Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 2
O Camaleão




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Jane trinca os dentes e deixa escapar um rosnado irritado, o vampiro a fitava com insistência, parecendo cobrar-lhe com os olhos algo que não havia feito. E como aquele insolente sabia o seu nome se nunca foram apresentados? Ora, tudo bem que Jane Volturi era terrivelmente conhecida no mundo vampiro, mas como ele ousava ligá-la a uma promessa?

― Garoto bastardo, como ousa falar contra mim?

― Você não se lembra de mim, não é? – pergunta ele, um pequeno resquício de tristeza passando por seus olhos vermelhos.

― Nunca o vi em toda a minha eternidade!

― Tem certeza? Sou eu Jane, Maximilian... O seu Max!

Come si permette! – Avança alguns passos, repreendendo-o em italiano e sendo segurada por Alec, que olhava o estranho de maneira interrogativa.

― Não se lembra de mim? Nem do que me...

― Jamais lhe fiz promessa alguma! – O interrompe.

― Meu caro rapaz – diz Aro tentando acalmar os nervos exaltados. – Volte ao princípio, por favor, conte-me como chegou aqui – pede, se sentando em seu costumeiro trono.

Maximilian respira profundamente tentando engolir a frustração pelo desconhecimento da vampira, o encontro não saíra como ele imaginara, mas talvez ainda tivesse tempo de armar outro plano...

― Vim com o grupo de humanos – responde após um breve silêncio.

― Mentira! – rebate Demetri. – Só havia vivos naquele grupo.

― E eu estava entre eles, sou um camaleão!

Felix entorta os lábios num sorriso debochado, mas a seriedade do visitante dizia que ele não estava fazendo nenhuma piada. Os vampiros se entreolhavam silenciosos, não entendendo ao certo o que "camaleão" queria dizer, e ninguém ousou perguntar-lhe mais nada, apenas aguardaram o veredicto do mestre que com certeza o tocaria para saber a verdade.

― Camaleão? Explique-se – pede Aro, levantando-se novamente e aproximando-se lentamente.

― Posso me camuflar, gerar ondas humanas de meu corpo fazendo-o retornar às características de uma pessoa viva. Olhos castanhos, pele corada, cheiro, tudo isso retorna como um disfarce.

― Conte-me mais – pede o mestre, cirandando o vampiro com um grande sorriso e com os olhos já faiscantes de desejo por aquele dom tão inusitado.

― Os camaleões usam a camuflagem para se proteger dos predadores e minha habilidade também me permite isso, posso simplesmente desligar qualquer tipo de poder ofensivo dos vampiros ao meu redor.

― De todos ao mesmo tempo?

― Sim, todos ao mesmo tempo! O único critério são poderes que possam me ferir, no mais, não consigo selecionar as pessoas que desativo...

Jane e Alec rosnam simultaneamente, percebendo que era por isso que não conseguiam afetá-lo com seus dons, o insolente vampiro os havia desligado.

― Mostre-nos! – pede Marcus, finalmente achando algo interessante em todo aquele interrogatório.

Maximilian acena positivamente com a cabeça, seu rosto começa a tomar cor quase instantaneamente e seus olhos tornam-se castanhos. Calor começa a emanar de sua pele como um verdadeiro vivo e o cheiro da perfeição se espalha ao seu redor.

Jane permanecia impassível até que a fragrância tentadora invadiu-lhe as narinas, retirando-a de órbita. Seus olhos se fecham involuntariamente como se sentisse tontura e sua boca começa a salivar como se nunca tivesse se alimentado. Então ele era o dono daquele cheiro tão bom? O estranho era a sua presa ideal?

Foi necessário certo esforço para que a vampira retornasse a sua sanidade e abrisse os olhos.

O cheiro humano que Maximilian exalava era forte e marcante para todos os presentes, mas seus olhos camuflados de humanidade pertenciam a apenas uma pessoa naquele momento. Ele a olhava satisfeito, pois havia percebido seu descontrole. Porém, assumindo novamente sua carranca habitual, Jane desejou interiormente que nenhum outro vampiro tivesse notado seu momento de fraqueza.

― Interessante – retoma Aro, tentando conter a alegria e tocando o ombro do vampiro disfarçadamente, próximo ao pescoço para que houvesse contato entre suas peles, a fim de invadir-lhe a mente e testar a veracidade das informações.

Seu dom não era ofensivo e o mestre Volturi pôde penetrar suas memórias com extrema facilidade, tomando ciência de quase tudo sobre o vampiro chamado Maximilian: as particulares de seu dom, as dezenas de anos em que procurou pela garota Volturi, a misteriosa promessa, e um pensamento que fez o sorriso do mestre desaparecer de repente.

― Sabe quem são os Volturis? – pergunta Aro, tentando ganhar tempo enquanto recolhia as memórias do vampiro para sua própria cabeça.

― A ordem do mundo dos vampiros.

― E o que mais sabe sobre nós?

― Mais nada, senhor. – Agora ele estava receoso, não sabia muita coisa sobre eles e, por isso, não imaginava o que Aro estava querendo saber.

― Alguém que não nos conhece? – zomba Alec.

― Conheço a Jane, isso já me basta.

Ele a olha de maneira significativa, mas a vampira não demonstrava nada além de sua costumeira seriedade assassina. Aro retorna para seu trono lentamente, ainda ganhando tempo para decidir o que fazer com o rapaz. Seu dom era de fato maravilhoso e de muita importância para o clã, mas o pensamento final que retirou de Maximilian o preocupou, fazendo seu desejo se alterar de maneira negativa.

Aro podia ver perfeitamente que ele não sabia nada sobre os Volturis, porque, apesar de seus anos e anos de transformação, viveu como um nômade e por isso nunca teve contato direto com o clã mais poderoso do mundo.

― O que deseja de nós, Maximilian? – pergunta Aro novamente.

― Vim cobrar a promessa que Jane me fez.

― Jane, querida – chama com sua voz pastosa –, prometeu algo a este rapaz?

― Nunca nem sequer o vi, mestre.

― Sinto muito! – Retorna sua atenção para o visitante. – Creio que tivemos um equívoco aqui... O que fará agora?

― Posso entrar para a Guarda? – pergunta sem pudores, falando a primeira coisa que lhe passou pela cabeça.

Entrar para a Guarda Volturi parecia-lhe uma boa estratégia naquele momento, visto que estaria sempre ao lado de Jane e que talvez assim ela recordasse de sua imagem. Para ele, não importava a tática utilizada, contanto que atingisse seu objetivo.

Felix não conteve uma risada, aquele verme achava mesmo que podia entrar na Guarda tão facilmente? Apenas pedindo, como se pedisse um sorvete?

― Claro que sim! – responde Aro, causando choque nos que assistiam. – Seu dom é muito precioso, uma peça muito importante para nossa família.

― Mestre! – rosna Felix em desaprovação.

― Por favor, Alec – continua sem dar atenção ao vampiro irritado –, acomode nosso convidado e lhe mostre o castelo. Quanto aos demais... Deixem-nos a sós, terão o resto da noite de folga em comemoração a entrada deste novo Volturi.

Maximilian sorri com a aprovação de seu pedido e olha para Jane com expectativa, mas ela apenas lhe dá as costas e atravessa a porta do lado esquerdo dos três tronos. Sua indiferença a ele era palpável.

Alec faz uma reverência à ordem que lhe fora dada e segue pela mesma porta que a irmã, sendo escoltado de perto pelo convidado que observava a tudo com curiosidade.

O grande salão se esvazia e Caius logo começa:

― Por que o deixou ficar? – retruca mal humorado. – Esse vampiro blasfemou contra uma das nossas, deveria pagar com a vida por tentar tirar proveito de um Volturi.

― De fato existe uma promessa, meu querido Caius, mas nossa menina Jane parece não recordar. – Pausa. – Suas lembranças eram nebulosas, mas o som era nítido como uma lembrança recente... Jane lhe prometeu algo enquanto ainda era humana e sua promessa fora tão importante para ele, que, mesmo após a transformação, Maximilian se lembra com perfeição!

― Se existe a tal promessa – indaga Marcus, se aconchegando na poltrona como se pudesse ficar fadigado ou com dor no corpo a qualquer momento. – Por que não lhe concedeu o direito da realização?

― Porque ele trama contra nós!

― Camaleão miserável – esbraveja o Volturi loiro.

― Explique melhor, Aro, por favor – pede o outro com voz tediosa.

― Maximilian quer retirar Jane de nós. – Houve um rosnado, provavelmente de Caius. – Quer tomar nossa menina como sua companheira e levá-la embora.

― Se essas são suas intenções, por que o deixou ficar? – Marcus novamente.

― Pobre vampiro, é tão ingênuo que nem sequer conhece meu dom, nem sequer desconfia que roubei suas lembranças... Sua finalidade é roubar nossa Jane, nossa serva mais fiel, a morte seria um castigo leve para este tipo de conspiração. Deixá-lo ficar será uma punição melhor, pois ela certamente o rejeitará e nada é mais doloroso do que um coração ferido. – Sorri maliciosamente. – Quanto mais nossa menina lhe pisar, maior será a sua pena, e quando cansarmos de brincar, o mataremos!

― Isso será deveras divertido – emenda Marcus com o mesmo sorriso cruel nos lábios. – Ninguém aqui é mais frio que Jane.

― O típico coração gelado que sente prazer na dor e na morte – conclui Caius.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem do capitulo...
No próximo teremos uma conversa entre Alec e Max.
Se estiverem gostando da história, por favor, indiquem a(os) amigas(os) S2