assim Jane brincou com ela, fazendo a dor começar pequena e aumentar gradativamente até chegar ao seu ápice, com a vampira gritando e urrando até que não pudesse mais encontrar a própria voz. Andrômeda sentiu como se um mar de fogo a estivesse tragando e desejou intensamente implorar pela morte final, contudo ela sequer achou sua fala, e sofreu calada cada segundo de tormento que a Volturi impôs sobre sua mente.

A vampira esboçava um sorriso cruel e sentia o prazer da tortura formigar por sua pele, pois isso a lembrava do motivo de ser tão temida, de causar terror por onde passava e de fazer tremer até o maior dos vampiros. Ninguém encostava nos gêmeos Volturi ou os confrontava e saia ileso, e ninguém tocava em algo que lhes pertencia, sem pagar o preço por tal ousadia…

Maximilian era dela e ninguém poderia tocá-lo a não ser ela.

Porém, ao se lembrar dele, a lembrança de seu ferimento voltou à mente de Jane e ela viu toda a sua satisfação com a tortura de sua inimiga desaparecer.

— Você não merece a minha atenção – rosna para o corpo de Andrômeda, que estava tão retorcido ao chão quanto o corpo de um endemoniado, neutralizado e mudo pela intensa dor que a assolava.

Com um movimento rápido Jane se coloca sobre a nômade, prendendo o seu tronco com as pernas e puxando sua cabeça até que ela se desligasse do pescoço. O corpo, antes tenso e retorcido, relaxa abruptamente enquanto a Volturi esmagava o crânio com as mãos. E para se certificar de que Andrômeda permaneceria morta até que tivesse tempo de limpar toda aquela bagunça, a vampira arrancou-lhe membro por membro, com movimentos rápidos e precisos dividindo-os em duas pilhas antes de dar-se por satisfeita.


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Notas finais do capítulo

Especial de Natal (1/3)
Hoje é véspera de Natal, mas já começo a lhes entregar o meu presentinho para vocês. Desejo um Feliz Natal para todos vocês, com meus mais sinceros votos de amor, felicidade e paz!!! Espero que gostem da trinca de Natal e que ela aumente a alegria desta festividade tão bonita.



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