Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 32
Histórias Ocultas




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― Já teve alguma ideia de como pegá-la? – pergunta Maximilian, encostado no batente da porta de seu quarto, olhando para a vampira que permanecia deitada sobre a cama e encarava o teto pensativamente.

― Já disse que não vou falar com você sobre esse assunto! Sua parte na missão acabou, o que farei agora não lhe diz respeito – retruca Jane, fugindo do assunto para que ele não percebesse que ela ainda não tinha conseguido planejar nada.

Droga! Ela estava se saindo muito mal naquela missão.

― Devia tê-la abatido naquele momento, quando tinha vantagem. Onde eu estava com a cabeça por querer ser prepotente em vez de matá-la? – acrescenta em pensamento, sentindo-se idiota por ter se envolvido tanto com aquela conversa e as ameaças, e ter deixado aquela oportunidade de ouro passar.

Dois dias se passaram depois que a vampira encontrou Andrômeda pelas redondezas e ela adquiriu mais um irritante fragmento de seu passado. Agora, como consequência daquela lembrança, ela não conseguia mais deixar Maximilian sozinho e todo o seu plano de usar o camaleão como isca escorria pelo ralo.

Sim, apesar de não ter uma estratégia inteiramente traçada, Jane pretendia usá-lo como isca para pegar Andrômeda. E sim, ela sabia exatamente quando tal plano se tornou absurdo aos seus olhos: quando se deu conta de que Maximilian lhe era tão importante quanto Alec, e que, por isso, ela não deixaria que a nômade o tocasse.

O camaleão se aproxima da cama e se deita ao seu lado, fazendo-a fechar o olhos instintivamente com a proximidade. Será que ele não percebia que aquela cama era pequena demais para ambos? Bem, ele sabia, mas ignorava este detalhe, desejando apenas se manter perto dela como vinha fazendo em todos aqueles dias.

Jane percebia isso agora, percebia que, desde que estavam no castelo, ele constantemente a estava procurando e buscando se manter por perto, alimentando-se de sua presença. Ela sempre se achou a mais inteligente da Guarda, no entanto, sentia-se tola por não ter notado aquilo antes, por ter tomado suas aproximações como perseguições ou como formas de afrontá-la.

Quanto um único vampiro poderia ser idiota, sem ser considerado um energúmeno? Se existisse uma média, Jane sabia que já a tinha ultrapassado.

Era estranho pensar em sentimentos, pensar que ela tivera sentimentos no passado e que eles estavam retornando no presente, como se a terra congelada de seu coração estivesse sendo quebrada por Maximilian e adubada por todas as suas recordações, fazendo muitas coisas brotarem em seu interior ao mesmo tempo, algumas compreensíveis e outras ainda incompreensíveis.

Ela não sabia dizer o que sentia por ele, se amizade, familiaridade ou amor.

Amor? Não, impossível! Aquela era a opção mais inviável.

Jane sente algo tocar o meio de sua testa, levando-a a abrir os olhos e encarar a mão do camaleão, que tocava sua pele com um único dedo. Ela o encara em seguida, percebendo como o pouco espaço daquela cama deixava o rosto dele próximo ao seu.

― No que você está pensando tanto? – questiona ele, massageando sua testa franzida.

― Em você – pensa ela, pressionando os lábios para impedir aquelas duas palavrinhas de saírem, porque elas já estavam na ponta de sua língua. – Nada. – responde depois de algum tempo, apenas para não deixá-lo sem uma resposta.

Aquilo era ridículo!

Noutros tempos Jane Volturi o ignoraria e o deixaria no vácuo facilmente, mas, agora, ela ficava preocupada em não deixá-lo sem uma resposta, mesmo que fosse uma resposta mentirosa. Tal atitude era ridícula aos seus olhos, uma coisa de garota humana, algo que somente a pequena Jane se preocuparia em fazer.

― Eu sou a pequena Jane… Depois de muito tempo e muitos acontecimentos... – esclarece em pensamento, dando-se por vencida. Sua mente parecia seguir uma linha contrária aos seus instintos e comportamentos, e, se ela não os alinhassem logo, sentia que enlouqueceria.

― Você não sabe o que fazer com Andrômeda, não é? – arrisca Maximilian, acreditando que era aquilo que a preocupava, não se dando conta de que os pensamentos da vampira já estavam em outro lugar. – Se quiser, podemos voltar para Volterra e retornar com Alec. Vocês sempre ficam mais fortes juntos, certo?

― Se voltarmos, você morre! – pensa novamente, medindo a verdade daquelas palavras e sentindo raiva por ele sugerir algo tão perigoso. – Eu sei exatamente o que fazer com ela! – responde por fim, deixando sua súbita raiva transparecer.

Maximilian retira o toque de sua testa e fecha os olhos por um momento, buscando algum meio de atrair Andrômeda para uma armadilha. Sua criadora era esperta, mas ele não esperava que fosse tanto assim, a ponto dela descobrir suas presenças ali e logo pressentir a emboscada. Quando Jane lhe contou o contato que tivera com ela e o que descobrira, ele sentiu que não a conhecia tão bem como imaginava.

― Pare de pensar nisso – ordena Jane, sentando-se na cama e ajeitando sua trança com seus dedos ágeis. Pensar em fazer penteados elaborados era a última coisa que ela estava se preocupando nos últimos dias, optando pela praticidade de uma trança simples e comum.

― Você nem sabe no que estou pensando. – Ri.

― Está tentando fazer o meu trabalho! Eu já disse para não se meter na minha missão! – esbraveja ela, fazendo o camaleão abrir os olhos com perplexidade, afinal, quando ele se tornou tão fácil de se ler?

Um silêncio constrangedor se instalou entre eles, enquanto Maximilian ainda se perguntava quando o seu comportamento se tornou tão óbvio a ponto dela descobrir até mesmo no que estava pensando. Jane o encara, percebendo que ele refletia sobre alguma coisa novamente, mas que não era mais sobre Andrômeda, e sim, sobre algo que o intrigava.

Ela gostava da forma com que ele franzia a testa e suas sobrancelhas se aproximavam, e no modo como seu indicador batia freneticamente contra o colchão enquanto pensava. Gostava também de seu sorriso e do seu interesse por leitura. E de como ele parecia concentrado e feliz quando desenhava...

Jane sacode a cabeça impacientemente, irritando-se por “gostar” de coisas demais nele.

― Malditas lembranças – repreende-se mentalmente, olhando pela janela e calculando que já devia ser meio-dia.

― Jane – chama Maximilian, depois de terminar seu devaneio sem sentido e não chegar a conclusão nenhuma. – Uma vez perguntei a Alec sobre como se transformaram, mas ele não estava autorizado a responder… Se eu perguntasse para a pessoa certa, conseguiria uma resposta?

A vampira pondera por um momento, olhando para um ponto vazio na parede. Ela esperava por tal pergunta há dias, porém, lhe responderia? Sua mente já havia repassado aqueles acontecimentos tantas e tantas vezes, sem nunca contá-las a ninguém, que Jane achava ser impossível recordar daqueles fatos sem sentir toda aquela raiva novamente.

― Sim – responde inconscientemente, fechando os olhos com força ao perceber a besteira que fizera.

Maximilian se senta ao seu lado, com os olhos brilhando de interesse. Ele queria saber do que ela sentia tanta raiva, queria saber o que aconteceu a ela depois que foi embora e não pôde mais estar ao seu lado, queria saber o que era tão negativamente forte em sua mente que a impedia de recordar-se de qualquer outra coisa de seu passado.

― Jane, pode me contar a sua história?

Ela acena positivamente com a cabeça, mas sua boca não se abre de imediato. Sua mão esquerda segura o pulso do camelão e o puxa para fora da cama, atraindo-o para o lado de fora da casa sem dizer palavra alguma e sem ser questionada a respeito.

Jane sentia a escuridão se fechando ao seu redor somente por cogitar pronunciar tudo aquilo em voz alta. Seus pulmões não precisavam de ar para mantê-la viva, no entanto sua sanidade pedia por estar ao ar livre, por sentir o vento batendo em sua pele e por ver o Sol, já que finalmente havia parado de nevar em Box Hill.

Maximilian apenas deixou-se ser levado por ela, admirando a beleza de sua pele quando os raios solares a atingiram e a fizeram cintilar. E quando ela finalmente parou, já bem distante de sua casa, mas ainda dentro de sua propriedade, ele soube que a hora tinha chegado:

― Tudo começou quando os indícios de nossos dons começaram a se manifestar. Minha progenitora era uma curandeira – comenta Jane, referindo-se a ela de forma genérica, porque já não se lembrava o suficiente para sentir familiaridade com a palavra “mãe”. – Ela usava tudo o que encontrava na natureza para ajudar as pessoas e nunca fez nada que pudesse ser considerado como magia; ela não acreditava em magia, acreditava apenas no que era natural...

Mesmo com as lembranças humanas enevoadas, Jane se lembrava com detalhes da sequência de eventos que serviram de estopim para a sua transformação, porque tudo naquele momento foi intenso e ruim demais para se esquecer, mesmo depois de tantos anos.

Apesar de não recordar de nenhum outro detalhe de sua mãe, a vampira sabia que ela era uma boa pessoa e que deveria ter sido tratada como tal. Os boatos sobre a família começaram a mudar logo que Alec e Jane entraram na adolescência e iniciaram seus aprendizados no ofício da mãe, o que coincidiu com a manifestação sutil de suas habilidades imortais.

Alec havia mostrado ser um ótimo curandeiro. Ele sempre sabia como aliviar o que os pacientes estavam sentindo, amenizando as sensações até que as dores e desconfortos se tornassem nulos. Suas taxas de sucesso eram elevadas demais para a época e todo o vilarejo começou a estranhar… Em contrapartida, Jane tinha desenvolvido uma percepção de dor incomum. Ela sabia quando alguém sentia dores apenas com o olhar, independente se era leve, moderada ou forte, e sempre alertava Alec quando isso acontecia para que ele pudesse fazer a sua parte do trabalho.

Os gêmeos mostraram levar jeito para o ofício, mas as pessoas ficaram assustadas. Os boatos de que usavam magias e adivinhações começaram a se espalhar e não demorou muito para ampliarem as fofocas para bruxaria, acusando toda a família de terem um pacto com as trevas e fazerem uso de magia negra.

A partir disso, a vida pacífica que Jane conhecia começou a desmoronar. Os pacientes desapareceram subitamente e a família começou a passar fome, depois vieram as pedras jogadas contra as vidraças e as palavras de ódio. Alec tentava não se deixar afetar pela onda que se levantava contra eles, porém, Jane não conseguiu "não sentir". Ela sentiu o ódio e odiou de volta; ela sentiu o desprezo e desprezou de volta; ela sentiu a injustiça e desejou puni-los por tudo aquilo.

A represa de tensão se rompeu quando, por ironia do destino, uma doença perigosa e contagiosa começou a se espalhar, matando famílias inteiras em questão de semanas. Olhares de ricos e podres se voltaram contra eles, acusando-os de se vingar do vilarejo com aquela doença mortal, a qual rapidamente chamaram de praga.

O ódio se intensificou e se alastrou.

Uma assembleia de emergência foi realizada.

Um julgamento sem direito a defesa foi feito.

A condenação foi anunciada: fogueira para os que fazem uso de magia negra.

E o caos se instalou.

― Eles condenaram vocês à fogueira? – questiona Maximilian horrorizado, vendo-a confirmar com a cabeça, compreendendo imediatamente as palavras de Alec quando o questionou “onde ele estava” quando fizeram tal maldade a eles.

Ele não estava lá. Não estava lá para nenhum deles.

O vampiro dizia amar Jane, no entanto não estava lá nem mesmo para ela.

― Nós iríamos morrer, pelo menos, eu estava certa disso... Aqueles malditos... Aqueles malditos rostos conhecidos... Culparam minha progenitora pela morte daquelas pessoas, culparam-na pela praga que assolou a cidade, assemelhando-a a magia negra. – continuou ela com a mente mergulhada nos vultos de suas lembranças e a raiva borbulhando sob sua pele como água fervente. – Aqueles vermes invadiram nossa casa e enfiaram uma estaca em seu peito, arrastando-a pelas pernas como um animal abatido, em direção à fogueira que eles mesmos fizeram... Ela ainda estava viva quando a queimaram, agonizando em dor quando o fogo consumiu sua pele, se espalhando pelos seus cabelos e a fazendo urrar até a morte. E depois disso, eles vieram atrás de Alec... E de mim!

Maximilian estava assombrado, com o rosto nitidamente em choque enquanto seus olhos não ousavam desgrudar do rosto juvenil de Jane. Ele havia partido, o pior acontecera com a garota que amava enquanto ele vivia a sua vida feliz e confortável em outro condado, estando ausente quando ela mais precisou de sua presença.

O aperto de Jane ao redor de seu pulso se intensifica, demonstrando o quanto toda aquela história ainda a afetava. O camaleão sentia a sua raiva, entendia a sua origem, e não teve como não se sentir desprezível.

― Fomos amarrados e amordaçados – continua ela –, enquanto galhos e toras eram empilhados ao nosso redor para uma nova fogueira. Não me lembro do rosto de meu irmão naquele dia, mas acredito que ele estava apavorado. Eu sequer pude acalmá-lo, afinal, não podia simplesmente dizer que tudo terminaria bem! Como filhos de uma bruxa, nos acusaram de também fazer uso de magia negra, e, por isso, tínhamos que queimar.

― E quando os Volturis entraram nessa história?

― O mestre apareceu antes que fossemos consumidos pelo fogo, o clã destruiu tudo o que viu pelo caminho, furiosos, pois aqueles vermes estavam atrapalhando nosso crescimento e os obrigando a intervir antes do tempo... Eles já nos haviam escolhidos, no entanto pretendiam nos deixar crescer e amadurecer mais, antes de nos tornarem parte do clã. A situação exigiu do mestre Aro uma escolha: deixar a patética história humana seguir o seu curso ou salvar os seus protegidos, e ele nos escolheu. Partes de nossos corpos já estavam queimados quando as chamas foram apagadas e depois disso veio à transformação, e a descoberta de uma vida muito melhor que a antiga, uma vida onde ninguém mais poderia me ameaçar! – conclui com convicção e raiva na voz, deixando seus caninos expostos.

― Melhor em todos os sentidos?

― Sim, em todos.

― Nada na antiga vida lhe fez falta? – pergunta, com a culpa, o remorso e a ansiedade brincando em seu rosto.

― Nada! – respondeu sem pestanejar, sabendo exatamente o que ele queria insinuar, mas não conseguindo lhe dar outra resposta diante da raiva que borbulhava em seu interior. – Estou satisfeita com a eternidade que me foi presenteada!

― Eu acho a eternidade uma coisa engraçada – comenta Maximilian num momento de reflexão, virando levemente o rosto e ainda sentindo o aperto de Jane em seu pulso.

― Por quê?

― Quando se vive para sempre, você começa a perceber que os dias são sempre felizes e tristes ao mesmo tempo. Felizes, pois nunca morrerá e poderá fazer tudo o que lhe der vontade, mas tristes porque todos aqueles que ousar amar, um dia irão embora.

― Isso não foi um problema pra mim.

― Para mim foi. Quando me transformei, quando finalmente descobri que vampiros eram reais e que eu viveria para sempre, somente uma coisa me importou: que você morreria e eu não… Eu não pensei em meus pais, ou tios, ou primos, pensei somente em você.

O camaleão permanecia com os olhos fixos na neve ao seu redor, porém, Jane agora mantinha seus olhos cravados nele. O Sol também brilhava sobre sua pele, cintilando-a e fazendo seus olhos se parecerem com duas pedras de rubi em meio ao brilho dos diamantes, fazendo a gêmea também assemelhá-lo a algum tipo de obra de arte.

Seria possível mesmo que, diante da poderosa e atraente vida imortal, ele pensaria nela? Aquilo parecia ilógico, irreal. A vampira se lembrava muito bem do momento em que acordara para sua nova vida, e recordava-se com clareza que não havia pensado nele... Pensara em Alec por um breve período, apenas até se certificar de que ele estava bem, porém, em Maximilian, não pensara em nenhum momento sequer.

― Você não pensou em mim, não é? – pergunta ele calmamente, instintivamente ativando sua camuflagem, como se o seu corpo tentasse protegê-lo da dor que o açoitava naquele momento, a dor de saber a verdade. Com o seu dom ativado, seus olhos se tornaram castanhos e sua pele deixou de brilhar com a luz do Sol, assumindo o tom corado de um humano.

― Sequer lembrei que você existia – respondeu ela com sinceridade, percebendo que as palavras lhe saíram mais arrogantes do que gostaria.

― Tudo bem – sussurrou ele com um longo suspiro, ainda sem desviar o olhar da paisagem branca.

Apesar de seu rosto inexpressivo, Maximilian estava magoado e cheio de culpa, e, apenas por seu suspiro, Jane constatou tal fato. Ele parecia mergulhado naquele assunto, naquela lembrança que ele próprio desenterrou, fazendo-a recordar das palavras vagas de Andrômeda de que ele pensara que ela estava morta.

Jane queria saber mais a respeito. Aquele assunto em especial se referia a ela – ou, ao menos, a mencionava –, e a vampira se sentia no direito de saber mais.

― E então? O que você fez depois de se lamentar?

― Fui procurar você – respondeu ele, tão rápido quanto à pergunta que lhe fora feita.

Houve um breve silêncio enquanto Maximilian se lembrava daquela época, enquanto se lembrava do quanto Andrômeda ficara zangada quando, em vez de permanecer ao lado dela, ele correu atrás de Jane. Os acontecimentos seguintes foram ainda piores...

Um toque em seu rosto o fez voltar para a realidade e perceber que sua camuflagem denunciara mais do que gostaria sobre os seus sentimentos. Seu peito doía ao reviver aquelas lembranças, apertava-se pela culpa de ter estado longe dela, e, em resposta a isso, seus olhos castanhos haviam deixado escapar uma lágrima.

Jane estava atônita. Ela sabia que a camuflagem era capaz de assemelhá-lo a um humano, contudo, nunca pensou que seria capaz de fazer um vampiro chorar. O assombro fora tão grande que a vampira não conteve o impulso de erguer o dedo indicador e tocar o rosto do camaleão, interrompendo o curso da lágrima apenas para se certificar de que era mesmo real. E quando o vampiro voltou a si, virou o rosto para o lado oposto e desligou o seu dom especial, para que não pudesse ser traído por ele novamente.

― Como todo vampiro eu fui egoísta – continuou ele, enxugando os olhos para que nenhuma outra lágrima voltasse a cair –, pensei que pudesse transformá-la, assim eu não a perderia. Entretanto, quando voltei para o vilarejo onde nos conhecemos, descobri que você não estava mais lá... Que ninguém mais estava lá... Que estava tudo queimado e destruído.

Jane voltou seu olhar em direção à neve, não se arrependendo em nenhum momento pelo fim que àquelas famílias imundas tiveram naquela época.

― Nunca senti tanta dor em minha vida – disse ele ainda com o rosto escondido e a voz aparentando normalidade. – Pensar que você estava morta, acreditar que você estava morta, foi como viver, dia após dia, com um pedaço de vidro fincado em minha carne... Passei muitos anos sem saber ao certo se estava vivendo ou sobrevivendo. Nada mais me importava ou me parecia interessante, até o dia em que Andrômeda desejou passar por Londres e eu pude ver...

Ele pausa, permitindo que a mente vagasse novamente.

― O que você viu? – questiona ela, olhando-o e incentivando-o a continuar.

― Você! – sussurrou ele, trazendo o rosto de volta à vista e fazendo um contato visual imediato, olhos vermelhos com olhos vermelhos. – Estava viva e também era uma vampira! Foi apenas por um momento, porém eu a vi, a reconheci e isso fez toda a diferença pra mim, eu tinha um motivo para realmente viver minha segunda vida.

Jane fica sem palavras, não sabendo sequer o que pensar e sua mão ainda segurava o pulso de Maximilian como se a ideia de soltá-lo nunca tivesse lhe passado pela cabeça. Ela sentia todas aquelas informações se alastrarem em seu interior em forma de calor, ocupando o lugar da raiva. Foi naquele momento que ele a viu, foi naquele momento em que se lembrou do seu rosto e a desenhou com perfeição...

Maximilian também estava fora de seu estado normal, tomado por todos aqueles sentimentos ruins – a culpa, o pesar, a mágoa e a saudade –, que pareciam competir espaço em seu interior com o amor que sentia por ela. O camaleão estava cansado de sentir tudo aquilo, cansado de tudo dar errado, ele queria que o amor simplesmente prevalecesse sobre tudo e algo bom finalmente acontecesse em sua segunda vida.

E foi pensando nisso que Maximilian avançou, aproveitando-se da brecha que a perplexidade de Jane lhe dera para se aproximar de seu corpo, tocando o seu rosto com urgência e a beijando profundamente.


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal, espero que tenham gostado do capítulo de hoje.
Não há muitos detalhes sobre a história de Jane e Alec quando humanos, o que se sabe é que os gêmeos nasceram na Inglaterra e são filhos de uma mulher anglo-saxã e um soldado franco. Que seus poderes começaram a se manifestar quando humanos e que eles foram acusados de bruxaria e lançados numa fogueira. Ambos estavam sendo queimados vivos quando os Volturis apareceram para salvá-los.
A partir desses dados, recriei a história deles a minha maneira.
Espero que tenham curtido. :)



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