Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 17
A Descoberta




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/393069/chapter/17

A praça principal de Volterra já estava quase deserta quando Jane parou em seu centro e olhou ao seu redor. Haviam alguns corpos humanos espalhados em alguns cantos, embriagados ou drogados demais para conseguirem retornar para casa, contudo, não havia sinal algum de qualquer vampiro forasteiro naquela parte da cidade.

Todavia, a noite parecia conspirar a favor dela, pois Heidi e Santiago haviam encontrado um vampiro caçando na parte mais distante de Volterra, e, na tentativa de fugir deles, ele acabou sendo executado. Teria como a situação ficar melhor? Aquele vampiro, tendo feito alguma vítima ou não, teria sobre suas costas todos os acontecimentos daquela noite e Aro nunca o tocaria para saber o que realmente aconteceu.

Jane conhecia todos os vampiros da Guarda muito bem para saber como reagiriam, e já esperava que a dupla se gabasse diante dos três mestres, pois um feito em defesa do clã era sempre bem recebido e elogiado por Aro e nenhum vampiro gostava de ter o líder da Guarda recebendo a glória que não lhe pertencia.

Faltava apenas uma ponta solta naquele momento, somente uma coisa que poderia entregar os acontecimentos daquela noite: a mente descuidada do camaleão, que não sabia nada sobre o clã e não estava fazendo esforço nenhum para limpar os rastros do evento daquela noite.

Maximilian se aproxima da vampira lentamente, observando o céu limpo e estrelado como se não o contemplasse há muito tempo. Alec aproxima-se de ambos alguns minutos depois, olhando para o céu por pura curiosidade, apenas para ver o que o camaleão via de tão interessante no céu.

— As estrelas ficam ainda mais bonitas de se observar longe das cidades – comenta Maximilian, quebrando o silêncio.

— Elas são bonitas – sussurra Alec, chamando a atenção da irmã para o alto.

As estrelas cintilavam no manto noturno como se festejassem por alguma coisa, fazendo a vampira se perder em suas belezas por longos minutos. Jane odiava a natureza, odiava o verde das florestas e bosques, e odiava os animais fofinhos que se escondiam nelas. Porém, ela gostava do céu noturno, adorava a calma escuridão que o envolvia, apreciava a lua em todas as suas fases e admirava as estrelas, que, mesmo quando as nuvens tentavam esconder suas existências, nunca deixavam de brilhar.

O camaleão retira os olhos do céu, encontrando o rosto de Jane e sorrindo ao vê-lo tão relaxado e calmo. Ela era linda quando estava zangada e sensual quando caçava, mas ali, naquele instante, uma nova face dela estava se mostrando, o semblante gentil de alguém que não sentia raiva, que apenas contemplava algo belo sem esperar por maus presságios.

— Acho melhor partirmos, não há mais nada a fazer aqui – comenta Alec, calculando que o Sol deveria começar a nascer em, mais ou menos, uma hora e meia.

Jane baixa o olhar dos céus, encontrando os olhos de Maximilian a observá-la e o sincero sorriso em seus lábios. Ela fecha o semblante em uma carranca, esperando que aquilo pudesse afastar “o que quer que fosse” que ele estava pensando ou pretendendo fazer naquele momento, mas fazendo-o rir levemente.

— Você me deve um obrigado, sabia? – comenta ele, somente para provocá-la.

— Dê-se por satisfeito eu contar-lhe como desviar do poder de mestre Aro! – lança ela com certa irritação, fazendo o sorriso dele murchar e os olhos se arregalarem de surpresa.

— Poder? Que poder?

— Está brincando? – pergunta Alec. – Ninguém lhe contou sobre o dom dele?

— Que poder? – questiona novamente, sentindo sua pele se arrepiar em alerta, como se seus instintos lhe dissessem que ele não iria gostar daquela resposta.

— Mestre Aro poder ler lembranças – diz Jane.

— Qualquer tipo de lembrança, atual ou passada há muitas décadas. Ele pode ver qualquer coisa que estiver registrado em sua memória – continua Alec, como se eles tivessem combinado o discurso.

— Porém, só pode fazer isso se fizer um contato pele com pele! – conclui Jane, fazendo Maximilian se lembrar do dia em que chegou ao castelo, o dia em que Aro o interrogou e tocou o seu ombro amigavelmente, aumentando o espaçamento entre os dedos até que um deles tocasse a pele de seu pescoço.

Foi impossível conter o terror de chegar aos seus olhos diante daquela descoberta. Maximilian leva ambas as mãos aos cabelos e se afasta alguns passos, percebendo subitamente que sua ingenuidade com relação aos Volturis o levou a cometer um terrível erro. Quão burro um vampiro só conseguia ser? O quanto Aro viu de suas lembranças? Será que tomou ciência da promessa que Jane lhe fez? Será que soube de Andrômeda e das coisas que faziam? Será que ele viu quais eram suas intenções ao entrar no clã? Ow, nossa, ele realmente tinha sido estúpido por pensar que conseguiria driblar o clã vampiro mais poderoso do mundo…

— Por que não me alertaram sobre isso antes? – pergunta o camaleão, aproximando-se dos gêmeos novamente com o semblante modificado em medo.

— Depois de tanto tempo, eu pensei que já soubesse – explica Alec, sentindo-se desconfortável por não ter dito algo daquela importância para o amigo.

— Nunca pretendi contar-lhe nada – lança Jane, sem rodeios ou arrependimentos, afinal, ela realmente nunca pensou em facilitar a vida dele dentro do clã. – Estou fazendo isso agora porque você possui muitos segredos e precisa ter cuidado! – afirma, fazendo o camaleão arregalar levemente os olhos ao constatar que Alec contara à Jane sobre a sua criadora. – Agora que temos um assunto sigiloso em comum, você precisa ter ainda mais cautela, senão, meu irmão e eu poderemos ser punidos!

— Eu já sou um vampiro morto! Por que se importar de me dizer isso agora? – esbraveja Maximilian, sentindo-se ofendido, de certa forma, por ninguém ter se prontificado a alertá-lo antes.

— Não seja tão dramático! – rebate Jane com igual irritabilidade. – Ele pode ver tudo, mas não o faz. Nunca faz. Já parou para pensar na quantidade de lembranças que um vampiro pode acumular depois de tantos anos de imortalidade?

— Sim, é verdade! – continua Alec, tentando fazer o camaleão se acalmar e sentir-se mais confiante, como um pedido secreto de desculpas por não ter lhe revelado a verdade antes. – São muitas lembranças para ver. O mestre nunca confere tudo, leva muito tempo, ele vê apenas o que é de seu interesse… Ele nunca ouviu falar de Andrômeda, e, por isso, nunca vai procurá-la em suas lembranças – explica, achando que era somente aquilo que o apavorava.

— Exatamente. – Agora era Jane. – Quando retornarmos ao castelo, comporte-se como alguém que não tem nada a esconder. Ele não usa seu dom com tanta regularidade e, mesmo que decida fazê-lo em um de nós, nunca vai descobrir sobre o que fizemos esta noite se não souber o que procurar. Contudo, se qualquer um de nós demonstrar algo fora do padrão, o mestre logo saberá que tem algo errado.

— E aí sim ele saberá o que procurar em nossas lembranças… – termina Alec

— Vocês já fizeram isso antes? Já burlaram o poder dele dessa forma?

— Nunca precisamos. Nunca quebramos uma regra sequer até você chegar – acusa a vampira, encarando-o com seus intensos olhos vermelhos, olhos de quem havia se alimentado a pouco tempo e estava plenamente saciada.

— De nada, por ajudar você! – rebate Maximilian, vendo a acusação em seu olhar.

— Não pedi a sua ajuda!

O camaleão engole suas próximas palavras com desgosto, não querendo prolongar aquele desentendimento mais do que o necessário. Ele fez o que fez porque a amava, porque se preocupava com ela e queria se redimir do incidente no último banquete, todavia, nada parecia ser o suficiente para penetrar o coração de Jane e aquilo o frustrava imensamente. Estava claro como água que ela ainda o repelia.

Em contrapartida, a vampira não sabia como reagir a ele. Deveria simplesmente agradecer? Que piada, ela nunca diria aquilo...

Maximilian gira em seus calcanhares e caminha em direção ao castelo, preocupado demais com o que Aro sabia a seu respeito e incapaz de pensar no seu pouco avanço com relação a Jane.

— Ele fez aquilo porque gosta de você… – comenta Alec em defesa do camaleão, quando julgou que ele estava longe o bastante e incapaz de ouvi-lo.

— Não comece, Alec! – repreende, fazendo o irmão ficar irritado.

— Sabe, eu sei que você não gosta dele, mas poderia, ao menos, tratá-lo com mais cortesia? Ele é meu amigo, Jane, e incomoda-me vê-los discutindo!

— Jamais diga-me o que fazer, Alec – grita subitamente, agarrando o queixo do irmão com força e o encarando, olhos nos olhos. – Não sou obrigada a tolerá-lo só porque você resolveu acreditar no que ele diz. Fique feliz por eu guardar o segredo idiota dele e por impedi-lo de ser imprudente com relação ao mestre, porque, se ele for pego, nós também seremos!

Alec bufa com extrema irritação, e quando Jane solta o seu rosto, ele parti sem fazer menção de esperá-la. A vampira o observa ir embora, esperando que ele olhasse para trás como uma indicação de que tudo ficaria bem, porém, o gêmeo não a olhou. Jane troca a perna de apoio enquanto meditava, achando toda aquela situação bastante incômoda. Aquela era a primeira vez que eles brigavam e ela havia detestado aquilo.

Apesar de já terem tido algumas opiniões contrárias durante seus muitos anos dentro do clã, eles nunca haviam brigado de verdade. Como ela sempre foi a líder da Guarda Volturi, Alec sempre deixava suas opiniões de lado e acatava as dela, e, no final do dia, eles sempre retornavam ao castelo de bem um com o outro.

Naquela noite, porém, o gêmeo não estava disposto a concordar com ela e não tinha dado sinais de que estavam de bem. Eles retornariam brigados para casa, e Jane sentiu, pela primeira vez em sua segunda vida, que havia feito algo muito errado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^-^
O próximo capítulo trará uma super novidade para o enredo e eu acho que vocês irão curtir bastante...
Se estiverem gostando da história, não esqueçam de indicar aos amigos e de deixarem uma recomendação! ʕ•ᴥ•ʔ



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coração Gelado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.