Coração Gelado escrita por Jane Viesseli
Jane trinca os dentes e deixa escapar um rosnado irritado, o vampiro a fitava com insistência, parecendo cobrar-lhe com os olhos algo que não havia feito. E como aquele insolente sabia o seu nome se nunca foram apresentados? Ora, tudo bem que Jane Volturi era terrivelmente conhecida no mundo vampiro, mas como ele ousava ligá-la a uma promessa?
― Garoto bastardo, como ousa falar contra mim?
― Você não se lembra de mim, não é? – pergunta ele, um pequeno resquício de tristeza passando por seus olhos vermelhos.
― Nunca o vi em toda a minha eternidade!
― Tem certeza? Sou eu Jane, Maximilian... O seu Max!
― Come si permette! – Avança alguns passos, repreendendo-o em italiano e sendo segurada por Alec, que olhava o estranho de maneira interrogativa.
― Não se lembra de mim? Nem do que me...
― Jamais lhe fiz promessa alguma! – O interrompe.
― Meu caro rapaz – diz Aro tentando acalmar os nervos exaltados. – Volte ao princípio, por favor, conte-me como chegou aqui – pede, se sentando em seu costumeiro trono.
Maximilian respira profundamente tentando engolir a frustração pelo desconhecimento da vampira, o encontro não saíra como ele imaginara, mas talvez ainda tivesse tempo de armar outro plano...
― Vim com o grupo de humanos – responde após um breve silêncio.
― Mentira! – rebate Demetri. – Só havia vivos naquele grupo.
― E eu estava entre eles, sou um camaleão!
Felix entorta os lábios num sorriso debochado, mas a seriedade do visitante dizia que ele não estava fazendo nenhuma piada. Os vampiros se entreolhavam silenciosos, não entendendo ao certo o que "camaleão" queria dizer, e ninguém ousou perguntar-lhe mais nada, apenas aguardaram o veredicto do mestre que com certeza o tocaria para saber a verdade.
― Camaleão? Explique-se – pede Aro, levantando-se novamente e aproximando-se lentamente.
― Posso me camuflar, gerar ondas humanas de meu corpo fazendo-o retornar às características de uma pessoa viva. Olhos castanhos, pele corada, cheiro, tudo isso retorna como um disfarce.
― Conte-me mais – pede o mestre, cirandando o vampiro com um grande sorriso e com os olhos já faiscantes de desejo por aquele dom tão inusitado.
― Os camaleões usam a camuflagem para se proteger dos predadores e minha habilidade também me permite isso, posso simplesmente desligar qualquer tipo de poder ofensivo dos vampiros ao meu redor.
― De todos ao mesmo tempo?
― Sim, todos ao mesmo tempo! O único critério são poderes que possam me ferir, no mais, não consigo selecionar as pessoas que desativo...
Jane e Alec rosnam simultaneamente, percebendo que era por isso que não conseguiam afetá-lo com seus dons, o insolente vampiro os havia desligado.
― Mostre-nos! – pede Marcus, finalmente achando algo interessante em todo aquele interrogatório.
Maximilian acena positivamente com a cabeça, seu rosto começa a tomar cor quase instantaneamente e seus olhos tornam-se castanhos. Calor começa a emanar de sua pele como um verdadeiro vivo e o cheiro da perfeição se espalha ao seu redor.
Jane permanecia impassível até que a fragrância tentadora invadiu-lhe as narinas, retirando-a de órbita. Seus olhos se fecham involuntariamente como se sentisse tontura e sua boca começa a salivar como se nunca tivesse se alimentado. Então ele era o dono daquele cheiro tão bom? O estranho era a sua presa ideal?
Foi necessário certo esforço para que a vampira retornasse a sua sanidade e abrisse os olhos.
O cheiro humano que Maximilian exalava era forte e marcante para todos os presentes, mas seus olhos camuflados de humanidade pertenciam a apenas uma pessoa naquele momento. Ele a olhava satisfeito, pois havia percebido seu descontrole. Porém, assumindo novamente sua carranca habitual, Jane desejou interiormente que nenhum outro vampiro tivesse notado seu momento de fraqueza.
― Interessante – retoma Aro, tentando conter a alegria e tocando o ombro do vampiro disfarçadamente, próximo ao pescoço para que houvesse contato entre suas peles, a fim de invadir-lhe a mente e testar a veracidade das informações.
Seu dom não era ofensivo e o mestre Volturi pôde penetrar suas memórias com extrema facilidade, tomando ciência de quase tudo sobre o vampiro chamado Maximilian: as particulares de seu dom, as dezenas de anos em que procurou pela garota Volturi, a misteriosa promessa, e um pensamento que fez o sorriso do mestre desaparecer de repente.
― Sabe quem são os Volturis? – pergunta Aro, tentando ganhar tempo enquanto recolhia as memórias do vampiro para sua própria cabeça.
― A ordem do mundo dos vampiros.
― E o que mais sabe sobre nós?
― Mais nada, senhor. – Agora ele estava receoso, não sabia muita coisa sobre eles e, por isso, não imaginava o que Aro estava querendo saber.
― Alguém que não nos conhece? – zomba Alec.
― Conheço a Jane, isso já me basta.
Ele a olha de maneira significativa, mas a vampira não demonstrava nada além de sua costumeira seriedade assassina. Aro retorna para seu trono lentamente, ainda ganhando tempo para decidir o que fazer com o rapaz. Seu dom era de fato maravilhoso e de muita importância para o clã, mas o pensamento final que retirou de Maximilian o preocupou, fazendo seu desejo se alterar de maneira negativa.
Aro podia ver perfeitamente que ele não sabia nada sobre os Volturis, porque, apesar de seus anos e anos de transformação, viveu como um nômade e por isso nunca teve contato direto com o clã mais poderoso do mundo.
― O que deseja de nós, Maximilian? – pergunta Aro novamente.
― Vim cobrar a promessa que Jane me fez.
― Jane, querida – chama com sua voz pastosa –, prometeu algo a este rapaz?
― Nunca nem sequer o vi, mestre.
― Sinto muito! – Retorna sua atenção para o visitante. – Creio que tivemos um equívoco aqui... O que fará agora?
― Posso entrar para a Guarda? – pergunta sem pudores, falando a primeira coisa que lhe passou pela cabeça.
Entrar para a Guarda Volturi parecia-lhe uma boa estratégia naquele momento, visto que estaria sempre ao lado de Jane e que talvez assim ela recordasse de sua imagem. Para ele, não importava a tática utilizada, contanto que atingisse seu objetivo.
Felix não conteve uma risada, aquele verme achava mesmo que podia entrar na Guarda tão facilmente? Apenas pedindo, como se pedisse um sorvete?
― Claro que sim! – responde Aro, causando choque nos que assistiam. – Seu dom é muito precioso, uma peça muito importante para nossa família.
― Mestre! – rosna Felix em desaprovação.
― Por favor, Alec – continua sem dar atenção ao vampiro irritado –, acomode nosso convidado e lhe mostre o castelo. Quanto aos demais... Deixem-nos a sós, terão o resto da noite de folga em comemoração a entrada deste novo Volturi.
Maximilian sorri com a aprovação de seu pedido e olha para Jane com expectativa, mas ela apenas lhe dá as costas e atravessa a porta do lado esquerdo dos três tronos. Sua indiferença a ele era palpável.
Alec faz uma reverência à ordem que lhe fora dada e segue pela mesma porta que a irmã, sendo escoltado de perto pelo convidado que observava a tudo com curiosidade.
O grande salão se esvazia e Caius logo começa:
― Por que o deixou ficar? – retruca mal humorado. – Esse vampiro blasfemou contra uma das nossas, deveria pagar com a vida por tentar tirar proveito de um Volturi.
― De fato existe uma promessa, meu querido Caius, mas nossa menina Jane parece não recordar. – Pausa. – Suas lembranças eram nebulosas, mas o som era nítido como uma lembrança recente... Jane lhe prometeu algo enquanto ainda era humana e sua promessa fora tão importante para ele, que, mesmo após a transformação, Maximilian se lembra com perfeição!
― Se existe a tal promessa – indaga Marcus, se aconchegando na poltrona como se pudesse ficar fadigado ou com dor no corpo a qualquer momento. – Por que não lhe concedeu o direito da realização?
― Porque ele trama contra nós!
― Camaleão miserável – esbraveja o Volturi loiro.
― Explique melhor, Aro, por favor – pede o outro com voz tediosa.
― Maximilian quer retirar Jane de nós. – Houve um rosnado, provavelmente de Caius. – Quer tomar nossa menina como sua companheira e levá-la embora.
― Se essas são suas intenções, por que o deixou ficar? – Marcus novamente.
― Pobre vampiro, é tão ingênuo que nem sequer conhece meu dom, nem sequer desconfia que roubei suas lembranças... Sua finalidade é roubar nossa Jane, nossa serva mais fiel, a morte seria um castigo leve para este tipo de conspiração. Deixá-lo ficar será uma punição melhor, pois ela certamente o rejeitará e nada é mais doloroso do que um coração ferido. – Sorri maliciosamente. – Quanto mais nossa menina lhe pisar, maior será a sua pena, e quando cansarmos de brincar, o mataremos!
― Isso será deveras divertido – emenda Marcus com o mesmo sorriso cruel nos lábios. – Ninguém aqui é mais frio que Jane.
― O típico coração gelado que sente prazer na dor e na morte – conclui Caius.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que gostem do capitulo...
No próximo teremos uma conversa entre Alec e Max.
Se estiverem gostando da história, por favor, indiquem a(os) amigas(os) S2