Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 33
Investida




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Os lábios de Jane eram doces como ele sempre imaginou que seriam, e macios, encaixando-se aos dele como se tivessem sido desenhados um para o outro. E a sensação para ela não era diferente, pois a vampira reconhecia aquela boca e aquele toque de sua última recordação, e apreciou tanto o sabor dos lábios dele que suas mãos automaticamente deslizaram pelos braços masculinos e agarraram sua camisa com força.

Maximilian esperou tanto por aquele momento, por tê-la novamente nos braços e transmitir todo o seu sentimento por ela... E a vampira realmente o sentiu. Jane sentiu o carinho de suas mãos, sentiu o amor através de seus lábios, lembrou-se de sua imagem e o reconheceu como sendo o seu Max. Naquele momento e naquele beijo ela sentiu a dimensão de seu sentimento, percebendo-se verdadeiramente conectada a ele e constatando que também o amava.

Espera… O amava?

A vampira o afasta com um movimento brusco, chocada com os seus próprios pensamentos, recuando abruptamente até que o seu corpo miúdo se chocasse contra uma árvore. Ela amava Maximilian? Não podia ser, não era para acontecer, não era para ser assim...

Maximilian se aproxima novamente, tentando conter a urgência em seu coração, que clamava por mais um pouco daquele beijo e por mais um pouco dela. Ele ativa sua camuflagem mais uma vez, deixando que sua pele ficasse corada e o seu cheiro humano a envolvesse lentamente, inebriando seus pensamentos e a libertando daqueles estranhos questionamentos sobre o amor.

Jane podia sentir o poder de la tua cantante. Tudo nele cheirava bem, tudo nele a atraía e fazia sua pele formigar, e, mesmo que aquilo fosse somente um truque, a vampira não conseguia e não queria mais resistir àquela influência. Vagarosamente, o camaleão ergue a mão direita e toca o rosto feminino com carinho, fazendo-a fechar os olhos instantaneamente e cheirar o seu pulso.

A vampira não ofereceu resistência quando ele a beijou novamente, fazendo seu corpo entorpecer e sua pele se arrepiar com tão intensas sensações. Maximilian, em contrapartida, sente o corpo vibrar, quase como se o seu coração estivesse batendo novamente, tamanha era a sua alegria. Porém, num momento de desatenção, o vampiro permitiu que os lábios de Jane o escapassem, sentindo-a passar os lábios ousadamente pela linha de seu maxilar e descer pelo seu pescoço com beijo suaves.

Ele a amava tanto, que se derreteu com a carícia e não se importou quando Jane afastou a gola de sua camisa com dois dedos, inalando o aroma de sua pele na curva de seu pescoço. Suas mãos lentamente descem pela lateral do corpo feminino e apertam sua cintura com força quando, inesperadamente, ela afunda seus caninos em sua pele, o mordendo. Uma corrente de eletricidade e êxtase percorre o corpo de Maximilian subitamente, deixando um gemido rouco escapar por sua garganta, um som que também fez o corpo dela estremecer.

Jane morde la tua cantante, despertando momentaneamente do poder que a camuflagem exercia sobre si assim que o primeiro gole de sangue acertou seu paladar. Aquilo estava errado, inteiramente errado. O cheiro que o vampiro exalava era la tua cantante, porém, o sabor não o era, visto que nenhuma gota de sangue no corpo de Maximilian era realmente dele, mas roubado de outro ser humano.

Ela se afasta de seu pescoço, confusa com as diferentes informações que seus sentidos estavam captando, mas envolvida demais para afastá-lo novamente, permitindo que a proximidade e o contato corpo a corpo permanecessem.

― O que você está fazendo comigo? – questiona de repente, apoiando a testa em seu ombro e sentindo a confusão abalar-lhe a mente como uma tempestade.

― Estou amando você... Como sempre amei e como sempre vou amar! – Houve um breve silêncio. – No que você está pensando?

― Eu não entendo, não me entendo... – Pausa, sem ter coragem para olhá-lo, sentindo aquela sensação de calor em seu peito novamente. Ela não queria sentir aquilo, nunca quis nada que viesse dele, mas, ainda assim, a sensação continuava ali, crescendo e se fortalecendo com tudo o que vinha de Maximilian.

Jane se cala de súbito, com a cabeça entorpecida e já não sabendo mais do que estava falando ou sobre o que estavam conversando. Naquele segundo, tudo o que ela queria era mais daquele beijo e tudo o que pensava era em tocar os lábios dele novamente.

― Eu te amo, Jane – diz Maximilian, tocando levemente sua mão esquerda.

A vampira podia sentir os lábios um pouco acima de seus ouvidos, já que sua estatura era menor que a dele. Contudo, aquela confissão a fez trincar os dentes e fechar os olhos rapidamente, sentindo aquela “coisa” dentro de seu peito se agitar diante de tais palavras.

— Eu também – pensa ela automaticamente, apertando os lábios antes que a frase fosse pronunciada em voz alta.

Ela tenta se manter distante daquelas sensações, distante daquela confissão, mas sabia estar falhando miseravelmente. Antes, era fácil se distanciar e não demonstrar nada além de apatia, porque tal comportamento lhe era tão natural quanto tomar sangue. No entanto, agora ela precisava forçar a indiferença, forçar o controle, e continuar forçando para mantê-las porque Maximilian e todas aquelas recordações a estavam mudando. Jane sabia que estava trilhando um caminho sem volta por estar amando-o de volta, porém, amá-lo não mudaria nada. Ela era o braço direito de Aro e os Volturis fizeram mais por ela do que poderia lhes pagar, sua lealdade estava com eles devido ao juramento que fez e, no fim de tudo, a vampira retornaria para o seio de seu clã sozinha, porque o camaleão não poderia acompanhá-la jamais.

Se ele retornasse, morreria, e Jane não iria permitir tal coisa. Por isso sua decisão era simples: ao final daquela missão eles se separariam, não haveriam confissões ou revelações de sua parte, e não haveriam esperanças para Maximilian, pois assim ele não a seguiria mais, permaneceria vivo, e ela poderia corresponder a lealdade que jurou ao seu clã.

― Pare de fazer isso – sussurra em resposta, fazendo-o franzir a testa.

― Fazer o quê?

― Isso! – O empurra com força, afastando seu corpo e cheiro para ter controle sobre si mesma novamente. – Você fica tentando me lembrar de uma promessa que não me recordo de ter feito e não para de falar sobre amor, retirando o meu foco do que realmente é importante!

― Jane, eu...

― Pare de me atrapalhar! Eu tenho uma missão e você está me atrapalhando. Afaste-se de mim e pare de me seguir! – alerta com toda a frustração que estava sentindo naquele momento, afastando-se em seguida em direção a fronteira da propriedade.

Maximilian agarra a árvore em que ela estava com ambas as mãos, apertando o tronco grosso com força e ferindo sua casca. Ele encosta sua testa na superfície áspera, afetado por estar sendo nitidamente rejeitado pelo amor de sua vida.

― Você se aproxima, você me abandona, me machuca pouco a pouco... Qualquer progresso é seguido de um grande regresso, um passo para frente e vinte para trás – esbraveja ele consigo mesmo, a esperança quase desaparecendo de vista enquanto a vampira novamente o repelia. – Estou ficando cansado disso, cansado de não ter você…

Ele não tinha certeza se ela o amava, Jane parecia estar mais aberta e acessível do que quando a encontrara pela primeira vez, mas nada do que ele fazia estava dando certo e a frustração o estava consumindo por dentro. Andrômeda já estava por ali e, assim que Jane a pegasse, tudo chegaria ao fim, literalmente, porque ele sabia o que os Volturis fariam depois… Ele estava ficando sem tempo.

O vampiro a vê se afastar mais a cada segundo e retorna para a residência na sequência, deixando de segui-la como ela mesma ordenara, e sentindo a derrota amargar ainda mais em sua boca. Maximilian entra na casa arrastando os pés, jogando-se sobre o sofá e pensando em sua própria mediocridade por quase vinte minutos inteiros, até ouvir o som de passos se aproximando da porta.

Não querendo encarar Jane depois de ter sido descaradamente rejeitado, o camaleão fixou os olhos no teto e esperou que ela adentrasse o cômodo. Contudo, quando a porta se abriu e os passos pararam junto ao batente, um calafrio atravessou o corpo do vampiro, fazendo-o perceber que aquela presença não pertencia a sua Jane.

— Olá, Maximilian! – cumprimenta uma voz feminina, fazendo todo o corpo do camaleão ficar tenso e se levantar do sofá lentamente, como um zumbi saindo de um túmulo.

— Andrômeda – sussurra com dificuldade, quase não encontrando a própria voz.

— Sentiu minha falta? – questiona com um sorriso irônico, dando três passos em direção a ele. – Own, parece triste… Você e a pequena Jane combinam tanto e trocam beijos tão intensos e apaixonados. Sinto muito que vocês tenham brigado – menti perceptivelmente, fazendo beicinho e deixando óbvio que estava os vigiando o tempo todo.

— N-não acho que você sinta... – gagueja, recuando a mesma quantidade de passos para se manter longe dela, mesmo que qualquer tentativa de fuga fosse inútil diante de seu poder.

— Realmente, não sinto. – Sorri. – Você me conhece tão bem...

— Veio me buscar? – pergunta, apenas para ganhar tempo, torcendo para que Jane aparecesse o quanto antes e desse fim àquela maldita missão, e àquela maldita vampira.

— Não – confessa, o surpreendendo. – Eu vim para matá-lo!

— O quê? Não, isso não é possível… Vo-você precisa de mim, do meu poder...

— Ora, Maximilian, não se faça de tolo! Não se dê um valor maior do que realmente merece – rebate, tentando mostrar-se indiferente a ele e a utilidade de sua camuflagem. – Vai me dizer que não reconheceu o meu majestoso dedo na emboscada que sofreu dias atrás?

— Foi você?

— Claro que sim! Oh, céus, não seja tão ingênuo, isso me decepciona… Seu dom realmente me é útil, de certa forma, mas você sempre foi descartável para mim. Eu posso me virar muito bem sozinha, no fim das contas. Estive só antes de você e posso fazer o mesmo depois de você. – explica detalhadamente, não querendo que restasse dúvida alguma sobre aquele ponto. – Ordenei a emboscada para não precisar me expor diante do clã Volturi, juntar aqueles bastardos foi tão fácil quanto manter você em minha coleira durante todos esses anos, nada que uma fútil influência e a promessa de riquezas não resolvesse… Uma pena que a pequena Jane tenha aparecido e atrapalhado tudo, não é? – Pausa, esperando uma resposta que não veio. – Porém, tudo dará certo dessa vez, pois a sua favorita não poderá socorrê-lo novamente...

— Do que está falando?

Andrômeda o encara fixamente, deitando lentamente a cabeça para o lado enquanto despejava sobre a mente dele todo o cenário que criara para aquele momento. Maximilian não percebe a alteração nas próprias pupilas ou a manipulação que já acontecia em sua mente, ele não tinha defesas e nunca sentia quando a influência de sua criadora o afetava, bagunçando sua mente e o aprisionando.

Tudo o que o vampiro sentiu foi o cheiro de algo queimando e, quanto mirou a janela atrás da vampira, viu uma densa fumaça se espalhando pelo lado de fora.

— O que você fez? – pergunta subitamente, arregalando os olhos e elevando a voz, sentindo uma nova onda de pânico o invadir.

— Own… – murmura manhosamente, fazendo um pequeno bico como se tivesse que explicar o óbvio para uma criança. – Eu matei a pequena Jane!

Maximilian sente uma pontada atravessar o seu peito. Aquilo não podia ser verdade, eles haviam se separado a pouco tempo, Jane era uma vampira experiente e estava novamente no controle do seu poder, como ela poderia perder? Andrômeda não gostava de lutar e sempre temeu os Volturis, como ela poderia ter vencido? Todavia, havia fumaça e fogo do lado de fora, e, a cada segundo, o camaleão convencia-se de que aquilo era verdade.

— Não, não, não! Não pode ser verdade… Você sabe o quanto ansiei encontrá-la, sabe o quanto eu a amo, você não pode ter feito isso comigo… Você não pode!

— Posso sim, e fiz… Se você duvida, pode ir lá fora olhar – sugere maldosamente, realmente fazendo o camaleão passar por ela como uma flecha e atravessar a porta com urgência, olhando para o lado em que antes passeara ao lado de Jane e vendo as fortes chamas ardendo sobre um corpo inerte.

— Não!!! – grita Maximilian, levando as mãos a cabeça e caindo de joelhos sobre a neve, sentindo novamente a pontada atravessar o seu peito como se tentasse arrancar um pedaço de seu coração.

Ele podia ver a fogueira em seu quintal, queimando o corpo de sua amada Jane. Não havia dúvidas quanto a isso, pois Maximilian também via o relicário da vampira poucos centímetros a frente das chamas, como uma prova incontestável de que o fogo a tinha tragado e ele a tinha perdido novamente. Seu rosto estava contorcido em dor e o vampiro não tentou conter os berros aflitos que vibravam de suas cordas vocais.

Por que ele a deixou só novamente? Por que ele não estava lá quando precisou? Por que tudo com ele dava errado? Quão amaldiçoado ele poderia ser para conseguir perder o amor de sua vida duas vezes?

A dor em seu peito era insuportável, ainda mais forte e cruel do que quando pensou que Jane estivesse morta pela primeira vez, e seus lábios não conseguiram expressar nada além de seu desespero. Maximilian estava sofrendo terrivelmente e Andrômeda o odiou ainda mais por isso.

— Como pôde me deixar por causa dela? – pergunta retoricamente, enquanto se aproximava e se colocava atrás do corpo masculino, ainda o manipulando com sua influência para que ele sofresse até o último segundo. – Como pôde me trair depois de tudo o que eu fiz por você? Eu o livrei da vida mortal, te dei uma segunda vida e te ensinei a sobreviver... Tudo o que você precisava fazer era se dedicar a mim e me conceder o seu poder, mas como foi que me retribui? Fugindo para os braços de outra vampira e retornando com uma maldita armadilha!!! Desejando e arquitetando minha morte, se portando como se eu fosse a inimiga!!! Como se atreve a se voltar contra mim?

Andrômeda agarra os cabelos castanhos com força, com os dentes trincando em fúria, levantando o rosto do camaleão e o obrigando a encarar o fogo que só existia aos olhos dele, enquanto afastava a gola de sua camisa com a mão livre.

— Você achou mesmo que podia me pegar com uma estratégia tão ridícula? Tentando me atrair para esta casa como se eu não fosse notar a presença dela? Meus peões foram incompetentes ao matá-lo, mas eu não serei! Eu lhe dei a segunda vida, Maximilian, e a tirarei de você porque ninguém sentirá a sua falta, seu traidor de merda!!! – rosna, deixando toda a sua raiva fluir através de uma mordida diretamente na base do pescoço masculino.

A vampira afunda os dentes na pele branca com força, puxando as presas para cima na sequência e rasgando sua pele com a intenção de fazê-lo sangrar até que não houvesse mais reservas de sangue para uma regeneração. A dor se espalha pelo local rapidamente, fazendo as pupilas do camaleão tremerem enquanto a ilusão em sua mente se tornava mais fraca.

Maximilian grita com a dor ao lado de seu pescoço, baixando o rosto e vendo, através de sua visão periférica, a fogueira a sua frente tremeluzir. Ele leva a mão ao ferimento e olha para o fogo com dúvidas, aquilo era mesmo real? O que estava realmente acontecendo? O crepitar das chamas parecia real, mas, o vulto que via através delas não parecia... Quem, em sã consciência, iria pensar em caminhar em direção a um fogo intenso daquele?

A silhueta atravessa as chamas correndo, como se nenhuma delas pudesse atingi-la. Seu rosto estava carregado de fúria, levando o vampiro a pensar que estava realmente a beira da morte final, porque aquela pessoa possuía o rosto inconfundível de sua Jane.

— Jane!? – questiona meio incerto, pois ainda não estava livre da influência de Andrômeda e não sabia o que realmente era verdadeiro em tudo o que via.

A vampira segurava a adaga de sua família nas mãos, pela lâmina, e quando julgou estar próximo o suficiente lançou a arma branca contra alguém que estava atrás dele. Ela estava furiosa e rosnou alto quando avançou contra seja lá quem fosse…

O fogo se intensificou diante dos seus olhos subitamente e Maximilian não viu mais nada além dele.

Ele não se lembrava mais se estava acompanhado e não se recordava que tinha sido gravemente ferido, simplesmente porque Andrômeda não queria que ele se lembrasse. Sua mente estava uma bagunça. Sua criadora o desejava morto e não queria que ele soubesse o que o atingiu, pois ansiava fazê-lo sofrer, e sofrer, e sofrer, por sua grotesca traição e por não corresponder a ambição dela, culminando em sua morte e em seu desaparecimento daquele mundo.

Tudo o que Maximilian sabia, era que Jane estava naquela fogueira, morta, e que ele a tinha perdido novamente.


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